terça-feira, 24 de março de 2015

Eficiente, Barcelona bate Real Madrid no Camp Nou

Falta, cruzamento, cabeceio, gol. Bola longa da defesa para o ataque, atacante bate defesa adversária na velocidade, gol. Barcelona x Real Madrid. As frases citadas anteriormente poderiam, por volta de dois a três anos atrás, fazer com que qualquer pessoa associar rapidamente a gols marcados pelo Real Madrid do seu então treinador José Mourinho. Mas, foram em lances desse tipo que a equipe do Barcelona construi a sua vitória em cima do Real Madrid de Carlo Ancelotti, que criou oportunidades mas não conseguiu ser eficiente nas conclusões.

O Barcelona veio a campo no seu tradicional 4-3-3, com Alba e principalmente Daniel Alves subindo com frequência ao campo de ataque, sempre servindo como opção de passe, mais de segurança do que de passe em profundidade. Messi, Suárez e Neymar eram os homens mais avançados da equipe, sempre se procurando para trocar passes e envolver a defesa adversária com sua movimentação.

Sem a bola o Barça mantinha o seu sistema, porém, apresentando por vezes a variação para o 4-4-2 em linhas, com Neymar recuando e alinhando-se ao trio Rakitic-Mascherano-Iniesta. Tanto no 4-4-2 como no 4-3-3 as linhas defensivas da equipe mantinham a sua curta compactação, e efetuavam corretamente o balanço defensivo para o lado da bola.

Barcelona no seu tradicional 4-3-3 que, sem a bola, virava, por vezes, um 4-4-2 em linha, com Neymar recuando e alinhando-se ao trio Rakitic-Mascherano-Iniesta

Já o Real Madrid veio a campo no seu também tradicional 4-3-3. Com a bola, Kroos e Modric eram os responsáveis por acionar o trio BBC, que o estilo de jogo habitual, com constantes inversões de posicionamento. Os laterais Carvajal e Marcelo também chegavam com frequência ao campo ofensivo, onde Marcelo, com suas investidas "por dentro" pelo lado esquerdo, sempre contando com o apoio de Isco, era o mais acionado.

Sem a bola, a equipe de Madri compactava-se no 4-4-2 em linhas, com Bale fazendo o recuo pela direita, que faziam o balanceamento defensivo corretamente e tinham pouca participação na ação defensiva de Cristiano Ronaldo e de Benzema.

Real no seu 4-3-3, mais incisivo pela esquerda, que virava um 4-4-2 em linha sem a bola, com o recuo de Bale

O minutos iniciais da partida mostraram duas equipes sem mostrar a marcação pressão em bloco alto que as caracteriza. Ambas, quando perdiam a bola, recompunham-se defensivamente e só começavam a efetuar pressão em sua intermediária defensiva. Com a bola, as equipes já apresentavam velocidades diferentes em sua transição defesa-ataque. Enquanto o Barcelona, quando recuperava a bola, tentava sair com mais velocidade, embora não conseguisse levar perigo muito por conta da excelente organização defensiva das linhas defensivas da equipe de Madri, que ocupavam os espaços e encaixotavam Messi na direita, de modo que o atacante, principal foco criativo da equipe, acabava sendo pouco participativo. Já o Real saía com mais lentidão, "na boa", sempre com Modric e Kroos comandando a saída da equipe, que só acelerava quando a bola chegava no seu trio ofensivo.

Linhas de 4 formadas pela equipe de Madri sem a bola: pressão na sua intermediária defensiva, com Ronaldo e Benzema mais livres do trabalho defensivo(Reprodução: Canal+)

Nesse cenário, quem levava mais perigo era o Real, que, graças ao seu maior entrosamento, conseguia efetuar movimentações no terço final do seu campo ofensivo mais coordenadas do que as do Barça, sempre conseguindo abrir espaços através de trocas de passes e movimentações. Porém, como nem sempre o time que está melhor é o beneficiado com o gol, quem saiu na frente foi o Barça, com Mathieu marcando de cabeça, após cobrança de falta lateral.

Com o gol, a postura madrilenha foi levemente alterada, com a equipe adiantando um pouco mais suas linhas e aumentando a velocidade de sua transição defesa-ataque. Com essa mudança de postura, e com o recuo das linhas defensivas do Barcelona, que passou a marcar pressão somente nas proximidades da grande área, o Real passou a girar a bola e ocupar com maior frequência o campo ofensivo, sempre na base do toque de bola, que teve a sua velocidade levemente aumentada. Até que, após um gol que uniu talento individual e jogo coletivo, Cristiano Ronaldo marcou o gol de empate da equipe merengue.

