O Criciúma iniciou 2014 cercado de expectativas.
Após não renovar com Argel Fucks, que ajudou o time a fugir do rebaixamento no
fim do último Brasileirão, a diretoria anunciou Ricardo Drubscky como
substituto para iniciar o trabalho no estadual. Com relação ao elenco, voltavam
a Criciúma Paulo Baier e Lucca, que tiveram boas passagens pelo tricolor do sul
de Santa Catarina, além das renovações de jogadores importantes da campanha do
ano anterior, como Galatto, Fábio Ferreira, Ricardinho, João Vitor e Serginho.
Também chegaram ao Carvoeiro atletas com passagens por grandes equipes do
futebol nacional, como Escudero e Lulinha (Corinthians), Ronaldo Alves (Inter),
Maylson (Grêmio) e Everton (Cruzeiro), além de outros com trajetórias
destacadas em equipes de menor expressão, a exemplo de Eduardo (Joinville), Rogério
(Portuguesa), Thiago Humberto (Ceará), Fernando Karanga (Boa Esporte) e Rodrigo
Silva (ABC). Toda a movimentação de transição de temporadas, da saída de Argel
à chegada dos novos reforços, foi liderada por Cláudio Gomes, antigo Gerente de
Marketing e que assumira recentemente a liderança do Departamento de Futebol do
Criciúma, no lugar de Cícero Souza.
O Tigre era apontado pela imprensa como o melhor
elenco de Santa Catarina para 2014 e, consequentemente, o principal favorito à
conquista do estadual, também por ser o único que disputara a Série A do
Campeonato Brasileiro no ano anterior. Com apenas sete jogos e 57% de
aproveitamento no catarinense, Ricardo Drubscky foi demitido do Criciúma,
cedendo lugar ao badalado Caio Júnior. O interino Luizinho Vieira ajudou o
Tigre a chegar ao quadrangular final do catarinense e, já com Caio Júnior no
comando, o time começou bem, mas caiu de rendimento nos últimos jogos e ficou
fora da final do catarinense, onde o Figueirense sagrou-se campeão ao bater o
Joinville. No estadual, Caio montou um 4-3-1-2, com um volante mais preso e
dois de boa saída ocupando as vértices do losango de meio-campo, que era
completado por Paulo Baier, o enganche e talvez o principal destaque do
Criciúma no primeiro semestre, apesar de certa irregularidade. No ataque, o
jovem centroavante Gustavo, artilheiro da Copa São Paulo pelo Taboão da Serra,
ganhou a vaga de Rodrigo Silva e formava dupla com Bruno Lopes, da base
carvoeira e que se beneficiou da irregularidade de Lulinha e Lucca, que não
conseguiram se firmar no estadual.
Time do Criciúma que finalizou a campanha no
quadrangular final do estadual
Para o Brasileirão, muitos dos jogadores que
chegaram no início do ano já haviam ido embora e outros novos foram
apresentados, dando a impressão de falta de confiança no elenco e, sobretudo,
de dificuldade da nova direção de futebol em aceitar que a evolução de um time
é gradativa, e não de uma hora pra outra. Neste sentido, jogadores tarimbados
como Martinez, Bruno Cortês, Cleber Santana, Zé Carlos e Souza foram chegando
aos poucos durante o primeiro turno do BR14, além de emergentes como Luís
Felipe, Rodrigo Souza, Silvinho e outras contratações pontuais. Antes da
maioria destes nomes chegarem, Caio Júnior iniciou a campanha na Série A já
pressionado e balançando no cargo. O sistema de jogo foi mantido, mas com
mudanças em várias posições. Fábio Ferreira finalmente foi regularizado e
voltou a atuar com a camisa tricolor, além de João Vitor, Eduardo e Giovanni,
que recuperaram posição e viraram titulares, bem como o recém-chegado Silvinho.
