Na abertura da rodada #26 do Brasileirão, o
Palmeiras recebeu a Chapecoense no Pacaembu em confronto direto que definiria a
permanência ou não do Verdão da capital paulista no Z-4 e aliviaria ou ligaria ainda
mais o sinal de alerta quanto a possibilidades de rebaixamento do Verdão do
Oeste de Santa Catarina.
O Palmeiras foi a campo com algumas mudanças com
relação à fatídica derrota para o Figueirense. Juninho voltou à
lateral-esquerda e, com isso, Victor Luís foi deslocado para o meio-campo. Na
linha de três meias, Cristaldo deu lugar a Wesley, recuperado de lesão. Lúcio
também voltou à defesa, substituindo Nathan, suspenso.
O Palmeiras manteve o sistema que tem utilizado
desde a volta de Valdívia: um 4-2-3-1 que é aplicado na marcação em duas linhas
de quatro e sai com bastante velocidade pelos lados nos contra-ataques. O
grande problema é que o Palestra, acostumado a ter pouco a bola, foi obrigado a
propor o jogo contra uma Chapecoense postada também em um 4-2-3-1, mas que
tinha proposta reativa, de preenchimento do meio-campo para dificultar o
trabalho de Valdívia na criação.
Palmeiras e Chapecoense com a mesma estrutura tática,
mas propostas de jogo bastante diferentes
Além do fato de a Chapecoense estar, à sua maneira, bem postada
defensivamente e obrigando o Palmeiras a tomar a iniciativa, o advento de
Wesley como winger pela direita
também contribui para que o Verdão de São Paulo trabalhe mais com a bola nos
pés. Além disso, Victor Luís como volante no lugar de Renato é outro fator que
faz com que o Palmeiras tenha maiores opções de criação no meio-campo.
Originalmente lateral, Victor tem bom passe e muita qualidade na finalização de
longa distância e, com Marcelo Oliveira, que também chega bem no último terço
do campo, forma uma dupla de volantes que pode ser o alicerce do Palestra em
uma possível recuperação no campeonato. Victor Luís, além de trabalhar com correção no
meio-campo, também se aproximava constantemente de Juninho na lateral, para fazer
a dobradinha pelo lado-esquerdo, proporcionando que Diogo centralizasse para dar
opção na área ao lado de Henrique.
Mapa de movimentação de Victor Luís mostra que o
lateral/volante palmeirense atuou majoritariamente pelo flanco esquerdo,
principalmente na fase ofensiva (Reprodução: Footstats)
Na fase defensiva, o Palmeiras fechava duas linhas
de quatro com Wesley pelo lado direito e Diogo pela esquerda. Valdívia também
se mostrava bastante participativo na recomposição, posicionando-se quase sempre
à frente da segunda linha de quatro para combater a saída dos volantes. A
dificuldade principal que o Palmeiras encontrava para se defender era pela
falta de compactação de suas linhas, que permitia a Zezinho e Camilo atuarem no
entrelinhas e se aproveitarem da boa movimentação de Fabinho Alves e Leandro,
que davam profundidade pela direita e centro, respectivamente. Leandro marcou o
gol da Chape ao receber em profundidade por dentro e chutar cruzado, algo que
dificilmente aconteceria se as linhas de marcação alviverdes fossem mais
próximas, o que dificultaria a criação adversária, minimizando o problema da lentidão do miolo de zaga palestrino.
Marcação palmeirense espaçada, que contava com Wesley
e Diogo fechando os flancos e Valdívia marcando os volantes da Chape sozinho
(Reprodução: Premiere)
O time catarinense não diferia muito com relação ao
adversário paulista na fase de marcação. A principal disparidade dava conta de que Leandro
recuava para marcar a saída dos volantes rivais e Zezinho por vezes se juntava
a Abuda e Ricardo Conceição em um preenchimento maior do meio-campo, justamente
na área de atuação de Valdívia e Wesley, que centralizava para auxiliar na
construção das jogadas. Embora também não fosse compacta, a marcação da
Chapecoense era mais intensa no meio-campo, o que obrigava ao Palmeiras criar
pelas pontas, que também eram ocupadas pelos wingers catarinenses, mas não com a mesma força que havia pelo centro. Foi assim que surgiu a principal chance do time da casa no primeiro
tempo, em jogada de Valdívia pelo lado esquerdo, que encontrou Diogo em
profundidade. O camisa 17 rolou para Henrique que, sem goleiro, chutou em cima
do defensor adversário, posicionado à frente do gol.