 Nos flagrantes, o lance da movimentação que culminou no gol de empate do Real(contagem de cima para baixo). Flagrante 1:  Cristiano Ronaldo e Benzema circulando pelo meio. Pode-se notar como o atacante português já começa a atrair a atenção de Jordi Alba e Mascherano, que havia momentaneamente ocupado o espaço normalmente ocupado por Mathieu, que por sua vez ocupava o espaço onde normalmente está Jordi Alba, uma leve desorganização causada pelo avanço dos jogadores para participar da bola parada ofensiva da equipe, ocorrida segundos antes. Flagrante 2: Jordi Alba e Mascherano avançam e fecham a linha de passe que poderia ser criada no português, porém, com isso, abrem espaço para Benzema cair pelo setor. Flagrante 3: O momento da assistência. Benzema vai, ocupa o espaço, recebe o passe de Modric e rola de primeira para o espaço criado por ele mesmo no momento em que saiu para a direita e arrastou Piqué. Vendo o espaço Cristiano ganhou na velocidade de Mascherano e finalizou com sucesso.(Reprodução: Canal+)

Com o empate no placar, a equipe de Madri manteve suas linhas adiantadas, porém, agora elas mais cercavam do que propriamente davam combate na saída de bola adversária. Com isso, o Barça novamente conseguiu fazer a saída de bola com tranquilidade, porém, sem conseguir levar perigo a partir de sua intermediária defensiva.

O segundo tempo iniciou-se de forma parecida com que o primeiro terminou: Barcelona tocando a bola, contando inclusive com seus laterais subindo simultâneamente com maior frequência, porém, sem conseguir levar grande perigo ao gol adversário, e Real com linhas adiantadas, levando perigo sempre que aumentava a intensidade do seu toque de bola e movimentação. Porém, novamente, quando o Real era melhor, foi o Barça quem marcou, em um lance pouco presente nos últimos anos no repertório da equipe: Ligação direta do campo defensivo efetuada por Daniel Alves para Suarez, que, na velocidade e na técnica, conseguiu dominar, ganhar na corrida dos zagueiros, e finalizar a jogada com sucesso.

 Na imagem acima o lance do gol de desempate do Barça: Daniel Alves lança para Suárez às costas das linhas adiantadas do Real. O uruguaio, na base da técnica e da velocidade, ganha na velocidade da linha defensiva do Real e marca.(Reprodução: Canal+)

Com a desvantagem no placar, o Real voltou a buscar um jogo mais direto, porém, sem a mesma movimentação do primeiro tempo,a equipe madrilenha perdia a bola com maior facilidade. E aí, surgiu outro problema, que era a recomposição mais lenta que a equipe passou a apresentar. Com isso, o trio MSN, pouco participativo no jogo, embora Suárez tenha sido autor de um dos gols, começou a aparecer, aproveitando os espaços para imprimir a sua movimentação e velocidade características, com Messi constantemente centralizando, buscando servir as infiltrações em diagonal de Neymar e Suárez, que constantemente invertiam os lados.

Com o fim do jogo se aproximando, os treinadores começaram a utilizar suas opções do banco. Do lado do Real, entraram Varane, Jesé e, mais pro fim da partida, Lucas Silva, nos lugares de Pepe, esse saiu provavelmente por ser o jogador mais nervoso em campo, Isco e Modric. As substituições alteraram levemente a estrutura da equipe, que passou a ter Ronaldo mais próximo de Benzema e Jesé aberto, fixo, a esquerda Ja do lado do Barça, entraram Busquets, Xavi e Rafinha nos lugares de Rakitic, Iniesta e Neymar, tendo assim a estrutura levemente alterada, com Busquets fazendo companhia a Mascherano na região central, e Messi vindo atuar mais fixo pela região central, por trás de Suárez. Mesmo com as substituições, o Real, não conseguiu nem recuperar o domínio da partida, muito menos o empate no placar. Já o Barça aproveitou os minutos finais para trocar passes e segurar o jogo.

 Equipes no final do jogo: Barcelona quase com duas linhas de 4, trocando passes e controlando o jogo. E o Real formando duas linhas de 4 que até tentaram, mas não conseguiram reproduzir a intensidade do primeiro tempo e causar problemas a defesa adversária.

A vitória do Barcelona, mais do que os três pontos em si, mostra a nova forma de jogar da equipe. Manteve-se a constante troca de passes, porém, se necessário, possui outras alternativas que até pouco tempo atrás não eram tão utilizadas para criação de oportunidades, como a bola parada e a ligação direta da defesa para o ataque. Já ao Real, parece faltar a "fome" por títulos que fez a equipe manter a "pegada" forte e o controle do jogo durante praticamente os 90 minutos das suas partidas. Algo perfeitamente compreensível após uma temporada de vários títulos conquistados, mas que, pro tamanho do clube, e do investimento feito nele, não pode continuar por muito tempo.

Por Andrey Hugo(@Andrey_Hugo)