sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Em duelo alviverde, Palmeiras consegue, enfim, vencer a Chapecoense pela primeira vez e sair do Z-4

Na abertura da rodada #26 do Brasileirão, o Palmeiras recebeu a Chapecoense no Pacaembu em confronto direto que definiria a permanência ou não do Verdão da capital paulista no Z-4 e aliviaria ou ligaria ainda mais o sinal de alerta quanto a possibilidades de rebaixamento do Verdão do Oeste de Santa Catarina.

O Palmeiras foi a campo com algumas mudanças com relação à fatídica derrota para o Figueirense. Juninho voltou à lateral-esquerda e, com isso, Victor Luís foi deslocado para o meio-campo. Na linha de três meias, Cristaldo deu lugar a Wesley, recuperado de lesão. Lúcio também voltou à defesa, substituindo Nathan, suspenso.

O Palmeiras manteve o sistema que tem utilizado desde a volta de Valdívia: um 4-2-3-1 que é aplicado na marcação em duas linhas de quatro e sai com bastante velocidade pelos lados nos contra-ataques. O grande problema é que o Palestra, acostumado a ter pouco a bola, foi obrigado a propor o jogo contra uma Chapecoense postada também em um 4-2-3-1, mas que tinha proposta reativa, de preenchimento do meio-campo para dificultar o trabalho de Valdívia na criação.

Palmeiras e Chapecoense com a mesma estrutura tática, mas propostas de jogo bastante diferentes

Além do fato de a Chapecoense estar, à sua maneira, bem postada defensivamente e obrigando o Palmeiras a tomar a iniciativa, o advento de Wesley como winger pela direita também contribui para que o Verdão de São Paulo trabalhe mais com a bola nos pés. Além disso, Victor Luís como volante no lugar de Renato é outro fator que faz com que o Palmeiras tenha maiores opções de criação no meio-campo. Originalmente lateral, Victor tem bom passe e muita qualidade na finalização de longa distância e, com Marcelo Oliveira, que também chega bem no último terço do campo, forma uma dupla de volantes que pode ser o alicerce do Palestra em uma possível recuperação no campeonato. Victor Luís, além de trabalhar com correção no meio-campo, também se aproximava constantemente de Juninho na lateral, para fazer a dobradinha pelo lado-esquerdo, proporcionando que Diogo centralizasse para dar opção na área ao lado de Henrique.

Mapa de movimentação de Victor Luís mostra que o lateral/volante palmeirense atuou majoritariamente pelo flanco esquerdo, principalmente na fase ofensiva (Reprodução: Footstats)

Na fase defensiva, o Palmeiras fechava duas linhas de quatro com Wesley pelo lado direito e Diogo pela esquerda. Valdívia também se mostrava bastante participativo na recomposição, posicionando-se quase sempre à frente da segunda linha de quatro para combater a saída dos volantes. A dificuldade principal que o Palmeiras encontrava para se defender era pela falta de compactação de suas linhas, que permitia a Zezinho e Camilo atuarem no entrelinhas e se aproveitarem da boa movimentação de Fabinho Alves e Leandro, que davam profundidade pela direita e centro, respectivamente. Leandro marcou o gol da Chape ao receber em profundidade por dentro e chutar cruzado, algo que dificilmente aconteceria se as linhas de marcação alviverdes fossem mais próximas, o que dificultaria a criação adversária, minimizando o problema da lentidão do miolo de zaga palestrino.

Marcação palmeirense espaçada, que contava com Wesley e Diogo fechando os flancos e Valdívia marcando os volantes da Chape sozinho (Reprodução: Premiere)

O time catarinense não diferia muito com relação ao adversário paulista na fase de marcação. A principal disparidade dava conta de que Leandro recuava para marcar a saída dos volantes rivais e Zezinho por vezes se juntava a Abuda e Ricardo Conceição em um preenchimento maior do meio-campo, justamente na área de atuação de Valdívia e Wesley, que centralizava para auxiliar na construção das jogadas. Embora também não fosse compacta, a marcação da Chapecoense era mais intensa no meio-campo, o que obrigava ao Palmeiras criar pelas pontas, que também eram ocupadas pelos wingers catarinenses, mas não com a mesma força que havia pelo centro. Foi assim que surgiu a principal chance do time da casa no primeiro tempo, em jogada de Valdívia pelo lado esquerdo, que encontrou Diogo em profundidade. O camisa 17 rolou para Henrique que, sem goleiro, chutou em cima do defensor adversário, posicionado à frente do gol.

