Paraná e Vasco realizaram um dos jogos da 33ª rodada do
Campeonato Brasileiro da Série B. Para o empate por 1 x 1, a equipe paranaense
comandada pelo técnico Ricardinho começou no 4-3-1-2 e a carioca por Joel
Santana no 4-2-3-1:
Paraná no 4-3-1-2 com destaque para o posicionamento de
Lúcio Flavio na esquerda do losango do meio-de-campo, e Vasco no 4-2-3-1 com
destaque para a movimentação ofensiva de Kléber Gladiador.
Do começo da
partida até os 20 minutos do primeiro tempo, o Vasco propôs o jogo da maneira
que quis. O Gigante da Colina atacava com alternância dos laterais, procurando
os lados para sair jogando, com Pedro Ken e Maxi Rodríguez entrando
freqüentemente nas diagonais em direção à área de Marcos e Kléber Gladiador se
movimentando nas costas dos volantes de lado do losango do Paraná Clube. Estas
duas últimas movimentações foram fundamentais para desestabilizar o sistema
defensivo paranista que estava estreando o esquema como esquema tático titular.
Uma vez que
Ricardinho, até então, estava utilizando do 4-2-3-1 como esquema tático base, a
mudança para o 4-3-1-2 gerou algumas falhas em situação defensiva. Uma delas
era a falta de balanço defensivo para o lado da bola de Lúcio Flavio. Com isto,
freqüentemente Pedro Ken conseguia receber em projeção no espaço vazio onde
deveria estar o camisa 10 do Paraná. A outra era o posicionamento defensivo dos
atacantes em situação defensiva. Tanto Carlinhos quanto Adaílton ficavam
centralizados enquanto que o Vasco constantemente saia pelos lados do campo.
Com Kléber se movendo nas costas de Ricardinho
(o volante do lado direito do Paraná) e com Carlinhos sequer atrapalhando a
saída de bola de Diego Renan, o camisa 8 paranista teve sair para dar combate
no lateral-esquerdo do Vasco. Devido à aproximação de Maxi Rodríguez, Kléber,
Douglas e Guinazu para o lado da bola e somente de Chiquinho, Edson Citta,
Ricardinho e Thiago Humberto pelo lado do time paranaense, o Gigante da Colina
constantemente conseguia superioridade numérica no setor da bola (retângulo
azul) e freqüentemente achava Pedro Ken na projeção no espaço onde Lúcio Flavio
não balançava defensivamente (retângulo vermelho). Era pressão vascaína.
Flagrante do losango do meio-de-campo e da dupla ofensiva do Paraná.
Nesta imagem, percebe-se também a falta de intensidade defensiva que Lúcio
Flavio apresentava até mesmo quando a bola estava no seu lado do campo
(Reprodução: Sportv).
Após a pressão
inicial da equipe carioca em 20 minutos (foram sete das 10 finalizações do
primeiro tempo somente nos primeiros 20 minutos), o técnico Ricardinho foi
ajeitando a equipe defensivamente. A partir deste momento, a compactação entre
intermediárias continuava, mas os dois atacantes paranistas passaram a
atrapalhar a saída de jogo de Carlos César e Diego Renan. Desta maneira, fazia
com que o Paraná Clube se defendesse em um quase 4-1-4-1 com Thiago Humberto
sendo o jogador mais avançado em ação defensiva da equipe.
Com o sistema
defensivo ajeitado, o sistema ofensivo do Tricolor da Vila começou a aparecer.
Ofensivamente, o time paranaense atacava com alternância dos laterais, com
Ricardinho fazendo a função de box-to-box, Thiago Humberto sendo o
ponta-de-lança, os dois atacantes trocando de posição e sempre realizando o
balanço ofensivo e o destaque ofensivo ficou para Lúcio Flavio. O camisa 10
paranista era o único que recuava para iniciar a saída de bola da sua equipe e
organizou ela longe da linha de volantes do Vasco. Assim, ficando
freqüentemente longe da marcação adversária.
Já neste flagrante, nota-se o balanço ofensivo dos atacantes paranista
e a projeção de Thiago Humberto à frente. Como Adaílton está com a bola pelo
lado esquerdo, Carlinhos centralizou e se movimenta no vão entre o zagueiro da
esquerda (Rodrigo) e o lateral-esquerdo (Diego Renan). Ou seja, os dois
atacantes balançaram ofensivamente. Enquanto que Adaílton e Carlinhos fazem o
“para-brisa ofensivo”, Thiago Humberto se projetou no vão entre os zagueiros do
Vaso. Era tudo tão organizado que mesmo com Carlinhos e Adaílton trocando de
lado, a movimentação ofensiva paranista se mantinha e conseguia furar o sistema
defensivo do Gigante da Colina (Reprodução: Sportv).
