quarta-feira, 16 de abril de 2014

Especial Palmeiras 1999: As variações do esquema

Assim como o post anterior descreveu, o esquema tático base do Palmeiras de 1999 foi o 4-3-1-2, mas houveram variações. Em algumas partidas, o time jogou no 4-2-4, no 4-1-3-1-1, no 4-4-2 em linha e, segundo a imprensa da época, no 4-3-3. Entretanto, todas estas variações partiam de princípios de jogo do 4-3-1-2 base da equipe. Ou seja, podia-se mudar o esquema, porém os jogadores se adaptavam rapidamente as novas funções em campo, pois o esquema base facilitava este entendimento.

4-2-4

Este esquema foi pouco utilizado, mas Felipão utilizava quando a partida precisava de muita força ofensiva. Naquele Palmeiras de 1999, Luis Felipe Scolari usava e abusava dos cruzamentos, e desta maneira, o 4-2-4 tinha dois centroavantes para receber cruzamentos através das duplas pelos lados formadas pelos laterais e os atacantes de lado.

Flagrante do Mundial de 99, Júnior, que tinha Evair como dupla pela esquerda, está cruzando para os 4 atacantes do Palmeiras (Reprodução: TyCSports).
4-1-3-1-1

Este esquema, que também era variação do 4-3-1-2, foi pouco utilizado assim como o anteriormente citado. Neste esquema, Felipão só retira um dos atacantes para colocar outro jogador de meio-de-campo em sua equipe. No jogo válido pelas oitavas-de-final da Copa Libertadores da América de 1999 e quando o placar já o favorecia, o Palmeiras jogou desta maneira:

Neste jogo, o Palmeiras atuou com Arce, Júnior Baiano, Cléber e Júnior; César Sampaio, Rogério, Evair, Zinho e Alex; Paulo Nunes. Como o placar ainda o favorecia, Felipão, depois de 11 minutos de ter colocado Evair no meio de campo, colocou Roque Júnior no lugar de Alex. Com esta substituição, Evair passou a ocupar a meia central, César Sampaio foi para o meio do trio e Roque Júnior como o 1° volante (Reprodução: Rede Globo).

4-4-2 em linha

Este esquema tático, também, foi pouco utilizado em 1999 pelo Luiz Felipe Scolari. Mas vale aqui ressaltar que este só foi possível de ser utilizado devido à inteligência de jogo de Alex e à constante atualização de Felipão em relação ao que acontece no futebol. Diferentemente do que parece e do que boa parte da mídia repercute, o atual técnico da Seleção Brasileira não aparenta ser tão desatualizado como parece. Em 1999, somente na Europa que o esquema 4-4-2 em linha era muito difundido e utilizado. Na América do Sul, pouquíssimos times e lugares imaginavam algum time atuar neste esquema. Com o Palmeiras, Luiz Felipe mostrou que já estava atento ao que acontecia no mundo do futebol.


No flagrante, observa-se a linha 4 montada com Paulo Nunes, Rogério, Zinho e Alex. Este jogo, que é contra o Corinthians na polêmica final do Campeonato Paulista de 1999, Felipão colocou Paulo Nunes, Oséas e Evair. Mas diferentemente do que ele mesmo já havia utilizado o lendário atacante do Verdão, Evair atuou como se fosse 93/94 e, assim, bem próximo do outro atacante (em 93/94 era Edmundo e em 99 foi Oséas). Desta maneira, Paulo Nunes e Alex sobraram para fazer a marcação pelos lados (Reprodução: Rede Globo).

Já neste flagrante, percebe-se Zinho aberto pela esquerda e Alex fechando o meio. Assim como demonstrou no decorrer da sua carreira, Alex, já em 1999, mostrava a sua inteligência em campo. Nesta partida, o camisa 10 alviverde fez a composição pelo meio quando percebia que Zinho abria para marcar aberto. Da mesma maneira que fechou o meio neste jogo contra o Corinthians, invariavelmente, Alex fazia a composição pelo meio para melhor fechar as linhas de passes adversárias, assim como mostra o flagrante a seguir (Reprodução: Rede Globo):


Neste jogo e assim como foi contra o Corinthians na final do Campeonato Paulista, o Palmeiras atuou com três atacantes de ofício. Contra o Flamengo, que é o caso do flagrante anterior, os atacantes fora: Paulo Nunes, Asprilla e Euller. E da mesma maneira que contra o Timão, Alex se alinhou com o meio de campo e, invariavelmente, formava uma linha de 4 à frente de César Sampaio (Reprodução: Bandeirantes).


