sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

2ª parte do Especial Seleção Brasileira de 2002: Sistema defensivo

Depois de termos mostrado a 1ª parte do Especial Seleção Brasileira de 2002 (parte sobre a transição ataque-defesa), o post de agora será sobre o sistema defensivo.

O sistema defensivo verde amarelo da Copa de 2002 foi muito parecido com que se praticava no Brasil até meados dos anos 2000. Nesta fase de jogo, a Seleção Brasileira marcava com encaixes individuais por setor, com médias e longas perseguições, nem sempre ligando para a compactação e para o espaçamento entre setores, geralmente com linha de três zagueiros ou com um líbero.

Encaixes individuais por setor


Neste princípio de marcação, cada jogador da seleção penta-campeã se aproximava do jogador adversário mais próximo para marcar. O encaixe era tão procurado que desde os jogadores de frente realizavam tal marcação (na época, dificilmente todos os jogadores em campo participavam do sistema defensivo da equipe). 

Na imagem acima, a representação do princípio de marcação da Seleção Brasileira de 2002: o encaixe individual no setor. No flagrante, nota-se a linha dos três zagueiros em vermelho e a do meio-de-campo em laranja, e ambas marcando individualmente o jogador adversário no setor (marcações sendo representadas pelas linhas azuis).

Já nesta imagem, todos os jogadores do Brasil de 2002 estão marcando com encaixe individual por setor. De moderno neste princípio de marcação, nota-se todos os jogadores brasileiros participando desta fase de jogo, desde os defensores até os atacantes. Nesta época, dificilmente todos os jogadores participavam desta fase de jogo. Mais um ponto de “moderno” para Luiz Felipe Scolari e sua seleção de 2002.

Médias e longas perseguições

Estas médias e longas perseguições eram sub-princípios do encaixe da marcação individual por setor. Na época, era comum os sistemas defensivos com três zagueiros realizarem estes tipos de perseguições. Estas, normalmente, eram realizadas pelos defensores e pelos meio-campistas. 


As médias e longas perseguições eram, normalmente, realizadas pelos defensores e meio-campistas. Na imagem acima, nota-se as perseguições dos de Gilberto Silva e Juninho Paulista (estes indicados pelas setas amarelas). Como os dois volantes do time foram levados para longe dos seus setores, abriu-se um espaço vazio (indicado pelo círculo vermelho) na faixa central do campo. Já por outro lado, estes dois jogadores estavam seguindo o sub-princípio de marcação pedida pelo técnico.


No flagrante acima, mais um exemplo das perseguições médias e longas desta equipe canarinho. Na imagem, percebe-se Kleberson perseguindo e pressionando o adversário com a bola, Gilberto Silva sendo levado para fora do seu setor devido a sua perseguição e Edmilson já fora do seu setor por causa da perseguição longa. Com Kleberson e Gilberto Silva na mesma faixa do campo, abriu-se todo o espaço do retângulo azul para ser explorado pelo time adversário. Ou seja, a marcação era baseada no adversário e não no espaço.

Compactação e espaçamento entre setores

Por consequência do sub-princípio anterior, a compactação e o espaçamento entre setores foram os aspectos táticos mais comprometidos nesta fase de jogo da Seleção Brasileira de 2002. Foi comum notar o Brasil sem ligar para a compactação e gerando muito espaço defensivo entre os seus setores (defesa, meio-de-campo e ataque). Já que com as médias e longas perseguições, o que era mais importante era estar próximo dos adversários e, assim, sem se importar com a ocupação espacial do setor defensivo.


Como a referência de marcação era o jogador adversário, esta Seleção Brasileira de Felipão pouco ligava para a compactação. Na imagem acima, percebe-se que o time ocupava mais de uma metade do campo em fase defensiva. Este distanciamento entre o último defensor e o primeiro atacante é impraticável no futebol atual.

Como os jogadores do Brasil de 2002 perseguiam o adversário para onde quer que este fosse, o espaço entre setores geralmente era criado devida às movimentações dos jogadores adversários. No flagrante acima, nota-se todo espaço entre a linha defensiva e a do meio-de-campo gerado pelas movimentações dos jogadores da Inglaterra (espaço este representado pelo retângulo azul).


Já como consequência da longa compactação e do grande distanciamento entre setores, momentos como a da imagem acima eram freqüentemente ocorridas. Após um jogador adversário se desvencilhar do encaixe individual no setor, a cobertura defensiva estava longe para ser realizada rapidamente. Assim sendo, o jogador adversário continuava a sua progressão até algum outro defensor do Brasil aparecer. Era muito espaço. No exemplo acima, Kleberson foi driblado, Gilberto Silva foi levado para fora do seu setor e havia um enorme espaço entre o jogador alemão com a bola até a cobertura mais próxima da Seleção Brasileira –que seria Lúcio.  Ainda como consequência do encaixe individual por setor e das longas perseguições, geralmente, a cobertura defensiva partia da linha defensiva. Já que era somente neste setor que havia uma sobra e um jogador sem marcar um adversário.

