sábado, 13 de setembro de 2014

Chelsea sofre, mas Mourinho é decisivo no confronto de líderes da Premier League

Apesar do duelo entre Arsenal e Manchester City, a partida mais esperada da quarta rodada da Premier League aconteceu em Stamford Bridge, onde o Chelsea recebeu a sensação Swansea. O time de José Mourinho iniciou a campanha a todo vapor, com alguns dos reforços dando retorno imediato e se colocando como principal favorito ao título inglês. Já o Swansea, sob o comando do não mais interino Garry Monk, acumulou três vitórias na Premier League e reaparece como postulante na briga da metade de cima da tabela, como aconteceu em 2011-12 e 2012-13.

Diferente de quando era comandado por Brendan Rodgers e Michael Laudrup, o Swansea de Monk é um time mais incisivo e vertical, que não fica muito com a bola, mas busca o ataque sempre que a recupera, com participação intensa de seus dois volantes, Ki sung-yueng, que vem de grande temporada emprestado ao Sunderland, e Jonjo Shelvey, um dos poucos destaques da campanha ruim do Swansea em 2013-14.

Em Stamford Bridge, Garry Monk manteve seu time no 4-2-3-1 que vem mostrando eficiência nesse início de época. Os galeses marcam com muita intensidade em todos os setores, sobretudo o meio-campo, sempre com vistas de recuperar a bola e buscar o contra-ataque sem dar tempo para a recomposição defensiva do rival. O francês Gomis, substituto do titular Wilfried Bony, que ficou no banco de reservas por desgaste físico causado pela data-FIFA, teve atuação interessante no primeiro tempo. O centroavante utilizava sua força para brigar entre os zagueiros, mas também para voltar até a intermediária de ataque, abrindo espaço para a movimentação entrelinhas dos homens que vêm de trás e criando dificuldades para a marcação rival, impondo a força física para manter o controle da bola. Dyer e Routledge, os homens de lado no ataque, são as opções de profundidade pelas pontas e têm demonstrado boa forma no campeonato até aqui, assim como Sigurdsson, o meia central da linha de três, que não teve jornada de sucesso contra o Chelsea. José Mourinho, sabedor da importância do islandês para o esquema do adversário, manteve o volante Matic pouco participativo no campo de ataque, limitando-se a qualificar a transição defesa-meio com seu bom passe e a guardar sua posição, localizada justamente na área de atuação de Sigurdsson. Com a pouca participação deste jogador, o valor da chegada de trás por parte de Ki e Shelvey foi ainda maior, seja para a infiltração como homens-surpresa ou para a armação, tanto que o gol que abriu o placar surgiu de ocasião criada pelo volante sul-coreano, que encontrou Neil Taylor em progressão para a linha de fundo. O lateral-esquerdo cruzou e John Terry se atrapalhou no corte, marcando gol contra.

Nas rodadas anteriores, o Chelsea vinha atuando em um 4-1-4-1, com Matic à frente da defesa e Oscar e Fàbregas alinhados aos wingers, Schürrle e Hazard. Contra o Swansea, contudo, Fàbregas atuou ao lado de Matic, com Oscar entre os dois wingers e atrás de Diego Costa, formando um 4-2-3-1. As ofensivas dos Blues sentiram um pouco a falta da presença de Cesc no terço de ataque e o primeiro tempo do time de Mourinho lembrou muito as atuações na temporada passada, onde a dependência da individualidade de Hazard era enorme. O belga era o único fator de desequilíbrio pró-Chelsea que conseguia abrir espaços nas duas linhas compactas do Swansea que bloqueavam quase todas as jogadas londrinas. A imobilidade de Diego Costa também foi fator fundamental para a atuação ruim do Chelsea no primeiro tempo. O centroavante, que tem sido o principal destaque deste início de Premier League, sempre se caracterizou pela movimentação por todo o último terço do campo, arrastando marcadores, apresentando-se para tabelas e buscando abrir espaço de todas as maneiras possíveis. Contra o Swansea, Diego esteve muito preso entre os defensores rivais. Esta atitude é conveniente para o sistema defensivo adversário, já que mantém pelo menos a última linha de marcação sempre rígida, dificultando o trabalho de penetração da equipe que está em fase ofensiva. O gol de Diego Costa, aos quarenta e quatro do primeiro tempo, após finalizar de cabeça escanteio cobrado por Fàbregas, foi um lance fortuito, sem mérito tático dos Blues, mas foi essencial para que o time mantivesse a tranquilidade para buscar a virada na segunda etapa.

