sexta-feira, 24 de julho de 2015

Tigres se impõe, mostra superioridade e despacha o Internacional!


No jogo da volta pela semi-final da Taça Libertadores da América, o Tigres foi intenso, agressivo, dominante, soberano. Impondo-se dentro das quatro linhas, não deu chances ao Inter em território mexicano e venceu por 3 a 1, revertendo o placar de 2 a 1 feito pelo Colorado na partida de ida, em Porto Alegre. 

Os mexicanos foram no 4-4-2 em linhas/4-4-1-1, propondo o jogo, trabalhando a posse de bola e utilizando da sua velocidade transicional. Defensivamente, posicionamento predominante em bloco médio-baixo, com vários encaixes individuais por setor(Rafael Sóbis x Rodrigo Dourado, Arévalo Ríos x Charles Aránguiz, Guido Pizarro x D'Alessandro, Aquino x William, Jurgen Damm x Geferson, Gringo x Valdívia, Jiménez x Lisandro López), Rafael Sóbis participando da compactação da equipe em bloco baixo atrás da linha da bola, o winger oposto basculando defensivamente com a linha de meio, apesar de em algumas situações permanecer com referência fixamente individual no lateral adversário, desta forma, sem participar do balanceamento para o lado da bola. Caracterizava-se pela compactação curta e postura agressiva de suas linhas de marcação, negando espaços e induzindo o adversário ao erro para rápida retomada da posse após a recomposição para organizar a transição defesa-ataque. Abaixo, observa-se um pouco dos aspectos defensivos do Tigres: 

Na primeira imagem, observa-se as duas linhas de quatro do Tigres corretamente balanceadas para o lado atacado, com o winger oposto fechando por dentro e diminuindo a distância em relação aos dois volantes. Na segunda imagem, a basculação defensiva é realizada corretamente pelas linhas e pode-se observar o princípio do encaixe no setor. Valdívia recua pra receber pelo lado, atrai o lateral-esquerdo Gringo pra fora da linha defensiva mexicana e D'Alessandro busca a locomoção em diagonal pra atacar o espaço às costas do lateral e fornecer linha de passe vertical curta ao portador da bola. Pizarro persegue e afunda com o camisa 10 naquele espaço. Rafael Sóbis recompõe atrás da linha do meio-campo e fecha a opção de retorno pra reinício de construção ofensiva com Rodrigo Dourado. Na terceira imagem, novamente as duas linhas balanceiam em função da movimentação da bola e com encaixes por setor. Valdívia procura a diagonal curta pra se locomover e ser opção no mesoespaço direito, afastando da lateral pra William ocupar o corredor. Gringo "encurta" a linha defensiva, afundando com Valdívia no entrelinha mexicano, enquanto Aquino volta pelo lado e fecha a linha de passe curta com o lateral colorado. Pizarro encosta e fecha o espaço de D'Alessandro(portador da bola, que balanceia ofensivamente pra direita, mas recebe de costas no lance e sem chances de progressão). Nessa ocasião, há uma troca no encaixe sobre os dois volantes colorados. Quem se apresenta em diagonal pra ser opção no lado direito é Rodrigo Dourado, enquanto que Aránguiz fica como opção de retorno no trecho inicial da intermediária ofensiva gaúcha. Assim, Arévalo Ríos encaixa em Dourado e Rafael Sóbis fecha com Aránguiz. Na quarta imagem, é possível observar novamente as curta distância entre as linhas defensiva e média, balanceamento bem feito e winger oposto tendo como referência o espaço e não o lateral adversário. Na quinta imagem, observa-se um exemplo de fixação individual do winger oposto no lateral. Internacional ataca pela esquerda, winger do setor encosta o primeiro combate e Guido Pizarro afunda na linha defensiva no espaço entre o zagueiro do lado do cruzamento e o zagueiro do lado oposto, já que o meia-central colorado(princípio do encaixe/perseguição ao alvo individual) fez a movimentação sem bola pra entrar na área como opção. Desta forma, o Tigres garantiu a superioridade numérica na última linha. Enquanto isso, Arévalo Ríos vigia Aránguiz, que se projeta pra rebote na proximidade da entrada da área. Na ocasião, Geferson subiu ao ataque pra ser opção de recomeço da ação ofensiva pelo lado oposto ao da jogada e Jurgen Damm manteve-se próximo ao mesmo para vigiá-lo mais de perto, tendo preocupação com seu alvo individual e não com o espaço e a manutenção da unidade da linha média no movimento defensivo. No sexto flagrante, observa-se um pouco da ordem de encaixes. Winger do lado da bola dá primeiro combate ao lateral, Gignac fecha a linha de passe com um zagueiro(na ocasião, o zagueiro do lado da bola), lateral do setor da bola sobe o encaixe em cima do winger colorado daquela região que busca a locomoção pra dar opção de passe ao homem da pelota, Arévalo Ríos fecha a opção com Aránguiz, linha de passe diagonal mais curta em relação ao lateral, Pizarro segue D'Alessandro, Rafael Sóbis vigia Rodrigo Dourado e Jurgen Damm encaixa no lateral oposto. No penúltimo frame, percebe-se que o mesmo acontece quando a bola cai no lado oposto ao da sexta imagem. Damm faz o cerco inicial a Geferson, Sóbis corta a linha de passe com o homem do primeiro passe(Dourado), Arévalo Ríos persegue a movimentação entrelinhas de Aránguiz, Gignac fecha a opção de retorno com o zagueiro do setor, Aquino mantém atenção ao lateral oposto e Pizarro acompanha a flutuação de D'Alessandro procurando o desmarque(apesar do fato citado não aparecer no flagrante). No último flagrante, a mesma coisa. A diferença é que o portador da bola é um zagueiro e Gignac fecha a linha de passe com o outro zagueiro, além de aparecer a caça de Pizarro à D'Alessandro. 

