Em mais um dos confrontos diretos da rodada, o
Atlético-MG foi ao Rio de Janeiro enfrentar o Fluminense. Com um público
novamente decepcionante no Maracanã, o time mandante foi a campo com vários
desfalques, sobretudo no setor da defesa, assim como o adversário, que sofre
com lesões há vários meses e a cada novo jogo precisa fazer mudanças com
relação ao anterior.
Cristovão Borges repetiu seu esquema preferido e,
apesar dos desfalques, tinha todos os titulares do setor mais avançado, importantíssimos para a forma de jogo que o treinador adotou desde que chegou
às Laranjeiras, com toques rápidos no último terço do campo e constante
movimentação, sobretudo entre os homens que jogam atrás do centroavante. A
volta de Fred, após o descanso pós-Copa, fez o Fluminense voltar a atuar com a
referência na frente, o que, apesar dos esforços do capitão tricolor ao tentar
se movimentar mais fora da área, foi prejudicial para o estilo de jogo que o
Flu apresentara com Rafael Sóbis como homem mais avançado.
O visitante foi organizado por Levir Culpi em um
4-4-2 que tinha características muito semelhantes às do time que venceu o
clássico contra o Cruzeiro há algumas rodadas. Proposta reativa com linhas
compactas e alta velocidade na transição ofensiva, seja em contra-ataque com
toques curtos ou através de lançamentos longos para os homens mais avançados,
que sempre se posicionavam no limite das linhas adversárias para dar
profundidade e apostar corrida com a lenta e remendada defesa tricolor.
Nos podcasts que sempre fazemos nas prévias das
rodadas do Brasileirão, temos alertado para a forma parecida que os rivais
mineiros Atlético e Cruzeiro atuam, em um 4-2-3-1 que propõe o jogo e que
apresenta intensa movimentação ofensiva, com linhas espaçadas na fase de marcação. No jogo contra o Internacional, o Cruzeiro quebrou este
paradigma e teve uma boa recomposição defensiva, com Everton Ribeiro deslocado
para o centro e Marquinhos e Willian demonstrando comprometimento com a
marcação, ao fazerem a transição defensiva rapidamente, não só acompanhando o
lateral adversário. O Galo, por sua vez, teve linhas rígidas e compactas no clássico
contra o Cruzeiro e voltou a apresentar esta característica na visita ao
Maracanã de quinta-feira.
Com o time mandante tendo a bola e propondo o jogo,
Levir Culpi optou por aproximar suas linhas de marcação e dificultar a
movimentação com a bola dos atacantes adversários em seu terço defensivo. Luan
e Carlos voltavam pelos extremos e Leandro Donizete e Dátolo trabalhavam pelo
centro, sempre aplicados na busca pela recuperação da bola e organizando a transição
ofensiva do time. Além da rigidez das linhas, a marcação mineira também se
caracterizava pela agressividade ao portador da bola por parte do atleta da
linha de meio-campo atleticana mais próximo. Sem a bola, Jô e Guilherme
atrapalhavam a saída dos zagueiros inicialmente e, posteriormente, dos volantes
tricolores. Com a bola, ambos buscavam ficar na última linha da defesa
adversária para dar opção de profundidade aos lançamentos longos dos volantes e
de Marcos Rocha. A alternativa era interessante, mas a possibilidade de sucesso
era remota se comparada à quantidade de tentativas. Foram cinquenta e seis
lançamentos dos jogadores atleticanos, sendo apenas vinte e cinco corretos.
Além da enorme possibilidade de erro, havia também o risco de estarem sempre em
impedimento pelo posicionamento no limite. Mesmo tendo menos posse no terço de
ataque do que o Fluminense, os atletas do Galo ficaram nove vezes em
impedimento, contra apenas uma do adversário. Algumas das marcações foram
equivocadas ou duvidosas e o único impedimento para o Fluminense foi muito mal
apontado pela assistente Nadine Câmara Bastos, de Santa Catarina, que levantou
a bandeira incorretamente em no mínimo duas ocasiões claras de gol, uma para
cada lado.
Linhas mineiras bastante próximas dificultavam o
trabalho ofensivo do time mandante (Reprodução: Premiere)
O Fluminense foi fiel à sua forma de jogo, apesar
de ter dificuldades para aplicá-la. Edson era o volante mais preso, mas também
contribuía para a troca de passes no campo adversário. Rafinha também ajudava
na saída de bola e chegava bem no ataque. Mais à frente, Wágner, Conca e Cícero
transitavam com bastante liberdade com a posse de bola, procurando furar o
aplicado sistema defensivo do Atlético-MG por meio de trocas de passe curtas. A posse de bola do Flu foi um pouco maior, com 55,8% do tempo
com a bola nos seus domínios, mas o que realmente impressionava era a
quantidade de passes trocados pelo time carioca com relação ao mineiro. Foram
498 tentativas de passes por parte do tricolor das Laranjeiras, com excelentes
94% de acerto, contra 277 do Galo, com 87% de aproveitamento.
