Apesar do duelo entre Arsenal e Manchester City, a
partida mais esperada da quarta rodada da Premier League aconteceu em Stamford
Bridge, onde o Chelsea recebeu a sensação Swansea. O time de José Mourinho
iniciou a campanha a todo vapor, com alguns dos reforços dando retorno imediato e se
colocando como principal favorito ao título inglês. Já o Swansea, sob o comando
do não mais interino Garry Monk, acumulou três vitórias na Premier League e reaparece
como postulante na briga da metade de cima da tabela, como aconteceu em 2011-12
e 2012-13.
Diferente de quando era comandado por Brendan
Rodgers e Michael Laudrup, o Swansea de Monk é um time mais incisivo e
vertical, que não fica muito com a bola, mas busca o ataque sempre que a
recupera, com participação intensa de seus dois volantes, Ki sung-yueng, que vem
de grande temporada emprestado ao Sunderland, e Jonjo Shelvey, um dos poucos
destaques da campanha ruim do Swansea em 2013-14.
Em Stamford Bridge, Garry Monk manteve seu time no
4-2-3-1 que vem mostrando eficiência nesse início de época. Os galeses marcam
com muita intensidade em todos os setores, sobretudo o meio-campo, sempre com
vistas de recuperar a bola e buscar o contra-ataque sem dar tempo para a
recomposição defensiva do rival. O francês Gomis, substituto do titular
Wilfried Bony, que ficou no banco de reservas por desgaste físico causado pela
data-FIFA, teve atuação interessante no primeiro tempo. O centroavante
utilizava sua força para brigar entre os zagueiros, mas também para voltar até
a intermediária de ataque, abrindo espaço para a movimentação entrelinhas dos
homens que vêm de trás e criando dificuldades para a marcação rival, impondo a
força física para manter o controle da bola. Dyer e Routledge, os homens de
lado no ataque, são as opções de profundidade pelas pontas e têm demonstrado
boa forma no campeonato até aqui, assim como Sigurdsson, o meia central da linha
de três, que não teve jornada de sucesso contra o Chelsea. José Mourinho,
sabedor da importância do islandês para o esquema do adversário, manteve o
volante Matic pouco participativo no campo de ataque, limitando-se a qualificar
a transição defesa-meio com seu bom passe e a guardar sua posição, localizada
justamente na área de atuação de Sigurdsson. Com a pouca participação deste
jogador, o valor da chegada de trás por parte de Ki e Shelvey foi ainda maior,
seja para a infiltração como homens-surpresa ou para a armação, tanto que o gol
que abriu o placar surgiu de ocasião criada pelo volante sul-coreano, que
encontrou Neil Taylor em progressão para a linha de fundo. O lateral-esquerdo
cruzou e John Terry se atrapalhou no corte, marcando gol contra.
Nas rodadas anteriores, o Chelsea vinha atuando em
um 4-1-4-1, com Matic à frente da defesa e Oscar e Fàbregas alinhados aos
wingers, Schürrle e Hazard. Contra o Swansea, contudo, Fàbregas atuou ao lado
de Matic, com Oscar entre os dois wingers e atrás de Diego Costa, formando um
4-2-3-1. As ofensivas dos Blues sentiram
um pouco a falta da presença de Cesc no terço de ataque e o primeiro tempo do
time de Mourinho lembrou muito as atuações na temporada passada, onde a dependência
da individualidade de Hazard era enorme. O belga era o único fator de
desequilíbrio pró-Chelsea que conseguia abrir espaços nas duas linhas compactas
do Swansea que bloqueavam quase todas as jogadas londrinas. A imobilidade de
Diego Costa também foi fator fundamental para a atuação ruim do Chelsea no
primeiro tempo. O centroavante, que tem sido o principal destaque deste início
de Premier League, sempre se caracterizou pela movimentação por todo o último
terço do campo, arrastando marcadores, apresentando-se para tabelas e buscando
abrir espaço de todas as maneiras possíveis. Contra o Swansea, Diego esteve
muito preso entre os defensores rivais. Esta atitude é conveniente para o
sistema defensivo adversário, já que mantém pelo menos a última linha de
marcação sempre rígida, dificultando o trabalho de penetração da equipe que está
em fase ofensiva. O gol de Diego Costa, aos quarenta e quatro do primeiro
tempo, após finalizar de cabeça escanteio cobrado por Fàbregas, foi um lance
fortuito, sem mérito tático dos Blues,
mas foi essencial para que o time mantivesse a tranquilidade para buscar a
virada na segunda etapa.
Chelsea e Swansea no 4-2-3-1 durante o primeiro tempo.
