quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Retrospectiva Brasileirão 2014: Criciúma

O Criciúma iniciou 2014 cercado de expectativas. Após não renovar com Argel Fucks, que ajudou o time a fugir do rebaixamento no fim do último Brasileirão, a diretoria anunciou Ricardo Drubscky como substituto para iniciar o trabalho no estadual. Com relação ao elenco, voltavam a Criciúma Paulo Baier e Lucca, que tiveram boas passagens pelo tricolor do sul de Santa Catarina, além das renovações de jogadores importantes da campanha do ano anterior, como Galatto, Fábio Ferreira, Ricardinho, João Vitor e Serginho. Também chegaram ao Carvoeiro atletas com passagens por grandes equipes do futebol nacional, como Escudero e Lulinha (Corinthians), Ronaldo Alves (Inter), Maylson (Grêmio) e Everton (Cruzeiro), além de outros com trajetórias destacadas em equipes de menor expressão, a exemplo de Eduardo (Joinville), Rogério (Portuguesa), Thiago Humberto (Ceará), Fernando Karanga (Boa Esporte) e Rodrigo Silva (ABC). Toda a movimentação de transição de temporadas, da saída de Argel à chegada dos novos reforços, foi liderada por Cláudio Gomes, antigo Gerente de Marketing e que assumira recentemente a liderança do Departamento de Futebol do Criciúma, no lugar de Cícero Souza.

O Tigre era apontado pela imprensa como o melhor elenco de Santa Catarina para 2014 e, consequentemente, o principal favorito à conquista do estadual, também por ser o único que disputara a Série A do Campeonato Brasileiro no ano anterior. Com apenas sete jogos e 57% de aproveitamento no catarinense, Ricardo Drubscky foi demitido do Criciúma, cedendo lugar ao badalado Caio Júnior. O interino Luizinho Vieira ajudou o Tigre a chegar ao quadrangular final do catarinense e, já com Caio Júnior no comando, o time começou bem, mas caiu de rendimento nos últimos jogos e ficou fora da final do catarinense, onde o Figueirense sagrou-se campeão ao bater o Joinville. No estadual, Caio montou um 4-3-1-2, com um volante mais preso e dois de boa saída ocupando as vértices do losango de meio-campo, que era completado por Paulo Baier, o enganche e talvez o principal destaque do Criciúma no primeiro semestre, apesar de certa irregularidade. No ataque, o jovem centroavante Gustavo, artilheiro da Copa São Paulo pelo Taboão da Serra, ganhou a vaga de Rodrigo Silva e formava dupla com Bruno Lopes, da base carvoeira e que se beneficiou da irregularidade de Lulinha e Lucca, que não conseguiram se firmar no estadual.

Time do Criciúma que finalizou a campanha no quadrangular final do estadual

Para o Brasileirão, muitos dos jogadores que chegaram no início do ano já haviam ido embora e outros novos foram apresentados, dando a impressão de falta de confiança no elenco e, sobretudo, de dificuldade da nova direção de futebol em aceitar que a evolução de um time é gradativa, e não de uma hora pra outra. Neste sentido, jogadores tarimbados como Martinez, Bruno Cortês, Cleber Santana, Zé Carlos e Souza foram chegando aos poucos durante o primeiro turno do BR14, além de emergentes como Luís Felipe, Rodrigo Souza, Silvinho e outras contratações pontuais. Antes da maioria destes nomes chegarem, Caio Júnior iniciou a campanha na Série A já pressionado e balançando no cargo. O sistema de jogo foi mantido, mas com mudanças em várias posições. Fábio Ferreira finalmente foi regularizado e voltou a atuar com a camisa tricolor, além de João Vitor, Eduardo e Giovanni, que recuperaram posição e viraram titulares, bem como o recém-chegado Silvinho. As derrotas para Palmeiras e Goiás nas duas primeiras rodadas, somadas à eliminação para o Londrina na Copa do Brasil, custaram o cargo de Caio Júnior e, após apenas quatro meses, o Tigre já ia para o terceiro técnico efetivo na temporada.

Losango de Caio Júnior não foi páreo para o Palmeiras, que venceu o Tigre de virada, no Heriberto Hülse (Reprodução/SporTV)

Para a vaga de Caio Júnior, a diretoria carvoeira anunciou Wagner Lopes, técnico emergente que se destacara no Paulistão com o Botafogo de Ribeirão Preto. O novo comandante promoveu as estreias de alguns recém-contratados, como o goleiro Luiz, o lateral Cortês, os meio-campistas Rafael Costa, Cleber Santana e Martinez e o centroavante Souza, entre outros. O esquema tático mais utilizado foi o 4-1-4-1, que buscava um maior povoamento do setor defensivo sem a bola, com o recuo dos atacantes de mobilidade para fecharem os extremos, além de aproveitar melhor Paulo Baier, que passou a ter menos responsabilidade na marcação e ficava como jogador mais avançado na transição defensiva criciumense. O posicionamento de Baier é semelhante ao que Marquinhos Santos implantou com sucesso no Coritiba para que Alex pudesse ter um final de carreira importante, ao ajudar o Coxa em sua manutenção na Série A após campanha difícil.

