segunda-feira, 31 de março de 2014

Inteligência tática de Lisca e execução eficiente garantiram o triunfo do Náutico no Clássico dos Clássicos.

 

Com a vitória no Clássico dos Clássicos realizado na Ilha do Retiro, o Náutico garantiu a liderança do hexagonal final do Campeonato Pernambucano. Nas semi-finais, enfrentará o Salgueiro. A vitória alvi-rubra veio graças ao comprometimento tático da equipe dentro de campo, com assiduidade na recomposição e participação de quase todos os jogadores em fase defensiva. Apesar de uma certa inferioridade na parte técnica em relação ao Sport, a ótima execução do plano estratégico compensou bastante. 

O Náutico se posicionou a partir de um 4-2-3-1, que formava duas linhas de quatro sem a bola, com Zé Mário e Marinho recuando pelos seus respectivos flancos, alinhando-se com os volantes Elicarlos e Dê, e fazendo o acompanhamento individual nas passagens dos laterais Patric e Renê, enquanto que Roberson podia combater o volante do primeiro passe e se alinhar com Marcelinho(referência para o primeiro combate ao centro) mais à frente. Elicarlos geralmente acompanhava Felipe Azevedo individualmente, inclusive quando o mesmo tentava se deslocar para buscar jogo ou abrir em uma das pontas para dar opção de passe/jogada. O time alvi-rubro apresentava compactação/proximidade entre suas linhas, cercava as proximidades do setor da bola, combate dobrado pelos lados, centralização do winger oposto ao flanco da jogada, buscava o encurtamento/redução do espaço territorial rubro-negro e visava impedir suas progressões verticais, de modo que em várias ocasiões, o Sport se limitava às trocas de passes laterais no meio-campo e até mesmo recuos de bola para os zagueiros, tentando manter a posse em seu domínio até encontrar espaço para jogar. 

Por diversas vezes, o Timbu avançava suas linhas para exercer pressão na saída de bola do Sport e dificultar a transição leonina entre os setores. A marcação adiantada alvi-rubra se caracterizava pelo combate avançado dos wingers aos laterais rubro-negros, encostando nos mesmos em caso de abertura de jogada; busca pelo fechamento das linhas de passe do portador da bola(geralmente Ferron ou Durval) e criação de "barreiras" próximas aos mesmos, quase sempre com um jogador dando o combate em cima, reduzindo a questão de tempo e espaço para a ação do homem da bola e muitas vezes, obrigando-o a usar da ligação direta para o campo de ataque. 

A proposta de jogo do Náutico era claramente contra-golpista, tentando sair em velocidade na transição, com enfiadas de bola para a velocidade de seus wingers pelas beiradas, com investidas nas costas dos laterais e por vezes, exigindo a cobertura dos zagueiros adversários, além da projeção do meia-atacante Roberson por dentro da meia-cancha leonina. 

O 4-2-3-1 do Sport abria Renan Oliveira pelo flanco esquerdo e centralizava Felipe Azevedo. Segundo o técnico Eduardo Baptista, o objetivo foi dar maior movimentação no meio-campo, pela mobilidade de Azevedo, porém, claramente não obteve muito sucesso, até porque a principal característica de Felipe Azevedo é a movimentação pelos flancos, buscando ora a jogada de fundo, ora a diagonal para a grande área, além da dobradinha com o lateral do seu setor. Na direita, tentava chegar com a passagem de Patric e algumas tentativas de jogadas individuais de Bruninho. Na esquerda, Renan Oliveira apresentava uma certa distância em relação à grande área, recuando para buscar jogo próximo aos volantes no centro da intermediária, buscando algumas diagonais curtas para o meio e também tentando algumas jogadas na ponta. Talvez, a questão de desenvolvimento de movimentação em tais setores ou até de característica, tenham influenciado na produtividade de Renan Oliveira e Felipe Azevedo. 

Faltava verticalidade/objetividade, movimentação inteligente/deslocamentos visando a abertura de espaço para infiltrações e chegadas de trás, poder de penetração e acerto nas tomadas de decisões, para a equipe do Sport. Os erros de passe no meio-campo prejudicavam a qualidade da circulação de bola e obviamente, das fases de construção de jogadas. A lentidão na recomposição, exigia um maior trabalho na cobertura/preenchimento de espaços/combate e deixava a defesa exposta aos contra-ataques do Náutico. 

Lisca coloca um estilo bem típico e tradicional do futebol gaúcho no Náutico. Intensidade da marcação, rapidez na transição, inteligência e objetividade na definição dos encaixes individuais, além de muita obediência de seus jogadores na prática, na execução. Ao Sport, Eduardo Baptista precisa reajustar algumas questões relacionadas ao modelo de jogo, trabalhar mais a parte de soluções/alternativas táticas, pois a equipe leonina acaba se tornando previsível, o que facilita a anulação de seus pontos fortes e exploração de seus erros, por parte dos adversários. 


Por João Elias Cruz (@joãoeliascruzzz)