Depois
de termos mostrado a 1ª parte do Especial Seleção Brasileira de 2002 (parte
sobre a transição ataque-defesa), o post de agora será sobre o sistema
defensivo.
O
sistema defensivo verde amarelo da Copa de 2002 foi muito parecido com que se
praticava no Brasil até meados dos anos 2000. Nesta fase de jogo, a Seleção
Brasileira marcava com encaixes individuais por setor, com médias e longas
perseguições, nem sempre ligando para a compactação e para o espaçamento entre
setores, geralmente com linha de três zagueiros ou com um líbero.
Encaixes
individuais por setor
Neste
princípio de marcação, cada jogador da seleção penta-campeã se aproximava do
jogador adversário mais próximo para marcar. O encaixe era tão procurado que
desde os jogadores de frente realizavam tal marcação (na época, dificilmente
todos os jogadores em campo participavam do sistema defensivo da equipe).
Na
imagem acima, a representação do princípio de marcação da Seleção Brasileira de
2002: o encaixe individual no setor. No flagrante, nota-se a linha dos três
zagueiros em vermelho e a do meio-de-campo em laranja, e ambas marcando
individualmente o jogador adversário no setor (marcações sendo representadas
pelas linhas azuis).
Já
nesta imagem, todos os jogadores do Brasil de 2002 estão marcando com encaixe
individual por setor. De moderno neste princípio de marcação, nota-se todos os
jogadores brasileiros participando desta fase de jogo, desde os defensores até
os atacantes. Nesta época, dificilmente todos os jogadores participavam desta
fase de jogo. Mais um ponto de “moderno” para Luiz Felipe Scolari e sua seleção
de 2002.
Médias
e longas perseguições
Estas
médias e longas perseguições eram sub-princípios do encaixe da marcação
individual por setor. Na época, era comum os sistemas defensivos com três
zagueiros realizarem estes tipos de perseguições. Estas, normalmente, eram
realizadas pelos defensores e pelos meio-campistas.
As
médias e longas perseguições eram, normalmente, realizadas pelos defensores e
meio-campistas. Na imagem acima, nota-se as perseguições dos de Gilberto Silva
e Juninho Paulista (estes indicados pelas setas amarelas). Como os dois
volantes do time foram levados para longe dos seus setores, abriu-se um espaço
vazio (indicado pelo círculo vermelho) na faixa central do campo. Já por outro
lado, estes dois jogadores estavam seguindo o sub-princípio de marcação pedida
pelo técnico.
No
flagrante acima, mais um exemplo das perseguições médias e longas desta equipe
canarinho. Na imagem, percebe-se Kleberson perseguindo e pressionando o
adversário com a bola, Gilberto Silva sendo levado para fora do seu setor
devido a sua perseguição e Edmilson já fora do seu setor por causa da
perseguição longa. Com Kleberson e Gilberto Silva na mesma faixa do campo,
abriu-se todo o espaço do retângulo azul para ser explorado pelo time
adversário. Ou seja, a marcação era baseada no adversário e não no espaço.
Compactação
e espaçamento entre setores
Por
consequência do sub-princípio anterior, a compactação e o espaçamento entre
setores foram os aspectos táticos mais comprometidos nesta fase de jogo da
Seleção Brasileira de 2002. Foi comum notar o Brasil sem ligar para a
compactação e gerando muito espaço defensivo entre os seus setores (defesa,
meio-de-campo e ataque). Já que com as médias e longas perseguições, o que era
mais importante era estar próximo dos adversários e, assim, sem se importar com
a ocupação espacial do setor defensivo.
Como
a referência de marcação era o jogador adversário, esta Seleção Brasileira de
Felipão pouco ligava para a compactação. Na imagem acima, percebe-se que o time
ocupava mais de uma metade do campo em fase defensiva. Este distanciamento
entre o último defensor e o primeiro atacante é impraticável no futebol atual.
Como
os jogadores do Brasil de 2002 perseguiam o adversário para onde quer que este
fosse, o espaço entre setores geralmente era criado devida às movimentações dos
jogadores adversários. No flagrante acima, nota-se todo espaço entre a linha
defensiva e a do meio-de-campo gerado pelas movimentações dos jogadores da
Inglaterra (espaço este representado pelo retângulo azul).
Já
como consequência da longa compactação e do grande distanciamento entre
setores, momentos como a da imagem acima eram freqüentemente ocorridas. Após um
jogador adversário se desvencilhar do encaixe individual no setor, a cobertura
defensiva estava longe para ser realizada rapidamente. Assim sendo, o jogador
adversário continuava a sua progressão até algum outro defensor do Brasil
aparecer. Era muito espaço. No exemplo acima, Kleberson foi driblado, Gilberto
Silva foi levado para fora do seu setor e havia um enorme espaço entre o
jogador alemão com a bola até a cobertura mais próxima da Seleção Brasileira
–que seria Lúcio. Ainda como
consequência do encaixe individual por setor e das longas perseguições,
geralmente, a cobertura defensiva partia da linha defensiva. Já que era somente
neste setor que havia uma sobra e um jogador sem marcar um adversário.