Em situação
defensiva, o Vasco se posicionava no 4-2-3-1, com compactação entre
intermediárias, com lenta troca de ação de jogo e apresentou a situação
defensiva do 4-2-3-1 à la terras brasileiras. O Gigante da Colina tinha em seus
wingers uma marcação individual nos laterais adversários e nenhum dos dois
balançava defensivamente para o lado da bola. Deste modo, o crescimento ofensivo
do Paraná era provável.
Flagrante do 2-3-1 do 4-2-3-1 do Vasco. Nele,
percebe-se que o encaixe de marcação que o meio-de-campo do time carioca fazia
em relação à equipe paranaense. Tudo encaixado. Porém com a movimentação
ofensiva paranista, o sistema defensivo vascaíno não conseguia neutralizar o
sistema ofensivo do Paraná Clube (Reprodução: Sportv).
Assim como foi dito, era somente Lúcio Flavio que iniciava a saída de
jogo do Paraná. Ele se desgrudava de Aranda e conseguia lançar qualquer um dos seus
laterais em projeção e nas costas de Pedro Ken e Maxi Rodríguez. Já que os dois
só marcavam Chiquinho e Yan e não balançavam defensivamente. Para piorar para o
Vasco, estes lançamentos eram nas costas dos wingers e longe dos laterais
cariocas (quadrados vermelhos). Vendo que não havia ninguém para combater
Chiquinho e Yan, Diego Renan e Carlos César avançavam para neutralizá-los, mas
isto abria o espaço que Carlinhos e Adaílton precisavam ofensivamente. Já que
quando a bola caía no lado deles, ambos se projetavam no vão entre o lateral e
o zagueiro daquele lado. O sistema ofensivo do Tricolor da Vila dominava o
jogo.
Tamanha era a facilidade do Paraná em jogar pelos lados do campo que o
time acabou apresentando o heatmap acima. Nele, percebe-se a fluência do time
pelos lados somente do meio-de-campo para frente e, assim, mostrando exatamente
a região representada pelo flagrante anterior (Fonte: Footstats).
Além da consequência da falta de balanço que os wingers do Vasco
causavam em seu sistema defensivo, Pedro Ken e Maxi Rodríguez também só
marcavam os laterais adversários e gerava a consequência do flagrante acima.
Por ele, percebe-se que nenhum dos meias cariocas estão participando da ação
defensiva do seu time (tanto que Douglas é o único que aparece na imagem e
aparece bem longe do sistema defensivo do Gigante da Colina) e Thiago Humberto,
Lúcio Flavio e Ricardinho geraram superioridade numérica na faixa central do
campo e à frente da linha defensiva do Vasco. Tanto que Aranda foi dar combate
em Lúcio Flavio, Guinazu ficou em Thiago Humberto e, assim, os volantes
cariocas deixaram Ricardinho completamente livre (Reprodução: Sportv).
Como no
intervalo do jogo, os dois times continuaram a apresentar o que foi a partir
dos 20 minutos do primeiro tempo, o Paraná continuou a sua pressão. Tanto que
aos 10 da segunda etapa, Adaílton fez o gol paranista. Aos 13, a expulsão de
Cleiton fez mudar o panorama da partida. Com um a menos, o Tricolor da Vila
passou a jogar no 4-4-1, a se defender com curto espaço entre as duas linhas de
4 e a balançar defensivamente para o lado da bola corretamente.
Flagrante das duas linhas de 4 do Paraná com curto espaço entre elas e
balançando defensivamente para o lado da bola (Reprodução: Sportv).
Já pelo lado
do Vasco, Joel Santana colocou Thalles e Montoya nos lugares de Pedro Ken e
Aranda. Com estas substituições, o Gigante da Colina ficou mais intenso
ofensivamente, porém com pouco volume ofensivo. Tanto que o time carioca só
conseguiu duas finalizações na etapa final.
Com um a mais e precisando fazer gols, o Vasco passou a atacar com os
dois laterais simultaneamente, com o quarteto ofensivo só esperando o
cruzamento na área e Douglas e Guinazu armando a equipe longe da linha de 4 do
meio-de-campo do Paraná. Já que com que a proximidade das duas linhas de 4
paranistas, Kléber deixou de ter o espaço que aproveitava nas costas dos
volantes do Tricolor da Vila e, assim sobrou para Douglas fazer o seu time
jogar.
Através de um
cruzamento pela esquerda, Maxi Rodríguez realizou o gol de empate do Vasco, aos
46 da segunda etapa. Gol de empate para um sistema ofensivo que pouco produziu
para realizar o gol. Mesmo levando em consideração a ótima atuação tática das
duas linhas de 4 do Paraná, o Gigante da Colina não produzia algo a mais e
sequer ameaçava a meta de Marcos mesmo com um jogador a mais.
Por Caio Gondo (@CaioGondo)