Na marcação, Chapecoense variava entre o 4-2-3-1 e o
4-5-1, com Zezinho se incorporando aos volantes para povoar o meio-campo, como
forma de compensar a descompactação das linhas (Reprodução: Premiere)
O primeiro tempo foi bastante morno no Pacaembu e o
time mandante, mesmo com mais tempo de posse de bola, tinha dificuldades para
criar e acabou indo para o intervalo com o placar desfavorável, premiando a
proposta reativa do visitante até então indigesto. Ainda no fim do primeiro
tempo, Dorival Júnior perdeu Diogo lesionado e o substituiu por Cristaldo, que
vinha de boa atuação contra o Figueirense. O argentino entrou com a mesma
função de Diogo, mas acrescentava maior presença de área e velocidade nas
jogadas pela lateral.
Jorginho trocou Zezinho, com cartão amarelo, por
Neném na volta do intervalo com intenção clara: reforçar ainda mais a marcação
do meio-campo e apostar no contra-ataque em velocidade com Camilo, agora
posicionado como enganche, e Fabinho Alves, na ponta-direita e sem mais
responsabilidades na recomposição defensiva. A mudança continuou dificultando
as ações palmeirenses pelo meio-campo e se mostrou bastante eficiente durante
os primeiros minutos da segunda parte, quando Fabinho perdeu gol incrível em
jogada lateral criada por Leandro. Curiosamente, o Palmeiras alcançou o empate
pelo centro, em jogada de Valdívia. O chileno tentou passe próximo à área adversária
e foi interceptado pela marcação da Chape, mas deu sorte que o corte não foi
completo e a bola sobrou para Wesley, que rapidamente finalizou da meia-lua da
grande área para igualar o placar.
Segundo tempo: Palmeiras com a mesma estrutura, mas
Cristaldo no lugar de Diogo e Chapecoense totalmente modificada, saindo do
4-2-3-1/4-5-1 para um losango de meio-campo e dois atacantes para aproveitar os
contragolpes
Com o empate, o Palmeiras teve mais tranquilidade
para jogar e se deu conta de que dificilmente teria sucesso novamente se concentrasse
suas jogadas pelo centro. Neste sentido, o time de Dorival percebeu que a
mudança da Chapecoense de uma linha de meio-campo para um losango, desguarnecia
os extremos da defesa catarinense e deixava os laterais expostos. Desta forma,
o Verdão de São Paulo passou a atacar com mais frequência pelos lados, com
Wesley centralizando menos e trabalhando mais próximo a João Pedro pela direita
e, principalmente, com o trio Juninho-Victor Luís-Cristaldo pela esquerda, de
onde saiu a jogada do gol da virada, em cruzamento de Victor Luís, que Wesley
finalizou na marcação e conseguiu o escanteio que proporcionou a Henrique marcar
seu primeiro gol. Também foi pela ponta-esquerda que surgiu o primeiro pênalti,
em bola que atingiu a mão de Fabiano após cruzamento de Juninho da linha de
fundo. Ainda no setor, o Palmeiras conseguiu o pênalti derradeiro, quando Rodrigo
Biro derrubou Henrique, que partia em velocidade para alcançar cruzamento de
Victor Luís, que havia puxado contra-ataque em velocidade e tabelado com
Cristaldo antes de alcançar a linha de fundo.
Mesmo sofrendo gol atrás de gol, Jorginho manteve o
losango de meio-campo e continuou oferecendo os flancos para o Palmeiras, que
teve tranquilidade para dominar o jogo sem sofrer muito até o seu final, quando
o bom centroavante Leandro encontrou um gol, já nos acréscimos, para diminuir o
placar no Pacaembu.
Com a vitória, o Palmeiras passará a rodada fora da
zona do rebaixamento e assumiu a posição da Chapecoense na tabela. O time
catarinense, por sua vez, tem de torcer por resultados para que não volte ao
Z-4 ainda nessa rodada #26. Os dois alviverdes devem brigar contra o descenso
até as últimas rodadas do campeonato e precisam, como o Palmeiras mostrou,
valorizar pelo menos os mandos de campo para não voltarem à Série B apenas uma
temporada depois do acesso.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)