domingo, 1 de fevereiro de 2015

Em jogo disputado até certo ponto, Sport é mais eficiente na segunda etapa e goleia o Santa Cruz no Arruda!


No Arruda, Santa Cruz e Sport fizeram um jogo disputado até trechos da segunda etapa, com o Tricolor jogando duro, marcando forte e dificultando as ações do Sport. O mesmo acontecia pelo outro lado. Porém, com o primeiro gol leonino, o Santa Cruz não soube lidar com a situação de inferioridade no placar para buscar a reversão do resultado. Nisso, a falta de entrosamento acabou pesando. O Sport aproveitou os espaços deixados pela defesa tricolor e ampliou ainda mais sua vantagem. Resultado final: 3x0 para o Leão da Ilha do Retiro no primeiro jogo do hexagonal final do Campeonato Pernambucano, que ainda conta com Náutico, Salgueiro, Central e Serra Talhada.

O Santa Cruz marcava no 4-4-2 em linhas, por vezes iniciando a marcação na saída de bola do Sport, com Betinho e Waldison subindo a pressão para forçar o erro e tentar roubar alto ou forçar a ligação direta pro ataque, porém, muitas vezes não eram agressivos, permitindo a troca de passes e circulação da pelota por parte da equipe rubro-negra por meio de toques laterais em seu campo defesa, estudando o jogo e tentando articular a saída da defesa pro ataque. Rithely vinha buscar ao centro e por vezes afundava entre os zagueiros, porém, em grande parte das situações, ocupava o meio-campo e era opção de retorno na intermediária. Dentro de seu campo, o Santa dificultava e negava espaços à progressão do Sport em campo ofensivo, e o time leonino optava por não se arriscar muito, buscando a manutenção da posse de bola dentro do possível. Abaixo, um flagrante das duas linhas de 4 do Santa Cruz:

Flagrante das duas linhas de quatro do Santa Cruz do 4-4-2 posicionadas em bloco baixo e com curta distância entre si. Nesse caso, o winger oposto se posiciona na mesma reta do lateral(que encaixa em Elber, que fecha no facão diagonal do lado oposto ao da bola pra dentro), fazendo corretamente a basculação defensiva com a linha de meio. 


Com a bola, o Santa Cruz do técnico Ricardinho contava com boa mobilidade de Thiaguinho, que saía da ponta pra buscar movimentação ao centro e tentar o arranque vertical nos contragolpes e também com Pedro Castro, que buscava jogadas pra dentro na ponta direita. Pelos lados, Moisés espetava pela direita pra ser opção de abertura de jogada quando os volantes eram os portadores da bola pelo centro e quando Elber marcava o espaço e não o próprio lateral individualmente(também fixava no lateral em outras situações), ou seja, buscava o posicionamento pra receber de frente pra Renê na lateral, porém, geralmente Elber conseguia fazer corretamente o balanço quando abria-se o jogo e encostar pra dar o primeiro combate no setor. Buscava-se maior volume e densidade pelo lado esquerdo com o apoio de Léo Velozo, juntamente com as projeções de Waldison e/ou Thiaguinho no setor pra trabalhar no fundo. Até conseguia-se algumas faltas na lateral, porém, pouca efetividade. Waldison caía mais nas proximidades do lado esquerdo do ataque, procurando as diagonais nos espaços da linha defensiva adversária e chegadas em velocidade. Levou perigo em duas oportunidades na primeira etapa.

Nessa situação, Santa Cruz busca aceleração da transição e Waldison procura a diagonal de ruptura em velocidade no clarão entre Páscoa e Durval. Em outra situação, buscou a diagonal no espaço entre o lateral-direito Alex Silva e o zagueiro Ewerton Páscoa, porém, o lateral-esquerdo Renê fez muito bem a diagonal defensiva do lado oposto, saiu na cobertura e travou a jogada. 


