quarta-feira, 16 de abril de 2014

Prévia das Oitavas de Final da Libertadores

Vertiginosa e fatal, a Libertadores 2014 correu solta em poucas semanas, graças ao apertado calendário  e a eterna complacência dos clubes subservientes a acéfala Conmebol. 4 clubes argentinos: Arsenal, Lanús, San Lorenzo e Velez Sarsfield. 3 brasileiros: Cruzeiro, Grêmio e Atlético Mineiro. 2 paraguaios: Cerro Porteño e Nacional. 2 mexicanos: Santos Laguna e León. 2 bolivianos: Bolívar e The Strongest,  além de Atlético Nacional de Medellín, Unión Española do Chile e Defensor Sporting do Uruguai foram os sobreviventes da insólita maratona do principal torneio entre clubes do continente.

O Velez Sarsfield conta com a melhor campanha geral da primeira fase com 15 pontos somados no Grupo 1. O conjunto de Liniers é  o franco favorito para o confronto contra o Nacional do Paraguai. O Fortin,  comando por José "Turu" Flores, atua no 4-3-1-2 -  o mesmo sistema tático da era Ricardo Gareca - com um losango no meio de campo que prima por valorizar  a posse de bola. Lucas Romero, de bom passe e ótima dinâmica , é o primeiro volante da equipe; a imprensa argentina cogita que o jovem revelado pela inesgotável "cantera fortinera" possa ter chances de ganhar uma vaga na Copa graças a lesão de Fernando Gago. Completando o meio campo, Agustin Allione e Ariel Cabral caem pelos flancos duelando contra os laterais rivais, ao passo que Hector Canteros atua libre como enlace, sem posição fixa . O ponto forte tem sido o alto índice de posse de bola somados ao ótimo momento de seus dois centroavantes, Lucas Pratto e Mauro Zárate. A defesa é o ponto vulnerável em função da idade avançada dos laterais Fabian Cubero e Emiliano Papa.

O Nacional paraguaio chega pela primeira vez em sua historia as oitavas de final.  O Nacional querido terminou em segundo lugar do grupo 4 com 8 pontos, conseguindo dois empates contra o Atletico Mineiro, além de uma vitória heroica frente ao Independiente Santa Fé na ultima rodada por 3 a 2. Comandados por Gustavo Morinigo no 4-4-1-1 - o sistema fetiche no Paraguai - o Nacional tem como destaque a compactação das suas duas linhas de e o rápido contra-ataque puxado pelos meias extremos, Marcos Melgarejo e Derlis Orué. A bola parada é outro ponto forte do conjunto paraguaio, graças ao faro goleador do inoxidável Freddy Bareiro.


O Arsenal de Sarandi, após bater na trave no ano passado, conseguiu enfim, chegar as oitavas de final pela primeira vez em sua história. Destaque para o  sólido sistema defensivo que é o segundo menos vazado com 4 gols sofridos. Um prêmio ao trabalho de longo prazo de Gustavo Alfaro. Eis que, mesmo com a classificação histórica,  o  rodado treinador, que estava no comando do pequeno clube de Avellaneda desde 2006, acabou demitido em função da péssima campanha no Torneio Final, onde o Arsenal amarga a lanterna com 10 pontos. O sistema tático é o 4-4-1-1,  priorizando a compactação das duas linhas de 4 em seu campo de defesa e a saída rápida com  os meias extremos Franco Zuculini e Ramiro Carrera. A bola parada é muito utilizada em função da alta estatura do centroavante Julio Furch.

Assim como seu adversário, a  Union Española goza do trabalho a longo prazo de   José Luis "Coto" Sierra. O ex-meia do São Paulo F.C esta na comando técnico desde 2009. O time atua no 4-2-3-1, com destaque para a esquadra argentina que forma a espinha dorsal do quadro de Santa Laura - o lateral esquerdo Berardo, o volante Faravelli, o meia Pochi Chavez e os atacantes Sebastián Jaime e Gustavo Canales. Cristian "Pochi" Chavez, meia habilidoso  revelado pelo Boca Juniors, foi o grande condutor e peça fundamental na classificação da Union Española.


O Atlético Mineiro, mesmo terminando a primeira fase invicto, com 12 pontos no Grupo 4, segue aquém de seu melhor funcionamento tático e técnico. Paulo Autuori decidiu manter o 4-2-3-1 da era Cuca. Contudo, a falta de intensidade na marcação pressão e a queda de rendimento de jogadores fundamentais como Ronaldinho e Diego Tardelli, fazem deste confronto contra o bicampeão e atual líder do Campeonato Colombiano, uma grande incógnita. A grande mudança em relação ao ano passado vem na defesa com o ingresso de Jesus Dátolo - meia de origem - na lateral esquerda, assim como de seu compatriota Nicolás Otamendi, que substitui o lesionado Réver. Guilherme, em boa fase, clama por minutos no time titular.

