segunda-feira, 23 de março de 2015

Figueirense esbarra no Criciúma e vê a vantagem na liderança diminuir

Pelo hexagonal semifinal do Campeonato Catarinense, o líder Figueirense recebeu o lanterna Criciúma, no Orlando Scarpelli. As duas equipes entraram em campo pela Copa do Brasil no meio de semana e tiveram viagens longas de volta para Santa Catarina, já que o Criciúma esteve no Espírito Santo medindo forças com o Real Noroeste e o Figueirense foi ao Amazonas visitar o Princesa do Solimões. O Tigre goleou o time capixaba por 4 a 1 e eliminou o jogo de volta, algo que o Figueira foi incapaz de fazer, pois ficou no 2 a 2 em Manaus e precisará jogar novamente contra o Tubarão amazonense, em Florianópolis.

Ainda sem vencer no hexagonal, o Criciúma mudou um pouco a estratégia na visita ao Scarpelli, já que Luizinho Vieira tentara tomar a iniciativa contra Metropolitano e Inter de Lages e acabou sendo dominado pelos dois adversários e sofrendo duas derrotas contundentes. Para o duelo com o Figueira, o treinador efetuou duas mudanças com relação ao jogo da Copa do Brasil, que foram as entradas de Natan na vaga de Ruan e a volta de Ezequiel à titularidade na lateral-direita, que pertenceu a Maicon Silva na quarta-feira. A mudança no meio-campo acabou por modificar a estrutura do Tigre em comparação aos jogos anteriores, apesar da manutenção do 4-2-3-1. Cleber Santana formou dupla de volantes com Barreto, voltando a figurar na função em que brilhou para o futebol brasileiro, no Santos, mas onde não vinha atuando há bastante tempo. Roger Guedes passou a ser o homem mais adiantado sem a bola, trocando de posição com Bruno Lopes, que atuou como extremo pelo lado direito, fazendo o Tigre se beneficiar da boa recomposição defensiva de Bruno, algo que o jovem Roger ainda precisa aprimorar. Lucca tinha função parecida no flanco oposto e Natan era o meio-campista centralizado que trabalhava mais próximo dos atacantes quando o Criciúma tinha a bola. Por característica, Roger Guedes voltava um pouco mais para buscar a bola e auxiliar Lucca, Natan e Cleber Santana na armação, enquanto Bruno Lopes fazia a diagonal para tentar oferecer alguma referência à frente.

Argel Fucks, pelo lado do Figueirense, teve a volta do recuperado Marcão, que entrou na vaga de Dudu, modificando a estrutura do ataque alvinegro que vinha dando certo nas últimas rodadas, com Mazola e Dudu abertos e Clayton mais avançado pelo centro, mas com intensa troca de posição entre os três jogadores leves e extremamente móveis. No meio-campo, Dener continuou a trabalhar na contenção ao lado de França enquanto Paulo Roberto se recupera de lesão, assim como Rafael Bastos, que assumiu a função de camisa 10 desde a contusão de Ricardinho e tem correspondido. Além dos jogadores citados, o Furacão continua com muita gente no Departamento Médico, o que tem atrapalhado Argel na tentativa de encontrar a equipe ideal e dar sequência. Propondo o jogo contra o Criciúma, o Figueira continuou no mesmo 4-2-3-1 que tem sido a tônica da temporada, com variação eventual para o 4-3-1-2, como aconteceu no início do estadual e nos recentes duelos contra o Metropolitano e o Princesa do Solimões, quando Mazola esteve indisponível.

Rivalidade sul-capital foi medida com os dois times em sistemas parecidos, apesar das dinâmicas diferentes nos momentos de posse de bola

Na análise pura e preguiçosa, diz-se que o confronto foi do ataque do Figueirense contra a defesa do Criciúma, mas nenhuma estratégia de jogo pode ser menosprezada e examinada com tamanho simplismo. Sem a bola, Luizinho Vieira utilizava seus dez jogadores de linha na marcação em bloco baixíssimo, negando espaços ao ataque do Figueirense para que os comandados de Argel tivessem de trocar passes de um lado para o outro buscando quebrar as linhas tricolores. Isto demanda tempo e bastante movimentação do ataque alvinegro, o que vai cansando os jogadores e gera espaços para o adversário contragolpear e era essa a aposta do Tigre para buscar o gol e surpreender o líder do Catarinense. Bruno Lopes e Lucca recuavam para formar uma segunda linha de quatro com Barreto e Cleber Santana, enquanto Natan e Roger Guedes, alinhados, marcavam um pouco à frente dessa linha, fazendo com que os três setores da marcação carvoeira fossem separados por 20, no máximo 25 metros, em compactação de nível europeu.

