quarta-feira, 2 de julho de 2014

Argentina 1 x 0 Suiça - A visão tática do emocionante Argentina X Suíça

Essa partida não foi das melhores taticamente e nem tecnicamente, mas foi muito emocionante. Porém só no final. Até a agitada prorrogação, Argentina e Suíça travaram um duelo de modos de jogo. Enquanto que a seleção sul-americana procurava propor o jogo, a europeia se defendia e buscava o jogo reativo. Para este começo de partida que duelou duas propostas de jogo, a Argentina e a Suíça começaram no 4-2-3-1:

No 4-2-3-1 da Argentina, no caso da foto, Messi era quem estava na função de centroavante. Ele e Higuain se revezaram na função ao longo do jogo, mas foi mais frequente o camisa 10 argentino fazer a meia central do que a referência do ataque.

Na foto, o 4-2-3-1 da Suíça postado em campo ofensivo. Situação rara, ao longo de boa parte da partida.

Ao longo de quase toda partida (incluindo os dois tempos da prorrogação), a Argentina procurou propor o jogo. A seleção sul-americana terminou com 60,90% da posse da bola, finalizou 28 vezes (8 no alvo e 20 fora), realizou 543 passes certos e fez 18 viradas de jogo corretas (tendo em Garay com 6 e Mascherano com 5, os destaques argentinos nesse quesito).  Os comandados de Alejandro Sabella procuraram jogar. Porém do outro lado, havia a Suíça que não queria tomar gol.

A seleção europeia se defendia no 4-4-1-1, sendo que os seus dois jogadores de frente, invariavelmente, se alinhavam e o time passava a se defender no 4-4-2 em linha. As linhas defensivas suíças jogaram próximas e iniciando a marcação das duas linhas de 4 atrás do meio de campo. Ou seja, a compactação da equipe de Ottmar Hitfeld era um pouco à frente da linha do meio até a intermediária defensiva, assim como mostra a imagem a seguir:

O sistema defensivo suíço postado no 4-4-1-1, próximo e compactado assim como a foto demonstra. Este posicionamento atrapalhou os planos argentinos de decidir a partida em 90 minutos.

Para penetrar nesse bloco vermelho postado por Ottmar Hitfeld, Alejandro Sabella foi buscando alternativas ao longo da partida. A primeira delas aconteceu já no meio do primeiro tempo. Com a inversão de lado entre Lavezzi e Di Maria, ambos os meias entravam na diagonal para abrir corredor para os seus laterais. Relativamente, deu certo. Rojo e Zabaleta passaram a ser figuras mais constantes em ação ofensiva. Tanto que Rojo foi o segundo jogador que mais tentou cruzamentos enquanto esteve em campo. Ao todo, foram 11 cruzamentos tentados. Entretanto ainda faltava mais jogadores para fazer companhia a Higuain.

O centroavante da Argentina jogou muito tempo “sozinho” em campo. De nada adiantava os laterais conseguirem chegar mais à frente, se na àrea só estava Higuain e mais um jogador. Na foto adiante, perceba que mesmo com a chegada ao fundo de Zabaleta, na área da Suíça só estavam Higuain e Di Maria:

Mesmo com o cruzamento evidente, o sistema ofensivo argentino não “povoava” a área da Suíça. Deste modo, de nada adiantava a inversão de lado dos meias e muito menos as chegadas no fundo dos laterais.

Para o segundo tempo, a Argentina voltou no mesmo esquema tático, mas uma mudança na postura de jogo: em vez de realizar marcação ativa somente em campo defensivo, os comandados de Sabella passaram a pressionar junto o adversário com a bola. Com essa blitz do segundo tempo, a seleção sul-americana passou a dominar ainda mais a partida. Não se via a Suíça ultrapassar o meio do campo com tranquilidade e, muito menos, conseguindo sair jogando desde o seu campo defensivo. A Argentina estava feroz em campo.

No segundo tempo, a Argentina passou a pressionar em conjunto o adversário com a bola. Na imagem, perceba que no setor da bola há 5 jogadores argentinos contra 4 suíços. Mas perceba que o número 4 da Suíça nem sequer está na jogada, ou seja, na verdade há 5 jogadores argentinos contra somente 3 no setor da bola. Era pressão argentina.

Como a seleção argentina parecia não estar tão organizada para tal realização de marcação pressão, a Suíça, esporadicamente, conseguiu armar uns “contra-ataques” através dos seus chutões/ lançamentos. Ao todo, a seleção europeia realizou 53 lançamentos. Entretanto o número de somente 10 lançamentos corretos demonstra a quantidade de tentativas falhas de contragolpes suíços.

Devido à pressão conjunta argentina, os jogadores sul-americanos foram os primeiros a demonstrarem sinais de cansaço. Pois já nos últimos minutos da segunda etapa, o quarteto ofensivo argentino não mais fazia a composição defensiva como antes. Deste modo, o que se via era a Argentina se defendendo no 4-2-1-3, assim como mostra a imagem a seguir:

De tanto pressionarem em conjunto, o time argentino como um todo se desgastou rapidamente e passou deixar de se recompor como na primeira etapa. Na imagem, o 4-2-1-3 argentino que passou a ser realizado já no fim do segundo tempo.

Com a equipe da Argentina desgastada e da Suíça sem conseguir atacar direito, o que se viu em campo durante os primeiros 28 minutos de prorrogação foram duas seleções se arrastando em campo. Nenhuma delas conseguia mais fazer o que foi planejado pelos seus técnicos. Mas aos 13 minutos da segunda etapa da prorrogação, o craque Messi fez a diferença. O camisa 10 argentino driblou dois adversários e fez um passe açucarado para Di Maria finalizar com a sua incrível precisão. Gol da Argentina, e início da emoção do jogo.

Após o gol sofrido, a Suíça passou a atacar desesperadamente junto com o seu goleiro e quase realizou o empate em duas oportunidades. Porém como a Argentina havia feito por merecer a classificação, os sul-americanos ficaram com a vaga para as quartas-de-final da Copa do Mundo de 2014. Fim da linha para a Suíça, e a Argentina agora pegará a Bélgica.

Por Caio Gondo (@CaioGondo)