Galeses tiveram mais eficiência em sua proposta
Para a segunda parte, Mourinho tentou corrigir o
problema no meio-campo e optou por Ramires para a vaga de Schürrle, que teve
participação extremamente discreta no jogo. O brasileiro fez o Chelsea voltar
ao 4-1-4-1, com Oscar passando a atuar como winger pela direita. A entrada de
Ramires mudou o jogo, não só pela atuação do volante, que realmente foi muito
bem, mas também pela nova estrutura que deu ao time, com Fàbregas atuando mais
perto do ataque e Hazard e Oscar com maior liberdade de movimentação com a
posse da bola. Esta nova configuração tática fez com que Diego Costa
participasse mais da partida e alcançasse seu primeiro hat-trick com a camisa
azul, chegando à incrível marca de sete gols em quatro aparições na liga mais
competitiva do mundo. O Chelsea deste início de temporada serve para quebrar um
tabu que alguns analistas e torcedores ainda mantêm com relação a Mourinho. O
português, taxado de retranqueiro, tem montado um time que equilibra muito bem
a valorização da posse da bola e a verticalidade, lembrando muito o que Jupp
Heinckes fez com o Bayern de Munique campeão europeu há duas temporadas.
Chelsea atacando com sete jogadores, inclusive os
dois laterais ao mesmo tempo, no lance do gol da virada. Os homens do lado
esquerdo se aproximam para triangulação que abriu a defesa do Swansea, enquanto
o centroavante e os homens da direita enchem o portador da bola de opções
dentro da área e fora dela, com Ramires chegando por trás. Atenção também para a inteligência tática de Diego Costa, posicionado em impedimento durante o desenrolar da jogada para evitar a marcação e voltando a ter condição legal no momento do último passe. Conclusão foi outra assistência de Cesc e mais um gol de Costa (Reprodução: ESPN Brasil)
Mourinho mais uma vez dá show de leitura de jogo e
conserta o problema do meio-campo. Monk tenta manter o time que deu trabalho ao
Chelsea no primeiro tempo, mas não contava com tamanha evolução no jogo do
rival
Ao recuperar o meio-campo, o Chelsea conseguiu
impor seu ritmo e descobrir uma forma de quebrar as linhas de marcação
compactas do Swansea, que, por sua vez, não conseguia contra-atacar mais, já
que seus wingers eram empurrados cada vez mais pra trás pelo ataque total dos Blues e faltava fôlego para a transição
ofensiva, além do fato de a defesa do Chelsea contar sempre com Cahill, Matic e
Terry posicionados para prevenir os contragolpes. Monk tentou recuperar o
fôlego pelos lados com a entrada de Jefferson Montero no lugar de Routledge. O
equatoriano, entretanto, não conseguiu modificar o panorama da partida pelo
lado esquerdo, já que a entrada de Salah, que guarda mais posição do que Oscar
pela ponta, acabou exigindo ainda mais sua atenção defensiva. Em vinte minutos,
o Chelsea praticamente matou a partida ao fazer 3 a 1 e minou as esperanças do
Swansea de qualquer reação. O time galês acusou os golpes e se comportou de
maneira apática durante os minutos seguintes, conseguindo apenas diminuir o
placar faltando cinco minutos para o fim, em chegada de Shelvey dentro da
área, completando ótima assistência de Bony.
Ainda com 3 a 1 no placar, Mourinho voltou ao
4-2-3-1 e cedeu as vagas de Fàbregas e Diego Costa a Salah e Remy, recém-chegado
do Queens Park Rangers e que estreou com gol, após ótima dobradinha pela
direita entre Hazard e Oscar. O atacante francês dá uma opção de maior
velocidade e mobilidade para o ataque do Chelsea. Remy, Diego Costa e Drogba
são centroavantes de características diferentes que permitem a Mourinho um
leque de alternativas para a temporada desgastante que o time terá.
Com o Swansea entregue, o Chelsea sacramentou a
partida e possibilitou a Mourinho dar rodagem a Salah e Remy
No confronto entre os líderes da Premier League,
o favorito saiu vitorioso e se confirma cada vez mais como principal postulante
ao título e como o time inglês com maiores possibilidades de vencer a Champions
League. A derrota não deve abalar o Swansea, que tem tudo para manter o bom
trabalho com o elenco que Garry Monk tem em mãos. O time galês certamente fará
boa campanha e deve dar trabalho aos times mais ricos quando os confrontar,
como foi com o Chelsea, que, apesar de conseguir dilatar o placar na segunda
etapa, precisou de muita tranquilidade de seu técnico para mudar um
jogo que iniciou muito desfavorável.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)