terça-feira, 21 de outubro de 2014

ESPECIAL: Metalinguagem Tatica - Parte 2: Motivação

A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE TÁTICA

Nessa parte 2 do especial Metalinguagem Tática, que demorou para ser feita devido a uma busca por uma motivação ideal para estimular vocês a leitura, mostrarei um exemplo de estudo de como uma boa observação por parte do treinador pode gerar mudanças táticas que mudam o comportamento de uma equipe dentro de uma competição, podendo leva-la a um título. Foi assim que Ricardo Gomes fez com o Vasco em 2011, quando assumiu a equipe no Carioca e se reciclou no meio da Copa do Brasil. Dividirei o texto em 2 partes para nao ficar cheio. Após isso, mostrarei alguns pontos da escrita de minha "análise sobre a análise" do treinador e introduzirei alguns conceitos rapidamente sobre a escrita desse tipo de texto. ANÁLISE DA ANÁLISE DE UMA ANÁLISE! METALINGUISMO PURO! Boa leitura!

O VASCO DE 2011

PARTE 1: A FORMAÇÃO DE UMA EQUIPE CAMPEÃ

Ricardo Gomes assumiu o Vasco numa situação complicadíssima naquela época. Vasco vinha de um dos seus piores inícios de Campeonato Carioca da historia. Uma equipe desacreditada, com uma pressão de toneladas nas costas e que notavelmente havia derrubado o treinador anterior, PC Gusmão. Esse ultimo vinha tentando escalar o Vasco da seguinte forma (abaixo, no jogo que o derrubou, contra o Boavista):

Jogadores desmotivados e em posições desconfortáveis, recomposição lenta (observem os espaços nas laterais, com dois jogadores de impeto muito ofensivo, Fagner e Ramon), time com zero compactação e estático na frente. Sinônimo de fracasso. Derrota de 3 a 1 e queda do treinador PC Gusmão

Dois jogos depois, teve sua estreia. Com a pequena pausa que teve de uma semana entre o jogo anterior e o de seu inicio de caminhada, Ricardo OBSERVOU os erros crassos que a equipe cometia e logo tratou de corrigir. Com Felipe e Carlos Alberto, medalhões afastados pela diretoria, resolveu começar apostando em reservas que mostravam serviço nos treinamentos. Ao contrário do antecessor, soube apostar nos pontos fortes da equipe: laterais de bom impeto ofensivo, dupla de meias equilibradas e velocidade com Éder.

Fagner gostava muito de aparecer por dentro quando Éder abria pela direita para buscar o duelo individual com o lateral adversário. Jogada característica em 2010, foi esquecida no inicio de 2011 e retomada pelo treinador. Além disso, relembrando o carioca de 2009, achou em Jefferson um bom acelerador de jogo, que gostava de sair da esquerda para armar e abrir espaço pro lateral (Ramon) subir e encontrou em Felipe, então encostado, ótimo eixo de passes e cadenciador de um time que até então só possuía elevadores de ritmo.

Jogada do primeiro gol na goleada de 9 a 0 contra o America. Éder Luis aberto no embate contra o lateral, Fagner chegando por dentro, Felipe mais centralizado e Jefferson vindo da esquerda para o centro.

Time dinâmico na frente, com meias encostando em Éder Luis para criar jogadas, chegada dos laterais para cruzar para o alto Marcel na frente. Transições rápidas lideradas pelo camisa 7 e Jefferson que geraram 8 dos 18 gols contra Americano, America e Comercial. Ganho de confiança por parte da torcida ajudou e a parada da Taça Guanabara (time ja eliminado após quatro derrotas) ajudou para se ter mais ajustes, principalmente defensivamente, que ainda pecava.

Na parada, Vasco trouxe dois reforços que viriam a mudar completamente o estilo de jogar da equipe. O então encostado no galo Diego Souza viria para agregar experiencia, força de chegada na área e companhia para Marcel. Somando-se a ele, a regularização dos já reforços Elton, Bernardo e Leandro também trouxeram qualidade ao elenco. O time já era outro.

Outro, mas que começou a Taça Rio com o seu sistema defensivo oscilando muito, apesar da eficiência na frente. A lesão de Eduardo Costa, de boa noção posicional, fez com que Rômulo recuasse à primeira volancia e entrasse Fellipe Bastos. Ganhou-se em poder de finalização a longa distancia, perdeu-se em compactação, quebra de ritmo e pegada. Jefferson, até então destaque do time, não foi bem em uma partida e foi preterido por Bernardo, em ascensão meteórica. Essa mudança fez com que Felipe atuasse mais recuado na função do substituído, o que acarretou em efeitos colaterais no sistema defensivo.

