O jogo aconteceu em Macaé, mas a gíria que o classifica é
bem gaúcha: foi um baita jogo. Pra quem não entendeu, a expressão exalta o alto
nível técnico da partida entre dois postulantes a título no Brasileirão. Os
números da posse de bola (49% para o Flu e 51% do Inter) e o número de
finalizações (8 contra 6, sendo 3 certas para cada lado) mostram todo o equilíbrio
do primeiro tempo entre Fluminense e Internacional.
A ideia do Inter era explorar os contra-ataques, sem,
entretanto, abdicar da boa troca de passes que tem sido a marca do time de Abel
Braga no Brasileirão.
Já o embalado Tricolor das Laranjeiras tinha o mando de
campo, por isso era a equipe que tinha o ímpeto dentro da partida. O Flu veio
num 4-4-1-1, com Conca e Chiquinho abertos pelas pontas e Rafael Sóbis com
liberdade total para se movimentar. Ele tinha total liberdade de movimentação,
abrindo pelas duas pontas, além de compor o ataque com Walter quando
necessário. A movimentação de Sóbis, entretanto, era monitorada de perto pelos
defensores Colorados, que atuaram em uma consistente marcação por zona.
Com
Chiquinho discreto, a principal jogada do Flu era pelo lado esquerdo,
principalmente nas subidas simultâneas de Carlinhos e Jean, assessoradas por Dario
Conca. Para que não sobrasse um jogador no setor ofensivo, Jorge Henrique –
originalmente um ponta-direita – recuava até a lateral-direita para não deixar
o jovem Claudio Winck no mano-a-mano com os adversários.
Para suprir a ausência dos titulares Alex e Aranguiz, Abel
Braga “sacrificou” D´Alessandro, tirando-o da tradicional zona ofensiva e colocando
o Argentino mais recuado, sendo a principal referência na criação das jogadas.
Na frente, Jorge Henrique e Alan Patrick atuavam abertos pelos lados, mas
voltavam a todo o momento. Era clara a intenção do Inter de jogar fechado e
atuar nos contra-ataques. No começo da partida, o time tinha muitas
dificuldades em fazer a saída de jogo, já que o Fluminense exercia
marcação-pressão para cima do adversário. Winck não encostava em Ernando, e o
zagueiro era obrigado a fazer a ligação-direta.
O problema foi resolvido por
volta dos 20 minutos, quando Wellington recuou um pouco e passou a encostar em
Willians para auxiliar nessa saída de bola. E – coincidência ou não – foi justamente
aos 21 que o Inter abriu o placar.
O gol nasceu em um contra-ataque muito bem articulado por Alan
Patrick. Ele deixou a sua posição inicial (p.i) e recuou para o centro do
gramado, lançando a bola no vão entre os dois zagueiros do Fluminense, que
encontravam-se fora de posição. Jorge Henrique – a aposta de Abel – se projetou
no espaço e deu um toque talhado no canto do goleiro Diego Cavalieri, que nada
pôde fazer.
Heatmap de D´Ale: meia praticamente não entrou na área. |
O empate – justo pelo que o Tricolor fez na partida – nasceu
através de uma irregularidade. Aos 31, Chiquinho lançou pelo lado esquerdo,
Rafael Sóbis, impedido, escorou para Jean, que se projetou e arrematou no canto
de Dida. Detalhe: os jogadores do Inter não acompanharam a movimentação de
Jean.
Heatmap de Jean: projeção do volante confundiu marcação Colorada.
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1º tempo: Fluminense ataca, Inter se defende.
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O segundo tempo foi de domínio do Internacional. Com 8
finalizações contra apenas duas do Fluminense, o Inter comandou as ações desde
o início da etapa final. A principal vantagem Colorada era o meio-campo. Com um
meio compacto e de rápida transição defesa-ataque, o time de Abel Braga não deu
espaço nenhum para o Tricolor Carioca. Wellington passou a vigiar de perto
Conca, que não apareceu mais. Sem a inspiração do Argentino, o Flu teve grande
dificuldade na criação. O Inter também passou a pressionar a saída de bola do
adversário com os seus homens de frente, fazendo com que a defensiva Tricolor
passasse a utilizar a ligação direta.
A combatividade do Inter cresceu com a intensa movimentação
de Wellington Paulista. Por vezes, o atacante deixava a área e se revezava com
os companheiros de meio, deixando Jorge Henrique como o falso-9 e confundindo a
defensiva do Fluminense. As trocas de Abel surtiram efeito, já que os jovens
Valdívia e Sasha trouxeram intensa movimentação à equipe. Os dois, entretanto,
foram os responsáveis por desperdiçar três chances claras de gol. O Colorado
criou, mas não conseguiu converter as suas chances para vencer a partida.
Heatmap de Wellington Paulista: atacante caiu pelos lados no 2º tempo.
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Se o Inter cresceu na segunda etapa, o Fluminense foi
justamente o contrário. Cansado, o time não apresentou o mesmo rendimento da
etapa inicial. Cristóvão Borges tentou substituir a sua equipe, mas os jovens
das Laranjeiras entraram mal na partida e acentuaram a queda de produção da
equipe.
2º tempo: Inter preenche o meio e vai pra cima. Flu desorganiza e recua.
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Por Mateus Kerr (@mateuskerr)