Renato
Gaúcho iniciou seu trabalho no Fluminense montando um 4-2-3-1 assimétrico. Ainda
era cedo para afirmar se daria certo, mas estava funcionado nos treinamentos.
Nas primeiras atividades táticas do ano, ficou claro que o treinador tricolor
estava apostando muito na qualidade e movimentação dos meias Conca, Wagner e Sóbis.
A intenção parecia ser a formação de uma equipe veloz e ofensiva. Lembrando que
Carlinhos, Walter e Fred ainda não apresentavam condições físicas para treinar
com o grupo.
Nos
treinos da pré-temporada em Mangaratiba, na Costa Verde, Renato começou a
esboçar a formação que foi usada na estreia tricolor no Carioca contra o
Madureira. A linha de três meias ditava o ritmo do time, com constante
movimentação e alternância de posicionamento. No dia 14/01, Renato escalou
Diguinho e Jean como volantes. Na quarta, 15/01, William e Jean funcionaram
melhor na vitória por 3 a 0 em jogo treino contra o Grêmio Mangaratibense, time da Segunda Divisão do Rio.
A
função dos volantes chamou a atenção por ter aplicação diferenciada daquilo que
havia sendo feito desde que Abel assumiu a equipe. Ficou perceptível nos
treinos que o objetivo principal deles era, primeiramente, proteger a zaga e os
laterais, além de dar condições para que Conca e Wagner chegassem à frente com
mais segurança. Sobis estava jogando mais recuado, como um terceiro armador. As
mudanças de posicionamento eram constantes. Conca, Wagner e Sobis se alternavam
entre direita, região central e esquerda o tempo todo. Nenhum deles guardava
posição.
O
volume de jogo agradava Renato e aumentava a expectativa para a estreia. Jean,
um dos jogadores mais importantes no título de 2012, e que ano passado esteve
apagado, mudou totalmente de função com o novo comandante. Vinha jogando quase
como armador, mas, nos treinamentos desse ano, a preocupação sempre foi a
defesa, afinal a equipe tinha três jogadores habilidosos na criação. Perguntado
sobre a sua nova função, apesar da manutenção do posicionamento, declarou Jean:
- Temos dois meias (Conca e Wagner).
Eles armam bastante junto com o Sobis. A função dos volantes é dar segurança
para a zaga e para os próprios meias. É uma nova função. A gente não vai ter
que sair tanto como nos outros anos.
No
dia 18 de janeiro, o Flu estreou contra o Madureira, jogo realizado em Bangu. Renato
Gaúcho, como previsto, escalou o Fluminense em um 4-2-3-1 assimétrico, com
Wagner mais como meia e Sóbis atuando praticamente como atacante. O técnico Roy
montou um 4-2-2-2 que por vezes se transformava em um losango. A intenção era
congestionar o meio e explorar a habilidade do camisa 10 Carlinhos, que jogou
muito bem com o espaço que teve entre os zagueiros e os volantes. Abaixo as
ilustrações táticas da estreia do Flu em 2014:
"Flagrante do 4-2-3-1 tricolor." |
"Variação tática constante no primeiro tempo: do 4-2-3-1 para o 4-4-2 britânico. Percebam Sóbis e Maicon como atacantes e Conca habitando uma falsa linha pelo meio." |
"Flagrante do 4-2-2-2 do Madureira." |
A
parte física pesou no fortíssimo calor carioca, ainda mais considerando que os
times menores começam sua preparação bem antes que os grandes. Mas, a partida
serviu para demonstrar as intenções de Renato para a temporada. Como o Flu tem
em seu elenco três centroavantes de qualidade (Fred, Walter e Sóbis), parecia
que o treinador estava decidido pela adoção do 4-2-3-1 assimétrico. Para Léo
Miranda, os buracos deixados no meio de campo atrapalharam a estreia:
- Em um dos gols do Madureira, a linha
de defesa do Fluminense está montada, mas o meio está vazio: apenas Jean
protege a zaga fechando o espaço.