Bem estruturado taticamente e com muita disciplina, Criciúma conseguiu igualar o jogo contra um adversário com mais alternativas técnicas e que estava 100% dentro de casa

O Figueirense tinha sua recomposição parecida com a do rival, com os dois jogadores de lado de campo completando a linha com os volantes, mas liberando Marcão de grandes funções defensivas. Rafael Bastos também ficava um pouco mais solto e geralmente voltava apenas até a intermediária de defesa. As duas principais linhas alvinegras também eram compactas, mas sem a mesma rigidez que as adversárias, já que a marcação do Figueira era um pouco mais agressiva ao portador da bola, enquanto a do Criciúma esperava mais e preferia negar espaços ao passe do que propriamente combater o atleta que dominava a bola.

Em momento de atendimento a um jogador do Criciúma, foi possível observar claramente a formação da fase defensiva alvinegra, com duas linhas de quatro e dois jogadores soltos à frente

A iniciativa do jogo foi obviamente tomada pelo Figueirense, tanto por ser mandante quanto por característica do time e pela postura do Criciúma. As boas triangulações pela esquerda de Marquinhos Pedroso, França e Clayton geraram algumas possibilidades interessantes, pouco aproveitadas pela dificuldade no último passe ou mesmo na finalização de Marcão dentro da área, visivelmente sem ritmo ou tempo de bola. A bola parada era bastante explorada pelos dois times e algumas situações de perigo foram criadas neste expediente, sobretudo pelo lado alvinegro, com ótimas participações do goleiro Luiz, o maior destaque individual da partida.

O primeiro tempo acabou sendo morno no Scarpelli, com pouquíssimas chances criadas para ambos os lados, apesar do domínio do conjunto local. Logo nos primeiros minutos da segunda etapa, Argel entrou com Dudu na vaga de Marcão, voltando à estrutura dos jogos anteriores, sem um centroavante fixo dentro da área. Nesta formação, entretanto, o Figueira passou a ter mais dificuldades, já que Dudu não conseguiu agredir pela direita como fizera em jogos anteriores vindo do banco. Neste sentido, Argel resolveu mudar novamente, com a entrada de Yago na vaga de Clayton, fazendo o alvinegro passar a atuar com um losango no meio-campo, com França, Dener e Yago na trinca de meio-campistas, Rafael Bastos como enganche e Dudu e Mazola se movimentando bastante à frente. Enquanto isso, Luizinho Vieira parecia satisfeito com o desempenho de seus comandados e só foi mexer no Criciúma perto dos quarenta minutos do segundo tempo, quando sacou Bruno Lopes e Natan para colocar Vitor Michels e Kalil, sem, contudo, modificar a estratégia ou a estrutura tática do Tigre. Argel também entrou com o garoto Mateuzinho na vaga de França, passando a atuar com dois volantes, dois meias e dois atacantes, em um 4-4-2 que tinha Rafael Bastos e Mateuzinho fechando os extremos sem a bola.

Argel tentou a última cartada ao trabalhar no 4-4-2 contra o compacto Criciúma

No final do jogo, os dois times ainda criaram oportunidades e, com o Figueirense desgastado fisicamente e mais aberto na defesa, o Tigre ainda teve boa falta lateral conseguida a partir de um contra-ataque e, após a cobrança, Thiago Heleno desviou contra e acertou o travessão de Alex Santana, quase castigando o próprio time com uma derrota nos momentos derradeiros da partida.

O jogo não foi tão interessante para os 6 mil torcedores que estiveram no Orlando Scarpelli, que acabaram festejando mais com a derrota do rival Avaí, que vai ladeira abaixo no quadrangular do descenso e neste momento estaria sendo rebaixado para a segunda divisão do estadual. Taticamente, no entanto, o jogo foi bastante intenso e serve de aprendizado para Argel, que não enfrentou defesas tão bem estruturadas ainda neste estadual e precisa desenvolver mecanismos para furar este tipo de bloqueio em futuras oportunidades. O contestado Luizinho Vieira prova que tem seu valor como treinador de futebol e quem tiver a boa vontade de analisar sem simplismos a atuação do Criciúma, em Florianópolis, perceberá que o treinador montou sua equipe de acordo com as dificuldades que teve nos últimos jogos, pensando em igualar o duelo taticamente, já que técnica e fisicamente o Tigre tem limitações consideráveis em comparação aos outros três grandes times deste hexagonal.

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)