Ofensivamente, boa parte das melhores situações do Tigres eram em transições ofensivas rápidas, porém, apresentava boas movimentações nos ataques posicionais. Destaque para o ótimo balanceamento ofensivo feito por Rafael Sóbis e Gignac. Sempre que um deles abria pra formar sociedade pelo lado do campo, o outro fechava na área pra dar profundidade ao ataque e ser opção entre os zagueiros. Quando era Gignac que se deslocava e Sóbis que aprofundava ao centro, geralmente Rodrigo Dourado afundava na perseguição ao camisa 9. Com relação aos wingers, o do flanco da bola abria pra trabalhar jogada com o lateral na beirada de campo e o do lado oposto fechava em diagonal sem bola pra ser opção na grande área e atrair o lateral da cobertura por dentro. Quanto aos volantes, Guido Pizarro normalmente era o homem do primeiro passe, enquanto que Arévalo Ríos era mais agressivo, com intensa movimentação e muita mobilidade pelo setor ofensivo entre as intermediárias, atacando espaços vazios no entrelinhas e buscando infiltrações. Quando a bola caía por um dos lados, o volante do setor projetava-se pra ser opção de retorno/centralização de jogada em diagonal curta, enquanto o oposto ocupava o espaço na faixa central. Em situações que a bola caía pela direita, Pizarro aproximava e muitas vezes Arévalo Ríos aprofundava pra ser opção de conclusão na grande área e tentar criar superioridade numérica por ali. 

O Internacional, postado no 4-2-3-1(com variação defensiva para o 4-4-1-1), também fazia diversos encaixes individuais por setor e marcava normalmente atrás da linha do meio-campo(bloco baixo), apesar de ter tentando pressão em bloco alto na saída de bola do Tigres algumas poucas vezes(sem muito sucesso), com as duas primeiras linhas ocupando o campo defensivo mexicano e a última linha avançando na sua própria intermediária defensiva. Defensivamente, caracterizava-se pela fixação restritamente individual dos wingers nos laterais do Tigres em quase todas as situações defensivas. Adotava proposta de jogo reativa, mas não conseguia encaixar os contragolpes e tinha muitas dificuldades pra trabalhar/manter a posse progressivamente na fase de ataque organizado. O uso de D'Alessandro na faixa central complicou a produção ofensiva da equipe e do camisa 10. Ele recuava pra dar opção de passe aos volantes na saída de bola e tentava os deslocamentos no entrelinhas adversários, saindo em diagonal pra balancear pros lados, porém, recebia a bola de costas pra marcação na maiorias das vezes, quebrando o dinamismo da trama e sendo obrigado a recuar a pelota pra reorganização da equipe e manutenção da posse. Atuando mais aberto como vinha fazendo durante toda a competição, pegava mais a bola de frente pro campo e cortava pra dentro pra armar, tabelar, procurar o passe diagonal, tentar finalização e abrir corredor lateral, sendo mais produtivo dessa forma. Outros fatores como a pouca mobilidade de Nilmar e a ausência da entrada dos extremos em diagonal ofensiva prejudicavam o desenvolvimento ofensivo colorado. 