O 4-1-4-1 de Wagner Lopes tinha dinâmica de 4-3-1-2 quando o Criciúma atacava, já que os atacantes de lado buscavam fazer a infiltração na diagonal e o time atuava sem referência. Os ofensivos Eduardo e Cortês davam amplitude pelas laterais e Paulo Baier recuava para se transformar no homem do último passe, com o auxílio dos volantes de saída, principalmente João Vitor, o que mais atuou, e Maylson e Martinez, que também fizeram algumas partidas como titulares, sem muito destaque, entretanto.

Formação mais comum de Wagner Lopes, com algumas mudanças de jogo a jogo

Em casa, o Criciúma empatou com o Inter em um 4-1-4-1 compacto e que tinha na veloz transição pelos lados a principal característica ofensiva (Reprodução/SporTV)

Wagner Lopes também utilizou o 4-2-3-1 em algumas partidas, com a entrada de Rafael Costa na vaga de Rodrigo Souza, empurrando Bruno Lopes para atuar como uma referência móvel e com Paulo Baier voltando um pouco mais para marcar a saída dos volantes adversários no 4-4-1-1 da fase defensiva. O sistema também foi utilizado com volantes de boa saída fazendo a função pelos flancos, o que deixava o time com pouca profundidade, mas garantia boa posse de bola no meio-campo. Sob o comando de Wagner Lopes, o Criciúma teve um bom início e conseguiu quatro vitórias, seis derrotas e quatro empates, até o técnico ser demitido ainda antes do fim do primeiro turno, na 17ª rodada, após sete partidas sem vencer.

4-2-3-1 de Wagner Lopes tinha Rafael Costa e Silvinho fechando os lados, e foi utilizado em algumas partidas, alcançando vitória apenas contra o Fluminense

Sistema de Wagner Lopes com volantes como extremos. Compactação e boa posse de bola, mas pouca profundidade (Reprodução/Premiere)

Nova sequência ruim fez com que mais um técnico fosse demitido do Criciúma em 2014, com Wagner Lopes perdendo o posto para Gilmar Dal Pozzo, que iniciou a Série A comandando a Chapecoense. Antes do novo técnico assumir, Wilson Vaterkemper esteve à frente do Tigre interinamente nas partidas contra o São Paulo pela Copa Sul-Americana e contra o Sport pelo Brasileirão, mantendo formação semelhante à do antecessor. Com Dal Pozzo, outras estreias aconteceram no time titular, como a de Luís Felipe e a do ídolo Zé Carlos, que voltava do exterior. Com o novo treinador, Cleber Santana assumiu o título de referência técnica do time, com Paulo Baier relegado ao banco de reservas na maioria das partidas, mas entrando sempre como uma espécie de carta na manga. O sistema eleito por Dal Pozzo foi o 4-1-4-1, com uma referência no ataque, ao contrário de Wagner Lopes. Zé Carlos virou o titular da camisa 9, com Souza como sombra e Paulo Baier entrando em algumas situações em que o time atuava sem centroavante, principalmente nos segundos tempos.

4-1-4-1 era a variação defensiva que Dal Pozzo utilizava na Chapecoense no primeiro semestre e foi o sistema prioritário escolhido pelo técnico para o trabalho no Criciúma

Flagrante da compactação defensiva do Carvoeiro em nova derrota para o Palmeiras, quando, sem Zé Carlos, Paulo Baier atuou como ‘falso 9’ (Reprodução/Premiere)

Se a variação defensiva da Chapecoense de Gilmar Dal Pozzo era para o 4-1-4-1, a formação prioritária foi o 4-3-1-2, que foi mal no estadual e iniciou terrivelmente a trajetória do Verdão do Oeste na elite do futebol brasileiro. Em Criciúma, o técnico também utilizou do esquema em algumas partidas, mas, diferente de Caio Júnior, um dos atacantes era um centroavante de referência, no revezamento entre Zé Carlos e Souza, que tiveram diversas oportunidades, sem, entretanto, conseguirem afirmação. O atacante de mobilidade era geralmente Silvinho, até que uma lesão tirou o jogador, um dos escassos destaques do time, do restante da temporada, fazendo com que Lucca voltasse a ter mais regularidade e conseguisse algum protagonismo na fase sombria que o Tigre viveu no returno da competição e que culminou com o rebaixamento antecipado. Além de Silvinho, o goleiro Luiz, outro jogador importante, também se lesionou sério e ficou fora da temporada. Fábio Ferreira, querido pela torcida carvoeira, teve problemas com Dal Pozzo e acabou afastado na reta final do trabalho do treinador. Ou seja, a escassez técnica do time do Criciúma ainda foi agravada com a saída do time de três dos jogadores mais importantes na temporada, fazendo com que a tarefa de se livrar de um rebaixamento ficasse cada vez mais inviável.

