quinta-feira, 26 de março de 2015

Em rodada dupla, grandes duelam e começam a desenhar os rumos do Catarinense

A última jornada do primeiro turno do hexagonal foi aberta na quarta-feira, com uma rodada dupla de “clássicos” estaduais importantíssimos para o futuro do Campeonato Catarinense. Em Florianópolis, o Figueirense recebeu a Chapecoense para o confronto entre os líderes do hexagonal, que tem o conjunto da capital no topo da tabela pelo critério de saldo de gols. Mais tarde, no sul do estado, o Criciúma enfrentou um Joinville em ascensão para tentar se manter com chances na briga por uma das vagas na final.


Como em boa parte de 2014, Figueirense vira com superação e dedo do técnico


No Orlando Scarpelli, Argel Fucks e Vinícius Eutrópio, comandantes dos times que apresentam a maior regularidade do campeonato até aqui, montaram suas equipes em sistemas parecidos. Argel mandou a campo escalação semelhante à que tropeçou no Criciúma, no fim de semana, também em casa. O esquema foi o 4-2-3-1, com a entrada de Roberto Cereceda, reestreando pelo Alvinegro, no lugar do suspenso Marquinhos Pedroso, além da promoção de Dudu à vaga de Clayton, numa mescla de cautela para preservar fisicamente o camisa 7, que tem sido o único dos jogadores de frente a atuar seguidamente, sem descanso, e de chamada de atenção no garoto, que já reclamou de ser substituído recentemente e, nas últimas rodadas, não vinha mais apresentando o mesmo futebol do início da temporada. Eutrópio – que voltava ao Scarpelli pela primeira vez desde sua controversa demissão do Figueirense, no ano passado – manteve o 4-2-3-1, com a opção que tem sido recorrente nos jogos fora de casa, que é a entrada de um volante de origem no centro dos três jogadores que trabalham atrás do centroavante Roger, para dar maior agressividade à marcação da saída de bola do adversário.

Melhores times do Catarinense se enfrentaram em sistemas espelhados

O primeiro tempo foi de muita marcação e troca de posse de bola no meio-campo e poucas chances criadas, com a bola parada sendo a principal arma das duas equipes, já que, quando a defesa não recuperava a bola, acabava cometendo faltas, fazendo o jogo parar a todo o momento. Reflexo disso é o fato de a etapa inicial terminar com cinco cartões amarelos mostrados por Sandro Meira Ricci, três para a Chape e dois para o Figueira.

Argel iniciou a primeira parte com uma mudança tática no ataque. Mazola passou a atuar por dentro, enquanto Rafael Bastos esteve mais aberto pela direita, recompondo sem a bola e tentando armar o time a partir do extremo. Em 2014, o treinador alvinegro utilizou inversão similar, quando abria Giovanni Augusto ou Felipe em um dos flancos e deixava Pablo trabalhando atrás do centroavante, fosse Marcão ou Everaldo. Mazola participou efetiva e eficientemente na primeira etapa, já que tinha mais liberdade de movimentação e trabalhou bem como ponta-de-lança. Rafael Bastos, por sua vez, teve maiores dificuldades para render atuando aberto e o Figueira foi mal durante o primeiro tempo, até que, em uma das muitas situações de bola parada do Verdão do Oeste, Vilson se aproveitou de falha do goleiro Alex Santana para movimentar o placar do Scarpelli.

Logo após sofrer o gol, Argel fez com que Mazola voltasse para a direita e deixasse Rafael Bastos trabalhar como o “camisa 10” que é, de maneira centralizada. A partir daí, o Figueira passou a criar mais oportunidades e dominou o terço final da primeira etapa, ficando próximo de ir para o intervalo com o placar igualado.

O Figueirense voltou para o segundo tempo com Clayton na vaga de Marcão, fazendo o Alvinegro voltar a trabalhar sem um centroavante de referência na frente. Enquanto isso, Vinícius Eutrópio manteve o sistema de jogo da primeira etapa, e, com a melhora do Figueira, viu seu time ser empurrado contra o seu campo e resolveu mexer, colocando o zagueiro Neto no lugar de William Barbio, modificando a estrutura tática da Chape para um 4-1-4-1, com Vilson na frente da defesa e uma segunda linha de quatro que tinha Ananias e Gil abertos e Elicarlos e Richarlyson por dentro. A mudança não foi bem sucedida e, depois de tanto pressionar, o Figueirense conseguiu alcançar o empate com o predestinado Clayton, em finalização precisa após passe de Rafael Bastos.

O empate não era de todo ruim para a Chape, mas Eutrópio resolveu entrar com Hyoran na vaga de Richarlyson, enquanto Argel colocou Carlos Henrique no lugar do extenuado Mazola. Novamente com uma referência à frente, o Figueirense alcançou a virada, quando Carlos Henrique recebeu na entrada da área, usou a força física para controlar a bola, a habilidade para se livrar de dois adversários e, quando abriu para finalizar, foi derrubado pelo zagueiro Neto, em jogada símbolo da noite de quarta-feira para os dois melhores treinadores do estadual: a substituição de Vinícius fez o pênalti na substituição de Argel. Clayton cobrou e fez a estrela do treinador alvinegro brilhar novamente.

Com a virada, Argel segurou seu time num 4-1-4-1, com a entrada de Yago no lugar de Rafael Bastos. Enquanto isso, Eutrópio entrou com Maranhão na vaga de Elicarlos, voltando ao 4-2-3-1 para pressionar o Figueira atrás do empate. Embora o conjunto local se defendesse bem, os visitantes ainda tiveram chance preciosa com Vilson, que recebeu cruzamento da esquerda e cabeceou livre, porém nas mãos de Alex Santana.