Linha de “três” defensores ou com líbero

Normalmente, se via o Brasil jogando com três defensores, sendo um deste um líbero. Porém nem sempre o sistema defensivo verde-amarelo tinha somente três defensores e um líbero. Nesta fase de jogo, o sistema ajustável novamente aparecia na Seleção Brasileira. O posicionamento defensivo canarinho variou com uma linha de três defensores, com um líbero, com linha de cinco, com linha de quatro e um líbero e o posicionamento do meio-de-campo variava de acordo com adversário (variando o posicionamento defensivo da equipe no 3-4-1-2, 5-4-1, 3-4-3, 3-3-2-2, 4-2-3-1, 1-4-2-3).

Na imagem acima, o posicionamento em linha dos três defensores do Brasil. Na época, era muito batido na tecla de que sempre havia um líbero dentre estes três defensores verde-amarelo, mas nem sempre havia. Como o princípio de marcação era o encaixe de marcação, dependendo da movimentação do jogador adversário poderia calhar de não haver sobre defensiva e nem líbero no setor de defesa. Deste modo, fazendo com que Lúcio, Edmilson e Roque Júnior se alinhassem, como mostra o flagrante anterior.

Em situações “normais”, o posicionamento de um líbero era procurado. Na imagem acima, o sistema defensivo não estava tão ajustado, pois o líbero Edmilson era quem estava marcando um dos atacantes alemão. Pois em situações “normais”, o líbero marca por zona enquanto que os dois zagueiros alinhados à sua frente marcam individualmente os atacantes adversários.

A moderna linha de cinco demonstrada na Copa do Mundo de 2014 foi também utilizada pelo Brasil de 2002. Este posicionamento verde-amarelo aconteceu devido à movimentação ofensiva adversária, pois foram mantidos os sub-princípios da longa e média perseguição e do encaixe individual por setor. Propositalmente ou não, eis uma linha de cinco na Copa do Mundo de 2002.

A busca por um posicionamento de um líbero era buscada tão freqüentemente, que até mesmo quando havia uma linha de quatro defensores –como é o caso do flagrante acima. Cafú, Gilberto Silva ocasionalmente como zagueiro, Roque Júnior e Roberto Carlos formaram uma linha de quatro defensores, enquanto que Lúcio estava como líbero. Assim como a linha defensiva variava o seu posicionamento, a do meio-de-campo também modificava e, assim, caracterizando diferentes esquemas táticos para este Seleção Brasileira de 2002.

Na vala comum, eis o posicionamento tático difundido pela mídia daquela Seleção Brasileira. Os três zagueiros não aparecem na imagem, mas nota-se uma linha de quatro meio-campistas formada por Cafú, Kleberson, Gilberto Silva e Roberto Carlos; um meia central, no caso Rivaldo; e dois atacantes alinhados, Ronaldo e Edilson. Pela memória, o posicionamento tático do Brasil de 2002 era somente este, mas eis o que foi achado pela Equipe da Prancheta Tática:

Durante o Mundial de 2002, aquela seleção de Felipão variava o seu posicionamento de acordo com o adversário. No caso da estreia contra a Turquia, um 3-4-3 foi freqüentemente visto em campo. Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Rivaldo geralmente se alinhavam para marcar a linha de quatro defensores turcos e muitas vezes caracterizavam um 3-4-3 canarinho.

Contra a Bélgica e o seu 4-2-3-1 sem os volantes que avançava muito, Luiz Felipe Scolari posicionou Edmilson à frente da linha dos quatro defensores verde-amarelos e uma linha de três meias com Juninho Paulista pela direita, Ronaldinho Gaúcho pelo centro e Rivaldo pela esquerda. Com estas modificações, constantemente se viu o Brasil jogando em um 4-2-3-1 como na imagem acima. O esquema variava, mas os princípios e sub-princípios defensivos eram os mesmos.

Ainda sobre o jogo da Bélgica, percebe-se novamente o 4-2-3-1 que Felipão armou para aquela partida. O sistema ajustável e a grande compreensão tática daqueles jogadores de 2002 fizeram a diferença nas situações defensivas daquele Mundial.

Contra a Inglaterra e o seu 4-4-2 britânico, Luiz Felipe Scolari armou a sua equipe em um 5-4-1. Cafú e Roberto Carlos se alinharam a Lúcio, Edmilson e Roque Júnior, pois o quarteto ofensivo inglês era agudo quando atacava; Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho abriram e se alinharam a Kleberson e Gilberto Silva, pois os laterais e os volantes ingleses faziam o English Team jogar. Apesar do 5-4-1 do Brasil, os princípios e sub-princípios defensivos eram os mesmos e, assim, tendo uma sistemática diferente do 5-4-1 que foi mostrado na Copa do Mundo de 2014.

Nesta imagem do jogo contra a Inglarerra, percebe-se novamente o posicionamento em linha de Ronaldinho Gaúcho, Kleberson, Gilbero Silva e Rivaldo. O sistema ajustável foi uma boa opção utilizada por Felipão no Mundial de 2002.

Já na final contra a Alemanha, outra mudança de posicionamento tático. Como esta seleção europeia jogava no 3-4-1-2, Luiz Felipe Scolari armou a equipe para facilmente realizar o encaixe individual por setor e, assim, fazendo a sua equipe se posicionar em um 3-3-2-2, conforme a imagem acima. Defensivamente, o posicionamento do Brasil variava de acordo com o adversário. Ponto este mais “moderno” do que “antigo”, se comparado com o futebol praticado atualmente.

Por Caio Gondo (@CaioGondo)