Na rodada 15ª do Campeonato
Brasileiro, Corinthians e Palmeiras enfrentaram, como visitantes, adversários
em situações semelhantes na tabela: Coritiba e Vasco, respectivamente. Apesar
dessas semelhanças, as equipes paulistas apresentaram propostas diferentes de
jogo: enquanto o Timão foi reativo, o Verdão propôs jogo.
No Couto Pereira,
Coritiba iniciou no 4-2-3-1 e o Corinthians no 4-1-4-1
Em São Januário, Vasco e
Palmeiras começaram no 4-2-3-1
Em Curitiba, o Corinthians de Tite
começou e terminou de forma reativa em campo tanto que terminou a partida com
oito finalizações (três na meta de Wilson e cinco para fora). Para tal, o Timão
variava a sua compactação entre bloco médio e baixo, já que era necessário
atrair o Coxa para, então, contra-atacar.
Para a proposta reativa,
o Alvi-Negro Paulista se compactava ou em bloco médio –que é o caso do
flagrante acima- ou em bloco baixo –que é o caso do de baixo. Note que para
essa proposta, é necessário para que até a referência do ataque participe do
sistema defensivo, pois ele será rapidamente acionado para que o contra-golpe
se inicie.
Além desse recuo tático
do centroavante, perceba também que de acordo do setor da bola, há um jogador
da linha defensiva desalinhado em relação aos demais defensores corintianos.
Esta situação acontece devido à necessidade de cobertura rápida do setor onde o
adversário está com a bola e, assim, diminuindo o espaço de jogo possível para
ele.
Diante de tanto recuo do Corinthians,
o Coritiba foi quem propôs o jogo no Couto Pereira. Para tal, Alan Santos e
João Paulo iniciavam a saída de jogo através de passes curtos, Thiago Galhardo
e Esquerdinha entravam na diagonal ofensiva para abrir corredor para os seus
laterais, Marcos Aurélio era sempre opção em algum espaço vazio em campo
ofensivo e Rafhael Lucas se movia como um “9 móvel”. Havia movimentação
ofensiva coxa-branca, mas faltava contundência ofensiva. O Coxa terminaria com
57,20% de posse de bola, dez finalizações e somente três no gol de Cássio.
Diante de um Corinthians
reativo, o Coritiba propôs o jogo em seus domínios. Pelo heatmap acima, nota-se
que o Verdão paranaense praticamente só tocou na bola em campo ofensivo. O Coxa
chegou a alcançar 61% da posse de bola, mas pouco chegava na meta de Cássio.
Méritos ao sistema defensivo alvinegro (Fonte: Footstats).
Já em São Januário, o visitante propôs
o jogo. O Palmeiras atacava com apoio simultâneo dos seus laterais, alternância
dos seus volantes, com Robinho pendendo para os lados e favorecendo os ataques
laterais, Dudu e Rafael Marques trocavam de lado e entravam na diagonal para a
ultrapassagem dos seus laterais e Leandro Pereira era um “9 móvel”. Com
intensidade, volume ofensivo (ao todo, foram 17 finalizações) e eficácia
ofensiva no primeiro tempo (11 arremates e três gols), o Verdão liquidou o jogo
já nos primeiros 45 minutos de jogo.
Para atacar, o Verdão Paulista
realizava movimentações e projeções com e sem bola, e elas bagunçavam o sistema
defensivo cruz-maltino. Como o Vasco realizava encaixes individuais, lances como
da imagem acima demonstra as dificuldades do Gigante da Colina em marcar as
projeções dos jogadores alvi-verdes: Arouca e Robinho desvencilharam das
marcações de Guiñazu e Anderson Salles, ambos exploram a entrelinha e Robinho
explorara o espaço que Júlio César poderia ocupar em vez de estar marcando
somente Rafael Marques –que nem avançou. Só dava Palmeiras.
Este tipo de marcação cruz-maltina foi
explorado no segundo gol sofrido pelo Vasco. No lance deste gol, novamente, como
o tipo de marcação era por encaixe individual, qualquer projeção do adversário
sem o devido acompanhamento geraria um efeito dominó no sistema defensivo. Sem
Guiñazu e Anderson Salles acompanhando até o fim Dudu e Leandro Pereira, o
segundo gol alviverde saiu ao “natural” após as movimentações ofensivas
palmeirenses.
O lance do segundo gol
iniciou desta maneira: Egídio e Robinho criam amplitude ofensiva, Dudu e Rafael
Marques já entraram na diagonal e Leandro Pereira recuou um pouco ao ponto de
quem ter ficado como “responsável” da sua marcação se tornasse Guiñazu.
Após o cruzamento,
Leandro Pereira avançou e Rodrigo passou a ter que marcar ele e Rafael Marques,
pois Guiñazu não acompanhou o avanço do centroavante palmeirense. Além disso,
Anderson Salles ficou vendo a bola ser cruzada enquanto que Dudu centralizou livremente
para receber um possível rebote. Movimentações alviverdes, efeito dominó
cruz-maltino e leitura de jogo de Dudu: gol do Palmeiras.
