Pelo hexagonal semifinal do Campeonato Catarinense,
o líder Figueirense recebeu o lanterna Criciúma, no Orlando Scarpelli. As duas
equipes entraram em campo pela Copa do Brasil no meio de semana e tiveram
viagens longas de volta para Santa Catarina, já que o Criciúma esteve no
Espírito Santo medindo forças com o Real Noroeste e o Figueirense foi ao
Amazonas visitar o Princesa do Solimões. O Tigre goleou o time capixaba por 4 a
1 e eliminou o jogo de volta, algo que o Figueira foi incapaz de fazer, pois ficou
no 2 a 2 em Manaus e precisará jogar novamente contra o Tubarão amazonense, em
Florianópolis.
Ainda sem vencer no hexagonal, o Criciúma mudou um
pouco a estratégia na visita ao Scarpelli, já que Luizinho Vieira tentara tomar
a iniciativa contra Metropolitano e Inter de Lages e acabou sendo dominado
pelos dois adversários e sofrendo duas derrotas contundentes. Para o duelo com o
Figueira, o treinador efetuou duas mudanças com relação ao jogo da Copa do
Brasil, que foram as entradas de Natan na vaga de Ruan e a volta de Ezequiel à
titularidade na lateral-direita, que pertenceu a Maicon Silva na quarta-feira.
A mudança no meio-campo acabou por modificar a estrutura do Tigre em comparação
aos jogos anteriores, apesar da manutenção do 4-2-3-1. Cleber Santana formou
dupla de volantes com Barreto, voltando a figurar na função em que brilhou para
o futebol brasileiro, no Santos, mas onde não vinha atuando há bastante tempo.
Roger Guedes passou a ser o homem mais adiantado sem a bola, trocando de
posição com Bruno Lopes, que atuou como extremo pelo lado direito, fazendo o
Tigre se beneficiar da boa recomposição defensiva de Bruno, algo que o jovem Roger
ainda precisa aprimorar. Lucca tinha função parecida no flanco oposto e Natan
era o meio-campista centralizado que trabalhava mais próximo dos atacantes
quando o Criciúma tinha a bola. Por característica, Roger Guedes voltava um
pouco mais para buscar a bola e auxiliar Lucca, Natan e Cleber Santana na
armação, enquanto Bruno Lopes fazia a diagonal para tentar oferecer alguma
referência à frente.
Argel Fucks, pelo lado do Figueirense, teve a volta
do recuperado Marcão, que entrou na vaga de Dudu, modificando a estrutura do
ataque alvinegro que vinha dando certo nas últimas rodadas, com Mazola e Dudu
abertos e Clayton mais avançado pelo centro, mas com intensa troca de posição
entre os três jogadores leves e extremamente móveis. No meio-campo, Dener
continuou a trabalhar na contenção ao lado de França enquanto Paulo Roberto se
recupera de lesão, assim como Rafael Bastos, que assumiu a função de camisa 10
desde a contusão de Ricardinho e tem correspondido. Além dos jogadores citados,
o Furacão continua com muita gente no Departamento Médico, o que tem
atrapalhado Argel na tentativa de encontrar a equipe ideal e dar sequência.
Propondo o jogo contra o Criciúma, o Figueira continuou no mesmo 4-2-3-1 que
tem sido a tônica da temporada, com variação eventual para o 4-3-1-2, como
aconteceu no início do estadual e nos recentes duelos contra o Metropolitano e
o Princesa do Solimões, quando Mazola esteve indisponível.
Rivalidade sul-capital foi medida com os dois times em
sistemas parecidos, apesar das dinâmicas diferentes nos momentos de posse de
bola
Na análise pura e preguiçosa, diz-se que o
confronto foi do ataque do Figueirense contra a defesa do Criciúma, mas nenhuma
estratégia de jogo pode ser menosprezada e examinada com tamanho simplismo. Sem
a bola, Luizinho Vieira utilizava seus dez jogadores de linha na marcação em
bloco baixíssimo, negando espaços ao ataque do Figueirense para que os
comandados de Argel tivessem de trocar passes de um lado para o outro buscando
quebrar as linhas tricolores. Isto demanda tempo e bastante movimentação do
ataque alvinegro, o que vai cansando os jogadores e gera espaços para o
adversário contragolpear e era essa a aposta do Tigre para buscar o gol e
surpreender o líder do Catarinense. Bruno Lopes e Lucca recuavam para formar
uma segunda linha de quatro com Barreto e Cleber Santana, enquanto Natan e
Roger Guedes, alinhados, marcavam um pouco à frente dessa linha, fazendo com
que os três setores da marcação carvoeira fossem separados por 20, no máximo 25
metros, em compactação de nível europeu.
