terça-feira, 22 de abril de 2014

Especial Palmeiras 1999 - Sistema Ofensivo

Como descrever o time do Palmeiras de 1999 sem falar das suas famosas bolas aéreas? Para se ter uma ideia do gosto deste time em bolas levantadas, na finalíssima da Libertadores contra o Deportivo Cali, o time de Felipão havia levantado 12 bolas na área adversária em 33 minutos e realizou 11 jogadas de linha de fundo no jogo todo. Além destes dados estatísticos, esse Verdão de 1999 era armado taticamente e reconhecido pela utilização de cruzamentos.

Para a realização de tantos cruzamentos, os laterais alviverdes eram as primeiras peças do sistema ofensivo. Estes jogadores de lado da linha defensiva, frequentemente, se alternavam de acordo com o lado que o time estivesse atacando. Mas quando a equipe estivesse perdendo ou quando o time adversário deixava somente um atacante sem fazer a recomposição defensiva, os dois laterais do Palmeiras subiam simultaneamente. Veja nos dois próximos flagrantes, as movimentações táticas anteriormente descritas:

Neste flagrante que quando o Verdão estava vencendo, Rogério - que era quem estava na lateral direita no momento da partida - está subindo ao ataque enquanto que Júnior, o lateral esquerdo do jogo, ficou parado onde estava e ficou aguardando a linha defensiva se compactar com o time (Reprodução: Rede Globo).
Já nesta imagem e com o Palmeiras perdendo, Arce e Júnior subiram simultaneamente ao ataque. Esta ida simultânea à frente dos laterais fazia com que o time tivesse amplitude em ação ofensiva, e, com os atacantes mais centralizados e se projetando à frente, a equipe tinha profundidade ao mesmo tempo (Reprodução: Bandeirantes).

Para que os laterais pudessem subir, o losango do meio de campo mudava para um quadrado e, assim, abriam os lado para que os jogadores de lado da linha defensiva iniciassem os primeiros movimentos ofensivos. Esta mudança de forma geométrica do meio de campo acontecia com o meia central mais a subida do jogador do lado do losango de acordo com o lado que a jogada estava sendo desenvolvida. Ou seja, se a jogada estava sendo iniciada pelo lado direito, o lateral direito ia ao ataque junto com o meio campista do lado direito do losango. Este último formava o segundo de dois do meio com o meia central da equipe. Observe pelos flagrantes a exposição destas movimentações:

Neste flagrante assim como foi o caso do exemplo anterior, o Palmeiras está iniciando o ataque pela direita. Deste modo, Rogério (o meio campista da direita do losango) já se desloca à frente enquanto que Zinho (o jogador da esquerda do losango) “aguarda” o alinhamento de César Sampaio (1° volante) à ele. Com Rogério avançando, Alex se alinhava à este jogador, assim como foi flagrado na próxima imagem (Reprodução: Rede Globo):

Nesta imagem, o Verdão estava atacando pela esquerda, e por isso que Zinho está alinhado com Alex. Desta maneira, em ação ofensiva, o losango do meio de campo alviverde se transformava em um quadrado. Com um quadrado no meio, os laterais tinham espaços para avançar (Reprodução: Rede Globo).


Além desta mudança para de um losango para um quadrado no meio de campo, quando o lateral alviverde já estivesse em campo ofensivo, o meio-campista - que “mudou” a forma geométrica - passa a realizar a dobra ofensiva pelo lado com este lateral. No momento desta movimentação, o meia central inicia o seu trajeto para o centro da área adversária. Esta movimentação do meia central foi fundamental para o Palmeiras ter a maior força nas bolas cruzadas. Veja nos flagrantes a seguir, imagens destas movimentações táticas descritas anteriormente:


Já com o lateral em campo ofensivo, o meio campista do lado do losango abre para realizar dobra ofensiva com ele. No flagrante, Rogério (meio-campista do lado direito) passou a auxiliar ofensivamente Zé Maria (lateral-direito) (Reprodução: Rede Globo).
Com a bola em um dos lados, o meia central se projeta ao centro da área adversária. No flagrante, Alex (o meia central) recebeu uma bola vinda de um cruzamento pela direita do seu time (Reprodução: Rede Globo).

Esta movimentação do meia central fazia com que o Palmeiras ocupasse todas as “três” regiões onde uma bola cruzada poderia cair: a primeira trave, o centro da área e a segunda trave. Com os dois atacantes, cada um ocupando o setor de uma trave, e o meia central, vindo de trás para ocupar o centro da área, as bolas levantadas frequentemente acertavam um deles. Este posicionamento ocupando as três regiões da área era tão treinada, que mesmo sem um dos jogadores ocupando um dos setores, sempre havia outro para ocupá-lo. Analise pelos flagrantes adiante:


Com a bola sendo cruzada pela direita, Oséas ocupa a região da primeira trave, Alex, do centro da área e Paulo Nunes, da segunda trave (Reprodução: Rede Globo).
Já pela esquerda e sem Alex não se projetando à frente, pois já haviam três atacantes para cada setor da área, Euller ocupa o da primeira trave, Oséas, do centro da área, e Paulo Nunes, o da segunda trave (Reprodução: Bandeirantes).

Agora sem Paulo Nunes por perto, Zinho se projetou ao centro da área enquanto que Alex se projetou para a primeira trave adversária (Reprodução: Rede Globo).

Tamanha era procura de cruzamentos desse time, que não era difícil perceber que as substituições realizadas por Felipão eram com intuito de ter ainda mais gente na área adversária. Tanto que em jogos como contra o Manchester United no Mundial de Clubes e contra na derrota pelo Vitória no Campeonato Brasileiro de 1999, as entradas dos novos jogadores fizeram “povoar” ainda mais a área do time adversário. Mas mesmo com estas substituições, a ordem no posicionamento dos jogadores era mantida.

Na derrota contra o Vitória, Felipão colocou Euller e Evair, mas manteve a ordem no posicionamento dos jogadores dentro da área adversária. No caso deste flagrante, Evair se posicionou na primeira trave, Oséas e Euller no centro da área e Zinha na segunda trave (Reprodução: Rede Globo).

Já contra o Manchester United e com o placar desfavorável, Evair se projetava na primeira trave, Oséas e Paulo Nunes para o centro e Asprilla ia para a segunda trave (Reprodução: TyCSports).
Além destas substituições com intuito de “povoar” mais a área adversária, Luiz Felipe Scolari também procurava manter o sistema ofensivo organizado. Uma vez que este sistema tinha como intenção as subidas e os ataques pelos lados, a procura de dobra ofensiva para facilitar o cruzamento e a ordem de posicionamento dos jogadores dentro da área adversária, a entrada de um “terceiro” atacante frequentemente acontecia.

Este “terceiro” atacante entrava aberto para um dos lado e fazia com que Paulo Nunes ficasse fixo pelo outro lado. Com “três” atacantes, a dobra ofensiva com o lateral acontecia com um destes atacantes em vez dos jogadores dos lados do losango do meio de campo. Observem pelos flagrantes a seguir:

Com Evair, Oséas e Paulo Nunes formando o trio ofensivo, no caso do flagrante anterior, Evair era quem estava aberto pela esquerda e Paulo Nunes aberto pela direita. Como o ataque estava se desenvolvendo pela esquerda, Evair aparece para dar opção para Júnior (Reprodução: Rede Globo).

Já no caso deste flagrante, como era Euller quem estava aberto pelo lado que o ataque do Palmeiras estava se desenvolvendo, este abre para direita para realizar a dobra ofensiva pelo lado com Arce (Reprodução: Bandeirantes).





Por Caio Gondo (@CaioGondo)