O Atlético Nacional de Medellín sobreviveu ao grupo da morte ao vencer o Newell's em Rosário de forma contundente. Taticamente é o time mais imprevisível da Libertadores. Juan Carlos Osório varia a escalação de acordo com o adversário, utilizando ora o 3-4-2-1, ora o 4-3-2-1. Um dos grandes trunfos é a versatilidade de importantes jogadores do quadro verdolaga. É o caso de Stefan Medina, que joga de zagueiro, ala ou até mesmo de volante pela direita. Pela faixa esquerda, Farid Diaz e Juan David Valencia trocam constantemente de posições, fazendo deste setor um dos pontos fortes do time. Individualmente, destaque para os meias Edwin Cardona e Sherman Cardenas que foram os condutores durante a campanha. O ponto fraco do time é a seca de gols de seus centroavantes, o veterano Juan Pablo Angel e Jefferson Duque seguem virgens no torneio. Santiago Trellez é mais cotado para assumir a titularidade no comando do ataque frente ao galo.


O Defensor Sporting é outra grata surpresa desta edição da Libertadores. O quadro do Parque Rodó de Montevideu,  liderou o duríssimo grupo 5, deixando para trás os favoritos Cruzeiro e La U de Chile. Comandados por Fernando Curutchet, um especialista em revelar jogadores no Uruguai, o conjunto Violeta se destacou pela força de sua defesa e o forte compromisso coletivo com duas linhas bem próximas e agressivas na recuperação da posse de bola. Taticamente no 4-4-1-1, o Defensor Sporting tem como grande destaque a dupla Giorgian de Arrascaeta e Felipe Gedoz.  Jovens, rápidos e imprevisíveis,  Gedoz e De Arrascaeta  já foram sondados por grandes clubes europeus. Para o confronto contra os bolivianos, o experiente Nico Oliveira - de passagem pela seleção celeste e futebol europeu - deverá aportar seu faro goleador ao lado de Matias Alonso.

O The Strongest chega as oitavas graças ao  fator altitude. Foram 3 vitorias contra Atlético Paranaense, Vélez Sarsfield e Universitário de Lima atuando  a 3.600 metros acima do nível do mar no estádio Hernando Siles de La Paz. As vitórias como local compensaram a fraca campanha como visitante - apenas um empate frente aos peruanos com gol no último minuto. Armado por Eduardo Villegas no 4-4-1-1, o The Strongest tem como forte a saída rápida pelos flancos com Nelvin Soliz e Daniel Chavez. Os meias Alejandro Chumacero e Pablo Escobar, com passagens pelo futebol brasileiro, são os condutores do time e responsáveis pelas bolas paradas. O colombiano Jair Reynoso é a referência do ataque.


O Grêmio tem a segunda melhor campanha geral, liderando com sobras o grupo da morte com 14 pontos. Com a lesão de Zé Roberto, Enderson Moreira encontrou no 4-4-1-1 o seu sistema ideal. O Grêmio sofreu apenas 1 gol na primeira fase em função do planejamento tático conservador e  eficiente. Destaque para o grande compromisso da segunda linha de marcação composta por Ramiro e Edinho a frente da zaga, além de Dudu e Riveros como meias extremos. Os jovens Wendell e Luan fizeram uma grande primeira fase. O lateral-esquerdo Wendell é um promissor lateral esquerdo que soube frear Maxi Rodriguez e Edwin Cardona, além de subir ao ataque com bastante critério.  Luan foi a grande válvula de escape nos contra-ataques. Apesar da acachapante derrota na final do estadual para o Internacional, o imortal tricolor vem forte para o confronto contra o atual campeão argentino.

O San Lorenzo tem na Libertadores uma verdadeira obsessão. O conjunto azulgrana é o único grande do país a nunca ter vencido o principal torneio do Continente. Juan Antônio Pizzi, que dirigiu o time no título do Torneio Inicial 2013, foi para o Valência  as vésperas da Libertadores. Edgardo Bauza foi o escolhido para assumir o time em função da experiência como comandante do título da LDU em 2008. Taticamente, o San Lorenzo passou a atuar no 4-2-2-2 com dois laterais de grande projeção ao ataque - Julio Buffarini e Emmanuel Mas - dois volantes pegadores - Pichi Mercier e Ortigoza - e dois meias/armadores pelos flancos - o ídolo Leandro Romagnoli e o desequilibrante Ignacio Piatti. A dupla de ataque é composta pelo rápido e jovem, Angel Correa e o centroavante Mauro Mattos. A campanha na primeira fase foi cheia de sobressaltos. Foram 8 pontos com 2 vitorias, 2 empates e 2 derrotas no grupo 2. A classificação foi dramática com o gol de Ignacio Piatti aos 44 do segundo tempo no último jogo frente ao Botafogo.


