quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Ao seu estilo, Corinthians trava criação cruzeirense e vence a partida

Pragmático. Assim pode-se definir o estilo de jogo da equipe corintiana. E na vitória de ontem não foi diferente. Enfrentando o Cruzeiro, líder e equipe que apresenta o melhor futebol da competição, a equipe paulista conseguiu neutralizar o setor ofensivo de seu adversário e, a partir de uma roubada de bola em campo ofensivo, obteve a vitória através dos pés de Luciano.

O Cruzeiro veio a campo no seu tradicional 4-2-3-1, que não tinha Éverton Ribeiro(a serviço da seleção brasileira) e Ricardo Goulart(machucado), contando assim com Marlone e Marquinhos formando a linha de 3, com Marcelo Moreno mais a frente. Com a posse de bola a equipe cruzeirense buscava mais o jogo pelos lados do campo, especialmente pelo lado esquerdo, e sempre tinha os seus laterais subindo simultaneamente, aproveitando-se do corredor deixado pelos wingers, e tinha em Lucas Silva o seu homem de referência para a saída de bola, se utilizando principalmente da bola longa para os laterais.

Sem a bola a equipe mineira marcava por zona e realizava marcação pressão logo quando perdia a bola no campo ofensivo, de modo que dificulta-se assim a saída através de passes curtos da mesma. A equipe mantinha o 4-2-3-1 na fase defensiva com os seus wingers ficando nas proximidades do meio campo, descompactando-se assim do restante do sistema defensivo. Por vezes os mesmos alinhavam-se a linha dos volantes para formar uma segunda linha de 4, porém, era uma movimentação que não era realizada com regularidade.

 
Cruzeiro que propunha mais o jogo e buscava atacar especialmente pelo lado esquerdo no seu tradicional 4-2-3-1

Já o Corinthians também veio a campo no seu habitual 4-2-3-1, que tinha Romero como homem mais avançado na vaga de Guerrero(a serviço da seleção peruana). Com a posse de bola a equipe buscava a velocidade na transição defesa-ataque, muitas vezes utilizando-se da ligação direta, geralmente visando Renato Augusto, para sair com rapidez de seu campo e pegar a defesa cruzeirense desarrumada. O principal setor de criação da equipe era pela direita, onde Renato e Malcom constantemente se procuravam para realizar tabelas, além de ter as ultrapassagens de Fábio Santos.

Defensivamente a equipe iniciava a sua marcação no 4-2-3-1 mas, com o avanço do adversário, fechava-se em duas linhas de 4, com Renato e Romero um pouco mais a frente, porém, os mesmos também tinham constante participação na fase defensiva da equipe, por vezes ficando atrás da linha da bola até a intermediária defensiva. A equipe marcava por zona, e alternava a sua marcação pressão entre os blocos médio-baixo.

Corinthians no seu habitual 4-2-3-1 que fechava-se em duas linhas de 4 com o recuo dos wingers e tinha uma proposta mais reativa de jogo

O primeiro tempo mostrou um Cruzeiro, de início, propondo mais o jogo, tendo mais posse de bola(60% a 40% no primeiro tempo) e buscando atacar mais pelas laterais, principalmente pelo lado esquerdo com Egídio, já que a equipe corintiana negava totalmente os espaços na região central, nas proximidades de sua meta. Já o Corinthians veio claramente com uma proposta mais reativa de jogo, compactando as suas linhas e marcando pressão a partir da linha de meio campo. Quando recuperava a bola buscava sair em velocidade, por vezes se utilizando da ligação direta para Renato Augusto, com o objetivo de pegar a defesa adversária desarrumada. O setor mais utilizado pela equipe para atacar era o lado direito onde Malcom e Renato constantemente se procuravam, contando por vezes com o auxílio das descidas de Fágner.


Mapa de calor de ambas as equipe no primeiro tempo. Equipes chegando mais pelos lados e atacando exatamente nos setores onde eram mais agredidos. Cruzeiro(campo de cima) atacando mais pela esquerda, exatamente o lado onde a equipe do Corinthians(campo de baixo) conseguia ter mais profundidade(Reprodução: Squawka/Setas: Andrey Hugo)

Quem acabou obtendo relativo sucesso em sua proposta foi a equipe corintiana, que conseguiu brecar o ataque cruzeirense, porém, não conseguia efetuar sua transição defesa-ataque com muito sucesso, de modo que o número de finalizações em direção ao gol acabou sendo baixo por ambos os lados(1 pra cada lado).

