terça-feira, 1 de julho de 2014

Alemanha 2 x 1 Argélia - Sem velocidade, mas com posse de bola, Alemanha avança às quartas em jogo complicado

Nem parecia a Alemanha da estreia. Vertical, precisa, direta, a seleção Alemã havia superado os Portugueses com extraordinários 4 a 0 na Arena Fonte Nova. Três jogos depois, no Beira-Rio, a situação foi bem diferente. Com maior toque de bola e pouca velocidade, os comandados de Joaquim Low tiveram enormes dificuldades diante da empenhada e bem-montada seleção da Argélia - mais uma das muitas surpresas nesta Copa do Mundo. O resultado, entretanto, 2 a 1 para os Alemães na prorrogação, mostrou toda a qualidade da melhor geração germânica deste século.

A Alemanha utilizou o 4-1-4-1 como esquema para tentar superar os Argelinos. Lahm era o primeiro volante, com Kroos e Schweinsteiger logo à frente - o meio de campo do Bayern, reforçado com as presenças de Goetze - desta vez atuando aberto pelo lado direito - e Muller, o falso-9. Único "intruso" nesse meio, Ozil atuou aberto pelo lado esquerdo. A lesão de Mats Hummels fez com que Low jogasse Boateng para o miolo de zaga e Mustafi na lateral. Com dois zagueiros de oficio nas laterais e dois meias organizadores nos lados, os Alemães tocavam muito a bola, mas não tinham a velocidade necessária para furar a retranca Argelina. 

Diferentemente do primeiro jogo, onde a Alemanha atuava de maneira semelhante ao Bayern campeão da Champions com Jupp Heyckes na temporada passada, desta vez os Alemães pareciam o time de Guardiola, famoso mundialmente pelo estilo tiki-taka. No primeiro tempo, os germânicos tiveram 69% de posse de bola - apesar das melhores chances de gol terem sido dos Argelinos. A marcação-pressão era constante, a equipe sempre estava projetada em caixa-alta, com os zagueiros praticamente na linha de meio-de-campo, encaixotando o adversário. Era também clara a influência da escola Barcelona no momento das trocas de bola e triangulações, quando os dois laterais se projetavam para formar triângulos de passe, exatamente como as equipes de Guardiola costumam fazer.

P.S: Não sou muito bom com desenhos, mas a imagem abaixo é uma tentativa de mostrar as linhas de passe da Alemanha.

Triangulações da Alemanha: linhas de passe a lá Barcelona


A Argélia surpreendeu com a sua escalação. Gouhlam e Taider, que tinham perdido vaga na equipe após a derrota para a Bélgica, voltaram para o time titular nos lugadres de Djobou - até então destaque do time - e Mesbah. Brahimi e Bentaleb, os volantes titulares, também deixaram a equipe para as entradas de Lacen e Mostefa - este último um zagueiro. O 4-1-4-1 deu lugar a um 5-4-1 bastante compactado, com duas linhas próximas e só Slimani projetado à frente. Ao todo, foram 5 modificações na comparação com a equipe que venceu a Rússia na fase de grupos, o que mostra toda a versatilidade deste elenco Argelino. 

A Argélia se defendia sempre com, pelo menos, 8 jogadores e quando tomava a bola partia em contra-ataques rápidos, puxados principalmente pelo lado esquerdo com Soudani - winger e válvula de escape deste time. As duas chances mais claras de gol do primeiro tempo foram dos Argelinos, sendo um gol anulado e uma grande defesa do excelente goleiro Neuer em chance de Feghouli.

1o tempo: Alemanha em cima, Argélia no contra-ataque



Era clara a falta de velocidade no time da Alemanha. No segundo tempo os Alemães se impuseram mais em relação aos Argelinos, mas não havia válvula de escape para que a transição defesa-ataque fosse mais rápida. Low acertou ao colocar Schurrle no lugar do apagado Goetze logo no intervalo, dando assim maior velocidade ao setor ofensivo, mas o problema na transição permanecia. Ozil - muito displicente - insistia em errar passes no meio e ainda dava espaços quando era exigido no aspecto defensivo. A Alemanha seguia se impondo, mas sem criar chances. Howedes - de atuação destacada na estreia, contra Portugal - ia mal demais como lateral-esquerdo.

Dizem que os campeões precisam de uma pitada de sorte. O "acaso" ajudou DEMAIS o teimoso Low nesta partida. Tudo em função da lesão de Mustafi - o lateral reserva. Sem mais opções pro setor, o técnico foi obrigado a finalmente deslocar Lahm - um dos melhores laterais do mundo - para a sua função de ofício, colocando Khedira no meio. Assim, a Alemanha passou a ter totalmente a segunda bola e dominar quase que totalmente a partida. O jogo só foi para a prorrogação porque o desleixo era maior do que este domínio. Schwainsteiger e Muller - ambos muito mal - desperdiçaram boas chances e fizeram com que a partida extrapolasse os 90 minutos.

2o tempo: com Lahm na lateral, pressão aumenta ainda mais




Durante os 90 minutos, a Alemanha dava sinais de que pensava poder resolver a partida a qualquer momento, dado o desleixo dos seus jogadores. Eles tinham razão. A grande superioridade técnica se fez presente logo nos instantes iniciais da prorrogação, com o excelente Andrea Schurrle. Ele se infiltrou no miolo de zaga da Argélia no único lance de descuido dos mulçumanos para vencer o goleiro Rais e fazer o gol da classificação Alemã.

Depois disso a Argélia teve de se atirar para o campo ofensivo, tentando o gol de empate. Nesse momento prevaleceu a superioridade física da Alemanha. Por não ter a posse de bola, os Argelinos tiveram que correr muito mais ao longo da partida, e por isso estavam extenuados quando tiveram a missão de atacar. Um lance deixou isso claro, logo no início do segundo tempo da prorrogação: após um lançamento perfeito do goleiro Rais, Slimani simplesmente não teve perna para partir no contra-ataque que seria mortal. Depois disso, Ozil ainda faria o 2 a 0 num lampejo de talento único na partida. E Djabou faria o de honra dos Argelinos. Nada suficiente, entretanto, para parar a Alemanha, que segue firme, forte e favorita na Copa do Mundo.

Por Mateus Kerr (@mateuskerr)