No 4-1-4-1, Figueirense defendeu o resultado nos minutos finais e segurou a Chape, que, durante o segundo tempo, só se preocupou em atacar depois que tomou a virada

O resultado mantém o torcedor alvinegro a festejar, com o time abrindo vantagem na liderança e o maior rival sofrendo na luta contra o rebaixamento. Nem a expulsão estúpida de França, nos acréscimos, diminuiu a alegria dos mais de 6 mil alvinegros que foram ao Orlando Scarpelli ver o confronto entre os dois melhores times do campeonato, que voltam a se enfrentar no domingo, em Chapecó, na abertura do segundo turno do hexagonal.


Joinville confirma ascensão e assume vice-liderança


Após segurar o Figueirense, no fim de semana, com um ótimo sistema defensivo armado por Luzinho Vieira, o Criciúma recebeu o Joinville, no Heriberto Hülse. O JEC se classificou para o hexagonal aos trancos e barrancos, mas vem evoluindo nesta segunda fase e se apresenta como a principal ameaça a Figueirense e Chapecoense, por consenso, os dois favoritos.

De última hora, o volante Barreto e o atacante Fernando Viana desfalcaram o Criciúma e o Joinville, respectivamente, além de Bruno Lopes e Sueliton, suspensos. Hemerson Maria, que tem sofrido desde o início do ano com lesões, coleciona jogadores no Departamento Médico, e já vai encontrando uma forma de jogar com o pouco que tem à disposição.

O JEC foi a campo em um 4-2-3-1 bastante ofensivo, diferente do 4-3-1-2 que vem sendo utilizado com mais frequência. Na linha de defesa, Luís Felipe assumiu a vaga de Sueliton e Rogério voltou à lateral-esquerda. A dupla de volantes foi formada por Naldo, recuperado de lesão, e Wellington Saci, que cada vez mais deixa de ser lateral, pelo menos na cabeça de Maria. A linha de três jogadores atrás do centroavante Kempes tinha bastante velocidade e, com Tiago Luís centralizado, como ponta-de-lança, o JEC ganhava finalização, passe vertical e aproximação em todos os setores do ataque para tabelas ou triangulações.

Pelo lado do Tigre, Luizinho Vieira repetiu a formação cautelosa do fim de semana, com os dez jogadores de linha voltando para marcar em bloco baixo, antes do meio-campo. A mudança principal ficou por conta de Roger Guedes, que deixou de ser o homem mais avançado sem a bola para fechar o lado direito, função que foi de Bruno Lopes, no Orlando Scarpelli.

Tigre e JEC se enfrentaram com esquemas parecidos, mas dinâmica diferente nas duas fases do jogo

O primeiro tempo começou bastante equilibrado no Heriberto Hülse, com o JEC tomando a iniciativa, algo previsível em virtude da ideia de jogo proposta por Luizinho Viera nas duas últimas rodadas. O Tigre, entretanto, conseguia encaixar contragolpes e tinha oportunidades de criar perigo, mas pecava muito no último passe, sobretudo por forçar a jogada sempre com Lucca, que não vive a melhor fase técnica da carreira. Depois de assustar o ótimo goleiro Luiz por algumas oportunidades, o Joinville conseguiu abrir o placar com Kempes, um dos vários atletas do JEC com passagem pelo rival do sul do estado.

Após o gol, o Criciúma passou ainda maiores dificuldades na partida e o domínio do tricolor do norte acabou por ser mais evidente até o fim da etapa inicial. Para o segundo tempo, os treinadores mantiveram as formações e o Tigre começou melhor, criando boas oportunidades e desperdiçando chances de empatar o duelo, até acontecer a situação crucial que decidiu, finalmente, a partida. Em um contra-ataque do JEC, Rômulo saiu da esquerda para dar um carrinho forte em Welinton Júnior, que partia na direção do gol. O lateral recebeu o segundo amarelo e foi expulso por Bráulio da Silva Machado.

Com um a menos, Luizinho teve de recompor sua linha defensiva e entrou com Danilo Tarracha no lugar de Natan, fazendo o Tigre passar a atuar em um 4-3-2. Neste sentido, o jogo ficou totalmente à feição do Joinville, que continuou atacando para tentar matar a partida, até que Wellington Saci encontrou espaço para receber, dominar e finalizar cruzado, de fora da área, para definir o clássico sul-norte.

Luizinho Vieira ainda tentou dar um novo ânimo à equipe com as entradas de Edy e Luizinho Mello nas vagas de Kalil e Roger Guedes. Hemerson Maria foi renovando o gás e reforçando seu sistema defensivo para segurar o resultado. O treinador entrou com Eduardo e Geandro nos lugares de Kempes e Naldo, estruturando o JEC em um 4-1-4-1 que continuou dominando territorialmente o confronto e monopolizando a bola até o apito final, sem a menor reação do adversário.

Luizinho optou por deixar apenas três jogadores no meio-campo e dois na frente, mas a distância entre os setores impediu que o Carvoeiro reagisse

A grande vitória do Joinville, em Criciúma, emerge o time à vice-liderança do estadual, mostrando, como se previa, que, apesar da campanha ruim na primeira fase, o JEC era o time com maior capacidade de evolução dentro do hexagonal. O Tigre, por sua vez, fica a oito pontos do G-2 e praticamente dá adeus ao sonho de voltar a ser campeão estadual. A aposta da diretoria carvoeira, de tentar fazer um primeiro semestre com menor investimento e utilização das categorias de base, não rendeu bons frutos, e pode ser prejudicial para a Série B do Brasileirão, já que o time atual não oferece muitas perspectivas de briga por acesso à Série A e, caso se opte por novas contratações e troca de técnico, por exemplo, será menos tempo para formar um novo time e chegar forte para a disputa, que começa em pouco mais de um mês.

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)