As derrotas para Palmeiras e Goiás nas duas primeiras rodadas, somadas à
eliminação para o Londrina na Copa do Brasil, custaram o cargo de Caio Júnior
e, após apenas quatro meses, o Tigre já ia para o terceiro técnico efetivo na
temporada.
Losango de Caio Júnior não foi páreo para o Palmeiras,
que venceu o Tigre de virada, no Heriberto Hülse (Reprodução/SporTV)
Para a vaga de Caio Júnior, a diretoria carvoeira
anunciou Wagner Lopes, técnico emergente que se destacara no Paulistão com o
Botafogo de Ribeirão Preto. O novo comandante promoveu as estreias de alguns
recém-contratados, como o goleiro Luiz, o lateral Cortês, os meio-campistas
Rafael Costa, Cleber Santana e Martinez e o centroavante Souza, entre outros. O
esquema tático mais utilizado foi o 4-1-4-1, que buscava um maior povoamento do
setor defensivo sem a bola, com o recuo dos atacantes de mobilidade para
fecharem os extremos, além de aproveitar melhor Paulo Baier, que passou a ter
menos responsabilidade na marcação e ficava como jogador mais avançado na
transição defensiva criciumense. O posicionamento de Baier é semelhante ao que
Marquinhos Santos implantou com sucesso no Coritiba para que Alex pudesse ter
um final de carreira importante, ao ajudar o Coxa em sua manutenção na Série A
após campanha difícil.
O 4-1-4-1 de Wagner Lopes tinha dinâmica de 4-3-1-2
quando o Criciúma atacava, já que os atacantes de lado buscavam fazer a
infiltração na diagonal e o time atuava sem referência. Os ofensivos Eduardo e
Cortês davam amplitude pelas laterais e Paulo Baier recuava para se
transformar no homem do último passe, com o auxílio dos volantes de saída,
principalmente João Vitor, o que mais atuou, e Maylson e Martinez, que também
fizeram algumas partidas como titulares, sem muito destaque, entretanto.
Formação mais comum de Wagner Lopes, com algumas
mudanças de jogo a jogo
Em casa, o Criciúma empatou com o Inter em um 4-1-4-1
compacto e que tinha na veloz transição pelos lados a principal característica
ofensiva (Reprodução/SporTV)
Wagner Lopes também utilizou o 4-2-3-1 em algumas
partidas, com a entrada de Rafael Costa na vaga de Rodrigo Souza, empurrando
Bruno Lopes para atuar como uma referência móvel e com Paulo Baier voltando um
pouco mais para marcar a saída dos volantes adversários no 4-4-1-1 da fase
defensiva. O sistema também foi utilizado com volantes de boa saída fazendo a
função pelos flancos, o que deixava o time com pouca profundidade, mas garantia
boa posse de bola no meio-campo. Sob o comando de Wagner Lopes, o Criciúma teve
um bom início e conseguiu quatro vitórias, seis derrotas e quatro empates, até
o técnico ser demitido ainda antes do fim do primeiro turno, na 17ª rodada,
após sete partidas sem vencer.
4-2-3-1 de Wagner Lopes tinha Rafael Costa e Silvinho
fechando os lados, e foi utilizado em algumas partidas, alcançando vitória
apenas contra o Fluminense
Sistema de Wagner Lopes com volantes como extremos.
Compactação e boa posse de bola, mas pouca profundidade (Reprodução/Premiere)
Nova sequência ruim fez com que mais um técnico
fosse demitido do Criciúma em 2014, com Wagner Lopes perdendo o posto para
Gilmar Dal Pozzo, que iniciou a Série A comandando a Chapecoense. Antes do novo
técnico assumir, Wilson Vaterkemper esteve à frente do Tigre interinamente nas partidas
contra o São Paulo pela Copa Sul-Americana e contra o Sport pelo Brasileirão,
mantendo formação semelhante à do antecessor. Com Dal Pozzo, outras estreias
aconteceram no time titular, como a de Luís Felipe e a do ídolo Zé Carlos, que
voltava do exterior. Com o novo treinador, Cleber Santana assumiu o título de
referência técnica do time, com Paulo Baier relegado ao banco de reservas na
maioria das partidas, mas entrando sempre como uma espécie de carta na manga. O
sistema eleito por Dal Pozzo foi o 4-1-4-1, com uma referência no ataque, ao
contrário de Wagner Lopes. Zé Carlos virou o titular da camisa 9, com Souza
como sombra e Paulo Baier entrando em algumas situações em que o time atuava
sem centroavante, principalmente nos segundos tempos.
