Sim,
a partida não valia nada, mas a Espanha jogou da maneira que encantou a todos. Maior
posse de bola (54,40%), maior número de passes do que seu adversário (531
contra 347 para a Austrália), inúmeras infiltrações e ultrapassagens, busca constante
do triângulo ofensivo, pressão constante no adversário com a bola, mudança do
lado do ataque enquanto o mesmo é realizado, realização de linha alta de
impedimento e transição defesa-ataque realizada através de passes curtos. E,
depois de duas derrotas, essa maneira espanhola de jogar venceu uma partida na
Copa do Mundo de 2014: Austrália 0 x 3 Espanha. Para este placar ter sido
construído, a seleção da Oceania começou no 4-2-3-1 e Espanha no 4-3-3:
Austrália
no 4-2-3-1 e Espanha no 4-3-3.
No começo da partida, a Austrália, assim como fizeram a Holanda e o
Chile, quis surpreender a seleção espanhola. A seleção da Oceania realizou
marcação pressão desde a saída de bola, a equipe toda buscava a compactação em
campo ofensivo e com alta intensidade de marcação. Através deste “abafa” no
início, a Austrália conseguiu a sua única finalização ao gol de Pepe Reina no
primeiro tempo, aos 4 minutos de partida. Depois dessa pressão australiana, a
Espanha passou a ditar o ritmo do jogo.
Flagrante
da Austrália já posicionada em campo ofensivo no tiro de meta espanhol. Perceba
que Leckie, Taggart e Oar subiram tanto que Pepe Reina fez sinal para que seus
defensores subissem e o time abdicasse de sair jogando desde o tiro de meta.
Essa pressão australiana incomodou o início de partida espanhola.
A
Espanha começou a entrar no jogo, quando os seus meias –Iniesta e Koke-
passaram a achar os espaços vazios no campo. Uma vez que Leckie e Oar não
cobriam tanto os seus setores defensivamente, assim como mostrou o flagrante
anterior, Iniesta e Koke passaram a se movimentar em toda a região entre estes
meias australianos e os laterais adversários. Entretanto o completo domínio
espanhol no primeiro tempo só não foi realizado devido à péssima atuação tática
de David Villa. Sim, ele fez o primeiro gol da partida, mas não fez nenhuma vez
a movimentação tática correta da posição.
David
Villa, durante todo o primeiro tempo, só marcou McGowan –lateral-direito da
Austrália. E só. Quando a seleção da Oceania estava com a bola no seu lado
esquerdo, David Villa grudava em McGowan e deixava de balançar defensivamente.
Sem este balanço, abria-se um rombo enorme no sistema defensivo espanhol entre
este atacante e Iniesta. Veja no flagrante a seguir o que a falta do balanço
defensivo de David Villa causava:
Sem
David Villa balançando de acordo com o lado da bola, Jedinak e Leckie tinham
muito espaço para saírem jogando no setor. Bastava ou Jedinak se projetar ou
Leckie recuar para que a Austrália conseguisse sair jogando entre Iniesta e
David Villa.
Com
a Austrália tendo uma válvula de escape, a Espanha não dominou por completo a
primeira etapa e só terminou os primeiros 45 minutos vencendo por 1 x 0. No
intervalo, Ange Postecoglu, técnico da Austrália, colocou o meia Halloran no
lugar do centroavante Taggart. Com esta substituição, a seleção australiana
empurrou Leckie para a referência do ataque, e fez com que a movimentação na
meia direita aumentasse e, assim, explorando ainda mais a deficiência de David
Villa para compor o setor defensivamente.
Com
ainda mais movimentação da Austrália no setor direito e com a seleção
australiana só transitando ao ataque a partir deste setor, Vicente Del Bosque –técnico
da Espanha- colocou Juan Mata no lugar de David Villa. Através desta
substituição, Del Bosque tapou o buraco do seu sistema defensivo e a Espanha
dominou por completo a partida desde então.
A
maior posse de bola (54,40%), maior número de passes do que seu adversário (531
contra 347 para a Austrália), as inúmeras infiltrações e ultrapassagens, a busca
constante do triângulo ofensivo, a pressão constante no adversário com a bola,
a mudança do lado do ataque enquanto o mesmo é realizado (16), a realização de
linha alta de impedimento e a transição defesa-ataque realizada através de
passes curtos saltaram os olhos de todos na Arena da Baixada.
Tal
domínio espanhol passou a ser regido pela única peça catalã de origem em campo,
Andrés Iniesta. Este jogador passou a fazer a diferença através da sua precisão
no passe (77 passes corretos, sendo o jogador que mais acertou este fundamento
na partida) e na qualidade do passe, assim como na assistência do segundo gol
da partida.
Além
do aumento de produção de Iniesta, as substituições de Vicente Del Bosque
também colaboraram para que a Espanha aumentasse o seu domínio em campo e
praticasse o futebol que encantou o mundo. Cesc Fabregas e Juan Mata aumentaram
e modificaram a dinâmica do meio de campo espanhol. Com estes dois jogadores,
Fabregas e Koke passaram a alterar de posição em diversos momentos da partida,
e Juan Mata partia da ponta esquerda e se movimentava por toda intermediária
ofensiva. Através desta movimentação, Andrés Iniesta passou a ter todo o espaço
que mais gosta e tem no Barcelona: o lado esquerdo ofensivo.
Com
Juan Mata, Iniesta passou a se projeta e se movimentar pelo lado esquerdo do
seu ataque. O mesmo setor onde ele atua e gosta de jogar no Barcelona. Como era
o único representante catalão de origem em campo, Iniesta passou a reger a
orquestra espanhola através do modo de jogo de seu clube.
Aos
38 do segundo tempo, David Silva entrou no lugar de Xabi Alonso e a Espanha
voltou a usar o 4-2-3-1 da partida contra o Chile, na segunda rodada do Grupo
B. Porém, a Austrália não conseguiu sequer fazer o seu jogo e muito menos
realizar algo como o Chile e a Holanda fizeram com a Espanha. Fim de partida e
fim da participação das duas seleções na Copa: Austrália 0 x 3 Espanha.
Fim
de jogo: Austrália e Espanha no 4-2-3-1.
Por Caio Gondo (@CaioGondo)