sábado, 27 de dezembro de 2014

Retrospectiva Brasileirão 2014: Vitória

Como explicar as vertigens de um 2014 repleto e tingido em rubro-negro, que insiste em reluzir sob Ney Franco como seu momento de inflexão, na então, ascendente carreira. E pensar que o final de 2013 apontava para um caminho promissor, de harmonia e esplendor, com o Vitória em quinto lugar, à beira da Libertadores e destilando Marquinhos, Escudero, Dinei e Maxi Biancucchi em fase ímpar. Um time formado as pressas, porém coeso, quase sempre no 4-1-4-1 modular de Ney Franco. Com a base e o treinador mantido, o Rubro Negro baiano encarava o estadual com o favoritismo latente em condições normais de temperatura e pressão. Eis que, driblando a lógica, os orixás e os búzios, o Bahia venceu a final com autoridade, apontando que algo havia saído do trilho. Na Copa do Nordeste o destino foi todavia mais amargo, com uma sonora goleada sofrida diante do Ceará nas quartas de final, desnudando  as debilidades do Vitória para o começo do  Brasileirão. Para engrossar o chorume, vimos na Copa do Brasil outro vexame consumado com a eliminação na primeira fase diante do J Malucelli. 

Na segunda rodada contra o Furacão: 4-1-4-1 de Ney Franco já contando com ausências em todos os setores
Apesar das indas e vindas, Ney Franco decidiu manter o seu esquema fetiche nas últimas temporadas com um meio campo repleto, povoado, quase sempre no 4-1-4-1. Antes de deixar o Vitória na mão, e assumir o Flamengo à beira do caos - na quarta rodada após empate agônico contra o Bahia -  Ney Franco armou a linha defensiva com as costumeiras ausências de seus laterais titulares, no caso Ayrton e Juan, sendo que Nino Paraiba e Euller acabariam como titulares pelo setor nos primeiros meses. O miolo de zaga também se alternava com Luis Gustavo e Dão se virando para encontrar o entrosamento ideal. O trio de volantes contava com o paraguaio Caceres, além de Marcelo e o promissor José Welison. Com as constantes lesões de Escudero e Marquinhos, Caio e Vinicius iniciaram o campeonato pelos lados da linha de armadores, deixando o artilheiro Dinei isolado como referência. As 4 rodadas traziam empates contra Atlético Paranaense e Bahia, uma vitória contra o Fluminense, além do revés na estreia diante do Inter.

A Era Jorginho ficou resumida no confronto contra o São Paulo no Morumbi: Um 4-4-1-1 que tentava minimizar o frágil sistema defensivo
Jorginho, o popular Cantinflas, desembarcava com a missão de estancar a crise interna e dobrar o timo na Temporada. A primeira vitória viria apenas no quarto jogo de seu comando, justamente contra o Criciúma. Com a parada obrigatória para a Copa do Mundo, Jorginho implantou a ideia de dar mais solidez defensiva com o sistema 4-4-1-1 e uma postura reativa. Apesar da tentativa, o Vitória seguia refém das contusões, de saídas inoportunas e falta de entrosamento nos setores vitais. Para piorar, Marquinhos partia para o Cruzeiro antes da parada do mundial. Chegaram o zagueiro Alemão, o volante uruguaio Aguiar e os meias Marcinho e Richarlyson - que a principio foi atuar na segunda linha de quatro, fechando o lado esquerdo da meia cancha. O ponta de lança Caio ganhou destaque pós-Mundial, anotando 6 gols na posição de enlace, chamado a atenção do mundo árabe e deixando o Vitória em troca de petrodólares. Com uma pobre campanha - 5 derrotas, 4 empates e 2 vitórias - Jorginho Cantinflas deixava o rubro negro baiano com sabor à fracasso e um time cheio de interrogações para o returno.

Na penúltima rodada diante do Flamengo: Um 4-1-4-1 variante para o 4-4-1-1 inoperante, aproximava o iminente rebaixamento
Após passagem sofrível pelo Flamengo, Ney Franco retornava ao Barradão como um cão arrependido, ávido para salvar o Vitória de um destino cruel. Eis que, seguindo o ritmo de toda a temporada, lesões inoportunas voltavam a dar o ar da graça, somadas a saídas inesperadas e um pacotão de incorporações desesperadas. O goleiro Wilson se contundia e para seu lugar, Gatito Fernandez assumia a meta com sobressaltos. Na lateral direita, Ayrton novamente sentia suas costumeiras lesões, dando pista a Nino Paraiba. Na lateral esquerda, Juan, Tarracha e Euller seguiam irregulares na marcação, fazendo Ney Franco apostar pela fixação de Richarlyson por este setor. A zaga tampouco se firmou com Kadu e Roger Carvalho, afundando o Vitória na "zona da confusão" .

O esquema mais utilizado por Ney Franco foi o 4-1-4-1, variando para o 4-4-1-1 em alguns jogos e situações. Os volantes se alternavam entre Caceres, Neto Coruja, José Welison, sendo que até mesmo Juan acabaria adiantado para jogar pela esquerda do meio de campo. Edno chegava para auxiliar Dinei no comando do ataque, contudo, o ex-atacante da Portuguesa, refém da situação e do ataque enxuto, acabou sendo utilizado muitas vezes pelo lado esquerdo da segunda linha de 4. Este foi o panorama tático até o retorno do argentino Escudero para os cotejos derradeiros.  Marcinho,Vinicius e até mesmo o volante Jose Welison se revezavam pelo flanco oposto.

Com este cenário era difícil evitar o iminente rebaixamento. Após as 3 derrotas finais, o Vitória se viu diante de um novo e surpreendente rebaixamento. A campanha teve 20 derrotas, 8 empates e apenas 10 triunfos. A defesa sofreu 54 gols e o ataque converteu apenas 37 tentos. Para 2015, o estudioso Ricardo Drubscky terá um desafiou grande para colocar o Vitória no eixo em âmbito nacional. A Copa do Nordeste e o estadual servirá de laboratório, clamando  com que a série B transcorra de acordo ao tamanho e investimento do Rubro Negro baiano.

Por Felipe Bigliazzi