Linha
de “três” defensores ou com líbero
Normalmente,
se via o Brasil jogando com três defensores, sendo um deste um líbero. Porém
nem sempre o sistema defensivo verde-amarelo tinha somente três defensores e um
líbero. Nesta fase de jogo, o sistema ajustável novamente aparecia na Seleção
Brasileira. O posicionamento defensivo canarinho variou com uma linha de três
defensores, com um líbero, com linha de cinco, com linha de quatro e um líbero
e o posicionamento do meio-de-campo variava de acordo com adversário (variando
o posicionamento defensivo da equipe no 3-4-1-2, 5-4-1, 3-4-3, 3-3-2-2,
4-2-3-1, 1-4-2-3).
Na
imagem acima, o posicionamento em linha dos três defensores do Brasil. Na
época, era muito batido na tecla de que sempre havia um líbero dentre estes
três defensores verde-amarelo, mas nem sempre havia. Como o princípio de
marcação era o encaixe de marcação, dependendo da movimentação do jogador
adversário poderia calhar de não haver sobre defensiva e nem líbero no setor de
defesa. Deste modo, fazendo com que Lúcio, Edmilson e Roque Júnior se
alinhassem, como mostra o flagrante anterior.
Em
situações “normais”, o posicionamento de um líbero era procurado. Na imagem
acima, o sistema defensivo não estava tão ajustado, pois o líbero Edmilson era
quem estava marcando um dos atacantes alemão. Pois em situações “normais”, o
líbero marca por zona enquanto que os dois zagueiros alinhados à sua frente
marcam individualmente os atacantes adversários.
A moderna linha de
cinco demonstrada na Copa do Mundo de 2014 foi também utilizada pelo Brasil de
2002. Este posicionamento verde-amarelo aconteceu devido à movimentação
ofensiva adversária, pois foram mantidos os sub-princípios da longa e média
perseguição e do encaixe individual por setor. Propositalmente ou não, eis uma
linha de cinco na Copa do Mundo de 2002.
A
busca por um posicionamento de um líbero era buscada tão freqüentemente, que
até mesmo quando havia uma linha de quatro defensores –como é o caso do
flagrante acima. Cafú, Gilberto Silva ocasionalmente como zagueiro, Roque
Júnior e Roberto Carlos formaram uma linha de quatro defensores, enquanto que
Lúcio estava como líbero. Assim como a linha defensiva variava o seu
posicionamento, a do meio-de-campo também modificava e, assim, caracterizando
diferentes esquemas táticos para este Seleção Brasileira de 2002.
Na
vala comum, eis o posicionamento tático difundido pela mídia daquela Seleção
Brasileira. Os três zagueiros não aparecem na imagem, mas nota-se uma linha de
quatro meio-campistas formada por Cafú, Kleberson, Gilberto Silva e Roberto
Carlos; um meia central, no caso Rivaldo; e dois atacantes alinhados, Ronaldo e
Edilson. Pela memória, o posicionamento tático do Brasil de 2002 era somente
este, mas eis o que foi achado pela Equipe da Prancheta Tática:
Durante
o Mundial de 2002, aquela seleção de Felipão variava o seu posicionamento de
acordo com o adversário. No caso da estreia contra a Turquia, um 3-4-3 foi freqüentemente
visto em campo. Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Rivaldo geralmente se alinhavam
para marcar a linha de quatro defensores turcos e muitas vezes caracterizavam
um 3-4-3 canarinho.
Contra
a Bélgica e o seu 4-2-3-1 sem os volantes que avançava muito, Luiz Felipe
Scolari posicionou Edmilson à frente da linha dos quatro defensores
verde-amarelos e uma linha de três meias com Juninho Paulista pela direita,
Ronaldinho Gaúcho pelo centro e Rivaldo pela esquerda. Com estas modificações,
constantemente se viu o Brasil jogando em um 4-2-3-1 como na imagem acima. O
esquema variava, mas os princípios e sub-princípios defensivos eram os mesmos.
Ainda
sobre o jogo da Bélgica, percebe-se novamente o 4-2-3-1 que Felipão armou para
aquela partida. O sistema ajustável e a grande compreensão tática daqueles
jogadores de 2002 fizeram a diferença nas situações defensivas daquele Mundial.
Contra
a Inglaterra e o seu 4-4-2 britânico, Luiz Felipe Scolari armou a sua equipe em
um 5-4-1. Cafú e Roberto Carlos se alinharam a Lúcio, Edmilson e Roque Júnior,
pois o quarteto ofensivo inglês era agudo quando atacava; Rivaldo e Ronaldinho
Gaúcho abriram e se alinharam a Kleberson e Gilberto Silva, pois os laterais e
os volantes ingleses faziam o English Team jogar. Apesar do 5-4-1 do Brasil, os
princípios e sub-princípios defensivos eram os mesmos e, assim, tendo uma
sistemática diferente do 5-4-1 que foi mostrado na Copa do Mundo de 2014.
Nesta
imagem do jogo contra a Inglarerra, percebe-se novamente o posicionamento em
linha de Ronaldinho Gaúcho, Kleberson, Gilbero Silva e Rivaldo. O sistema
ajustável foi uma boa opção utilizada por Felipão no Mundial de 2002.
Já
na final contra a Alemanha, outra mudança de posicionamento tático. Como esta
seleção europeia jogava no 3-4-1-2, Luiz Felipe Scolari armou a equipe para
facilmente realizar o encaixe individual por setor e, assim, fazendo a sua equipe
se posicionar em um 3-3-2-2, conforme a imagem acima. Defensivamente, o
posicionamento do Brasil variava de acordo com o adversário. Ponto este mais
“moderno” do que “antigo”, se comparado com o futebol praticado atualmente.
Por Caio Gondo (@CaioGondo)