sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Superclássico Argentino: O vistoso River de Gallardo recebe o ascendente Boca de Arruabarrena

Domingo de pleito é domingo de futebol. Louvamos a democracia pujante com o título de eleitor em riste e a alma futeboleira saciada.Eis que, para nosso deleite, clássicos abundantes invadem nossas telinhas para contrastar com as mazelas eleitoreiras que assolam o país. Na Itália, Juventus e Roma se enfrentam pela liderança absoluta do Calcio, ao passo que em Londres, Arsenal e Chelsea revivem uma ascendente rivalidade em Stamford Bridge. Contudo, nossos corações apontam carinhosamente rumo ao Superclásico Argentino.O River, invicto, líder e irresistível, recebe  Boca no Monumental de Nuñez. O cotejo que deve parar a Argentina será transmitido pela Fox Sports, às 17h15.

RIVER PLATE























O River chega com a responsabilidade de assumir o favoritismo digno de um líder invicto e goleador. Teófilo Gutierrez, sempre picante e desafiador, chegou a afirmar: "até os torcedores do Boca desfrutam do nosso estilo". A verdade é que o conjunto millonario voltou a enamorar seus adeptos com um jogo ofensivo e protagonista. Marcelo Gallardo herdou a base do atual campeão argentino, mantendo o famigerado 4-3-1-2 da era Ramon Diaz. Contudo, a nova versão do River é mais audaz em todos os sentidos .Com suas linhas sempre adiantadas e a individualidade pulsante de seus jogadores, o River encarrilhou 6 vitórias e 3 empates. Anotando 21 gols em 9 jogos, os comandados de Gallardo acabaram por seduzir público e crítica na Argentina, ratificando o discurso do falastrão colombiano.

Diferentemente da era Ramon Diaz, Gabriel Mercado e Leonel Vangioni sobem constantemente ao ataque, em uma equipe que abusa muitas vezes das linhas adiantadas, exigindo coberturas rápidas de seus volantes e zagueiros. O grande momento dos laterais riverplatenses obrigaram Tata Martino a convocá-los para suas duas primeira listas(Vangioni fará parte do elenco que enfrentará o Brasil na próxima data Fifa). Na zaga, Jonathan Maidana e Ramiro Funes Mori - herói do último superclássico e substituto de Alvarez Balanta - completam a defesa menos vazada do torneio com apenas 5 gols sofridos. 

Com a lesão do jovem Matias Kranevitter, coube ao experiente Leonardo Ponzio assumir a posição de volante central. O ex-Zaragoza vem desempenhando com desenvoltura o rol do primeiro passe e da cobertura constante. Pelo encaixe prévio, deverá ser peça fundamental no confronto, livre para fazer a saída Lavolpiana e configurar uma superioridade no meio campo. Outro destaque é o uruguaio Carlos Sanchez, que retornou a Nuñez em grande estilo - após passagem fugaz pelo Puebla do México - para substituir Carlos Carbonero na posição de volante pela direita. Do lado esquerdo, Ariel Rojas configura ao lado de Vangioni o setor de maior ímpeto criativo do conjunto de La Banda Roja. O canhoto, antes questionado pelos exigentes torcedores millonarios, cumpre uma função vital para evitar as subidas dos laterais rivais.

Com a desenvoltura típica de um meia oriundo das canteras de La Paternal, Leonardo Pisculichi tornou-se o líder em assistências no torneio, substituindo Manuel Lanzini na posição de enganche - que foi encher o bolso de petrodólares no mundo árabe. No ataque, Teófilo Gutierrez encontrou no uruguaio Rodrigo Mora, o seu companheiro ideal após a grave lesão de Fernando Cavenaghi. O polêmico e talentoso goleador cafeteiro é o artilheiro do torneio com 8 gols. Mora, que voltou ao River após ser emprestado a Universidad de Chile, contribuiu com 4 tentos. Ambos possuem a obrigação tática de combater as eventuais subidas do laterais na recomposição defensiva. Contra os xeneises terão de cobrir os eventuais avanços de  Leandro Marin e Nicolás Colazo.

BOCA JUNIORS









O fim da era Carlos Bianchi trouxe um novo paradigma em La Boca. O fato é que sob o comando do técnico mais vencedor da história do clube os xeneises não encontravam pé, somando 3 derrotas e apenas 1 vitória nas rodadas iniciais do torneio Transición. O conjunto azul e ouro sucumbia aos conceitos arcaicos de Bianchi e a saída repentina de Juan Roman Riquelme. Eis que, Rodolfo "El Vasco" Arruabarena, com passagem gloriosa como jogador - campeão da Libertadores em 2000 - chegava ao clube de La Ribera para ajeitar a casa. El Vasco chegava potencializado pela passagem marcante como treinador do Tigre. Logo de cara, Arruabarrena decidiu abortar o 4-3-1-2 - que necessita um enganche clássico como Riquelme - recheando o meio com um 4-1-4-1 bem claro e funcional. 

O maior beneficiado com o novo esquema foi Fernando Gago. O meia da seleção vem atuando mais solto, posicionado ao lado de Marcelo Meli na linha de armadores, enquanto Cristian "Pichi" Erbes fica mais preso à frente dos zagueiros na contenção. Caberá ao jovem volante frear Pisculichi. Desde a chegada de Arruabarrena - no final de Agosto - o Boca venceu 3 jogos, empatou 1 e perdeu apenas o clássico postergado frente ao Racing Club; pela Sulamerican eliminou o Rosario Central com um empate no Gigante de Arroyito e uma goleada em La Bombonera. 

As laterais xeneises são compostas pelos pratas da casa, Nicolás Colazo e Leandro Marin. Colazo, muitas vezes utilizado no meio campo, sobe bastante ao ataque, ao passo que Marin cobre a linha defensiva ao lado dos zagueiros. O miolo de zaga foi bastante modificado durante o torneio, graças as graves lesões de Juan Forlin e Cata Diaz. Os recém contratados, Mariano Echeverria e Lisandro Magallan, deverão formar a dupla de zaga. 

Outra decisão importante de Arruabarrena foi dar a titularidade a jovens recém contratados. É o caso de Andrés Chavez, meia que atua pelo flanco esquerdo da linha de armadores. Com gols, arrancadas e muitas polêmicas, Chavez se converteu na estrela do Banfield na exitosa campanha que culminou com o retorno do Taladro para a elite do futebol argentino. Pelo lado oposto, Federico "Pachi" Carrizo vem demonstrando seu talento latente, lapidado nas categorias de base do Rosario Central. Tanto Chavez como Carrizo, possuem grande ímpeto para duelar contra os laterais rivais, portanto deverão travar um embate determinante contra Mercado e Vangioni. 

Marcelo Meli e Jonathan Calleri são outras duas peças que ganharam a titularidade após a chegada de Arruabarrena - barrando nomes como Burrito Martinez, Gigliotti e Pablo Ledesma. Marcelo Meli chamou a atenção xeneise após grandes atuações no Colón de Santa Fé. Dinamismo e chegada constante na área rival, são predicados marcantes do ex- sabalero. Calleri é um centroavante clássico, alto e vigoroso. O Boca amarga a décima primeira posição com 9 gols anotados e 11 sofridos. Por essas e outras, fica a pergunta: deveremos ver um Boca especulando contra o protagonismo millonario?



*Por Felipe Bigliazzi Dominguez(@FelipeBigliazzi)