Nos flagrantes abaixo, observa-se um pouco da movimentação ofensiva do Tigres e a influência dela no sistema de marcação do Internacional:

No primeiro flagrante, Gignac balança pro lado esquerdo do ataque, formando uma pequena sociedade triangular no setor com Aquino(que tenta se projetar às costas do lateral) e Gringo(opção de retorno um pouco mais atrás pelo lado). Arévalo Ríos faz a aproximação com o setor para ser linha de passe diagonal curta pra possível jogada de fora pra dentro, Pizarro ocupa a faixa central da intermediária, winger oposto(Damm) fecha no facão pra área e Sóbis aprofunda pra ser opção na área. Observa-se também a ordem de encaixes colorada(obs: onde tem Lisandro López, leia-se D'Alessandro e onde tem D'Alessandro, leia-se Lisandro López). Com o deslocamento de Gignac pra beirada de campo, o zagueiro daquele lado é atraído pra fora da área, projetando-se pra cobrir as costas do lateral do setor, enquanto Aránguiz busca fechar a linha de passe com Aránguiz, Valdívia preocupa-se em travar a opção de reinício com Gringo, D'Alessandro vigia Pizarro, Lisandro López mantém fixação no lateral-direito Jiménez, lateral oposto fecha com Aquino na cobertura por dentro e Rodrigo Dourado afunda no espaço entre o zagueiro do lado oposto ao do cruzamento(que está sem referência de marcação no lance) e o lateral da cobertura por dentro pra criar a superioridade numérica colorada na área(3x2) e perseguir o seu alvo(Rafael Sóbis), que entra na grande área ao centro. Na segunda imagem, Gignac novamente se locomove para o lado. Só que desta vez para o flanco direito. Sóbis fecha na área e um dos volantes adversários(na ocasião é Aránguiz, pois Rodrigo Dourado não conseguiu voltar a tempo pra aprofundar o posicionamento na transição defensiva, já que a situação de jogo retratada é de defesa colorada em recomposição e Tigres buscando acelerar no contra-ataque) afunda pra dar a superioridade, e o winger oposto mexicano também faz a diagonal sem bola pra ser opção ofensiva na área, enquanto Arévalo Ríos chega de trás com liberdade para ser opção para o rebote/sobra de bola na entrada da área. Na terceira imagem, o Tigres tem a posse pelo lado direito. Pizarro encosta pra ser opção ao centro, enquanto Arévalo Ríos avança e Rafael Sóbis procura a locomoção entre as duas linhas de quatro do Inter, enquanto Damm se projeta pra ser opção pra receber mais à frente pelo lado. Lisandro López dá o primeiro combate no setor e obriga Jiménez(portador da bola) a recuar para o zagueiro do setor, D'Alessandro corta a linha de passe com Pizarro, o lateral do setor(Geferson) persegue seu alvo(Damm) por aquela área, Rodrigo Dourado acompanha a movimentação de Sóbis de perto, Aránguiz vigia Arévalo Ríos e o winger oposto(Valdívia) mantém referência fixamente individual no lateral(Gringo). No quarto frame, Sóbis balança ofensivamente para o setor direito do ataque e forma um triângulo com Damm e Jiménez por ali, Pizarro opciona centralização de jogo, Gignac fecha na área, atraindo o zagueiro do lado oposto ao da bola, Aquino também entra atraindo William e Arévalo Ríos chega de trás pra ser opção também. Na linha de meio colorada, Rodrigo Dourado balança defensivamente pro lado direito ofensivo mexicano para garantir a igualdade numérica(3x3) no setor da bola e caçar o seu alvo individual(Rafael Sóbis), enquanto Aránguiz aprofunda no centro da área pra seguir a movimentação de Arévalo Ríos. Valdívia se mantém alheio a tudo que acontece, já que o seu alvo individual(Gringo) não participa da ação ofensiva e sua referência de marcação é fixamente individual no mesmo. No quinto flagrante, Gignac novamente sai para a direita, projetando-se nas costas de Geferson, atraindo o zagueiro daquele lado a sair da área pra fazer a cobertura na linha de fundo e tirando a referência de marcação do zagueiro do lado oposto que fecha no centro da área. Arévalo Ríos "inverte" o papel com Aquino, infiltrando na grande área e atraindo o lateral da cobertura(William), enquanto o winger vem de trás, sendo acompanhado por Aránguiz. Seguindo o princípio do balanço ofensivo, Sóbis fecha pra área, sendo perseguido por Rodrigo Dourado. Na sexta imagem, observa-se a movimentação na grande área no lance do primeiro gol mexicano. Tratava-se de um rebote de escanteio, portanto, certas coisas estavam um pouquinho desorganizadas ou "fora de lugar". Tigres ataca