Na marcação, Chapecoense variava entre o 4-2-3-1 e o 4-5-1, com Zezinho se incorporando aos volantes para povoar o meio-campo, como forma de compensar a descompactação das linhas (Reprodução: Premiere)

O primeiro tempo foi bastante morno no Pacaembu e o time mandante, mesmo com mais tempo de posse de bola, tinha dificuldades para criar e acabou indo para o intervalo com o placar desfavorável, premiando a proposta reativa do visitante até então indigesto. Ainda no fim do primeiro tempo, Dorival Júnior perdeu Diogo lesionado e o substituiu por Cristaldo, que vinha de boa atuação contra o Figueirense. O argentino entrou com a mesma função de Diogo, mas acrescentava maior presença de área e velocidade nas jogadas pela lateral.

Jorginho trocou Zezinho, com cartão amarelo, por Neném na volta do intervalo com intenção clara: reforçar ainda mais a marcação do meio-campo e apostar no contra-ataque em velocidade com Camilo, agora posicionado como enganche, e Fabinho Alves, na ponta-direita e sem mais responsabilidades na recomposição defensiva. A mudança continuou dificultando as ações palmeirenses pelo meio-campo e se mostrou bastante eficiente durante os primeiros minutos da segunda parte, quando Fabinho perdeu gol incrível em jogada lateral criada por Leandro. Curiosamente, o Palmeiras alcançou o empate pelo centro, em jogada de Valdívia. O chileno tentou passe próximo à área adversária e foi interceptado pela marcação da Chape, mas deu sorte que o corte não foi completo e a bola sobrou para Wesley, que rapidamente finalizou da meia-lua da grande área para igualar o placar.

Segundo tempo: Palmeiras com a mesma estrutura, mas Cristaldo no lugar de Diogo e Chapecoense totalmente modificada, saindo do 4-2-3-1/4-5-1 para um losango de meio-campo e dois atacantes para aproveitar os contragolpes

Com o empate, o Palmeiras teve mais tranquilidade para jogar e se deu conta de que dificilmente teria sucesso novamente se concentrasse suas jogadas pelo centro. Neste sentido, o time de Dorival percebeu que a mudança da Chapecoense de uma linha de meio-campo para um losango, desguarnecia os extremos da defesa catarinense e deixava os laterais expostos. Desta forma, o Verdão de São Paulo passou a atacar com mais frequência pelos lados, com Wesley centralizando menos e trabalhando mais próximo a João Pedro pela direita e, principalmente, com o trio Juninho-Victor Luís-Cristaldo pela esquerda, de onde saiu a jogada do gol da virada, em cruzamento de Victor Luís, que Wesley finalizou na marcação e conseguiu o escanteio que proporcionou a Henrique marcar seu primeiro gol. Também foi pela ponta-esquerda que surgiu o primeiro pênalti, em bola que atingiu a mão de Fabiano após cruzamento de Juninho da linha de fundo. Ainda no setor, o Palmeiras conseguiu o pênalti derradeiro, quando Rodrigo Biro derrubou Henrique, que partia em velocidade para alcançar cruzamento de Victor Luís, que havia puxado contra-ataque em velocidade e tabelado com Cristaldo antes de alcançar a linha de fundo.

 Chapecoense com losango no meio-campo que dificultava o trabalho palmeirense pelo centro, mas oferecia as laterais (Reprodução: Premiere)

Mesmo sofrendo gol atrás de gol, Jorginho manteve o losango de meio-campo e continuou oferecendo os flancos para o Palmeiras, que teve tranquilidade para dominar o jogo sem sofrer muito até o seu final, quando o bom centroavante Leandro encontrou um gol, já nos acréscimos, para diminuir o placar no Pacaembu.

Com a vitória, o Palmeiras passará a rodada fora da zona do rebaixamento e assumiu a posição da Chapecoense na tabela. O time catarinense, por sua vez, tem de torcer por resultados para que não volte ao Z-4 ainda nessa rodada #26. Os dois alviverdes devem brigar contra o descenso até as últimas rodadas do campeonato e precisam, como o Palmeiras mostrou, valorizar pelo menos os mandos de campo para não voltarem à Série B apenas uma temporada depois do acesso.

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)