segunda-feira, 23 de junho de 2014

No jogo que ninguém viu, a Espanha foi a seleção que todos queriam ver

Sim, a partida não valia nada, mas a Espanha jogou da maneira que encantou a todos. Maior posse de bola (54,40%), maior número de passes do que seu adversário (531 contra 347 para a Austrália), inúmeras infiltrações e ultrapassagens, busca constante do triângulo ofensivo, pressão constante no adversário com a bola, mudança do lado do ataque enquanto o mesmo é realizado, realização de linha alta de impedimento e transição defesa-ataque realizada através de passes curtos. E, depois de duas derrotas, essa maneira espanhola de jogar venceu uma partida na Copa do Mundo de 2014: Austrália 0 x 3 Espanha. Para este placar ter sido construído, a seleção da Oceania começou no 4-2-3-1 e Espanha no 4-3-3:

Austrália no 4-2-3-1 e Espanha no 4-3-3.

   No começo da partida, a Austrália, assim como fizeram a Holanda e o Chile, quis surpreender a seleção espanhola. A seleção da Oceania realizou marcação pressão desde a saída de bola, a equipe toda buscava a compactação em campo ofensivo e com alta intensidade de marcação. Através deste “abafa” no início, a Austrália conseguiu a sua única finalização ao gol de Pepe Reina no primeiro tempo, aos 4 minutos de partida. Depois dessa pressão australiana, a Espanha passou a ditar o ritmo do jogo.


Flagrante da Austrália já posicionada em campo ofensivo no tiro de meta espanhol. Perceba que Leckie, Taggart e Oar subiram tanto que Pepe Reina fez sinal para que seus defensores subissem e o time abdicasse de sair jogando desde o tiro de meta. Essa pressão australiana incomodou o início de partida espanhola.

A Espanha começou a entrar no jogo, quando os seus meias –Iniesta e Koke- passaram a achar os espaços vazios no campo. Uma vez que Leckie e Oar não cobriam tanto os seus setores defensivamente, assim como mostrou o flagrante anterior, Iniesta e Koke passaram a se movimentar em toda a região entre estes meias australianos e os laterais adversários. Entretanto o completo domínio espanhol no primeiro tempo só não foi realizado devido à péssima atuação tática de David Villa. Sim, ele fez o primeiro gol da partida, mas não fez nenhuma vez a movimentação tática correta da posição.

David Villa, durante todo o primeiro tempo, só marcou McGowan –lateral-direito da Austrália. E só. Quando a seleção da Oceania estava com a bola no seu lado esquerdo, David Villa grudava em McGowan e deixava de balançar defensivamente. Sem este balanço, abria-se um rombo enorme no sistema defensivo espanhol entre este atacante e Iniesta. Veja no flagrante a seguir o que a falta do balanço defensivo de David Villa causava:

Sem David Villa balançando de acordo com o lado da bola, Jedinak e Leckie tinham muito espaço para saírem jogando no setor. Bastava ou Jedinak se projetar ou Leckie recuar para que a Austrália conseguisse sair jogando entre Iniesta e David Villa.

Com a Austrália tendo uma válvula de escape, a Espanha não dominou por completo a primeira etapa e só terminou os primeiros 45 minutos vencendo por 1 x 0. No intervalo, Ange Postecoglu, técnico da Austrália, colocou o meia Halloran no lugar do centroavante Taggart. Com esta substituição, a seleção australiana empurrou Leckie para a referência do ataque, e fez com que a movimentação na meia direita aumentasse e, assim, explorando ainda mais a deficiência de David Villa para compor o setor defensivamente.

Com ainda mais movimentação da Austrália no setor direito e com a seleção australiana só transitando ao ataque a partir deste setor, Vicente Del Bosque –técnico da Espanha- colocou Juan Mata no lugar de David Villa. Através desta substituição, Del Bosque tapou o buraco do seu sistema defensivo e a Espanha dominou por completo a partida desde então.

A maior posse de bola (54,40%), maior número de passes do que seu adversário (531 contra 347 para a Austrália), as inúmeras infiltrações e ultrapassagens, a busca constante do triângulo ofensivo, a pressão constante no adversário com a bola, a mudança do lado do ataque enquanto o mesmo é realizado (16), a realização de linha alta de impedimento e a transição defesa-ataque realizada através de passes curtos saltaram os olhos de todos na Arena da Baixada.

Tal domínio espanhol passou a ser regido pela única peça catalã de origem em campo, Andrés Iniesta. Este jogador passou a fazer a diferença através da sua precisão no passe (77 passes corretos, sendo o jogador que mais acertou este fundamento na partida) e na qualidade do passe, assim como na assistência do segundo gol da partida.

Além do aumento de produção de Iniesta, as substituições de Vicente Del Bosque também colaboraram para que a Espanha aumentasse o seu domínio em campo e praticasse o futebol que encantou o mundo. Cesc Fabregas e Juan Mata aumentaram e modificaram a dinâmica do meio de campo espanhol. Com estes dois jogadores, Fabregas e Koke passaram a alterar de posição em diversos momentos da partida, e Juan Mata partia da ponta esquerda e se movimentava por toda intermediária ofensiva. Através desta movimentação, Andrés Iniesta passou a ter todo o espaço que mais gosta e tem no Barcelona: o lado esquerdo ofensivo.

Com Juan Mata, Iniesta passou a se projeta e se movimentar pelo lado esquerdo do seu ataque. O mesmo setor onde ele atua e gosta de jogar no Barcelona. Como era o único representante catalão de origem em campo, Iniesta passou a reger a orquestra espanhola através do modo de jogo de seu clube.

Aos 38 do segundo tempo, David Silva entrou no lugar de Xabi Alonso e a Espanha voltou a usar o 4-2-3-1 da partida contra o Chile, na segunda rodada do Grupo B. Porém, a Austrália não conseguiu sequer fazer o seu jogo e muito menos realizar algo como o Chile e a Holanda fizeram com a Espanha. Fim de partida e fim da participação das duas seleções na Copa: Austrália 0 x 3 Espanha.

Fim de jogo: Austrália e Espanha no 4-2-3-1.

Por Caio Gondo (@CaioGondo)