pela esquerda, Rafael Sóbis atrai o zagueiro do lado oposto ao do cruzamento e Gignac tenta subir em cima do lateral-direito William. Arévalo Ríos aparece no centro da área, porém, livre de marcação. E é possível notar que os dois volantes do time gaúcho estão presentes na área, mas sem marcar ninguém. Assim, Arévalo faz curto deslocamento para subir com William, fazendo um 2x1 e deixando Gignac livre pra pular e cabecear no canto direito do goleiro Alisson. No sétimo frame, Sóbis cai pelo flanco esquerdo no fundo de campo, formando sociedade com Aquino e Gringo, que dão opções de passe pra trás/retorno no setor da bola. A diagonal de Sóbis tirou o zagueiro do lado da bola da grande área pra dar a igualdade numérica(3x3) na região em que a pelota estava sob posse mexicana. Arévalo Ríos encosta no setor, vigiado por Aránguiz e na grande área, Rodrigo Dourado aprofunda o posicionamento pra cobrir o espaço que naturalmente seria ocupado pelo zagueiro do lado da bola na primeira trave, enquanto o zagueiro do lado oposto fecha com Gignac e o lateral oposto encaixa em Damm. Na antepenúltima imagem, Sóbis novamente busca o lado direito, atraindo Rodrigo Dourado, enquanto que o winger oposto, Gignac e Arévalo Ríos fecham como opção na área, com o segundo atraindo o zagueiro do lado oposto ao da bola e o último citado carregando Aránguiz consigo. D'Alessandro acompanha o avanço de Pizarro e Valdívia mantém atenção no lateral-esquerdo Gringo, presente na intermediária ofensiva mexicana. No penúltimo frame, Aquino arranca em direção à linha de fundo, consegue a vitória pessoal em cima do lateral-direito William, balançando a linha defensiva colorada, atrai o zagueiro daquele lado pra cobertura, enquanto Gignac atrai o zagueiro oposto e Sóbis busca a movimentação sem bola no espaço entre esse zagueiro atraído por Gignac e o lateral da cobertura por dentro(atraído pela diagonal sem bola de Jurgen Damm), e é perseguido/caçado por Rodrigo Dourado. No último flagrante, pode-se reparar a movimentação ofensiva do Tigres no lance do terceiro gol. Arévalo Ríos recebe na entrelinha colorada, seguido por Aránguiz, enquanto Rodrigo Dourado encaixa em Rafael Sóbis, que aprofundou na referência ao centro pra tabelar com quem vinha de frente, no caso, Arévalo. Porém, Rodrigo Dourado "largou" o camisa 9, saiu para combater o homem da bola(Arévalo Ríos), que acionou Sóbis, exigindo encaixe próximo de um dos zagueiros. Daí, Jurgen Damm recebeu pelo lado da área, fez a jogada pessoal com êxito em cima do lateral-esquerdo Geferson e Rodrigo Dourado apareceu ao centro pra cobrir o espaço deixado pela saída do zagueiro daquele lado pra cercar Rafael Sóbis. Gignac atraiu o zagueiro do lado oposto e o lateral-direito William não fechou na cobertura por dentro. Arévalo Ríos infiltrou no espaço vazio entre o zagueiro atraído por Gignac e Rodrigo Dourado(Aránguiz não o acompanhou) e cabeceou para o fundo das redes. O encaixe mais apropriado para essa situação poderia ter sido William fazer a diagonal defensiva pra fechar com Gignac e o zagueiro oposto postar-se no vácuo que se abriu ao centro da área. Desta forma, a possibilidade de evitar o tento mexicano(mesmo se Aránguiz não conseguisse acompanhar Arévalo Ríos) seria maior. 

No final, vitória merecida de quem mostrou superioridade técnico-tática e foi mais organizado em suas ações e nas diversas fases do jogo. Grande trabalho dos comandados de Tuca Ferretti, que chegam para uma grande final contra o ótimo e organizado River Plate de Marcelo Gallardo. Na segunda etapa, Diego Aguirre tentou corrigir o erro de colocar D'Alessandro centralizado na linha de meias, acionando Sasha na vaga de Nilmar, de modo a colocar Lisandro López à frente dos 3 meias, abrir D'Alessandro e centralizar Valdívia(posteriormente substituído por Alex), porém, não obteve sucesso e sua equipe permaneceu inoperante ofensivamente. O gol de Lisandro López ainda deu um pouco de esperança, porém, seria muito injusto o Inter avançar por tudo que se viu nos dois jogos. Tigres fez por merecer e tem grandes chances de fazer história, podendo ser o primeiro mexicano a ganhar uma Libertadores. Fruto do excelente investimento feito na janela de transferências, gastando 75 milhões, reforçando bastante o elenco, com muitos jogadores que caberiam facilmente em diversos clubes do futebol europeu.


*Por João Elias Cruz(@Joaoeliascruzzz)