segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

AS DÚVIDAS E AS SOLUÇÕES DE RENATO GAÚCHO NA MONTAGEM DO TIME TRICOLOR


Renato Gaúcho iniciou seu trabalho no Fluminense montando um 4-2-3-1 assimétrico. Ainda era cedo para afirmar se daria certo, mas estava funcionado nos treinamentos. Nas primeiras atividades táticas do ano, ficou claro que o treinador tricolor estava apostando muito na qualidade e movimentação dos meias Conca, Wagner e Sóbis. A intenção parecia ser a formação de uma equipe veloz e ofensiva. Lembrando que Carlinhos, Walter e Fred ainda não apresentavam condições físicas para treinar com o grupo.

Nos treinos da pré-temporada em Mangaratiba, na Costa Verde, Renato começou a esboçar a formação que foi usada na estreia tricolor no Carioca contra o Madureira. A linha de três meias ditava o ritmo do time, com constante movimentação e alternância de posicionamento. No dia 14/01, Renato escalou Diguinho e Jean como volantes. Na quarta, 15/01, William e Jean funcionaram melhor na vitória por 3 a 0 em jogo treino contra o Grêmio Mangaratibense,  time da Segunda Divisão do Rio.

A função dos volantes chamou a atenção por ter aplicação diferenciada daquilo que havia sendo feito desde que Abel assumiu a equipe. Ficou perceptível nos treinos que o objetivo principal deles era, primeiramente, proteger a zaga e os laterais, além de dar condições para que Conca e Wagner chegassem à frente com mais segurança. Sobis estava jogando mais recuado, como um terceiro armador. As mudanças de posicionamento eram constantes. Conca, Wagner e Sobis se alternavam entre direita, região central e esquerda o tempo todo. Nenhum deles guardava posição.

O volume de jogo agradava Renato e aumentava a expectativa para a estreia. Jean, um dos jogadores mais importantes no título de 2012, e que ano passado esteve apagado, mudou totalmente de função com o novo comandante. Vinha jogando quase como armador, mas, nos treinamentos desse ano, a preocupação sempre foi a defesa, afinal a equipe tinha três jogadores habilidosos na criação. Perguntado sobre a sua nova função, apesar da manutenção do posicionamento, declarou Jean:

- Temos dois meias (Conca e Wagner). Eles armam bastante junto com o Sobis. A função dos volantes é dar segurança para a zaga e para os próprios meias. É uma nova função. A gente não vai ter que sair tanto como nos outros anos.

No dia 18 de janeiro, o Flu estreou contra o Madureira, jogo realizado em Bangu. Renato Gaúcho, como previsto, escalou o Fluminense em um 4-2-3-1 assimétrico, com Wagner mais como meia e Sóbis atuando praticamente como atacante. O técnico Roy montou um 4-2-2-2 que por vezes se transformava em um losango. A intenção era congestionar o meio e explorar a habilidade do camisa 10 Carlinhos, que jogou muito bem com o espaço que teve entre os zagueiros e os volantes. Abaixo as ilustrações táticas da estreia do Flu em 2014:


"Fluminense 2 x 3 Madureira: tricolor no 4-2-3-1 assimétrico com Sóbis de atacante e recompondo pouco. Madureira no 4-4-2 quadrado que por vezes se tornava em um 4-3-1-2. Roy foi muito bem colocando dois atacantes em cima da frágil defesa do Flu."


"Flagrante do 4-2-3-1 tricolor."
"Variação tática constante no primeiro tempo: do 4-2-3-1 para o 4-4-2 britânico. Percebam Sóbis e Maicon como atacantes e Conca habitando uma falsa linha pelo meio."
"No lance do segundo gol do Flu, marcado por Maicon, a assistência foi de Sóbis. O jogador deu o passe posicionado como segundo atacante. No flagrante, Maicon batendo para o gol depois de receber a assistência. O lançamento para Sóbis foi de Conca."

"Flagrante do 4-2-2-2 do Madureira."
A parte física pesou no fortíssimo calor carioca, ainda mais considerando que os times menores começam sua preparação bem antes que os grandes. Mas, a partida serviu para demonstrar as intenções de Renato para a temporada. Como o Flu tem em seu elenco três centroavantes de qualidade (Fred, Walter e Sóbis), parecia que o treinador estava decidido pela adoção do 4-2-3-1 assimétrico. Para Léo Miranda, os buracos deixados no meio de campo atrapalharam a estreia:

- Em um dos gols do Madureira, a linha de defesa do Fluminense está montada, mas o meio está vazio: apenas Jean protege a zaga fechando o espaço.