Esquema com losango no meio-campo foi utilizado, por exemplo, no empate com o Figueirense, em Florianópolis, quando o Tigre fez bom primeiro tempo com atuações destacadas de Eduardo e Silvinho, que inexplicavelmente foi substituído no intervalo por Paulo Baier, deixando o time ‘preso’ e facilitando o trabalho do rival da capital na busca pelo empate

Três derrotas consecutivas: essa foi a sequência necessária para que a diretoria do Criciúma dispensasse mais um treinador em 2014. Gilmar Dal Pozzo deixou o cargo para Toninho Cecílio, que tinha como único trabalho no ano uma participação no rebaixamento do Comercial, no Paulistão. Toninho Cecílio esteve à frente do já desesperado Criciúma por quatro partidas, reintegrando Fábio Ferreira, fazendo várias mudanças no time de jogo a jogo e escalando um 4-2-3-1 bastante solto, com perseguições individuais e muita distância entre os setores na fase defensiva, além de soltar os laterais e prender os volantes quando atacava, sobrecarregando os zagueiros e jogadores de meio-campo e atuando com um time aberto em uma sequência muito difícil, com jogos contra São Paulo, Cruzeiro e Grêmio, além do rival direto Bahia, adversário da quarta derrota consecutiva e derradeira para que mais um técnico deixasse o Tigre em 2014.

4-2-3-1 espaçado de Toninho Cecílio, que perdeu para São Paulo, Cruzeiro, Grêmio e Bahia (Reprodução/Rede Globo)

Além de Toninho Cecílio, a derrota para o Bahia na 35ª rodada também vitimou vários jogadores do elenco carvoeiro, dispensados ainda antes do fim do campeonato e da confirmação do rebaixamento, que já era iminente, embora não fosse matemático. Dentre os dispensados, Galatto, Luís Felipe, Cortês, Martinez, Rodrigo Souza, Serginho, Souza e os ídolos Paulo Baier e Zé Carlos, que saíra um pouco antes dos demais. Além das dispensas de técnico e jogadores, a diretoria também anunciou que Claudio Gomes, apontado o vilão do ano pela imprensa e torcida de Criciúma, voltaria a trabalhar apenas no Marketing do clube, deixando o Departamento de Futebol a cargo do recém-chegado Raimundo Queiroz.

Com a grande revolução feita no Criciúma ainda antes do fim da Série A, Luizinho Vieira, que já havia comandado o clube interinamente antes de Caio Júnior assumir, voltou a ser o treinador do Tigre até o fim da competição, trabalhando com alguns dos jogadores que permaneceram no elenco, além de atletas das categorias de base que passaram a integrar o grupo profissional na reta final. Com Luizinho, o Tigre fez três partidas, com dois empates e uma derrota, transitando entre o 4-1-4-1 e o 4-2-3-1, compactos na fase defensiva e com muita velocidade à frente. Dos jogadores da base que subiram, o atacante Roger Guedes conseguiu ser o principal destaque, além do zagueiro Iago Maidana e do volante Barreto, que tiveram atuações regulares e devem ser aproveitados para a temporada de 2015.

No empate com o Flamengo, o Criciúma atuou no 4-2-3-1, que se transformava em 4-4-1-1 na fase defensiva. Atuação foi destacada no segundo tempo, quando o Tigre chegou ao empate após a entrada do promissor Roger Guedes (Reprodução/SporTV 2)

Na última rodada, o Tigre visitou o Corinthians, que ainda brigava pela vaga direta na fase de grupos da Libertadores, e teve boa participação, apesar da derrota. 4-1-4-1 compacto e com transição ofensiva veloz foi o sistema de jogo que dificultou a vitória corintiana (Reprodução/Bandeirantes)

Mesmo com o time rebaixado, Luizinho Vieira conseguiu se destacar nas três últimas rodadas e a diretoria resolveu apostar no seu nome para o comando do time no estadual de 2015, deixando, portanto, de ser treinador interino. O Tigre busca a reestruturação para o novo ano e verá, da Série B, os rivais Figueirense e Chapecoense, que conseguiram se manter na elite, e Joinville e Avaí, que manejaram o acesso à Série A e farão com que Santa Catarina conte com quatro times na primeira divisão do futebol brasileiro, sendo que o único clube catarinense com título nacional de primeiro nível (Copa do Brasil de 1991), o Carvoeiro do sul do estado, estará na segunda divisão.

O principal problema em Criciúma no ano de 2014 consistiu na grande bagunça que foi o Departamento de Futebol do clube, que fazia mudanças no elenco a todo o momento, além de conseguir que o Tigre tivesse o impressionante número de sete diferentes técnicos durante a temporada (dois interinos diferentes). Esta é a mudança capital que deve acontecer para que 2015 seja um ano de conquistas, sendo que o principal objetivo deve ser a volta à Série A, com o estadual ficando a segundo plano, para que não torne a se repetir em terras carvoeiras o marasmo do fim da última década, quando o time não conseguia sair da Série B e, com dificuldades financeiras, passou por período sombrio na Série C do futebol nacional, até conseguir se reerguer com Antenor Angeloni voltando à presidência. O presidente é o mesmo que tirou o Criciúma da lama, então está claro que a volta por cima pode e deve ser feita logo, com o apoio da sempre pulsante e apaixonada torcida carvoeira.

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)