O Sport marcava no habitual 4-1-4-1, adiantando suas linhas até a intermediária defensiva coral, subindo os encaixes, com Joelinton ora cercando os zagueiros, ora tentando tirar a linha de passe com um dos volantes, e bloqueando a transição da defesa para o ataque, de modo a forçar lançamentos e passes/esticadas mais longas. Não era uma marcação agressiva, intensa, sufocante, com intuito de roubar mais próximo do gol. Subia as linhas para forçar o erro e assim, retomar a posse de bola com mais facilidade. Em bloco baixo, negava espaços à progressão e encaixe do passe vertical entre as linhas, fechando muito bem os espaços, com Elber e Régis ora marcando o espaço, ora fixando individualmente nos laterais. Mantia-se sempre a compactação curta, que é característica essencial dos comandados de Eduardo Baptista. Porém, em grande parte da primeira etapa, o Santa Cruz tinha dificuldade de retensão de posse em campo ofensivo por causa das dificuldades pra transitar entre as intermediárias com a marcação mais avançada da linha de meio do Sport. E quando tentava trabalhar na intermediária ofensiva, era pouco efetivo, pois não conseguia criar espaços pra furar as compactas linhas adversárias. Aliás, esta que é uma grande dificuldade da maior parte das equipes quando precisam propor o jogo no futebol moderno. Com a posse, contava com inversões de posicionamento entre Elber e Régis, com o primeiro caindo predominantemente pela esquerda, posicionando-se de forma bem aberta na lateral, buscando dar amplitude e ser opção de virada de jogo longa em diagonal para buscar jogada individual no fundo do campo e o segundo caindo mais pela direita, mas também tendo liberdade de ir por dentro e buscar jogadas na faixa central do campo. 

Na segunda etapa, o Santa Cruz começou com velocidade e intensidade, tentando sair rapidamente nos contragolpes, explorando certa lentidão que o Sport demonstrou no início, na execução da transição ataque-defesa, deixando espaços pra que o adversário progredisse com perigo em sua veloz transição defesa-ataque. O Sport passou a contar com maior movimentação de Danilo, que buscava a diagonal centro-flanco pra aparecer na ponta e ser opção de esticada de bola pra tentar jogada de fundo ou cruzamento. Além de Mancha, que dava opção de retorno na proximidade do setor da bola, quando este era o lado direito e juntamente com Rithely, conseguia fazer bem a troca de lado. Joelinton, assim como na primeira etapa, procurava balancear ofensivamente e dar opção pelos lados do campo, porém, o máximo que conseguia era segurar a bola ou provocar faltas, já que recebia predominantemente de costas e perseguido por um dos zagueiros, ora Danny Morais, ora Alemão, dependendo do flanco em que caía.

O primeiro gol do Sport, que veio num pênalti sofrido por Régis e bem cobrado por Danilo, saiu na hora certa e desestabilizou o time do Santa Cruz. Em uma confusão, o jovem atacante Joelinton e o zagueiro Alemão acabaram sendo expulsos pelo árbitro Marcelo de Lima Henrique. Essas expulsões mexeram no cenário do jogo. Pelo lado do Santa Cruz, o técnico Ricardinho recuou o volante Edson Sitta para o miolo de zaga e buscou dar sangue novo e mais velocidade da linha de meio pra frente com as entradas de Renatinho(lateral de origem, mas que entrou no meio-campo), do meia Raniel(que apresentou boa mobilidade, capacidade de progressão, rapidez e habilidade) e do centroavante Bruno Mineiro, que acabou pouco participando. O Sport passou a posicionar-se defensivamente num 4-1-4, recuando ainda mais suas linhas, compactando-se no seu próprio campo, congestionando a intermediária e tentando a saída em velocidade, porém, acabava perdendo grande parte dos rebotes na intermediária e não tinha uma referência central no ataque, de modo que em toda rebatida, a bola ficava com o Santa Cruz, que tentava dar reinício às jogadas. O Tricolor do Arruda tinha espaços limitados e tentava jogar pelos lados, mas esbarrava no rápido balanceamento defensivo do Sport e quando tentava a jogada em diagonal pro meio, o sistema de marcação do Sport mantinha-se bem postada e não deixava que o Santa desse continuidade. Nos flagrantes abaixo, pode-se observar o posicionamento defensivo do Sport sem a posse de bola quando ficou com 10 jogadores em campo: 


