terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

ESPECIAL HOLANDA 1974: A ARTE DE UM CARROSSEL - PARTE 4 (1): AS ESCOLHAS DE MICHELS A ENTRADA DO TÉCNICO

Nessa primeira metade da quarta parte, falarei sobre como foram as escolhas de Michels, quem ele escolheu, e como foram os amistosos pré-copa.


PARTE 4 (1): AS ESCOLHAS DE MICHELS

A ENTRADA DO TÉCNICO

A federação holandesa teve ousadia. Trocou o tcheco Frantisek Fadrhonc, rebaixou-o a auxiliar e trouxeram o então desenvolvedor do Futebol Total, Rinus Michels. O técnico assumiu com uma seleção até então classificada para a Copa de 74 após a não-presença em 70 e com o peso de ter o que a imprensa local considerava a maior geração da história do país. Ele sabia da responsabilidade que tinha e vendo isso agarrou a chance com unhas e dentes.

Mas ele mal sabia como se situava o elenco. Principalmente composto pelas duas maiores forças do futebol do país, Ajax e Feynoord, o esquadrão se rachava entre os que apoiavam o estilo de jogo do primeiro e o do segundo. O tricampeão europeu tinha como principais nomes Cruyff, Neeskens e Keizer, enquanto o campeão nacional tinha Van Hanegen, Jansen e De Jong. Muita disputa, muitos conflitos internos e Michels tinha que resolver isso tudo.

Defensor do estilo do time de Amsterdam, o técnico bateu na mesa, disse que se usaria do Futebol Total e que os que não concordassem que saíssem da equipe. Era o início do comando que entraria para a historia do futebol.

OS TRES AMISTOSOS DE MICHELS


O primeiro jogo com o General como treinador não teve o resultado esperado. Empate de 1 a 1 com a Austria e time notavelmente jogando com certa desatenção a partida. Novos jogadores foram convocados e o time jogou num 4-2-4/4-3-3 mais ou menos assim:





Inicio da base do time da copa estava sendo construído. No primeiro jogo, que deu em empate, Rep e Resenbrink, jogadores de muita resistencia abriam o campo e acompanhavam o lateral adversario na defesa, deixando a dupla Cruyff e Geels mais a frente, quase num 4-4-2. Michels apostou no entrosamento de De Jong e Van Hanegen na ocupação do terreno central e liberou Neeskens para fazer o combate mais acima, ajudando na tal linha de impedimento tão conhecida. O apoio de Notten e Krol eram cobertos pelos volantes, que tinham bom senso de posicionamento. No gol, preferiu Schrijvers aos outros.

Já no segundo jogo, goleada pra cima da Argentina e um time mais com a cara do que jogou a copa. Tirando os zagueiros, o resto todos foram parte dos 11 titulares. Suurbier e Krol mostravam o vigor físico voando nos lados e apoiavam sabendo que a cobertura pelos volantes Van Hanegen e Haan seria eficiente. Mais a frente deles, Neeskens chegava com muita força ao ataque, no espaço do centroavante, este que não existia devido a Cruyff. Peça chave do time, Michels deu liberdade a ele, abrindo espaços nas defesas adversárias, acionando a dupla Rep e Resenbrink. Notem que para o gol, o técnico apostou no até então desconhecido Jongbloed, que não era muito técnico nos fundamentos de goleiro, mas que tinha qualidade com a bola nos pés e sabia fazer a cobertura da defesa, o que facilitava a subida dela.

Já no terceiro jogo (abaixo), mais testes, insistencia no 4-3-3 e mais um empate, dessa vez contra a Romenia. Sem Cruyff, apostou-se em Geels, Keizer e Resenbrink na frente e num trio de meias com De Jong, Neeskens e Van Hanegen com muita rotação, confundindo adversários. Ja atrás, mais um problema. Israel se lesionou seriamente, e Michels teve de optar por uma dupla improvisada de volantes: Haan e Jansen. Observe:



OS PROBLEMAS QUE MICHELS TEVE

Se alguem acha que foi de uma hora para outra que o Carrossel Holandes se montou, engana-se completamente. Foi muito difícil a vida do treinador, já que teve uma série de problemas na convocação de jogadores chaves. Michels perdeu algumas peças importantes como o ótimo goleiro Van Beveren, que por problemas com Cruyff pediu para não ser mais convocado, o lateral Drost, que abdicou da seleção após as eliminatórias, os atacantes Pahlplatz e Bromkamp, que seguiram o mesmo caminho, o meia Muhren, que devido a uma doença do filho largou o futebol e os tres zagueiros que mais jogavam: Hulshoff, Mansveld e Israel, com lesões. Isso fez com que o time que viria a jogar com o Uruguai tivessem dois improvisados na defesa e um 11 inicial que jamais havia jogado junto.

CONVOCAÇÃO

Abaixo, vemos os 22 jogadores que Michels escolheu para a relação final da Copa:

Back: Van Ierssel, Cruyff, Jongbloed, Schrijvers, Haan, Rijsbergen,
Neeskens, Israël, Keizer, Treytel, Krol, Suurbier, Van Hanegem.
Front: Jansen, Rep, Willy van de Kerkhof, René van de Kerkhof, 
Geels, Rensenbrink, Strik, Vos, De Jong. 



Como será que isso encaixou tão perfeitamente? Foi magica? Veremos na segunda metade desse post, em que falarei sobre a função tática individual dos escolhidos de Michels. Sairemos um pouco do painel histórico e entraremos no que interessa!!! Abraços!