sábado, 1 de novembro de 2014

Paraná apresentou movimentações táticas ofensivas e defensivas interessantes, mas não suportou o jogador a mais do Vasco

     Paraná e Vasco realizaram um dos jogos da 33ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B. Para o empate por 1 x 1, a equipe paranaense comandada pelo técnico Ricardinho começou no 4-3-1-2 e a carioca por Joel Santana no 4-2-3-1:

Paraná no 4-3-1-2 com destaque para o posicionamento de Lúcio Flavio na esquerda do losango do meio-de-campo, e Vasco no 4-2-3-1 com destaque para a movimentação ofensiva de Kléber Gladiador.

Do começo da partida até os 20 minutos do primeiro tempo, o Vasco propôs o jogo da maneira que quis. O Gigante da Colina atacava com alternância dos laterais, procurando os lados para sair jogando, com Pedro Ken e Maxi Rodríguez entrando freqüentemente nas diagonais em direção à área de Marcos e Kléber Gladiador se movimentando nas costas dos volantes de lado do losango do Paraná Clube. Estas duas últimas movimentações foram fundamentais para desestabilizar o sistema defensivo paranista que estava estreando o esquema como esquema tático titular.

Uma vez que Ricardinho, até então, estava utilizando do 4-2-3-1 como esquema tático base, a mudança para o 4-3-1-2 gerou algumas falhas em situação defensiva. Uma delas era a falta de balanço defensivo para o lado da bola de Lúcio Flavio. Com isto, freqüentemente Pedro Ken conseguia receber em projeção no espaço vazio onde deveria estar o camisa 10 do Paraná. A outra era o posicionamento defensivo dos atacantes em situação defensiva. Tanto Carlinhos quanto Adaílton ficavam centralizados enquanto que o Vasco constantemente saia pelos lados do campo.

Com Kléber se movendo nas costas de Ricardinho (o volante do lado direito do Paraná) e com Carlinhos sequer atrapalhando a saída de bola de Diego Renan, o camisa 8 paranista teve sair para dar combate no lateral-esquerdo do Vasco. Devido à aproximação de Maxi Rodríguez, Kléber, Douglas e Guinazu para o lado da bola e somente de Chiquinho, Edson Citta, Ricardinho e Thiago Humberto pelo lado do time paranaense, o Gigante da Colina constantemente conseguia superioridade numérica no setor da bola (retângulo azul) e freqüentemente achava Pedro Ken na projeção no espaço onde Lúcio Flavio não balançava defensivamente (retângulo vermelho). Era pressão vascaína.

Flagrante do losango do meio-de-campo e da dupla ofensiva do Paraná. Nesta imagem, percebe-se também a falta de intensidade defensiva que Lúcio Flavio apresentava até mesmo quando a bola estava no seu lado do campo (Reprodução: Sportv).

Após a pressão inicial da equipe carioca em 20 minutos (foram sete das 10 finalizações do primeiro tempo somente nos primeiros 20 minutos), o técnico Ricardinho foi ajeitando a equipe defensivamente. A partir deste momento, a compactação entre intermediárias continuava, mas os dois atacantes paranistas passaram a atrapalhar a saída de jogo de Carlos César e Diego Renan. Desta maneira, fazia com que o Paraná Clube se defendesse em um quase 4-1-4-1 com Thiago Humberto sendo o jogador mais avançado em ação defensiva da equipe.

Com o sistema defensivo ajeitado, o sistema ofensivo do Tricolor da Vila começou a aparecer. Ofensivamente, o time paranaense atacava com alternância dos laterais, com Ricardinho fazendo a função de box-to-box, Thiago Humberto sendo o ponta-de-lança, os dois atacantes trocando de posição e sempre realizando o balanço ofensivo e o destaque ofensivo ficou para Lúcio Flavio. O camisa 10 paranista era o único que recuava para iniciar a saída de bola da sua equipe e organizou ela longe da linha de volantes do Vasco. Assim, ficando freqüentemente longe da marcação adversária. 

Já neste flagrante, nota-se o balanço ofensivo dos atacantes paranista e a projeção de Thiago Humberto à frente. Como Adaílton está com a bola pelo lado esquerdo, Carlinhos centralizou e se movimenta no vão entre o zagueiro da esquerda (Rodrigo) e o lateral-esquerdo (Diego Renan). Ou seja, os dois atacantes balançaram ofensivamente. Enquanto que Adaílton e Carlinhos fazem o “para-brisa ofensivo”, Thiago Humberto se projetou no vão entre os zagueiros do Vaso. Era tudo tão organizado que mesmo com Carlinhos e Adaílton trocando de lado, a movimentação ofensiva paranista se mantinha e conseguia furar o sistema defensivo do Gigante da Colina (Reprodução: Sportv).

