Nessa primeira metade da quarta parte, falarei sobre como foram as escolhas de Michels, quem ele escolheu, e como foram os amistosos pré-copa.
PARTE 4 (1): AS ESCOLHAS DE MICHELS
A ENTRADA DO TÉCNICO
A federação holandesa teve ousadia. Trocou o tcheco Frantisek Fadrhonc, rebaixou-o a auxiliar e trouxeram o então desenvolvedor do Futebol Total, Rinus Michels. O técnico assumiu com uma seleção até então classificada para a Copa de 74 após a não-presença em 70 e com o peso de ter o que a imprensa local considerava a maior geração da história do país. Ele sabia da responsabilidade que tinha e vendo isso agarrou a chance com unhas e dentes.
Mas ele mal sabia como se situava o elenco. Principalmente composto pelas duas maiores forças do futebol do país, Ajax e Feynoord, o esquadrão se rachava entre os que apoiavam o estilo de jogo do primeiro e o do segundo. O tricampeão europeu tinha como principais nomes Cruyff, Neeskens e Keizer, enquanto o campeão nacional tinha Van Hanegen, Jansen e De Jong. Muita disputa, muitos conflitos internos e Michels tinha que resolver isso tudo.
Defensor do estilo do time de Amsterdam, o técnico bateu na mesa, disse que se usaria do Futebol Total e que os que não concordassem que saíssem da equipe. Era o início do comando que entraria para a historia do futebol.
OS TRES AMISTOSOS DE MICHELS
O primeiro jogo com o General como treinador não teve o resultado esperado. Empate de 1 a 1 com a Austria e time notavelmente jogando com certa desatenção a partida. Novos jogadores foram convocados e o time jogou num 4-2-4/4-3-3 mais ou menos assim:
Inicio da base do time da copa estava sendo construído. No primeiro jogo, que deu em empate, Rep e Resenbrink, jogadores de muita resistencia abriam o campo e acompanhavam o lateral adversario na defesa, deixando a dupla Cruyff e Geels mais a frente, quase num 4-4-2. Michels apostou no entrosamento de De Jong e Van Hanegen na ocupação do terreno central e liberou Neeskens para fazer o combate mais acima, ajudando na tal linha de impedimento tão conhecida. O apoio de Notten e Krol eram cobertos pelos volantes, que tinham bom senso de posicionamento. No gol, preferiu Schrijvers aos outros.
Já no segundo jogo, goleada pra cima da Argentina e um time mais com a cara do que jogou a copa. Tirando os zagueiros, o resto todos foram parte dos 11 titulares. Suurbier e Krol mostravam o vigor físico voando nos lados e apoiavam sabendo que a cobertura pelos volantes Van Hanegen e Haan seria eficiente. Mais a frente deles, Neeskens chegava com muita força ao ataque, no espaço do centroavante, este que não existia devido a Cruyff. Peça chave do time, Michels deu liberdade a ele, abrindo espaços nas defesas adversárias, acionando a dupla Rep e Resenbrink. Notem que para o gol, o técnico apostou no até então desconhecido Jongbloed, que não era muito técnico nos fundamentos de goleiro, mas que tinha qualidade com a bola nos pés e sabia fazer a cobertura da defesa, o que facilitava a subida dela.
Já no terceiro jogo (abaixo), mais testes, insistencia no 4-3-3 e mais um empate, dessa vez contra a Romenia. Sem Cruyff, apostou-se em Geels, Keizer e Resenbrink na frente e num trio de meias com De Jong, Neeskens e Van Hanegen com muita rotação, confundindo adversários. Ja atrás, mais um problema. Israel se lesionou seriamente, e Michels teve de optar por uma dupla improvisada de volantes: Haan e Jansen. Observe:
OS PROBLEMAS QUE MICHELS TEVE
Se alguem acha que foi de uma hora para outra que o Carrossel Holandes se montou, engana-se completamente. Foi muito difícil a vida do treinador, já que teve uma série de problemas na convocação de jogadores chaves. Michels perdeu algumas peças importantes como o ótimo goleiro Van Beveren, que por problemas com Cruyff pediu para não ser mais convocado, o lateral Drost, que abdicou da seleção após as eliminatórias, os atacantes Pahlplatz e Bromkamp, que seguiram o mesmo caminho, o meia Muhren, que devido a uma doença do filho largou o futebol e os tres zagueiros que mais jogavam: Hulshoff, Mansveld e Israel, com lesões. Isso fez com que o time que viria a jogar com o Uruguai tivessem dois improvisados na defesa e um 11 inicial que jamais havia jogado junto.
CONVOCAÇÃO
Abaixo, vemos os 22 jogadores que Michels escolheu para a relação final da Copa:
Como será que isso encaixou tão perfeitamente? Foi magica? Veremos na segunda metade desse post, em que falarei sobre a função tática individual dos escolhidos de Michels. Sairemos um pouco do painel histórico e entraremos no que interessa!!! Abraços!