"Ilustração de Léo Miranda (link abaixo) e sua descrição tática da imagem: “Enquanto Willian cobre a lateral, Ronan tenta voltar para ajudar a defesa do Flu, que deixa espaço”."

Para o jogo contra o Bonsucesso, no dia 23 de janeiro, em partida disputada no Maracanã, o técnico tricolor tentou uma nova composição. Dessa vez, e talvez pela condição física da equipe, decidiu proteger mais a zaga, algo que realmente era necessário. Renato escalou um 4-3-2-1 que na transição ofensiva se transformava em um 3-4-2-1, com Valencia entre os zagueiros e responsável pelo primeiro passe. Carlinhos e Bruno alinhavam-se como alas e Sóbis era tão responsável pela criação quanto Conca.


"O Fluminense atuou em um híbrido 4-3-2-1/3-4-2-1, mas o time parecia estar com as pernas pesadas. Conca demonstrou cansaço excessivo e Fred quase não apareceu. O Bonsucesso montou duas linhas de quatro e tentou sempre compactá-las, o que atrapalhou o Flu e sua lentidão."

"Com a bola, o Flu alocava Valencia entre os zagueiros e liberava Carlinhos e Bruno para subirem ao ataque quase como ponteiros. Os alas jogavam alinhados, assim como Sóbis e Conca no setor de criação. A diferença é que o argentino buscava mais o centro para criar, enquanto Sóbis circulava mais, caindo pelos dois lados como um segundo atacante. No flagrante também percebemos a linha de meio do Bonsucesso bem próxima da linha de defesa, o que dificultou o Flu. No segundo tempo, Elivélton e Gum inverteram de lado na defesa. Mais um teste de Renato."
O Fluminense teve várias chances de gol, mas não soube aproveitar. A questão física ainda atrapalhou muito a equipe, entretanto deu para sentir uma evolução, mesmo que pequena, no trabalho coletivo do time. Renato Gaúcho testou seu novo esquema e visivelmente suas intenções começaram a mudar de direção. Dessa vez o sacrificado foi Wagner, que acabou saindo para a entrada do volante/zagueiro Valencia. Léo Miranda analisou muito bem o sistema de coberturas do Flu:


- Renato também definiu o sistema de coberturas quando o Fluminense atacava: Jean cobria Bruno, Diguinho ocupava o espaço de Carlinhos e Valencia ora se juntava à zaga, ora dava o primeiro bote na frente de Gum e Elivélton. Isso abria um buraco no meio, possibilitando ao Bonsucesso vir com a bola dominada e espaço vazio para carregar. A estratégia foi clara: contragolpe. No lance do gol fica perceptível como Nill aproveitou o espaço central, totalmente vazio, já que Valencia não recompôs a tempo.

"Outra ilustração de Léo Miranda e sua descrição tática da imagem: “Em contra-ataque do Bonsucesso, Jean e Diguinho tentam acompanhar os laterais adversários. Na segunda imagem, Valencia volta para ajudar a defesa, mas chega tarde demais: gol de empate marcado por Nill”."
Ontem, contra o Nova Iguaçu em Volta Redonda, Renato Gaúcho repetiu o time que atuou contra o Bonsucesso, porém com algumas mudanças e a promoção de mais alguns testes. Algumas compensações táticas foram mudadas e o 4-4-2 losango com Conca de enganche apareceu pela primeira vez.  O Nova Iguaçu ainda não tinha sofrido gols no campeonato e o Flu jogava pressionado. Talvez por isso o tricolor tenha iniciado a partida marcando com pressão a saída de bola do adversário.

Como muito bem analisado por Júnior na transmissão da Rede Globo, “Renato preencheu o meio para que a defesa tivesse mais solidez”. E novamente a função de Jean foi alterada. Ontem, o volante iniciou tendo a responsabilidade de finalizar e auxiliar na criação. E foi jogando mais à frente que marcou o primeiro gol do Flu, aos 11’ da etapa inicial. Para cobrir as investidas de Jean, o técnico tricolor também alterou a função de Valencia. Essa foi a instrução que Renato deu para Bruno repassar ao colombiano:

- Fala para o Valencia que quando você subir é ele que tem que abrir mais pela direita e fazer a cobertura, não o Jean.