Chelsea e Swansea no 4-2-3-1 durante o primeiro tempo. Galeses tiveram mais eficiência em sua proposta

Para a segunda parte, Mourinho tentou corrigir o problema no meio-campo e optou por Ramires para a vaga de Schürrle, que teve participação extremamente discreta no jogo. O brasileiro fez o Chelsea voltar ao 4-1-4-1, com Oscar passando a atuar como winger pela direita. A entrada de Ramires mudou o jogo, não só pela atuação do volante, que realmente foi muito bem, mas também pela nova estrutura que deu ao time, com Fàbregas atuando mais perto do ataque e Hazard e Oscar com maior liberdade de movimentação com a posse da bola. Esta nova configuração tática fez com que Diego Costa participasse mais da partida e alcançasse seu primeiro hat-trick com a camisa azul, chegando à incrível marca de sete gols em quatro aparições na liga mais competitiva do mundo. O Chelsea deste início de temporada serve para quebrar um tabu que alguns analistas e torcedores ainda mantêm com relação a Mourinho. O português, taxado de retranqueiro, tem montado um time que equilibra muito bem a valorização da posse da bola e a verticalidade, lembrando muito o que Jupp Heinckes fez com o Bayern de Munique campeão europeu há duas temporadas.

Chelsea atacando com sete jogadores, inclusive os dois laterais ao mesmo tempo, no lance do gol da virada. Os homens do lado esquerdo se aproximam para triangulação que abriu a defesa do Swansea, enquanto o centroavante e os homens da direita enchem o portador da bola de opções dentro da área e fora dela, com Ramires chegando por trás. Atenção também para a inteligência tática de Diego Costa, posicionado em impedimento durante o desenrolar da jogada para evitar a marcação e voltando a ter condição legal no momento do último passe. Conclusão foi outra assistência de Cesc e mais um gol de Costa (Reprodução: ESPN Brasil)

Mourinho mais uma vez dá show de leitura de jogo e conserta o problema do meio-campo. Monk tenta manter o time que deu trabalho ao Chelsea no primeiro tempo, mas não contava com tamanha evolução no jogo do rival

Ao recuperar o meio-campo, o Chelsea conseguiu impor seu ritmo e descobrir uma forma de quebrar as linhas de marcação compactas do Swansea, que, por sua vez, não conseguia contra-atacar mais, já que seus wingers eram empurrados cada vez mais pra trás pelo ataque total dos Blues e faltava fôlego para a transição ofensiva, além do fato de a defesa do Chelsea contar sempre com Cahill, Matic e Terry posicionados para prevenir os contragolpes. Monk tentou recuperar o fôlego pelos lados com a entrada de Jefferson Montero no lugar de Routledge. O equatoriano, entretanto, não conseguiu modificar o panorama da partida pelo lado esquerdo, já que a entrada de Salah, que guarda mais posição do que Oscar pela ponta, acabou exigindo ainda mais sua atenção defensiva. Em vinte minutos, o Chelsea praticamente matou a partida ao fazer 3 a 1 e minou as esperanças do Swansea de qualquer reação. O time galês acusou os golpes e se comportou de maneira apática durante os minutos seguintes, conseguindo apenas diminuir o placar faltando cinco minutos para o fim, em chegada de Shelvey dentro da área, completando ótima assistência de Bony.

Ainda com 3 a 1 no placar, Mourinho voltou ao 4-2-3-1 e cedeu as vagas de Fàbregas e Diego Costa a Salah e Remy, recém-chegado do Queens Park Rangers e que estreou com gol, após ótima dobradinha pela direita entre Hazard e Oscar. O atacante francês dá uma opção de maior velocidade e mobilidade para o ataque do Chelsea. Remy, Diego Costa e Drogba são centroavantes de características diferentes que permitem a Mourinho um leque de alternativas para a temporada desgastante que o time terá.

Com o Swansea entregue, o Chelsea sacramentou a partida e possibilitou a Mourinho dar rodagem a Salah e Remy

No confronto entre os líderes da Premier League, o favorito saiu vitorioso e se confirma cada vez mais como principal postulante ao título e como o time inglês com maiores possibilidades de vencer a Champions League. A derrota não deve abalar o Swansea, que tem tudo para manter o bom trabalho com o elenco que Garry Monk tem em mãos. O time galês certamente fará boa campanha e deve dar trabalho aos times mais ricos quando os confrontar, como foi com o Chelsea, que, apesar de conseguir dilatar o placar na segunda etapa, precisou de muita tranquilidade de seu técnico para mudar um jogo que iniciou muito desfavorável.

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)