Enquanto o Verdão massacrava o seu
adversário na primeira etapa do jogo, o Corinthians pouco chegava, mas acabou
conseguindo fazer o seu gol. Gol através de jogada ensaiada em escanteio
ofensivo. Diante de tantas marcações individuais dentro da área e por zona na
primeira trave em escanteios defensivos das equipes brasileiras, Tite ensaiou a
seguinte jogada para o seu time:
Esta imagem é o início
do gol corintiano: vejam onde estão Edu Dracena, Felipe e Elias.
Já aqui, somente os
zagueiros alvinegros e Elias se movem após a cobrança ter sido realizada, já
que Vagner Love e Renato Augusto somente empurram e evitam com que haja mais
adversários no local onde a bola irá cair. Gol do Corinthians.
Aqui, já no segundo
tempo, mais uma vez a mesma jogada foi realizada: Elias faz o corta-luz no
marcador de Felipe e o zagueiro corintiano avança no local onde a bola irá cair
–longe da marcação por zona da primeira trave e de qualquer outro adversário
que estivesse marcando individualmente. Isto é jogada ensaiada diante de um
cenário repetitivo em relação ao tipo de marcação em escanteio defensivo mais
utilizado no Brasil.
No entanto o Coritiba não queria
perder em seus domínios. No intervalo, Ney Franco colocou Evandro no lugar de
Leandro Silva e, ainda no primeiro tempo, havia colocado Rodolfo no lugar de Thiago
Galhardo. Apesar de tantas trocas, o Coxa manteve-se no 4-2-3-1. Já com a
segunda etapa, o técnico coxa-branca colocou Negueba no lugar de Alan Santos e
alterou o esquema tático da equipe para o 4-1-4-1. Era início do aumento da
pressão da equipe paranaense.
Enquanto isso em São Januário, Celso
Roth realizou as três substituições já no intervalo: saíram Martín Silva,
Aislan e Dagoberto para as entradas de Jordi, Serginho e Riascos. Apesar de
tanta mudança, o esquema tático se manteve o mesmo, e o Vasco passou a se
posicionar desta maneira em campo:
Com as três trocas no
intervalo da partida, o Gigante da Colina teve mudança em todos os setores do
campo, inclusive no gol, mas o esquema se manteve o 4-2-3-1. Celso Roth não
estava gostando do que via.
Todavia, o Palmeiras passou a diminuir
a sua intensidade somente após o quarto gol. A jogada do gol do Vasco demonstra
a maneira de como o Verdão passou a tratar a partida:
A jogada do gol do Vasco
iniciara desta maneira: geração de superioridade numérica no setor da bola. 3 x
2 na faixa central do campo defensivo do Palmeiras.
Como o Verdão também
marcava através de encaixes individuais –estes demonstrados pelos traços azuis-,
Serginho que ficara livre após a geração de superioridade numérica no setor da
bola realizou o lançamento sem nenhuma oposição, já que Robinho –quem possivelmente
seria o “responsável” em marcá-lo- havia desistido do lance para reclamar. No
entanto, além da desistência do camisa 27 do Palmeiras, Egídio também largou
Riascos após ele ter recebido a bola em projeção nas suas costas. O Porco
estava só esperando o jogo acabar diante do placar já definido, diferentemente
do seu rival em Curitiba.
No Couto Pereira, o Coritiba aumentava
cada vez mais o seu volume ofensivo e o Corinthians diminuindo o seu. Aos 42 do
segundo tempo, Tite, que havia colocado Rildo no lugar de Malcom, colocou Ralf
e Danilo nos lugares de Renato Augusto e Vagner Love. Com essas substituições e
como o Coxa atacava no 4-1-4-1, o Timão passou a se defender no 4-4-1-1 ou no
4-4-2 tendo Elias e Danilo à frente da linha de quatro do meio-de-campo
corintiano. Era pressão alviverde e qualquer desconcentração alvinegra poderia
gerar o empate. Aos 46, veio este gol que o Verdão Paranaense tanto procurava.
Durante toda a partida,
o Corinthians avançava a linha defensiva no tempo correto e, assim, diminuía ainda
mais o campo ofensivo para o Coritiba. Entretanto, aos 46 da segunda etapa, a
falta de concentração de Rildo permitiu com que a projeção de Rafhael Lucas não
o deixasse impedido. Além disso, recuo para o livre Negueba e este tendo tempo
e espaço para realizar o lançamento, só foi possível porque o sistema defensivo
alvinegro estava desorganizado e Danilo, o jogador mais próximo de Negueba,
demorou a perceber que era ele quem deveria pressionar o adversário com a bola.
Descompactação e falta de concentração de Rildo: gol do Coritiba.
Enfim, o intenso e propositor de jogo
Palmeiras liquidou o jogo já no primeiro tempo e teve possibilidade de
relaxamento já na segunda etapa, enquanto que o reativo Corinthians teria que
ter alta concentração para que o placar de 1 x 0 se mantivesse até o fim. Ambos
jogaram diante de adversários mandantes em situações semelhantes na tabela do
Brasileirão e realizaram a proposta de jogo dos seus técnicos.
Fim de jogo no Couto
Pereira: Coritiba no 4-1-4-1 e Corinthians no 4-4-1-1.
Fim de jogo em São
Januário: Vasco e Palmeiras no 4-2-3-1.
Por Caio Gondo (@CaioGondo)