quinta-feira, 13 de março de 2014

Martino mudou forma de jogar do 4-3-3 catalão


Martino mudou as estratégias ofensivas e defensivas do costumeiro 4-3-3 blaugrana, apesar de mantê-lo como desenho basilar. Iniesta era um quarto homem de meio campo pela esquerda, com Messi pelo centro e Neymar pela direita. Os dois craques jogaram bem mais próximos e espetados para sair em velocidade. No City, um 4-4-2/4-2-3-1 que variava com o posicionamento de David Silva. Pellegrini optou por não explorar a bola área na primeira etapa, abrindo mão de dois atacantes.


Barcelona no 4-3-3 e o Manchester City no 4-4-2/4-2-3-1: no time da casa, somente Messi estava completamente livre para jogar só com a bola. Neymar acompanhava Kolarov até que chegasse a cobertura pelo meio e Iniesta fazia o mesmo pela esquerda, se posicionando até mais atrás que o brasileiro. Aliás, no que concerne à estratégia sem a bola, por vezes se formava uma falsa linha de meio com Messi e Neymar mais próximos e mais livres. Iniesta jogou mais por dentro e orquestrou o meio, abrindo o corredor para Alba e controlando as ações ofensivas. No City, Silva tentou circular, mas a equipe pouco criou. Agüero tocou apenas cinco vezes na bola pelo baixo volume de jogo. As melhores chances saíram dos avanços de Touré, que encontrou liberdade pela meia cancha. Fernandinho, muito preso na marcação, passou despercebido.
Flagrante do panorama tático da partida. Percebam Xavi recuando para iniciar a jogada, assim como Messi, enquanto Neymar ficava espetado para receber entre o lateral e o zagueiro. Touré, além de auxiliar o ataque, também avançava para dar o primeiro bote pelo meio (Reprodução: TV Globo).

Desdobramento comum no futebol moderno, tão afeito ao 4-4-2 britânico e seus derivados: percebam que a linha de defesa entorta para sair jogando e a linha de meio do adversário também entorta para fazer a marcação. É o que Eduardo Papke Rocha chamava no Nó Tático de “Linha de meio em L”. Nada mais é do que o movimento para pressionar o homem da bola onde se inicia a jogada (Reprodução: TV Globo).

Jogada em que Neymar fez gol legítimo mal anulado pela arbitragem. Percebam que o Barcelona se diversificou ofensivamente na partida, assim como nas temporadas em que obteve sucesso. Alba mergulha no corredor aberto por Iniesta, Fàbregas enfia a bola com perfeição e Xavi entra na área com Neymar após Messi atrair vários jogadores em sua marcação (Reprodução: TV Globo).

Em busca de sua essência, o Barcelona procurou criar as sociedades triangulares que proporcionam os toques curtos e precisos, que são as molas propulsoras de sua evolução para o ataque. Xavi, Iniesta e Fábregas circulavam bastante para que o homem da bola sempre tivesse opção de passe (Reprodução: TV Globo).
Quando o City recuperava a bola, sempre encontrava espaço, principalmente pelos lados. No flagrante, Touré parte livre no contragolpe, mas perde a bola na passada larga. Percebam a bagunça que estava a defesa do Barça para receber a transição em velocidade do rival. Espaço pela intermediária e verdadeiras avenidas pelos flancos (Reprodução: TV Globo).
Depois de uma semana de críticas e de muita desconfiança, o time do Barcelona entrou pressionado e disposto a recuperar sua competitividade. O excelente resultado obtido na Inglaterra ajudou e a equipe, mesmo ainda longe de sua letalidade, se impôs em seu estádio lotado e teve lampejos do Barça de Guardiola com pitadas de Tata Martino, treinador que prefere ataques mais agudos. E Tata tentou mudar a forma de jogar, dando dinâmica de 4-4-2 para o desenho base e diversificando as ações ofensivas.

Messi jogou livre, porém atuou mais pela direita em uma tentativa de jogar o mais perto possível de Neymar. O brasileiro foi alocado no citado flanco, mas sua missão era fazer o famoso “facão”, ou seja, aquela diagonal rumo à área que desestabiliza a defesa adversária. Com a bola era para ser agudo e sem ela perseguir o lateral adversário até a cobertura de meio chegar. Iniesta foi o responsável pela engrenagem, pisando na bola e pensando o jogo como um quarto homem de meio pela esquerda.

Na primeira etapa, o Barcelona teve 55% de posse, contra 45% do time inglês. Como bem percebido por Paulo Calçade, na transmissão da ESPN Brasil, o time catalão não teve os habituais 63% pela dificuldade em reter a bola no ataque. Pellegrini adiantou sua linha defensiva para afastar Messi e Neymar do gol, o que dificultou para o Barça até retomar o balão mais próximo da meta de Hart. Sobre Pellegrini, decepcionou ao abrir mão do segundo atacante, ainda mais com o jogo aéreo frágil do oponente.


Na segunda etapa, as equipes mudaram um pouco sua tônica. No City, Touré ficou mais preso para cuidar de Fábregas e Fernandinho se juntou a Kolarov e Milner para forçar no lado em que Neymar estava jogando. No intervalo, Pellegrini tirou Agüero e colocou Dzeko, buscando, enfim, explorar o jogo aéreo. No Barcelona, um início mais equilibrado nas ações ofensivas, com Neymar buscando recompor mais e Messi esperando pela direita. Com ele caindo pelo setor, as diagonais do brasileiro ganharam efetividade.


Nos 15’ iniciais, o Manchester City adiantou as linhas e dificultou o controle de bola do adversário, chegando a praticamente empatar a posse de bola. No flagrante, a pressão alta na saída do Barça (Reprodução: TV Globo).
O “facão” realizado por Neymar funcionou mais no segundo tempo com Messi caindo pela direita para receber e armar o jogo. Foi a partir das diagonais do brasileiro rumo a área que o argentino bateu uma na trave e fez o primeiro, aos 21’, em belo toque que encobriu Hart. Fábregas era o responsável por se juntar aos dois na entrada da área e não desperdiçar a segunda bola.

Diagonal de Neymar acima citada em que o jogador leva a marcação e Messi corta para arrematar. A bola bateu na cara da trave após o argentino chutar colocado, com a técnica sutil habitual (Reprodução: TV Globo).

Com Fernandinho caindo pela esquerda junto de Milner e com a equipe pressionando a saída, o time inglês foi melhor nos 15’ iniciais. Mas, o conjunto e a técnica do Barcelona, somada a rodagem desse grupo, foram fundamentais para o time espanhol retomar o domínio do jogo e mantê-lo até o final. Para isso, a equipe de Martino segurou a bola no ataque e foi conseguindo faltas, forçando o erro do adversário, o que aconteceu no gol de Messi. Depois que Zabaleta foi expulso, aos 33’, o predomínio somente aumentou.
                             
Kompany empatou em jogada aérea, mas Daniel Alves fez mais um após jogada genial de Iniesta. Dzeko também quase fez um de cabeça. A bola só não entrou porque Valdés fez defesa milagrosa. Negredo entrou no lugar de Silva aos 26’, e, somente nesse momento, o City teve a presença de área que deveria ter apostado desde o início da partida. Enquanto a cada jogo da Champions se discute se o ciclo do grande Barcelona acabou, a equipe vai chegando novamente. Abraço!


Por Victor Oliveira (@vlamhaoliveira)