O segundo tempo mostrou uma alteração nos modos em que as equipes se portavam em campo. O Cruzeiro que marcava forte a saída de bola adversária e provocava muito a ligação direta passou a ser um Cruzeiro mais passivo na marcação, onde o quarteto ofensivo pouco pressionava, o que permitiu a equipe corintiana, que também alterou a altura de seu bloco de marcação, marcando pressão em bloco médio-alto, ter mais posse de bola e espaço para avançar ao ataque, sempre buscando o lado direito, embora do lado esquerdo Fábio Santos também começasse a descer mais também, fornecendo assim opção de jogada lateral também pelo lado esquerdo.

O técnico Marcelo Oliveira, que já havia colocado Alison e Ceará nos lugares de Willian e Egídio(machucado), utilizou sua última substituição com o claro objetivo de recuperar a intensidade ofensiva que pareceu ter se esvaído da equipe no segundo tempo, colocando Dagoberto no lugar de Marlone, passando assim a ter Marquinhos e Dagoberto nas pontas, com Alison atuando mais atrás de Marcelo Moreno. Mas a substituição que deu certo foi a do treinador Mano Menezes. Petros, aproveitando-se de bobeira de Henrique no meio campo, roubou a bola e saiu em velocidade de modo que bagunçou a defesa cruzeirense. Luciano, que havia entrado no lugar de Romero, recebeu a bola no espaço deixado por Egídio, fora de posição por sair à caça de Petros, conseguiu vencer o zagueiro cruzeirense na velocidade e bateu na saída do goleiro Fábio.

Lance do gol corintiano. Roubada de bola de Petros desorganizou o sistema defensivo cruzeirense, o que gerou a saída de Ceará em cima de Petros, proporcionando assim o corredor para Luciano ter somente o zagueiro do setor e, posteriormente, o goleiro, como opositores ao seu objetivo(Reprodução: Tv Globo/Sportv)

Logo após o gol o técnico Mano Menezes, buscando ter um jogador que segurasse mais a bola à frente, tirou Bruno Henrique e colocou Danilo, mantendo a estrutura da equipe que agora tinha Petros e Guilherme Andrade de volantes, com Danilo atuando como meia central, tendo Renato Augusto(pela direita) e Malcom(pela esquerda) como wingers, este último invertendo bastante com Danilo entre o meio e o lado esquerdo, tanto com quanto sem a bola.

Atrás no placar, a equipe cruzeirense voltou a pressionar a saída adversária e a ter mais posse de bola.Porém nada disso adiantava já que a marcação corintiana estava muito bem postada, marcando pressão em bloco baixo com todos os seus 10 homens de linha atrás da linha da bola, de modo que o Cruzeiro só conseguia levar algum perigo pelas laterais, agora mais pelo lado direito. Sendo assim a equipe do técnico Mano Menezes, que ainda realizou mais uma substituição, com Ferrugem entrando no lugar de Guilherme Andrade, conseguiu segurar o resultado e sair vitoriosa do Mineirão.

 
Equipes em suas formações finais. Corinthians manteve o 4-2-3-1, embora parecesse muito mais um 4-4-1-1 por conta da postura mais recuada da equipe, já que a mesma se defendia nesse sistema. Já o Cruzeiro manteve o 4-2-3-1, que só conseguia chegar pelos lados

A equipe corintiana conseguiu, junto ao Atlético Mineiro, serem as únicas equipes que venceram o Cruzeiro nos dois turnos do campeonato, com a vantagem de ser a única equipe a não sofrer com em nenhum dos dois confrontos. E deve ser elogiada por isso afinal, além da vitória, foi quem melhor executou a sua proposta de jogo nos confrontos. Já o Cruzeiro, mesmo com a derrota, segue sendo líder isolado da competição, embora acabe saindo com um gosto amargo por, como já citado acima, não conseguir sequer marcar um gol na equipe corintiana no campeonato.
 
Mapa de calor 
Mapa de calor 
Mapa de calor das equipes no final do jogo: Cruzeiro(mapa de cima) só conseguia chegar ao fundo pelos lados, especialmente o direito no segundo tempo. Já o Corinthians(mapa de baixo) buscou atacar essencialmente pelo lado direito(Reprodução: Footstats)

Por Andrey Hugo(@Andrey_Hugo)