Agora voltando ao jogo pela final do Paulista contra o Corinthians. Neste jogo, apesar do Verdão contar com a inteligência de jogo de Alex, o Palmeiras contava com a vontade insana de Paulo Nunes em querer atacar frequentemente. Tanto que, invariavelmente, o que se viu foi o “Diabo Loiro” se desalinhando dos outros meio-campistas, assim como mostra o flagrante anterior, e praticamente formando os três atacantes com Evair e Oséas (Reprodução: Rede Globo).
4-3-3, mas tem certeza que era 4-3-3?

Segundo a mídia na época, o Palmeiras atuava no 4-3-3 já que invariavelmente Euller entrava no lugar de um dos jogadores do losango alviverde. Mas tem certeza que era 4-3-3? Assim como foi demonstrado no tópico do 4-4-2 em linha, o 4-3-3 no Palmeiras não existiu! Quando o “filho do vento” entrava em campo no lugar de Rogério ou de Arce – já que o primeiro constantemente era colocado na lateral direita -, o Verdão passava a atuar no famoso e tão batido atualmente: 4-2-3-1. Vejam e comprovem:

Nesta partida, Euller havia começado no lugar de Rogério. Desta maneira, as sociedades pelos os dois lados do campo se mantinham: de um lado tinha Arce e Paulo Nunes e no outro Júnior e Euller. Assim sendo, a busca de jogadas pelos lados que resultavam em cruzamentos na área era a mesma (Reprodução: Bandeirantes).



























Neste mesmo jogo, a estrutura do 4-2-3-1 se mantinha mesmo com alguma peça fora da posição. No caso do flagrante anterior, o lateral-direito Arce é que está na volância junto com Zinho (Reprodução: Bandeirantes).
O mesmo lateral-direito fazia a composição pelo meio e devido ao posicionamento dos seus companheiros, o 4-2-3-1 se consolidava em momentos transitórios para o time alviverde. Assim como foi caso desta partida contra o Corinthians, após a final da Libertadores da América (Reprodução: Rede Globo).
Na semifinal da Copa Libertadores da América de 1999, Felipão já ensaiava alguns indícios de utilização do 4-2-3-1. Neste jogo contra o River Plate, há o flagrante de um transitório 4-2-3-1 “torto” do qual em 2013, o próprio técnico utilizaria no mesmo clube (Reprodução: Rede Globo).

Neste jogo contra o Flamengo, o 4-2-3-1 foi tão evidente que César Sampaio fazia a saída de três; Paulo Nunes, Alex e Euller se alinhavam frequentemente; e de que os atacantes de lado voltavam acompanhando os laterais adversários assim como mostrou o último flagrante com Paulo Nunes acompanhando Athirson em campo defensivo (Reprodução: Bandeirantes). 

Desta maneira, pode-se perceber que o 4-3-1-2 era o esquema tático base de Luiz Felipe Scolari no Palmeiras de 1999, mas, também, de que haviam variações no esquema. Uma vez que os jogadores realizavam funções parecidas em outros esquemas táticas do que realizavam no 4-3-1-2, a utilização de outras distribuições em campo dos jogadores se tornou possível.
Entretanto vale aqui notar que a maioria das variações só começou a ser utilizada após Felipão ter conquistado a confiança daquele elenco alviverde. Muita dessa confiança cresceu com o decorrer da Libertadores daquele ano, e foi consolidada após a conquista do torneio continental. Já que após se tornar campeão, Luiz Felipe Scolari variou o esquema tático da sua equipe.

Com tantas variações possíveis, o técnico pentacampeão do mundo pela Seleção Brasileira foi utilizar justamente os tão “modernos” 4-4-2 em linha e 4-2-3-1. Mero acaso ou muito estudo? Acredito em muito estudo por parte de Felipão. Uma vez que o 4-4-2 em linha na Europa era bem tradicional (tanto que o técnico é o foco de um dos “causos” famosos de Paulo Vinícius Coelho, quando o repórter insiste em dizer que Scolari escalava o Manchester United da seguinte maneira: David Beckham, Roy Keane, Paul Scholes e Ryan Giggs; e não: Roy Keane e Paul Scholes; David Beckham e Ryan Giggs. Para quem conhece, a mudança faz toda diferença) e o 4-2-3-1 estava engatinhando no Velho Continente, a utilização destes esquemas no final da década de 90 na América do Sul parecia impensável. Porém Felipão surpreendeu e utilizou os dois esquemas em 1999, enquanto todos achavam que era 4-3-3.



Por Caio Gondo (@CaioGondo)