4-1-4-1 era a variação defensiva que Dal Pozzo
utilizava na Chapecoense no primeiro semestre e foi o sistema prioritário
escolhido pelo técnico para o trabalho no Criciúma
Flagrante da compactação defensiva do Carvoeiro em
nova derrota para o Palmeiras, quando, sem Zé Carlos, Paulo Baier atuou como
‘falso 9’ (Reprodução/Premiere)
Se a variação defensiva da Chapecoense de Gilmar
Dal Pozzo era para o 4-1-4-1, a formação prioritária foi o 4-3-1-2, que foi mal
no estadual e iniciou terrivelmente a trajetória do Verdão do Oeste na elite do
futebol brasileiro. Em Criciúma, o técnico também utilizou do esquema em
algumas partidas, mas, diferente de Caio Júnior, um dos atacantes era um
centroavante de referência, no revezamento entre Zé Carlos e Souza, que tiveram
diversas oportunidades, sem, entretanto, conseguirem afirmação. O atacante de
mobilidade era geralmente Silvinho, até que uma lesão tirou o jogador, um dos
escassos destaques do time, do restante da temporada, fazendo com que Lucca
voltasse a ter mais regularidade e conseguisse algum protagonismo na fase sombria que o Tigre
viveu no returno da competição e que culminou com o rebaixamento antecipado.
Além de Silvinho, o goleiro Luiz, outro jogador importante, também se lesionou
sério e ficou fora da temporada. Fábio Ferreira, querido pela torcida carvoeira,
teve problemas com Dal Pozzo e acabou afastado na reta final do trabalho do
treinador. Ou seja, a escassez técnica do time do Criciúma ainda foi agravada
com a saída do time de três dos jogadores mais importantes na temporada,
fazendo com que a tarefa de se livrar de um rebaixamento ficasse cada vez mais
inviável.
Esquema com losango no meio-campo foi utilizado, por
exemplo, no empate com o Figueirense, em Florianópolis, quando o Tigre fez bom
primeiro tempo com atuações destacadas de Eduardo e Silvinho, que
inexplicavelmente foi substituído no intervalo por Paulo Baier, deixando o time
‘preso’ e facilitando o trabalho do rival da capital na busca pelo empate
Três derrotas consecutivas: essa foi a sequência
necessária para que a diretoria do Criciúma dispensasse mais um treinador em
2014. Gilmar Dal Pozzo deixou o cargo para Toninho Cecílio, que tinha como
único trabalho no ano uma participação no rebaixamento do Comercial, no
Paulistão. Toninho Cecílio esteve à frente do já desesperado Criciúma por
quatro partidas, reintegrando Fábio Ferreira, fazendo várias mudanças no time de jogo a jogo e escalando um
4-2-3-1 bastante solto, com perseguições individuais e muita distância entre os
setores na fase defensiva, além de soltar os laterais e prender os volantes
quando atacava, sobrecarregando os zagueiros e jogadores de meio-campo e
atuando com um time aberto em uma sequência muito difícil, com jogos contra São
Paulo, Cruzeiro e Grêmio, além do rival direto Bahia, adversário da quarta
derrota consecutiva e derradeira para que mais um técnico deixasse o Tigre em
2014.
