sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Fluminense reativo é melhor e bate Paysandu no Mangueirão

Normalmente em um confronto de mata-mata, principalmente o visitante, adota uma postura mais reativa, reagindo aos ataques do oponente através de contragolpes em velocidade, que buscam aproveitar os espaços que o adversário deixa ao ir para o ataque. Quando esse visitante já sai na frente, vencendo o primeiro jogo, essa atitude chega a ser praticamente uma obrigação. E no confronto entre Paysandu e Fluminense, pela Copa do Brasil, no Mangueirão, não foi diferente.

O Paysandu veio a campo no 4-2-3-1, com Jhonnatan, Carlinhos e Aylon formando a trinca de meias. Com bola, a equipe efetuava saída de bola pelo chão, com sua dupla de zaga buscando os volantes, que recuavam e encostavam para servir como opção de passe, ou então buscavam as laterais, que tinham Pikachu e João Lucas bem abertos, alinhados aos volantes. Em campo ofensivo ocorriam as seguintes movimentações: laterais, principalmente João Lucas, servindo como opção de passe para reter a bola no ataque ou avançando para servir como opção de jogada de fundo. Volantes ficando mais recuados, servindo sempre como opção de recuo. Aylon buscando a posse de bola para "carregá-la" para o centro, no espaço entrelinhas, enquanto Jhonnatan se juntava a Leandro Cearense na área, com Carlinhos ficando mais recuado ou então abrindo mais a direita.

Sem bola a equipe compactava-se em duas linhas de 4, com Carlinhos e Leandro Cearense ficando mais a frente. A equipe paraense, que marcava por zona, buscava muito mais cercar e ocupar os espaços do que propriamente pressionar, realizando essa pressão somente em sua intermediária defensiva, onde por vezes ficavam 7 jogadores, já que Carlinhos e Leandro Cearense ficavam mais a frente e Aylon não "fechava" o lado esquerdo a todo momento, ficando aberto a esquerda adiantado, sem participação na fase defensiva da equipe.

Paysandu propondo o jogo em um 4-2-3-1 que se tornava um 4-4-2 sem bola, com o recuo dos wingers até a linha dos volantes

Já o Fluminense, equipe visitante, veio a campo também em um 4-2-3-1, que tinha Marcos Junior alternando constantemente entre encostar em Magno Alves e inverter com Cícero a direita. Com bola, a equipe carioca também buscava sair pelo chão, sempre tentando acelerar a transição defesa-ataque, com Edson e Jean aproximando-se da dupla de ataque enquanto os laterais adiantavam-se para servir de opção de passe "para frente". Quando em campo ofensivo, o que constantemente ocorria era o seguinte: Edson ficava mais próximo a linha de meio campo para servir como retorno enquanto Jean encostava nos homens mais avançados. O lateral do lado da jogada, adiantava-se e fazia parceria com o winger e com Marcos Junior, enquanto o winger do lado oposto e Magno Alves entravam na área para servir de opção para uma provável bola alçada na área.

Sem bola, a equipe carioca compactava-se em duas linhas de 4, deixando Marcos Junior e Magno Alves mais a frente, marcando por zona e iniciando a pressão somente em seu campo. Ao contrário da equipe paraense, a equipe carioca frequentemente conseguia colocar 8 homens atrás da linha da bola e efetuava o balanço defensivo corretamente.

 
 Fluminense no 4-2-3-1 que também tornava-se um 4-4-2 sem bola com o recuo dos wingers e que era mais reativo, buscando acelerar o jogo pelas beiradas

O primeiro tempo iniciou-se com o Paysandu ocupando, girando a bola no campo de ataque e buscando chegar pelo lado esquerdo, embora não conseguisse imprimir uma intensidade na movimentação de seus homens que propiciasse a quebra das linhas bem postadas da equipe carioca, que, logo ao recuperar a posse de bola, saía rapidamente, acionando com maior frequência o lado esquerdo, onde Scarpa e Victor, sempre com o auxílio de Marcos Junior, se movimentavam, invertiam e tocavam rapidamente a bola entre si, com o intuito de acionar os homens que ja estavam na área adversária ou então buscavam o confronto individual para sair cara a cara com o goleiro. Mas o que propiciou mesmo a equipe carioca o gol exatamente essa parceria de Victor, Marcos e Scarpa, que trocaram passes rapidamente, envolvendo os jogadores do adversário que estavam naquele setor, permitindo que Victor Oliveira chegasse a linha de fundo e cruzasse para Cícero, este realizando uma movimentação muito frequente durante o jogo, marcar de cabeça.

 No HeatMap acima a movimentação de Cicero. O meia constantemente fazia a diagonal da direita para o centro, entrando na área para servir como opção de passe ou finalização(Reprodução: Footstats)

Após o gol e, principalmente, após a entrada de Misael, que foi atuar como winger pela direita, no lugar de Ricardo Capanema que saiu machucado, o que alterou o sistema do Papão para o 4-1-4-1, com Fahel passando a ser esse "1" entre as linhas de 4, a equipe paraense passou a ocupar ainda mais o campo de ataque, com até 8 jogadores aproximando-se em campo ofensivo, já que agora os laterais passaram a subir simultâneamente. Porém, a equipe seguia apresentando falta de intensidade no campo ofensivo. Enquanto isso, a equipe carioca seguiu mantendo suas linhas recuadas, buscando sempre sair em velocidade assim que recuperava a posse de bola.

