sábado, 8 de março de 2014

Oscar muda panorama tático e Mourinho vence mais uma

Chelsea e Tottenham fizeram um duelo com dois tempos distintos no Stamford Bridge. No primeiro tempo, a equipe visitante dominou as ações ofensivas e jogou no campo de defesa do adversário. Na etapa complementar, Mourinho mudou o time e inverteu a lógica do primeiro tempo, empurrando o adversário para seu campo de defesa e o forçando ao erro, o que foi decisivo para o resultado. Não vou comentar sobre o pênalti polêmico e a expulsão de Kaboul, afinal o propósito do texto é outro.


Prancheta da etapa inicial: o Chelsea veio postado atrás em um 4-1-4-1 que variava para o 4-2-3-1 com os avanços de Ramires. Já o Tottenham veio no 4-4-2 britânico, com Lennon circulando bastante como ponta de lança atrás de Adebayor. Lampard, com pouca liberdade para atacar na linha do meio do Chelsea, ficou sem função e assistiu Bentaleb armar a sua equipe com passes curtos e lançamentos para os wingers.

Apesar do primeiro tempo ruim, uma movimentação ofensiva chamou a atenção no Chelsea. Eto'o, assim como na seleção camaronesa, recuava para o flanco esquerdo, atraía o zagueiro e abria espaço para o extremo infiltrar. Nesse momento, Hazard centralizava e Ramires mergulhava pela direita. Outra movimentação interessante era a aproximação dos extremos em uma das beiradas para propiciar espaço para os volantes jogarem, principalmente Ramires.

Apesar das aplicações ofensivas interessantes na busca por espaço, a estratégia do técnico do Chelsea na etapa inicial não deu certo. Mourinho cedeu campo para atrair o adversário e sair em velocidade, mas acabou perdendo o controle da partida e não conseguiu mais recuperar. O Tottenham do técnico Sherwood pressionava a saída e retomava ainda no campo de ataque, o que proporcionou ao time 55% de posse da bola. Se não deu certo atrair para ser agudo na transição, Mourinho resolveu mudar.

No segundo tempo, a entrada de Oscar mudou o panorama tático da partida. O empate sem gols era um péssimo resultado para os blues dentro de casa. Determinante também foi a mudança de postura do Chelsea, que decidiu impor sua superioridade técnica no campo do adversário, atitude que era esperada desde o início da partida. Mas, como sempre, é no segundo tempo que o Chelsea abafa seus adversários no Stamford Bridge. A sapiência do português foi enxergar os problemas e corrigi-los no intervalo.


Oscar entrou na vaga de Lampard e o Chelsea passou a jogar no 4-2-3-1, com Schürrle mais agudo e Hazard como meia junto com Oscar, o que ajudou prender Bentaleb, que organizou o jogo do Tottenham no primeiro tempo. Com quatro homens na recomposição de uma forma mais equilibrada, o Chelsea adiantou as linhas e sufocou o adversário, que errou nos quatro gols marcados pela equipe de Mourinho.

O garoto Oscar, joia do futebol brasileiro, entrou e mudou a partida. Centralizado como um típico playmaker (nome dado ao meia organizador no futebol inglês), Oscar ajudou pressionar a saída de bola e enriqueceu demais a qualidade do passe pelo meio. O maior ladrão de bola da Copa das Confederações, assim como na Seleção Brasileira, joga muito com e sem a bola, o que o torna diferenciado taticamente. Aos 10’, Eto’o, após falha bizarra do belga Vertonghen, fez o primeiro: 1 x 0 para o Chelsea.

Aos 15’, o lance mais polêmico do duelo: o árbitro marcou falta de Kaboul em Eto’o dentro da área e ainda expulsou o francês. Hazard bateu com tranqüilidade, ampliando a vantagem do time da casa. A partir desse momento, só deu Chelsea, que ainda conseguiu mais dois gols com Demba Ba, que substituiu Eto’o no final. Um dos gols saiu dos pés de Oscar em bela jogada pela direita. Willian também entrou muito bem, momento em que o time passou a atuar em um 4-2-3-1 mais equilibrado.


Após a expulsão de Kaboul, Sandro foi deslocado para a zaga e Paulinho entrou para fazer o box-to-box. Lennon foi alocado como válvula de escape pelo flanco direito, mas sem a bola nada fez. Bentaleb se transformou em um winger que atuava quase como terceiro volante ao acompanhar Ramires, o que abriu o corredor para Ivanovic com Willian e Oscar. Com a entrada de dois brasileiros, o time José Mourinho passou a atuar em um 4-2-3-1 mais equilibrado em ações ofensivas.
Na etapa final, o Chelsea inverteu a lógica e acabou com 54% da posse ao final da partida, finalizando o dobro de seu adversário. Apesar das falhas dos defensores do Tottenham e do pênalti discutível, também não se discute a facilidade que Mourinho tem em ler o futebol. Parece fácil vê-lo mexendo as peças e arrumando a casa, mas tal trabalho, que se faz no imediatismo e na pressão, requer uma sensibilidade que poucos possuem. Abraço!


Por Victor Lamha de Oliveira (@vlamhaoliveira)