4-2-3-1 espaçado de Toninho Cecílio, que perdeu para
São Paulo, Cruzeiro, Grêmio e Bahia (Reprodução/Rede Globo)
Além de Toninho Cecílio, a derrota para o Bahia na
35ª rodada também vitimou vários jogadores do elenco carvoeiro, dispensados
ainda antes do fim do campeonato e da confirmação do rebaixamento, que já era
iminente, embora não fosse matemático. Dentre os dispensados, Galatto, Luís
Felipe, Cortês, Martinez, Rodrigo Souza, Serginho, Souza e os ídolos Paulo
Baier e Zé Carlos, que saíra um pouco antes dos demais. Além das dispensas de
técnico e jogadores, a diretoria também anunciou que Claudio Gomes, apontado o
vilão do ano pela imprensa e torcida de Criciúma, voltaria a trabalhar apenas
no Marketing do clube, deixando o Departamento de Futebol a cargo do
recém-chegado Raimundo Queiroz.
Com a grande revolução feita no Criciúma ainda
antes do fim da Série A, Luizinho Vieira, que já havia comandado o clube interinamente
antes de Caio Júnior assumir, voltou a ser o treinador do Tigre até o fim da
competição, trabalhando com alguns dos jogadores que permaneceram no elenco,
além de atletas das categorias de base que passaram a integrar o grupo
profissional na reta final. Com Luizinho, o Tigre fez três partidas, com dois
empates e uma derrota, transitando entre o 4-1-4-1 e o 4-2-3-1, compactos na
fase defensiva e com muita velocidade à frente. Dos jogadores da base que
subiram, o atacante Roger Guedes conseguiu ser o principal destaque, além do
zagueiro Iago Maidana e do volante Barreto, que tiveram atuações regulares e
devem ser aproveitados para a temporada de 2015.
No empate com o Flamengo, o Criciúma atuou no 4-2-3-1,
que se transformava em 4-4-1-1 na fase defensiva. Atuação foi destacada no
segundo tempo, quando o Tigre chegou ao empate após a entrada do promissor
Roger Guedes (Reprodução/SporTV 2)
Na última rodada, o Tigre visitou o Corinthians, que
ainda brigava pela vaga direta na fase de grupos da Libertadores, e teve boa
participação, apesar da derrota. 4-1-4-1 compacto e com transição ofensiva
veloz foi o sistema de jogo que dificultou a vitória corintiana
(Reprodução/Bandeirantes)
Mesmo com o time rebaixado, Luizinho Vieira
conseguiu se destacar nas três últimas rodadas e a diretoria resolveu apostar
no seu nome para o comando do time no estadual de 2015, deixando, portanto, de
ser treinador interino. O Tigre busca a reestruturação para o novo ano e verá,
da Série B, os rivais Figueirense e Chapecoense, que conseguiram se manter na
elite, e Joinville e Avaí, que manejaram o acesso à Série A e farão com que
Santa Catarina conte com quatro times na primeira divisão do futebol
brasileiro, sendo que o único clube catarinense com título nacional de primeiro
nível (Copa do Brasil de 1991), o Carvoeiro do sul do estado, estará na segunda
divisão.
O principal problema em Criciúma no ano de 2014
consistiu na grande bagunça que foi o Departamento de Futebol do clube, que
fazia mudanças no elenco a todo o momento, além de conseguir que o Tigre
tivesse o impressionante número de sete diferentes técnicos durante a temporada
(dois interinos diferentes). Esta é a mudança capital que deve acontecer para
que 2015 seja um ano de conquistas, sendo que o principal objetivo deve ser a
volta à Série A, com o estadual ficando a segundo plano, para que não torne a
se repetir em terras carvoeiras o marasmo do fim da última década, quando o
time não conseguia sair da Série B e, com dificuldades financeiras, passou por
período sombrio na Série C do futebol nacional, até conseguir se reerguer com
Antenor Angeloni voltando à presidência. O presidente é o mesmo que tirou o
Criciúma da lama, então está claro que a volta por cima pode e deve ser feita
logo, com o apoio da sempre pulsante e apaixonada torcida carvoeira.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)