Futebol é ocupação de espaços. A tese foi posta em prática
com eficiência ímpar pela Alemanha na estreia do Mundial – o aguardado
confronto contra Portugal. Os comandados de Joaquim Löw precisaram de apenas 45
minutos para aplicar 3 a 0 na ineficiente equipe de Cristiano Ronaldo – Müller,
dando um show como falso-9, ainda faria o 4º na segunda etapa. Um verdadeiro
banho de bola de uma das favoritas à conquista do Mundial.
Apesar de ter como time-base o Bayern de Munich, a Alemanha
em nada se parecia com a equipe comandada por Guardiola e eliminada de maneira
vexatória para o Real Madrid na semifinal da Champions League deste ano. A
inspiração clara, entretanto, é outro Bayern: o campeão Europeu da temporada
passada, comandado por Jupp Heyckes. Variando entre o 4-1-4-1 de Guardiola e o
4-2-3-1 de Heyckes, a equipe germânica trocava passes de maneira curta e precisa,
fazia a transição defesa-ataque de maneira rápida e eficiente, mas sem utilizar
a ligação direta. A bola deixava os pés dos defensores e em 10 estava com os
homens de frente, sem que pra isso fosse necessário rifar ou arriscar o
lançamento mais longo. Tudo graças à habilidade dos defensores e à intensa
movimentação dos homens de frente.
Na frente, Goetze e Müller trocavam posições entre o lado e
o centro de ataque. Ozil ficava mais preso pelo lado esquerdo, mas também
flutuava quando necessário, arriscando-se também no lado direito. Toda a saída
de bola era feita por Lahm, o primeiro homem à frente da zaga. Por ainda estar
descontado fisicamente, Khedira foi posicionado mais à frente, compondo a mesma
linha de Kroos. Ele guardava posição, enquanto Lahm fazia a saída de bola e
depois progredia em direção ao ataque, desdobrando-se de maneira incrível.
Portugal começou o jogo num 4-3-3, com as duas primeiras
linhas compactadas e a terceira tentando fazer uma marcação-pressão sobre o
adversário. A estratégia de Paulo Bento se mostrou ineficaz logo no início da
partida, muito em função de Nani e Cristiano Ronaldo estarem longe das melhores
condições. João Pereira e Coentrão – laterais de cunho mais ofensivo – deixavam
grande espaço quando subiam, e os dois pontas avançados não conseguiam voltar
pra marcar. Assim, os Lusitanos deram muito campo para que a Alemanha
avançasse, sobretudo pelos lados. Errar contra uma seleção tão qualificada
custou muito caro.
Alemanha: intensa movimentação e meio-campo dinâmico
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Portugal primeiros 30 min: 4-3-3 inspirado no Real Madrid de Ancelotti
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Portugal já perdia de 2 a 0 quando Pepe foi expulso.
Confesso que achei o lance injusto e ressalto que só o vi uma vez, quando
aconteceu, no estádio. Acredito que mesmo que o zagueiro do Real Madrid tivesse
permanecido em campo a situação não seria muito diferente, mas a partir da sua
saída o técnico Paulo Bento cometeu ainda mais equívocos.
Sem Pepe, Bento transformou o 4-3-3 num 3-3-3, improvisando
os volantes Raul Meirelles e Miguel Veloso para a zaga e montando uma linha com
três zagueiros. Portugal perdeu totalmente a pouca combatividade que já tinha,
pois Veloso não se mostrou apto para cumprir a função e João Moutinho –
originalmente o articulador do time – passou a ser o único marcador efetivo no
meio diante de uma das mais fortes seleções do Mundo. O terceiro gol surgiu de
uma jogada de Müller em cima de Veloso, que não ia bem. No segundo tempo, Paulo
Bento sacou Veloso para colocar o zagueiro Ricardo Costa. Portugal passou a se
proteger melhor, mas a goleada não foi muito maior em função da própria
Alemanha, que “tirou o pé do acelerador”. Um exemplo disso é a posse de bola: tendo
70% de posse no primeiro tempo, o time de Joaquim Löw acabou a partida com “apenas”
56%. Número insuficiente para tirar o brilhantismo de sua equipe e tampouco o
favoritismo da Alemanha na Copa de 2014.
Portugal após expulsão: equívoco no reposicionamento custou caro a Paulo Bento
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Por Mateus Kerr (@mateuskerr)