Bem estruturado taticamente e com muita disciplina, Criciúma
conseguiu igualar o jogo contra um adversário com mais alternativas técnicas e
que estava 100% dentro de casa
O Figueirense tinha sua recomposição parecida com a
do rival, com os dois jogadores de lado de campo completando a linha com os
volantes, mas liberando Marcão de grandes funções defensivas. Rafael Bastos
também ficava um pouco mais solto e geralmente voltava apenas até a
intermediária de defesa. As duas principais linhas alvinegras também eram
compactas, mas sem a mesma rigidez que as adversárias, já que a marcação do
Figueira era um pouco mais agressiva ao portador da bola, enquanto a do
Criciúma esperava mais e preferia negar espaços ao passe do que propriamente
combater o atleta que dominava a bola.
Em momento de atendimento a um jogador do Criciúma,
foi possível observar claramente a formação da fase defensiva alvinegra, com
duas linhas de quatro e dois jogadores soltos à frente
A iniciativa do jogo foi obviamente tomada pelo
Figueirense, tanto por ser mandante quanto por característica do time e pela
postura do Criciúma. As boas triangulações pela esquerda de Marquinhos Pedroso,
França e Clayton geraram algumas possibilidades interessantes, pouco
aproveitadas pela dificuldade no último passe ou mesmo na finalização de Marcão
dentro da área, visivelmente sem ritmo ou tempo de bola. A bola parada era
bastante explorada pelos dois times e algumas situações de perigo foram criadas
neste expediente, sobretudo pelo lado alvinegro, com ótimas participações do
goleiro Luiz, o maior destaque individual da partida.
O primeiro tempo acabou sendo morno no Scarpelli,
com pouquíssimas chances criadas para ambos os lados, apesar do domínio do conjunto local. Logo nos primeiros minutos da segunda etapa, Argel entrou com Dudu
na vaga de Marcão, voltando à estrutura dos jogos anteriores, sem um
centroavante fixo dentro da área. Nesta formação, entretanto, o Figueira passou
a ter mais dificuldades, já que Dudu não conseguiu agredir pela direita como
fizera em jogos anteriores vindo do banco. Neste sentido, Argel resolveu mudar
novamente, com a entrada de Yago na vaga de Clayton, fazendo o alvinegro passar
a atuar com um losango no meio-campo, com França, Dener e Yago na trinca de
meio-campistas, Rafael Bastos como enganche e Dudu e Mazola se movimentando
bastante à frente. Enquanto isso, Luizinho Vieira parecia satisfeito com o
desempenho de seus comandados e só foi mexer no Criciúma perto dos quarenta
minutos do segundo tempo, quando sacou Bruno Lopes e Natan para colocar Vitor
Michels e Kalil, sem, contudo, modificar a estratégia ou a estrutura tática do
Tigre. Argel também entrou com o garoto Mateuzinho na vaga de França, passando
a atuar com dois volantes, dois meias e dois atacantes, em um 4-4-2 que tinha
Rafael Bastos e Mateuzinho fechando os extremos sem a bola.
Argel tentou a última cartada ao trabalhar no 4-4-2
contra o compacto Criciúma
No final do jogo, os dois times ainda criaram
oportunidades e, com o Figueirense desgastado fisicamente e mais aberto na
defesa, o Tigre ainda teve boa falta lateral conseguida a partir de um
contra-ataque e, após a cobrança, Thiago Heleno desviou contra e acertou o
travessão de Alex Santana, quase castigando o próprio time com uma derrota nos
momentos derradeiros da partida.
O jogo não foi tão interessante para os 6 mil
torcedores que estiveram no Orlando Scarpelli, que acabaram festejando mais com
a derrota do rival Avaí, que vai ladeira abaixo no quadrangular do descenso e
neste momento estaria sendo rebaixado para a segunda divisão do estadual.
Taticamente, no entanto, o jogo foi bastante intenso e serve de aprendizado
para Argel, que não enfrentou defesas tão bem estruturadas ainda neste estadual
e precisa desenvolver mecanismos para furar este tipo de bloqueio em futuras
oportunidades. O contestado Luizinho Vieira prova que tem seu valor como
treinador de futebol e quem tiver a boa vontade de analisar sem simplismos a
atuação do Criciúma, em Florianópolis, perceberá que o treinador montou sua
equipe de acordo com as dificuldades que teve nos últimos jogos, pensando em
igualar o duelo taticamente, já que técnica e fisicamente o Tigre tem
limitações consideráveis em comparação aos outros três grandes times deste
hexagonal.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)