"Ilustração de Léo Miranda (link abaixo) e sua descrição tática da imagem: “Enquanto Willian cobre a lateral, Ronan tenta voltar para ajudar a defesa do Flu, que deixa espaço”." |
Para
o jogo contra o Bonsucesso, no dia 23 de janeiro, em partida disputada no
Maracanã, o técnico tricolor tentou uma nova composição. Dessa vez, e talvez
pela condição física da equipe, decidiu proteger mais a zaga, algo que
realmente era necessário. Renato escalou um 4-3-2-1 que na transição ofensiva
se transformava em um 3-4-2-1, com Valencia entre os zagueiros e responsável
pelo primeiro passe. Carlinhos e Bruno alinhavam-se como alas e Sóbis era tão
responsável pela criação quanto Conca.
O
Fluminense teve várias chances de gol, mas não soube aproveitar. A questão
física ainda atrapalhou muito a equipe, entretanto deu para sentir uma
evolução, mesmo que pequena, no trabalho coletivo do time. Renato Gaúcho testou
seu novo esquema e visivelmente suas intenções começaram a mudar de direção.
Dessa vez o sacrificado foi Wagner, que acabou saindo para a entrada do
volante/zagueiro Valencia. Léo Miranda analisou muito bem o sistema de
coberturas do Flu:
- Renato também definiu o sistema de
coberturas quando o Fluminense atacava: Jean cobria Bruno, Diguinho ocupava o
espaço de Carlinhos e Valencia ora se juntava à zaga, ora dava o primeiro bote
na frente de Gum e Elivélton. Isso abria um buraco no meio, possibilitando ao
Bonsucesso vir com a bola dominada e espaço vazio para carregar. A estratégia
foi clara: contragolpe. No lance do gol fica perceptível como Nill aproveitou o
espaço central, totalmente vazio, já que Valencia não recompôs a tempo.
Ontem,
contra o Nova Iguaçu em Volta Redonda, Renato Gaúcho repetiu o time que atuou
contra o Bonsucesso, porém com algumas mudanças e a promoção de mais alguns
testes. Algumas compensações táticas foram mudadas e o 4-4-2 losango com Conca
de enganche apareceu pela primeira vez. O
Nova Iguaçu ainda não tinha sofrido gols no campeonato e o Flu jogava
pressionado. Talvez por isso o tricolor tenha iniciado a partida marcando com
pressão a saída de bola do adversário.
Como
muito bem analisado por Júnior na transmissão da Rede Globo, “Renato preencheu o meio para que a defesa
tivesse mais solidez”. E novamente a função de Jean foi alterada. Ontem, o
volante iniciou tendo a responsabilidade de finalizar e auxiliar na criação. E
foi jogando mais à frente que marcou o primeiro gol do Flu, aos 11’ da etapa
inicial. Para cobrir as investidas de Jean, o técnico tricolor também alterou a
função de Valencia. Essa foi a instrução que Renato deu para Bruno repassar ao
colombiano:
- Fala para o Valencia que quando você
subir é ele que tem que abrir mais pela direita e fazer a cobertura, não o
Jean.
O
Nova Iguaçu marcava por zona, mas quando alguém encostava na marcação de um
jogador do Flu, o acompanhava até o final da jogada, com outro jogador
preenchendo seu espaço. Mesmo com o gol de Jean no início do duelo, o tricolor
tinha dificuldades em arrumar espaço na intermediária. Mas, quando Conca recuou
no 4-4-2 losango armado por Renato, os espaços foram encontrados com seus
lançamentos primorosos e sua rara visão de jogo.
"Flagrante do losango tricolor." |
"O Fluminense retornou para o segundo tempo com o 4-4-2 losango. O Nova Iguaçu também voltou jogando da mesma forma como atuou na primeira etapa." |
Na sequência da jogada, Conca leva a
bola para o flanco e Wagner dispara para receber e colocar a pelota no ângulo
esquerdo do goleiro Jefferson.
|
Conca
foi brilhante e mostrou ser o elo mais apropriado para ligar a defesa ao
ataque. Valencia foi um achado para auxiliar a frágil defesa e dar o primeiro
passe. Com o colombiano preso, Renato pode soltar os outros sete jogadores na
transição ofensiva. Léo Miranda fez a sugestão do losango antes da partida e,
como o mesmo colocou, parece ser uma saída apropriada. Mas, como o citado
blogueiro salientou, o Flu tem que “treinar
e arrumar as coberturas defensivas”. Até o próximo capítulo! Abraço!
Victor Lamha de Oliveira