A derrota para o Macaé por 3 a 1 e as vitorias por 4 a 2 para Duque de Caxias e Madureira, mostraram que o time ainda precisava de muitos acertos. Dedé e Anderson Martins, apesar de atuarem bem individualmente na grande parte dos jogos, não haviam ainda se firmado como dupla. Seguravam um sistema defensivo cheio de problemas, com laterais cheios de dificuldade e volantes frequentemente pegos mal posicionados.


Nas duas jogadas, contra o Macaé e contra o Duque, lances em comum. Volantes não fazem cobertura ideal do espaço, Dedé vai tentar cobrir o espaço e a bola vai nas suas costas.

Com as mudanças o estilo da equipe mudou. Apesar da dificuldade defensiva citada, ganhou-se em poder de finalização com Bernardo e Fellipe Bastos, claramente sentido na quantidade de gols feitos. O maestro Felipe começou a buscar a bola mais atrás pela esquerda, fugindo da marcação direta dos volantes adversários e ganhando espaço para poder pensar o jogo e fazer o que mais gosta: passes em ruptura. Elton assumiu o lugar de Marcel, muito limitado as jogadas aéreas. Éder Luis passou a ser o homem das transições. Quando o time estava nessa fase, normalmente a bola era dele, partindo em velocidade. Quando a defesa do outro time estava organizada, flutuava por trás do centroavante e atacava as costas dos laterais adversários sempre que possível, gerando espaço em sua movimentação para a chegada dos homens de trás (os dois laterais, volantes e meias). Ressurgia naqueles jogos o que seria talvez a grande chave da futura conquista da Copa do Brasil.

Mas o seu grande parceiro pelo lado direito, Fagner, viria a se machucar. Grande problema para Ricardo, que estava com os laterais reservas (Max e Irrazabal) machucados. Com isso, foi buscar soluções dentro do próprio elenco. Além disso, Diego Souza já estava com condições de jogo e pedindo espaço nos treinos. Quebra-cabeça para Ricardo! Observe as ideias dele abaixo:


Se aquela equipe precisava de um teste importante era esse. Um clássico! Com o anuncio da contratação de Alecsandro para o ataque na véspera do jogo, a equipe veio embalada para mostrar que pretendia se firmar. E se firmou. Vitória por 2 a 0 indiscutível, domínio amplo sobre o adversário e estreia com gol de Diego Souza. Mas o que mais pode se destacar taticamente desse jogo foi uma decisão de ultima hora do treinador. Vendo que a equipe estava com problemas no posicionamento dos volantes, inverteu Eduardo Costa com Rômulo, deixando esse ultimo mais preso a proteção dos zagueiros e o segundo mais a frente gerindo o ritmo de jogo da equipe junto com Felipe. Mudança que deu consistência a equipe, ja que o mais experiente sabia melhor a hora de subir e de ficar e que revelou no outro, um primeiro volante que futuramente pararia na seleção na posição.

Print que resume as mudancas taticas feitas por Ricardo. Eduardo gerindo jogo mais a frente pela direita, Diego dando mais mobilidade que Elton e Eder atacando as costas da linha defensiva.

Eram dois clássicos em seguida. O próximo jogo era contra um Fluminense recém campeão Brasileiro, mais estruturado e muito forte. A expectativa estava em torno da estreia do reforço Alecsandro. Ricardo optou por inicia-lo no banco e manter a formação do jogo contra o Botafogo. O efeito não foi o mesmo, o time sofreu pressão do tricolor e não jogou bem, mas mostrou solidez defensiva no empate em zero a zero. No segundo tempo, o novo atacante estreou e entrou no lugar de Bernardo, que não fazia boa partida de novo. A formação naquele momento era a seguinte:

Prass; Allan, Dede, Anderson Martins e Ramon; Rômulo, Eduardo Costa, Felipe e Diego Souza; Éder Luis e Alecsandro. 

Equipe base num 4-3-1-2/4-2-3-1 torto, sistema mais utilizado por Ricardo 


Guarde esta formação. Você entendera no próximo post "O caminho do time campeão" dessa analise sobre o Vasco de 2011. Abraços e ate a próxima!