segunda-feira, 21 de abril de 2014

ESPECIAL - 8 anos sem Telê Santana, 8 anos sem futebol-arte

Há 8 anos o Brasil perdeu um de seus maiores técnicos, o Fio da Esperança, Telê Santana, vitima de uma infecção intestinal e demais complicações. Mesmo não estando mais entre nós, a memória de seus times sempre é e sempre será lembrada por nós.

Técnico com vocação ofensiva em seu DNA. Gostava de toque de bola envolvente e em velocidade, com movimentação pelos lados e a bola no chão. Futebol solto e ofensivo, tal como o seu Palmeiras de 1979 que fora semifinalista do Campeonato Brasileiro daquele ano, num 4-3-3 que praticamente virava um 4-2-3-1, que o levou a Seleção Brasileira.



Mas o primeiro grande título dele foi o Campeonato Brasileiro Unificado de 1971 pelo Atlético-MG. Ele armou o time no 4-2-4 que era moda na época após o Mundial de 58. 4-2-4 que até variava para o 4-3-3 com o recuo de um dos atacantes, apostando demais na velocidade dos ponteiros, e nas infiltrações dos meias e do segundo que circulava e rondava a área, com o apoio dos laterais, dinâmica ofensiva que hoje é usada por muitos times na transação ofensiva. O quarteto de ataque muitas vezes fazia encaixe defensivo, e até ofensivo com a linha defensiva adversária. Título garantido na vitória do Galo em cima do Botafogo num Maracanã Lotado.



Considerado o melhor técnico da história da Seleção Brasileiro, os comandados dele em 82 encantaram não só o Brasil, mas o mundo, contudo, a magnífica equipe composta por Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior e Falcão caiu perante Paolo Rossi e a bem postada Itália que marcava individualmente de modo incansável, e aproveitava os espaços deixados pelos brasileiros atrás com eficiência.

A Seleção de 82 jogava num 4-2-2-2, mas que também se assemelhava a um 4-2-3-1. Cerezo, Sócrates e Zico no meio de campo se alternavam pela direita para trabalhar a pelota com Leandro, enquanto que Júnior, Falcão e Éder cuidavam do lado oposto. E faltava um ponta pelo lado direito, algo que muitos cobravam, inclusive um personagem de Jô Soares.

Todos participavam das ações ofensivas, até o zagueiro Luisinho. Mas o ímpeto ofensivo, somado a falhas individuais e aos méritos italianos tiraram essa seleção da Copa, marcando também o início de uma era que priorizava o futebol mais pragmático, que vence, mas não joga bonito.



A derrota fez com que Telê montasse times menos ousados, ou até mais equilibrados, mas sem perder a sua filosofia de jogo. A Seleção de 86 era mais cautelosa, tinha um Sócrates mais apagado, e Júnior na meia esquerda de um 4-2-2-2 que tinha Muller pelo flanco oposto, se juntando a Careca. Esbarrou na França nas quartas-de-final nas penalidades. Mas foi eliminada sem perder nenhum jogo. Invicta.

Telê fora taxado de pé frio, mas não desistiu da carreira. Rodou pelo país, treinando o Galo, o Flamengo, e o Palmeiras, e logo em seguida, foi ao São Paulo, onde chegou ao seu ápice.

O primeiro ano fora difícil, com um time com desempenho pífio, que perdera a final do Campeonato Brasileiro de 1990 para o rival Corinthians. Mas o triunfo dele foi resgatar Raí do banco, e apostar nos jovens Cafu, Antônio Carlos, Leonardo e Elivelton.

Em 91, conquistaram o Brasil, e em 92, a América, e posteriormente, o mundo.

Time com futebol vistoso, mas com sacadas e compensações táticas para liberar os talentosos para brilhar. Em 92, Pintado cobria as subidas de Cafu, e quando Antônio Carlos descia - tal como Luisinho em 82 -, Adilson cobria ele. Marcadores liberando os talentosos, típico da escola brasileira.

Em algo próximo de um 4-2-3-1, a movimentação do quarteto ofensivo era intensa, Raí e Palhinha trabalhavam por dentro, e Elivelton pelo lado esquerdo, e Muller muitas vezes fazia o trabalho do pivô em cima do zagueiro ou do lateral pelo lado esquerdo, para abrir o espaço para a chegada de quem vinha de trás, mas todos podiam fazer tanto esse trabalho quanto a referência.



No Mundial de 1992, diante do Barcelona, o 4-2-3-1 foi mantido, com Cafu aberto pela ponta, e Cerezo armando de trás, com a mesma dinâmica, mais aprimorada, eficiente, com muitas tabelas, triangulações, rápidas e envolventes.

Tudo isso porque o perfil exigente do treinador contribuiu para que o time chegasse a perfeição.



A perfeição fora atingida na primeira mão da final da Libertadores de 93. Movimentação na frente, e marcação avançada e por pressão, com transação ofensiva rápida somado ao talento, com o toque de bola envolvente. 2 volantes liberavam o quarteto ofensivo do Mundial. Time ousado, mas também equilibrado, e perfeito. O estigma de pé frio sumira.


No segundo mundial, sem Raí, Cafu voltou a lateral direita, Cerezo foi posicionado mais a frente, e Leonardo foi promovido num 4-2-2-2 onde 2 volantes os protegiam, e Palhinha se movimentava e encostava no decisivo Muller na frente, que, mesmo assim, não era um centroavante.



O São Paulo de Telê fizera com que ele fosse inesquecível para muitos, e odiado até por outros devido as eliminações para a Seleção Brasileira, mas não há como negar que Telê Santana fora um grande treinador, convicto na sua filosofia de jogo, vitorioso, e moderno, atento as novidades do futebol mundial. Ele se foi, mas as saudades e as lembranças de times inesquecíveis ficam na memória para sempre. Obrigado Telê por proporcionar o futebol-arte para o mundo inteiro!

Por Diogo R.Martins (@diogorm013)