O fim de semana na Europa teve um El Clásico manchado pela enorme atuação do Barcelona e péssima exibição do Real Madrid; um Juventus-Milan que mostrou como Paulo Dybala é bom e expôs algumas fragilidades milanistas; e um Manchester City-Liverpool realmente ótimo de Jürgen Klopp.
Sábado (21/11/2015)
Real Madrid-Barcelona (0-4)
Desde um 4-2-3-1 (4-4-1-1 na fase defensiva), passando pelos nomes, 'Rafa' Benítez buscou reativar alguns de seus primeiros ideais no Real. Bale como "10", liderando as trocas de posição, James falso extremo-direito, recuando para ajudar a conectar a equipe, pressões após as perdas de bola, alternando entre pressing no campo rival e acúmulo de atletas atrás. Porém, enquanto certos detalhes duraram poucos minutos, outros se mostraram totalmente descoordenados, fazendo o conjunto cair nas armadilhas barcelonistas. Se os mandantes apertavam a saída blaugrana, "se partiam" e davam espaços; se tentavam construir jogo desde trás, colocavam muitos na mesma altura e não geravam opções de passe verticais; quando conseguiam avançar, sempre com a "permissão" rival, esbarravam na eterna inferioridade numérica ao redor da bola e a perdiam; se juntavam gente para defender de forma mais densa, havia um buraco entre os blocos de marcação, um Cristiano pouco solidário, etc.
Em suma, se viu um time extremamente enérgico, mas nada coeso em suas tentativas. Talvez por Benítez ter abandonado suas crenças recentes, embasado em influências de todas as partes. No 2º tempo, o duelo ganhou tons mais abertos, o Madrid criou e cedeu várias ocasiões de gol, parando em Claudio Bravo e vendo o Barça marcar outras duas vezes. Mas não dá para esquecer o que 'Rafa' já criou na capital espanhola, seus claros conceitos, suas saídas de bola desenhadas. Seria covarde.
Alguns pontos da superioridade barcelonista |
Detalhes do Real Madrid |
O Barcelona compôs um 4-3-3 (4-1-4-1 sem a bola), teve perfeição na execução do planejamento e deixou uma exibição histórica. A grande questão de Luis Enrique era dar espaços para correr aos seus homens, sobretudo ao trio Sergi, Suárez, Neymar. Para tal, três mecanismos básicos: trocar muitos passes atrás, atrair rivais, quebrar a pressão e acelerar; pressionar a base das jogadas brancas, roubar mais perto de Keylor Navas e verticalizar; ou recuar, fazendo o Real avançar sem nenhum critério, para desarmar e atacar um oponente exposto. Sendo o Barça, e sendo uma equipe com Iniesta, a primeira opção foi a mais utilizada - e isso foi gastando as fortes energias madridistas. Tanto que a 1ª etapa terminou com 61% de posse e nove finalizações barcelonistas, contrastando com um único arremate madrilenho. Os comandados de 'Lucho' manejavam os mandantes como queriam, controlando e criando as situações do embate. Um lindo show de complexidade e planificação. A 2ª parte ainda trouxe Lionel Messi, Bravo sustentou a troca de golpes e o triunfo virou goleada.
Juventus-Milan (1-0)
A Juve formou um 4-3-1-2 (com ou sem a posse), como faz ocasionalmente. Sendo superiores às últimas partidas, os de Turim tiveram um participativo Dybala, um equilibrado Marchisio e um desequilibrante Pogba para ganhar. Diferentemente do que vinha ocorrendo, neste embate os juventinos possuíram maior facilidade para levar a bola à frente e se aproximar da área oponente em boas condições, e muito pelos jogadores citados. Enquanto Dybala foi uma opção de passe constante entre as linhas de marcação milanistas, Marchisio deu frescura mental aos ataques e Pogba, recebendo como gosta, não tão atrás, gerou várias jogadas. Houve certa imperfeição e algumas perdas de bola, mas também houve vitalidade para matar a maior parte dos contra-ataques rossoneri antes de serem finalizados. O domínio territorial foi bianconero, em um 1º tempo de controle (61% de posse) e sete chutes. No 2º, Pogba-Dybala decidiram, o time recuou, passou a um 3-5-2 (5-3-2 sem a bola), contou com a ineficácia de um ofensivamente "pesado" Milan e carimbou três pontos na tabela.
Pressing juventino |
Postura da Juve ao atacar |
Dando continuidade a seu tradicional 4-3-3 (4-1-4-1 ao negar espaços), o Milan tentou manter a postura instalada por Mihajlovic há algumas semanas: blocos de marcação entre médios e médio-baixos, boa ocupação do gramado, grande preenchimento central e muitos desarmes seguidos de contragolpes, o que dá alma e sentido à tudo. Contudo, as tramas ofensivas em velocidade foram bem cortadas na raiz, além de as permissões defensivas terem invadido os milanistas; ao ter de construir jogo de trás, a habitual dificuldade para circular a bola, totalizando inúmeros lançamentos para um Carlos Bacca que nunca deu garantias por cima - em toda a carreira, aliás. Após o tento da Juve, na 2ª etapa, os de Milão foram incapazes de acertar a meta de Buffon, deixando novamente em evidência a falta de planificação ofensiva. Sendo o Milan, um grande, é bom que Mihajlovic vá além de (em sua maioria, boas) elaborações reativas, pois nem todos darão o contra-ataque. É vital gerar futebol.
Manchester City-Liverpool (1-4)
O City esteve no cotidiano 4-2-3-1 (4-4-1-1 ao negar espaços), sustentando uma atuação empobrecida e nada adaptável. Obrigados a ter a posse e construir jogo desde trás, já que o rival armou sua atuação sem ela, os jogadores de Pellegrini tiveram dificuldades grandíssimas para rodar a bola e se aproximar de Mignolet, parando nas pressões vermelhas em distintas regiões do gramado. Sem um desenho de saída tão elaborado, apenas Yaya Touré recuava para fazer a pelota subir com qualidade, enquanto Fernando se afastava dela e De Bruyne, como sempre, pisava pouquíssimo no campo de defesa. Assim, foram várias perdas perto da área, passes horizontais, lançamentos inúteis - não havia alguém para vencer por cima -, diversos sustos e três gols desfavoráveis no 1º tempo. Um time controlado, que basicamente perdia a esfera em sua metade e tinha de correr para trás. Na 2ª etapa, Delph, a necessidade de melhorar e uma queda de concentração rival evoluíram o cenário.
Explicação das "zonas de pressão" de Klopp |
Alguns mapas da partida |
Por Lucas Martins (@0MartinsLucas)