Martino
mudou as estratégias ofensivas e defensivas do costumeiro 4-3-3 blaugrana, apesar de mantê-lo como
desenho basilar. Iniesta era um quarto homem de meio campo pela esquerda, com
Messi pelo centro e Neymar pela direita. Os dois craques jogaram bem mais
próximos e espetados para sair em velocidade. No City, um 4-4-2/4-2-3-1 que
variava com o posicionamento de David Silva. Pellegrini optou por não explorar
a bola área na primeira etapa, abrindo mão de dois atacantes.
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Barcelona no 4-3-3 e o Manchester City
no 4-4-2/4-2-3-1: no time da casa, somente Messi estava completamente livre
para jogar só com a bola. Neymar acompanhava Kolarov até que chegasse a
cobertura pelo meio e Iniesta fazia o mesmo pela esquerda, se posicionando até
mais atrás que o brasileiro. Aliás, no que concerne à estratégia sem a bola,
por vezes se formava uma falsa linha de meio com Messi e Neymar mais próximos e
mais livres. Iniesta jogou mais por dentro e orquestrou o meio, abrindo o
corredor para Alba e controlando as ações ofensivas. No City, Silva tentou
circular, mas a equipe pouco criou. Agüero tocou apenas cinco vezes na bola
pelo baixo volume de jogo. As melhores chances saíram dos avanços de Touré, que
encontrou liberdade pela meia cancha. Fernandinho, muito preso na marcação, passou
despercebido.
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Flagrante do panorama tático da
partida. Percebam Xavi recuando para iniciar a jogada, assim como Messi,
enquanto Neymar ficava espetado para receber entre o lateral e o zagueiro.
Touré, além de auxiliar o ataque, também avançava para dar o primeiro bote pelo
meio (Reprodução: TV Globo).
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Desdobramento comum no futebol
moderno, tão afeito ao 4-4-2 britânico e seus derivados: percebam que a linha
de defesa entorta para sair jogando e a linha de meio do adversário também
entorta para fazer a marcação. É o que Eduardo Papke Rocha chamava no Nó Tático
de “Linha de meio em L”. Nada mais é do que o movimento para pressionar o homem
da bola onde se inicia a jogada (Reprodução: TV Globo). |
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Jogada
em que Neymar fez gol legítimo mal anulado pela arbitragem. Percebam que o
Barcelona se diversificou ofensivamente na partida, assim como nas temporadas
em que obteve sucesso. Alba mergulha no corredor aberto por Iniesta, Fàbregas
enfia a bola com perfeição e Xavi entra na área com Neymar após Messi atrair
vários jogadores em sua marcação (Reprodução: TV Globo).
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Em
busca de sua essência, o Barcelona procurou criar as sociedades triangulares
que proporcionam os toques curtos e precisos, que são as molas propulsoras de
sua evolução para o ataque. Xavi, Iniesta e Fábregas circulavam bastante para
que o homem da bola sempre tivesse opção de passe (Reprodução: TV Globo). |
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Quando
o City recuperava a bola, sempre encontrava espaço, principalmente pelos lados.
No flagrante, Touré parte livre no contragolpe, mas perde a bola na passada
larga. Percebam a bagunça que estava a defesa do Barça para receber a transição
em velocidade do rival. Espaço pela intermediária e verdadeiras avenidas pelos
flancos (Reprodução: TV Globo).
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Depois
de uma semana de críticas e de muita desconfiança, o time do Barcelona entrou
pressionado e disposto a recuperar sua competitividade. O excelente resultado
obtido na Inglaterra ajudou e a equipe, mesmo ainda longe de sua letalidade, se
impôs em seu estádio lotado e teve lampejos do Barça de Guardiola com pitadas
de Tata Martino, treinador que prefere ataques mais agudos. E Tata tentou mudar
a forma de jogar, dando dinâmica de 4-4-2 para o desenho base e diversificando
as ações ofensivas.
Messi
jogou livre, porém atuou mais pela direita em uma tentativa de jogar o mais
perto possível de Neymar. O brasileiro foi alocado no citado flanco, mas sua
missão era fazer o famoso “facão”, ou seja, aquela diagonal rumo à área que desestabiliza
a defesa adversária. Com a bola era para ser agudo e sem ela perseguir o
lateral adversário até a cobertura de meio chegar. Iniesta foi o responsável
pela engrenagem, pisando na bola e pensando o jogo como um quarto homem de meio
pela esquerda.
Na
primeira etapa, o Barcelona teve 55% de posse, contra 45% do time inglês. Como
bem percebido por Paulo Calçade, na transmissão da ESPN Brasil, o time catalão
não teve os habituais 63% pela dificuldade em reter a bola no ataque. Pellegrini
adiantou sua linha defensiva para afastar Messi e Neymar do gol, o que
dificultou para o Barça até retomar o balão mais próximo da meta de Hart. Sobre
Pellegrini, decepcionou ao abrir mão do segundo atacante, ainda mais com o jogo
aéreo frágil do oponente.
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Na
segunda etapa, as equipes mudaram um pouco sua tônica. No City, Touré ficou
mais preso para cuidar de Fábregas e Fernandinho se juntou a Kolarov e Milner
para forçar no lado em que Neymar estava jogando. No intervalo, Pellegrini
tirou Agüero e colocou Dzeko, buscando, enfim, explorar o jogo aéreo. No
Barcelona, um início mais equilibrado nas ações ofensivas, com Neymar buscando
recompor mais e Messi esperando pela direita. Com ele caindo pelo setor, as
diagonais do brasileiro ganharam efetividade.
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Nos
15’ iniciais, o Manchester City adiantou as linhas e dificultou o controle de
bola do adversário, chegando a praticamente empatar a posse de bola. No
flagrante, a pressão alta na saída do Barça (Reprodução: TV Globo).
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O
“facão” realizado por Neymar funcionou mais no segundo tempo com Messi caindo
pela direita para receber e armar o jogo. Foi a partir das diagonais do
brasileiro rumo a área que o argentino bateu uma na trave e fez o primeiro, aos
21’, em belo toque que encobriu Hart. Fábregas era o responsável por se juntar
aos dois na entrada da área e não desperdiçar a segunda bola.
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Diagonal
de Neymar acima citada em que o jogador leva a marcação e Messi corta para
arrematar. A bola bateu na cara da trave após o argentino chutar colocado, com
a técnica sutil habitual (Reprodução: TV Globo). |
Com
Fernandinho caindo pela esquerda junto de Milner e com a equipe pressionando a
saída, o time inglês foi melhor nos 15’ iniciais. Mas, o conjunto e a técnica
do Barcelona, somada a rodagem desse grupo, foram fundamentais para o time
espanhol retomar o domínio do jogo e mantê-lo até o final. Para isso, a equipe
de Martino segurou a bola no ataque e foi conseguindo faltas, forçando o erro
do adversário, o que aconteceu no gol de Messi. Depois que Zabaleta foi expulso,
aos 33’, o predomínio somente aumentou.
Kompany
empatou em jogada aérea, mas Daniel Alves fez mais um após jogada genial de
Iniesta. Dzeko também quase fez um de cabeça. A bola só não entrou porque
Valdés fez defesa milagrosa. Negredo entrou no lugar de Silva aos 26’, e,
somente nesse momento, o City teve a presença de área que deveria ter apostado
desde o início da partida. Enquanto a cada jogo da Champions se discute se o
ciclo do grande Barcelona acabou, a equipe vai chegando novamente. Abraço!
Por Victor Oliveira (@vlamhaoliveira)