O Cruzeiro fez uma primeira fase decepcionante. Conseguiu a classificação com uma importante recuperação na reta final com vitórias contundentes frente a La U e Real Garcilazo. Atuações que lembraram aquele time intenso e ofensivo do segundo semestre do ano passado. O sitema tático é o 4-2-3-1,  com a já característica grande rotação do quarteto ofensivo. Julio Baptista foi o grande destaque como referencia na área, se movimentando e trocando de posições com o tridente Ricardo Goulart, Everton Ribeiro e Dagoberto.

O Cerro Porteño de  Francisco "Chique" Arce será um duríssimo rival para o Cruzeiro. Armado no 4-4-1-1 tipicamente guaraní, o Ciclón paraguaio possui um time organizado e  aguerrido. Conta no elenco com jogadores com passagens pela seleção, caso do lateral direito Carlos Bonet e do experiente volante Julio dos Santos - artilheiro da primeira fase com 5 gols . Destaque para os meias extremos, Oscar Romero e o uruguaio Matias Corujo - vice com o Peñarol em 2011 - que são os responsáveis por puxar os contra-ataques. A dupla de ataque é formada por Angel Romero e o espanhol Dani Güiza - campeão da Eurocopa 2008 com a Fúria de Luis Aragonés. O Cerro Porteño foi o líder do parelho Grupo 3 com 10 pontos.


O Lanús de Guillermo Barros Schelloto demorou a pegar no tranco, com apenas 1 ponto conquistado nos primeiros 3 jogos. Não fosse os milagres de Agustin Marchesin - melhor goleiro argentino da atualidade - o atual campeão da Copa Sulamericana estaria eliminado precocemente. O conjunto granate  joga no 4-3-3,  com Araújo, Goltz, Izquierdoz e Maxi Velazquez na linha defensiva. O tridente de meio de campo conta com Leandro Somoza como primeiro volante e a dupla Diego Gonzalez e Victor Ayala como armadores. No ataque, os ponteiros Junior Benitez e Lautaro Acosta acompanham o insano Santiago Silva, o popular El Tanque, suspenso para a primeira partida por insultar o arbitro brasileiro Wilton Sampaio no empate frente ao O'Higgins.

O Santos Laguna passou sem sobressaltos como líder do Grupo 8 , com 13 pontos e uma única derrota frente ao Arsenal  na ultima rodada, quando utilizou o seu time reserva. O treinador português, Pedro Caixinha, escala o conjunto mexicano no 4-2-2-2, explorando a velocidade dos pontas colombianos, Darwin Quintero e Andrés Renteria. O destaque do time é o centroavante Oribe Peralta, titular absoluto da seleção mexicana e carrasco brasileiro na final Olímpica em Londres. O veterano goleiro Oswaldo Sanchez, semifinalista em 2006 com o Chivas Gualajara e titular mexicano na Copa da Alemanha, é outra peça importante do quadro azteca.


A histórica campanha do Bolívar no duríssimo grupo 7 deve-se a chegada de Xabier Azkargota. O treinador vasco é um ídolo nacional; sob seu comando a Bolívia se classificou para o mundial de 1994 com o inspirado . Azkargota assumiu o comando de La Academia boliviana apenas na terceira rodada, quando o conjunto inca  ainda amargava a lanterna do grupo. Logo na estreia, um mais do que  surpreendente empate no Maracanã frente ao Flamengo por 2 a 2. No returno, foram  3 vitorias frente a Flamengo Emelec e León que fizeram do Bolívar o líder do grupo com 11 pontos. Taticamente, o Bolívar atua  no 3-4-2-1, que varia para ao 5-4-1 com os  alas Yacerotte e  Juan Carlos Capdevilla voltando para formar uma linha de 5 defensores ao lado do tridente de zagueiros - Lorgio Alvarez, Nelson Cabrera e Luiz Gutierrez. Destaque para o tridente ofensivo composto pelo espanhol Juanmi Callejon e o ex-corintiano Juan Carlos Arce; ambos caem pelos flancos, servindo o centroavante uruguaio Willian Ferreyra.

O León tem um dos melhores times da Libertadores, como pudemos acompanhar na contundente vitória sobre o Flamengo em pleno Maracanã. No entanto, o conjunto mexicano falhou justamente no confronto direto contra o Bolívar. No México perdeu em casa por 1 a 0, além do empate em La Paz por 1 a 1, quando foi superior e teve um pênalti desperdiçado pelo capitão Rafa Marquez. O ofensivo campeão mexicano é escalado pelo uruguaio Gustavo Matosas  no 4-3-3. Magallon, Rafa Marquez, Ignacio Gonzalez e Edwin Hernandez formam a linha defensiva. O meio de campo tem José Juan Vazquez como único volante de contenção, dando liberdade para os excelentes armadores Carlos "Gullit" Peña e Luis Montes - ambos estarão na Copa do Mundo com a seleção mexicana. O ataque conta com os ponteiros Elias Hernandez na esquerda e o colombiano Javier Alizaga pela esquerda. O centroavante é o argentino Mauro Boselli, carrasco cruzeirense na Final da Libertadores de 2009 quando defendia as cores do Estudiantes de La Plata.

Por Felipe Bigliazzi