O jogo não foi dos mais interessantes do ponto de
vista técnico, mas não se pode dizer que o time da casa não tentou impor seu
estilo e buscar a vitória. Cristovão Borges tenta realmente fazer algo
diferente com o que tem em mãos, mas sofre pelo elenco enxuto, que tem poucas
alternativas de qualidade do meio pra trás e ainda sofre constantemente com
lesões. Do meio pra frente, o técnico tem atletas do mais alto nível para os padrões do futebol brasileiro, mas com características semelhantes, e a falta
de um jogador de velocidade que atue em uma das posições mais avançadas engessa
o treinador a esta forma de jogo e o impede de poder aplicar alguma variação
que permita ao Flu se adaptar aos diferentes adversários. Contra um Atlético-MG
com as linhas de marcação rígidas e compactas, a lentidão dos quatro homens de
frente, que são jogadores de mais cadência, impediu que o Fluminense pudesse
ter uma opção de velocidade para quebrar o sistema defensivo atleticano com uma
entrada na diagonal, uma jogada de linha de fundo ou um contra-ataque em alta
velocidade.
A primeira etapa foi até interessante no Marcanã,
com os dois clubes tentando encaixar seus estilos e algumas oportunidades
surgindo para o Fluminense em jogadas laterais de Wágner e Cícero e para o Galo
em alguns contragolpes ou lançamentos longos a partir do campo defensivo. A segunda
parte, no entanto, foi muito menos inspirada. O Atlético continuou com seu
sistema defensivo alinhado, mas não conseguiu encaixar mais jogadas de
contra-ataque, tanto por cansaço dos homens de lado que correram muito no
primeiro tempo para trás e para a frente, quanto pela dificuldade que Guilherme
e Jô passaram a ter mais avançados. O atleta da seleção brasileira na Copa do
Mundo errava quase tudo que tentava e não conseguia segurar a bola para
aguardar a chegada dos homens de trás. Guilherme, por sua vez, trabalhava pouco
com a bola no pé e, quando tentava dar opção de profundidade, acabava por se
posicionar em impedimento. Neste sentido, Levir Culpi fez uma única
substituição, trocando Luan por Cesinha na ponta-direita, com vistas a renovar
o fôlego pelo setor. A mudança não surtiu muito efeito, mas o técnico alvinegro
não parecia tão triste com um empate fora de casa contra um adversário direto.
No lado do Fluminense, Cristovão Borges tentou
resolver algumas situações, colocando Chiquinho no lugar de Fernando para
aumentar o apoio pela lateral-esquerda, muito pequeno enquanto o camisa 26
esteve em campo. O jovem Kenedy também entrou, ocupando a vaga de Edson, o que
obrigou Cícero a ser recuado para a primeira linha de meio-campo. A intenção
era melhorar a saída de trás e tentar dar um pouco de agressividade pelo lado
direito na base da individualidade, o que também não se mostrou uma opção
efetiva.
Galo mantém a proposta e troca apenas uma peça no
segundo tempo. Flu é mais ousado e tenta dar melhor chegada de trás e mais
agressividade pela ponta, sem sucesso, no entanto
Apesar das tentativas de Cristovão Borges, o placar
ficou zerado até o fim dos noventa minutos no Maracanã e a torcida vai perdendo
a paciência com o treinador tricolor, já que o Fluminense ganhou apenas um dos
seus seis últimos jogos e viu o Santos vencer na rodada, fazendo o tricolor
carioca cair para a oitava posição, a quatro pontos da zona da Libertadores. O
Atlético-MG fica a dois pontos do G-4 e valoriza o empate. A proposta reativa é
apenas uma opção, mas também visa a vitória como qualquer outra. Mesmo assim,
quando ela não é possível, o zero no placar prova pelo menos que a fase
defensiva da proposta foi bem aplicada e as correções precisam ser feitas
apenas na fase ofensiva, em caso de Levir Culpi resolver novamente trabalhar com
formação parecida ao longo das próximas rodadas.
*Dados estatísticos retirados do Footstats.net
*Dados estatísticos retirados do Footstats.net
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)