A última jornada do primeiro turno do hexagonal foi
aberta na quarta-feira, com uma rodada dupla de “clássicos” estaduais
importantíssimos para o futuro do Campeonato Catarinense. Em Florianópolis, o
Figueirense recebeu a Chapecoense para o confronto entre os líderes do
hexagonal, que tem o conjunto da capital no topo da tabela pelo critério de
saldo de gols. Mais tarde, no sul do estado, o Criciúma enfrentou um Joinville
em ascensão para tentar se manter com chances na briga por uma das vagas na
final.
Como em boa
parte de 2014, Figueirense vira com superação e dedo do técnico
No Orlando Scarpelli, Argel Fucks e Vinícius
Eutrópio, comandantes dos times que apresentam a maior regularidade do
campeonato até aqui, montaram suas equipes em sistemas parecidos. Argel mandou
a campo escalação semelhante à que tropeçou no Criciúma, no fim de semana,
também em casa. O esquema foi o 4-2-3-1, com a entrada de Roberto Cereceda,
reestreando pelo Alvinegro, no lugar do suspenso Marquinhos Pedroso, além da
promoção de Dudu à vaga de Clayton, numa mescla de cautela para preservar fisicamente
o camisa 7, que tem sido o único dos jogadores de frente a atuar seguidamente,
sem descanso, e de chamada de atenção no garoto, que já reclamou de ser
substituído recentemente e, nas últimas rodadas, não vinha mais apresentando o
mesmo futebol do início da temporada. Eutrópio – que voltava ao Scarpelli pela
primeira vez desde sua controversa demissão do Figueirense, no ano passado –
manteve o 4-2-3-1, com a opção que tem sido recorrente nos jogos fora de casa,
que é a entrada de um volante de origem no centro dos três jogadores que
trabalham atrás do centroavante Roger, para dar maior agressividade à marcação
da saída de bola do adversário.
Melhores times do Catarinense se enfrentaram em
sistemas espelhados
O primeiro tempo foi de muita marcação e troca de
posse de bola no meio-campo e poucas chances criadas, com a bola parada sendo a
principal arma das duas equipes, já que, quando a defesa não recuperava a bola,
acabava cometendo faltas, fazendo o jogo parar a todo o momento. Reflexo disso
é o fato de a etapa inicial terminar com cinco cartões amarelos mostrados por
Sandro Meira Ricci, três para a Chape e dois para o Figueira.
Argel iniciou a primeira parte com uma mudança
tática no ataque. Mazola passou a atuar por dentro, enquanto Rafael Bastos
esteve mais aberto pela direita, recompondo sem a bola e tentando armar o time
a partir do extremo. Em 2014, o treinador alvinegro utilizou inversão similar,
quando abria Giovanni Augusto ou Felipe em um dos flancos e deixava Pablo
trabalhando atrás do centroavante, fosse Marcão ou Everaldo. Mazola participou efetiva
e eficientemente na primeira etapa, já que tinha mais liberdade de movimentação
e trabalhou bem como ponta-de-lança. Rafael Bastos, por sua vez, teve maiores
dificuldades para render atuando aberto e o Figueira foi mal durante o primeiro
tempo, até que, em uma das muitas situações de bola parada do Verdão do Oeste,
Vilson se aproveitou de falha do goleiro Alex Santana para movimentar o placar
do Scarpelli.
Logo após sofrer o gol, Argel fez com que Mazola
voltasse para a direita e deixasse Rafael Bastos trabalhar como o “camisa 10”
que é, de maneira centralizada. A partir daí, o Figueira passou a criar mais
oportunidades e dominou o terço final da primeira etapa, ficando próximo de ir
para o intervalo com o placar igualado.