Pode-se observar o Sport postado no 4-1-4, mantendo a compactação curta e diminuindo os espaços à penetração adversária. Na segunda imagem, observa-se o espaço que o Santa Cruz teve pra trabalhar/circular a bola à frente da linha de meio leonina, pela ausência de uma referência do ataque pra fechar linhas de passe ou fazer o cerco inicial. 


O Santa Cruz teve que propor o jogo e deixou muitos espaços em seu campo(devido à sua lenta recomposição) para o Sport explorar uma de suas melhores características: Transição/contragolpe/chegada à frente em velocidade para definir. Nos flagrantes abaixo, pode-se observar a movimentação dos dois gols que decretaram a vitória rubro-negra: 


No lance do primeiro gol, o Sport pressionou em campo defensivo, roubou a bola e partiu na transição defesa-ataque em alta velocidade, com muitos jogadores(5 contando com o portador da bola, Régis) na chegada à frente,. Régis acelerou e lançou Rithely por dentro. Ele recebeu de frente pra defesa tricolor, que estava foi adiantar o combate, em linha alta e muito mal posicionada na própria intermediária. Rithely deu o passe de ruptura para Elber que infiltrou no facão de ruptura em diagonal no espaço entre o lateral-direito Moisés e o zagueiro Danny Morais, recebeu e soltou uma pancada sem chances de defesa para o goleiro Bruno. Na segunda jogada, Renê enfiou por cima pra Wendel, que apareceu na linha de fundo pela esquerda e cruzou. Repare o péssimo posicionamento dos componentes da linha defensiva tricolor. Edson Sitta fora da área e desalinhado com os outros componentes e Léo Veloso totalmente perdido pra fechar a diagonal defensiva. Elber fechou em diagonal do lado oposto pra área, apareceu no gigantesco espaço vazio e concluiu a jogada pro fundo das redes. 


Pelo lado do Sport, pode-se destacar uma partida muito bem feita taticamente. Time consciente de suas ações, marcando muito bem o Santa Cruz, sabendo se fechar, reter a posse quando não tinha espaço e contava com a dura marcação adversária e sabendo acelerar quando encontrou espaços e um adversário desestabilizado taticamente, psicologicamente e coletivamente. Teve sabedoria pra fazer o resultado e explorar os espaços que teve. Fruto do bom trabalho de longo prazo realizado sob comando do técnico Eduardo Baptista e com a manutenção de uma base do time que fez uma campanha regular e segura no Campeonato Brasileiro do ano passado. Pelo lado do Santa Cruz, nem tudo foi ruim. A equipe procurou igualar as ações, encontrou dificuldades naturais pelo desentrosamento e desvantagem em tempo de trabalho em relação ao adversário, mas conseguiu marcar bem na primeira etapa e esboçou jogo de imposição no início da segunda etapa. A parte física também acabou pesando e uma equipe com pouco tempo de trabalho , treinador novo(Ricardinho é mais um da nova geração de técnicos do futebol brasileiro, que apresentou aspectos táticos modernos e bom potencial na passagem pelo Paraná em 2014), tende a apresentar vulnerabilidades nisso, assim como em situações adversas, mas esse tipo de coisa só pode ser melhorada com tempo, paciência e muito, mas muito trabalho. Foi apenas a estreia. A primeira impressão não pode ser conclusão, há muito o que ser trabalhado focando o Campeonato Pernambucano, já que a equipe coral só participará de uma competição fora do estado em 2014(a Série B do Campeonato Brasileiro), pois não conseguiu vaga pra Copa do Nordeste, nem pra Copa do Brasil. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos. 


* Por João Elias Cruz(@Joaoeliascruzzz)