O 4-1-4-1 da equipe paraense após a saída de Ricardo Capanema para a entrada de Misael

Com a boa partida do sistema defensivo do adversário e a ruim partida do sistema ofensivo da equipe paraense, o gol só poderia sair em uma falha da equipe carioca. E foi exatamente o que aconteceu, com Pikachu convertendo pênalti bobo cometido por Victor Oliveira em Aylon.

O segundo tempo iniciou-se com as equipes mantendo os mesmo jogadores, posturas e sistemas, havendo somente uma leve alteração no modo de marcação do Paysandu, com Leandro Cearense passando a se desgarrar do resto da equipe e realizar uma pressão mais forte na saída de bola adversária. Mas isso não ajudou muito a evitar o segundo gol da equipe carioca, marcado por Magno Alves em uma jogada onde há uma nova amostra de como um simples erro de posicionamento de um jogador pode bagunçar todo um sistema defensivo.



Nas imagens acima, o lance do segundo gol da equipe carioca. Note que(primeira imagem) Pikachu, no momento do lançamento do adversário, se desgarra da linha de defesa, ficando sozinho sem ter a quem marcar e deixando um espaço as suas costas que obrigou a zaga a fazer o balanço para tentar cobrir esse espaço que acabou sendo aproveitado por Gustavo Scarpa(segunda imagem), bem aberto a esquerda. Com essa saída da zaga, formou-se uma igualdade numérica(3 contra 3) na última linha, onde Marcos Junior(circulo amarelo na imagem 2), a frente do jogador que o acompanhava e invadiu livre para completar o cruzamento de Magno Alves, este que recebeu o lançamento de Scarpa no espaço entre os dois adversários mais próximos

Com a vantagem no placar, a equipe carioca recuou de vez, mantendo suas linhas em bloco baixo, dando campo para o adversário trabalhar a bola sem levar muito perigo. Porém, a equipe paraense, aparentemente com o emocional abalado após o gol, abandonou quase que totalmente a realização da pressão sem a bola, somente cercando o adversário.

Buscando alterar, ou manter(no caso do Flu), o panorama da partida, os treinadores mexeram em suas equipes. Pelo lado do Paysandu, Dado Cavalcanti colocou Betinho no lugar de Fahel, alterando o sistema da equipe para um 4-4-2 em linhas, com Carlinhos e Jhonnatan ficando pelo centro na segunda linha de 4, onde o primeiro ficava mais fixo recuado enquanto o segundo adiantava-se e encostava nos homens de frente, e Betinho indo atuar junto a Leandro Cearense, ficando mais adiantado pelo centro. Pelo lado do Fluminense, foi realizada a entrada de Vinicius no lugar de Marcos Junior, não havendo alterações em posicionamento, sistema, postura e movimentação da equipe.

Com mais um homem na área, a busca pela bola aérea foi intensificada pelo lado do Paysandu, havendo constantes levantamentos de bola na área adversária, principalmente pelo lado esquerdo. A outra opção que levava perigo era a jogada individual de Misael pela direita, mas nenhuma das opções mostrou ser eficiente. E, para piorar a situação da equipe paraense, Betinho foi expulso. Com isso, a equipe reorganizou-se em um 4-4-1 com apenas Leandro adiantado.

Ainda houveram mais substituições tanto pelo lado do Flu, onde o treinador gastou suas duas últimas alterações colocando Pierre e Higor Leite nas vagas de Edson e Magno Alves, onde, novamente, houve apenas reoxigenação de peças sem alteração no sistema de jogo e no posicionamento dos jogadores. Já pelo lado do Paysandu, houve a entrada de Augusto Recife na vaga de Carlinhos, mantendo também o tudo o que a equipe já vinha mostrando, exceto pela proposta de jogo da equipe, que passou a ser mais reativa, buscando retomar a posse e acionar rapidamente os homens de beirada de campo, que por sua vez buscavam ou a jogada individual ou o cruzamento, enquanto a equipe carioca, até por conta da superioridade numérica, passou a gerir mais a posse de bola, conseguindo controlar o resultado do jogo até a sua conclusão.

 
 Equipes no final do jogo: Paysandu no 4-4-1 atuando de maneira mais reativa e Fluminense mantendo o 4-2-3-1 mesmo com as substituições, propondo mais o jogo por conta da superioridade numérica

As propostas eram claras. O Paysandu propôs, o Fluminense reagiu. A equipe carioca acabou saindo vencedora por executar com maior eficiência a sua proposta de jogo, enquanto a equipe paraense mostrou sérias dificuldades para "criar jogo" e gerar espaços contra uma equipe que mostrou boa compactação de suas linhas e conseguiu obter sucesso também na sua busca por velocidade e aproveitamento dos espaços cedidos pelo adversário. Agora, enquanto o Flu continua vivo na busca pelo título do torneio, resta ao Papão voltar totalmente suas atenções para o Campeonato Brasileiro da Série B, onde a equipe mostra totais condições de brigar pelo acesso a Série A.

Por Andrey Hugo(@Andrey_Hugo)