O Figueirense voltou para o segundo tempo com
Clayton na vaga de Marcão, fazendo o Alvinegro voltar a trabalhar sem um
centroavante de referência na frente. Enquanto isso, Vinícius Eutrópio manteve
o sistema de jogo da primeira etapa, e, com a melhora do Figueira, viu seu time
ser empurrado contra o seu campo e resolveu mexer, colocando o zagueiro Neto no
lugar de William Barbio, modificando a estrutura tática da Chape para um
4-1-4-1, com Vilson na frente da defesa e uma segunda linha de quatro que tinha
Ananias e Gil abertos e Elicarlos e Richarlyson por dentro. A mudança não foi
bem sucedida e, depois de tanto pressionar, o Figueirense conseguiu alcançar o
empate com o predestinado Clayton, em finalização precisa após passe de Rafael
Bastos.
O empate não era de todo ruim para a Chape, mas
Eutrópio resolveu entrar com Hyoran na vaga de Richarlyson, enquanto Argel
colocou Carlos Henrique no lugar do extenuado Mazola. Novamente com uma
referência à frente, o Figueirense alcançou a virada, quando Carlos Henrique
recebeu na entrada da área, usou a força física para controlar a bola, a
habilidade para se livrar de dois adversários e, quando abriu para finalizar,
foi derrubado pelo zagueiro Neto, em jogada símbolo da noite de quarta-feira
para os dois melhores treinadores do estadual: a substituição de Vinícius fez o
pênalti na substituição de Argel. Clayton cobrou e fez a estrela do treinador
alvinegro brilhar novamente.
Com a virada, Argel segurou seu time num 4-1-4-1,
com a entrada de Yago no lugar de Rafael Bastos. Enquanto isso, Eutrópio entrou
com Maranhão na vaga de Elicarlos, voltando ao 4-2-3-1 para pressionar o
Figueira atrás do empate. Embora o conjunto local se defendesse bem, os
visitantes ainda tiveram chance preciosa com Vilson, que recebeu cruzamento da
esquerda e cabeceou livre, porém nas mãos de Alex Santana.
No 4-1-4-1, Figueirense defendeu o resultado nos
minutos finais e segurou a Chape, que, durante o segundo tempo, só se preocupou
em atacar depois que tomou a virada
O resultado mantém o torcedor alvinegro a festejar,
com o time abrindo vantagem na liderança e o maior rival sofrendo na luta
contra o rebaixamento. Nem a expulsão estúpida de França, nos acréscimos,
diminuiu a alegria dos mais de 6 mil alvinegros que foram ao Orlando Scarpelli
ver o confronto entre os dois melhores times do campeonato, que voltam a se enfrentar
no domingo, em Chapecó, na abertura do segundo turno do hexagonal.
Joinville
confirma ascensão e assume vice-liderança
Após segurar o Figueirense, no fim de semana, com
um ótimo sistema defensivo armado por Luzinho Vieira, o Criciúma recebeu o
Joinville, no Heriberto Hülse. O JEC se classificou para o hexagonal aos
trancos e barrancos, mas vem evoluindo nesta segunda fase e se apresenta como a
principal ameaça a Figueirense e Chapecoense, por consenso, os dois favoritos.
De última hora, o volante Barreto e o atacante
Fernando Viana desfalcaram o Criciúma e o Joinville, respectivamente, além de
Bruno Lopes e Sueliton, suspensos. Hemerson Maria, que tem sofrido desde o
início do ano com lesões, coleciona jogadores no Departamento Médico, e já vai encontrando
uma forma de jogar com o pouco que tem à disposição.
O JEC foi a campo em um 4-2-3-1 bastante ofensivo,
diferente do 4-3-1-2 que vem sendo utilizado com mais frequência. Na linha de
defesa, Luís Felipe assumiu a vaga de Sueliton e Rogério voltou à
lateral-esquerda. A dupla de volantes foi formada por Naldo, recuperado de
lesão, e Wellington Saci, que cada vez mais deixa de ser lateral, pelo menos na
cabeça de Maria. A linha de três jogadores atrás do centroavante Kempes tinha
bastante velocidade e, com Tiago Luís centralizado, como ponta-de-lança, o JEC
ganhava finalização, passe vertical e aproximação em todos os setores do ataque
para tabelas ou triangulações.