O Nova Iguaçu marcava por zona, mas quando alguém encostava na marcação de um jogador do Flu, o acompanhava até o final da jogada, com outro jogador preenchendo seu espaço. Mesmo com o gol de Jean no início do duelo, o tricolor tinha dificuldades em arrumar espaço na intermediária. Mas, quando Conca recuou no 4-4-2 losango armado por Renato, os espaços foram encontrados com seus lançamentos primorosos e sua rara visão de jogo.

"Nova Iguaçu no 4-4-2, ora quadrado, ora britânico, e o Fluminense no 4-3-2-1/3-4-2-1: novamente Valencia ficou preso como um terceiro zagueiro na transição ofensiva. Na transição defensiva, se posicionava como primeiro volante à frente da zaga. Jean ficou mais livre para auxiliar na criação, o que mostra a intenção de Renato de contar com três armadores na equipe. Para compensar suas subidas, Sóbis fazia a recomposição com mais freqüência e Valencia caía pela direita para auxiliar na cobertura."

"Flu iniciou com Conca e Sóbis abertos pelos lados, quase em um 4-3-3, porém não era porque os citados jogadores atuavam mais centralizados como armadores que compunham os espaços na transição defensiva. O Nova Iguaçu também atuou com o volante Rodrigo César mais na proteção da zaga e responsável pelo primeiro passe."
"Valencia alternou bastante com Diguinho, como no flagrante acima. Percebam Conca e Sóbis mais centralizados com Fred mais isolado na frente. O centroavante era o único a não participar quando o time perdia a bola. Mais uma vez, o volante Rodrigo César aparece quase como um terceiro zagueiro."
"Percebendo que o adversário recuara em demasia um de seus volantes, Renato recuou Conca para criar e desenhou um 4-4-2 diamante em campo. O argentino se tornou enganche e com lançamentos primorosos colocou os companheiros em várias situações de ampliar, o que não foi aproveitado. Os dois atacantes dificultaram a sobra do adversário. Jean voltou a ficar mais preso com Diguinho e Valencia na contenção."

"Flagrante do losango tricolor."
"O Fluminense retornou para o segundo tempo com o 4-4-2 losango. O Nova Iguaçu também voltou jogando da mesma forma como atuou na primeira etapa."
"Aos 22’, Renato fez duas alterações, porém não alterou o esquema. Saíram Diguinho e Sóbis. Em suas vagas, entraram Maicon e Chiquinho. Jean ficou mais preso junto com Valencia e Chiquinho entrou com mais liberdade para atacar e ajudar Carlinhos a dar profundidade pela esquerda."

"Flagrante do segundo gol tricolor após o empate do Nova Iguaçu. Percebam que Carlinhos e Bruno estão posicionados como ponteiros. Os volantes laterais Jean e Chiquinho avançam para auxiliar a criação da jogada, enquanto Valencia e os zagueiros estão lá atrás guarnecendo toda a equipe. O Flu igualou o número de jogadores na transição ofensiva e, após belo passe de Jean, Conca dominou e fuzilou para marcar o segundo."

"Aos 30’, Wagner entrou na vaga de Fred para fazer o terceiro e sacramentar a primeira vitória do Flu na temporada. Conca foi alocado como segundo atacante pelo lado esquerdo. Jean ficou mais preso para Bruno avançar, assim como Carlinhos, que deixou a profundidade do flanco esquerdo a cargo de Chiquinho. Já o Nova Iguaçu colocou o zagueiro Uallace na vaga de Rodrigo César e assumiu de vez o esquema com três zagueiros."

"Início da jogada do terceiro gol tricolor e a disposição dos onze jogadores no momento em que se iniciou a jogada. Valencia tem a bola nos pés e faz o lançamento para Conca avançar. Percebam Bruno e Carlinhos alinhados aos volantes laterais e Wagner posicionado como enganche."

Na sequência da jogada, Conca leva a bola para o flanco e Wagner dispara para receber e colocar a pelota no ângulo esquerdo do goleiro Jefferson.

Conca foi brilhante e mostrou ser o elo mais apropriado para ligar a defesa ao ataque. Valencia foi um achado para auxiliar a frágil defesa e dar o primeiro passe. Com o colombiano preso, Renato pode soltar os outros sete jogadores na transição ofensiva. Léo Miranda fez a sugestão do losango antes da partida e, como o mesmo colocou, parece ser uma saída apropriada. Mas, como o citado blogueiro salientou, o Flu tem que “treinar e arrumar as coberturas defensivas”. Até o próximo capítulo! Abraço!







Victor Lamha de Oliveira