sexta-feira, 7 de março de 2014

A aula tática de Eduardo Baptista no Clássico das Multidões




A vitória do Sport por 3 a 0 diante do Santa Cruz na Ilha do Retiro, representou mais do que alegria para seus torcedores que estavam “engasgados” com o Tricolor por causa dos três últimos campeonatos pernambucanos. Representou a evolução tática do time comandado por Eduardo Baptista, este que se mostra inteligente, com bom comando estratégico e conhecimento profundo da parte fisiológica do futebol, de modo que essa aliança também acaba facilitando seu trabalho. Baptista deu um nó tático em Vica. E um nó tático digno de aplausos, excelente organização defensiva e bom aproveitamento no ataque.
O Sport entrou no seu costumeiro 4-2-3-1, que sem a bola formava por muitas vezes, duas linhas de quatro, com um dos volantes(geralmente Ewerton Páscoa) postado entre as mesmas e o outro volante(normalmente Rodrigo Mancha) adiantando o bote e alinhando-se com Aílton por dentro, ou seja, em números, um 4-1-4-1. A marcação do Leão apresentava encaixes individuais por setor, com fortes e constantes perseguições nas tentativas de deslocamentos dos jogadores corais e também ótimo trabalho de cobertura/compensação de espaços, sempre que um jogador tentava se infiltrar num espaço vazio, com boa cobertura do jogador rubro-negro mais próximo em relação ao setor.
Quanto ao posicionamento defensivo das linhas rubro-negras, pode-se afirmar que em boa parte do tempo, o Sport marcava em bloco médio, com as linhas postadas dentro da própria intermediária, com compactação e muita proximidade entre as mesmas, negando espaços ao ataque tricolor. Por vezes, tentava subir a pressão, iniciando o combate a partir da intermediária defensiva do Santa Cruz. Pelos lados, a marcação era intensa, com os wingers Ananias e Felipe Azevedo bem participativos, acompanhando os laterais adversários até as proximidades da linha de fundo para que não houvesse 2×1 e qualquer jogador que se deslocasse de outro setor do campo para um dos lados, era acompanhado por um outro marcador, que geralmente chegava da faixa de meio. Desta forma, o Sport não sofria com inferioridade numérica nos setores do campo e até tinha sobra em alguns setores, em determinadas situações. Na cabeça-de-área, muita segurança de Ewerton Páscoa e Rodrigo Mancha, que sempre marcavam em cima, próximos do adversário a ser marcados e que também mostraram bom poder de recuperação de bola na meia-cancha.
Com a posse de bola, o bravo Leão da Ilha atacava principalmente pelo flanco direito, com a dobradinha entre Felipe Azevedo e Patric, em jogadas combinadas que podiam ter direção para a linha de fundo ou para uma diagonal nos espaços entre os laterias e zagueiros corais. Além disso, o lado direito também contava com algumas aproximações de Ewerton Páscoa, este que apoiava com freqüência, auxiliava na transição entre os setores e por vezes aparecia nas proximidades da meia-direita. Neto Baiano mostrou boa performance no trabalho de costas(pivô), dando duas assistências para gols.
O Santa Cruz também se posicionou a partir de um 4-2-3-1, com Cassiano pela esquerda, Raul por dentro e Carlos Alberto pela direita, porém, podendo marcar(na fase de defesa organizada), numa espécie de 4-4-2 em linhas, com Carlos Alberto recuando um pouco mais à direita e Raul abrindo pela esquerda, enquanto que Cassiano ficava mais próximo de Léo Gamalho, já com preocupações ofensivas. O problema é que a marcação coral deixava espaços que eram bem explorados pelo inteligente ataque rubro-negro, principalmente no lado esquerdo de sua defesa com o jovem Patrick. Não é à toa que dois gols dos três leoninos se originaram de movimentações em diagonal de jogadores partindo do lado direito do ataque leonino.
O Tricolor do Arruda tinha muitas dificuldades diante da marcação leonina com encaixes, também pressionando o portador da bola e buscando a redução de espaços na faixa intermediária do gramado. Cassiano e Carlos Alberto tentavam se deslocar para buscar jogo, assim como Léo Gamalho, que saía constantemente da área para tentar criar algo abrindo pelas pontas, porém, sem muito sucesso.
Na segunda etapa, o Sport continuou marcando dentro de seu próprio campo, negando espaços ao adversário. Quando retomava a posse de bola, tentava a transição defesa-ataque apostando na velocidade de Felipe Azevedo(depois substituído por Bruninho) e Ananias(depois substituído por Erico Junior).
Com a entrada de Flávio Caça-Rato na vaga de Cassiano, o Santa Cruz ganhou um pouco mais de agilidade e movimentação no ataque, porém, os problemas de profundidade, intensidade e penetração permaneciam, o que mostra de certo modo, a previsibilidade do modelo de jogo coral. O técnico Vica precisa trabalhar mais a questão de novas soluções táticas para situações mais complicadas como essa. No caso do Sport, percebe-se a evolução e a busca pela construção de um padrão tático. Nesse Clássico das Multidões, melhorou a questão de movimentação inteligente, ocupação de espaços do campo, compactação e encaixe de marcação. Ainda há muitas coisas para serem ajustadas e aprimoradas, mas isso só vem com tempo e muito trabalho. Aliás, trabalho é o lema de Eduardo Baptista, que vem se mostrando um excelente treinador.

Por João Elias Cruz (@joaoeliascruzzz)