Pelo lado do Tigre, Luizinho Vieira repetiu a
formação cautelosa do fim de semana, com os dez jogadores de linha voltando
para marcar em bloco baixo, antes do meio-campo. A mudança principal ficou por
conta de Roger Guedes, que deixou de ser o homem mais avançado sem a bola para
fechar o lado direito, função que foi de Bruno Lopes, no Orlando Scarpelli.
Tigre e JEC se enfrentaram com esquemas parecidos, mas
dinâmica diferente nas duas fases do jogo
O primeiro tempo começou bastante equilibrado no
Heriberto Hülse, com o JEC tomando a iniciativa, algo previsível em virtude da
ideia de jogo proposta por Luizinho Viera nas duas últimas rodadas. O Tigre, entretanto,
conseguia encaixar contragolpes e tinha oportunidades de criar perigo, mas
pecava muito no último passe, sobretudo por forçar a jogada sempre com Lucca, que
não vive a melhor fase técnica da carreira. Depois de assustar o ótimo goleiro
Luiz por algumas oportunidades, o Joinville conseguiu abrir o placar com
Kempes, um dos vários atletas do JEC com passagem pelo rival do sul do estado.
Após o gol, o Criciúma passou ainda maiores
dificuldades na partida e o domínio do tricolor do norte acabou por ser mais
evidente até o fim da etapa inicial. Para o segundo tempo, os treinadores
mantiveram as formações e o Tigre começou melhor, criando boas oportunidades e
desperdiçando chances de empatar o duelo, até acontecer a situação crucial que
decidiu, finalmente, a partida. Em um contra-ataque do JEC, Rômulo saiu da
esquerda para dar um carrinho forte em Welinton Júnior, que partia na direção
do gol. O lateral recebeu o segundo amarelo e foi expulso por Bráulio da Silva
Machado.
Com um a menos, Luizinho teve de recompor sua linha
defensiva e entrou com Danilo Tarracha no lugar de Natan, fazendo o Tigre passar
a atuar em um 4-3-2. Neste sentido, o jogo ficou totalmente à feição do
Joinville, que continuou atacando para tentar matar a partida, até que
Wellington Saci encontrou espaço para receber, dominar e finalizar cruzado, de
fora da área, para definir o clássico sul-norte.
Luizinho Vieira ainda tentou dar um novo ânimo à
equipe com as entradas de Edy e Luizinho Mello nas vagas de Kalil e Roger
Guedes. Hemerson Maria foi renovando o gás e reforçando seu sistema defensivo para
segurar o resultado. O treinador entrou com Eduardo e Geandro nos lugares de
Kempes e Naldo, estruturando o JEC em um 4-1-4-1 que continuou dominando territorialmente
o confronto e monopolizando a bola até o apito final, sem a menor reação do adversário.
Luizinho optou por deixar apenas três jogadores no
meio-campo e dois na frente, mas a distância entre os setores impediu que o
Carvoeiro reagisse
A grande vitória do Joinville, em Criciúma, emerge
o time à vice-liderança do estadual, mostrando, como se previa, que, apesar da
campanha ruim na primeira fase, o JEC era o time com maior capacidade de
evolução dentro do hexagonal. O Tigre, por sua vez, fica a oito pontos do G-2 e
praticamente dá adeus ao sonho de voltar a ser campeão estadual. A aposta da
diretoria carvoeira, de tentar fazer um primeiro semestre com menor
investimento e utilização das categorias de base, não rendeu bons frutos, e
pode ser prejudicial para a Série B do Brasileirão, já que o time atual não
oferece muitas perspectivas de briga por acesso à Série A e, caso se opte por
novas contratações e troca de técnico, por exemplo, será menos tempo para
formar um novo time e chegar forte para a disputa, que começa em pouco mais de
um mês.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)