Em situação defensiva, o Vasco se posicionava no 4-2-3-1, com compactação entre intermediárias, com lenta troca de ação de jogo e apresentou a situação defensiva do 4-2-3-1 à la terras brasileiras. O Gigante da Colina tinha em seus wingers uma marcação individual nos laterais adversários e nenhum dos dois balançava defensivamente para o lado da bola. Deste modo, o crescimento ofensivo do Paraná era provável.

Flagrante do 2-3-1 do 4-2-3-1 do Vasco. Nele, percebe-se que o encaixe de marcação que o meio-de-campo do time carioca fazia em relação à equipe paranaense. Tudo encaixado. Porém com a movimentação ofensiva paranista, o sistema defensivo vascaíno não conseguia neutralizar o sistema ofensivo do Paraná Clube (Reprodução: Sportv).

Assim como foi dito, era somente Lúcio Flavio que iniciava a saída de jogo do Paraná. Ele se desgrudava de Aranda e conseguia lançar qualquer um dos seus laterais em projeção e nas costas de Pedro Ken e Maxi Rodríguez. Já que os dois só marcavam Chiquinho e Yan e não balançavam defensivamente. Para piorar para o Vasco, estes lançamentos eram nas costas dos wingers e longe dos laterais cariocas (quadrados vermelhos). Vendo que não havia ninguém para combater Chiquinho e Yan, Diego Renan e Carlos César avançavam para neutralizá-los, mas isto abria o espaço que Carlinhos e Adaílton precisavam ofensivamente. Já que quando a bola caía no lado deles, ambos se projetavam no vão entre o lateral e o zagueiro daquele lado. O sistema ofensivo do Tricolor da Vila dominava o jogo.

Tamanha era a facilidade do Paraná em jogar pelos lados do campo que o time acabou apresentando o heatmap acima. Nele, percebe-se a fluência do time pelos lados somente do meio-de-campo para frente e, assim, mostrando exatamente a região representada pelo flagrante anterior (Fonte: Footstats).


Além da consequência da falta de balanço que os wingers do Vasco causavam em seu sistema defensivo, Pedro Ken e Maxi Rodríguez também só marcavam os laterais adversários e gerava a consequência do flagrante acima. Por ele, percebe-se que nenhum dos meias cariocas estão participando da ação defensiva do seu time (tanto que Douglas é o único que aparece na imagem e aparece bem longe do sistema defensivo do Gigante da Colina) e Thiago Humberto, Lúcio Flavio e Ricardinho geraram superioridade numérica na faixa central do campo e à frente da linha defensiva do Vasco. Tanto que Aranda foi dar combate em Lúcio Flavio, Guinazu ficou em Thiago Humberto e, assim, os volantes cariocas deixaram Ricardinho completamente livre (Reprodução: Sportv).

Como no intervalo do jogo, os dois times continuaram a apresentar o que foi a partir dos 20 minutos do primeiro tempo, o Paraná continuou a sua pressão. Tanto que aos 10 da segunda etapa, Adaílton fez o gol paranista. Aos 13, a expulsão de Cleiton fez mudar o panorama da partida. Com um a menos, o Tricolor da Vila passou a jogar no 4-4-1, a se defender com curto espaço entre as duas linhas de 4 e a balançar defensivamente para o lado da bola corretamente.

Flagrante das duas linhas de 4 do Paraná com curto espaço entre elas e balançando defensivamente para o lado da bola (Reprodução: Sportv).

Já pelo lado do Vasco, Joel Santana colocou Thalles e Montoya nos lugares de Pedro Ken e Aranda. Com estas substituições, o Gigante da Colina ficou mais intenso ofensivamente, porém com pouco volume ofensivo. Tanto que o time carioca só conseguiu duas finalizações na etapa final.

Com um a mais e precisando fazer gols, o Vasco passou a atacar com os dois laterais simultaneamente, com o quarteto ofensivo só esperando o cruzamento na área e Douglas e Guinazu armando a equipe longe da linha de 4 do meio-de-campo do Paraná. Já que com que a proximidade das duas linhas de 4 paranistas, Kléber deixou de ter o espaço que aproveitava nas costas dos volantes do Tricolor da Vila e, assim sobrou para Douglas fazer o seu time jogar. 

Através de um cruzamento pela esquerda, Maxi Rodríguez realizou o gol de empate do Vasco, aos 46 da segunda etapa. Gol de empate para um sistema ofensivo que pouco produziu para realizar o gol. Mesmo levando em consideração a ótima atuação tática das duas linhas de 4 do Paraná, o Gigante da Colina não produzia algo a mais e sequer ameaçava a meta de Marcos mesmo com um jogador a mais.

Por Caio Gondo (@CaioGondo)