Possuir
um grande craque no time, uma referência técnica indiscutível, cria um velho
dilema enfrentado pelos treinadores: é melhor o craque ser tratado com
igualdade dentro de campo ou o time jogar para o craque? Parece um
questionamento óbvio, mas não é. Aliás, muitas vezes, a resposta desse
questionamento acaba definindo desenhos táticos e estratégias. Em 1986, Carlos
Salvador Bilardo teve dificuldades para fazer Maradona aflorar seu melhor
futebol. Acabou preferindo que seu time jogasse para o craque e Maradona
decidiu a Copa com gols e passes geniais.
Com a extinção dos pontas na transição do 4-3-3 para
o 4-4-2 que iniciou-se no final da década de 70, não existia mais necessidade
de manter os laterais presos à linha defensiva. Teoricamente, não havia quem ser
marcado no setor. A partir daí, Bilardo desenvolveu um novo sistema tático, que
revolucionou o futebol mundial no final da década de 80 e no início dos anos
90. E a motivação do sistema, além do que foi descrito no início do parágrafo, era
uma obsessão quase torturante de otimizar o talento genial de Diego Maradona
que Bilardo tinha.
Como
bem explicado por Júnior Marques (link abaixo), “o “Bilardismo” consistia em
organizar a equipe do meio para trás, atentando-se no sistema defensivo e na
marcação “homem a homem”. As equipes de Bilardo eram conhecidas por jogarem no
erro adversário, muitas vezes arriscando-se na postura acuada e contra golpista”.
Mas, por ter Maradona,
Bilardo mudou seus conceitos e sua equipe, deixando Dieguito e Valdano livres
para comandar em velocidade a transição ofensiva ao retomar a pelota.
No dilema do gênio, Carlos Bilardo resolveu montar o
time para o craque. Como bem descrito por Cecconi (link abaixo), “no 3-5-2 da Argentina, Bilardo se dava ao
luxo de manter sete jogadores defendendo, pela presença de Maradona. Em grande
fase, o camisa 10 foi utilizado como um segundo atacante livre para se
movimentar, ocupar espaços, driblar e levar o time para a frente”. Podemos
dizer que nas eliminatórias e no início da Copa, Bilardo tentou tratar Maradona
como mais um, mas foi inevitável montar a equipe em sua volta.
Mas, e Sabella? Como sabido, Bilardo foi quem indicou o treinador para a
AFA. “El Narigón” (apelido de
Bilardo) teve participação incisiva na contratação do atual comandante da
Albiceleste. E parece que o novo técnico da seleção nacional, outro
estrategista, aprendeu bem a lição tática com o professor Bilardo. Após a
Argentina demonstrar fragilidade absurda na defesa nas passagens de Maradona e
Batista, além da dificuldade de melhorar o desempenho de Messi, Sabella tratou
de pensar numa saída tática.
Não enxergando consistência, se valendo do 4-2-3-1, Sabella passou a
utilizar, nos jogos mais difíceis, um 4-4-1-1 consistente defensivamente e que
privilegiava o talento descomunal de Messi. Tudo indicava, até pelas boas
atuações do craque com o time no referido esquema, que o 4-4-1-1 seria o
desenho tático do mundial. Entretanto, as boas atuações de Di Maria como
terceiro homem de meio pela esquerda no Real Madrid e a queda técnica de Messi
após a última contusão séria foram remodelando a equipe em um híbrido
4-3-1-2/4-3-3, como bem classifica André Rocha.
Mapa de movimentação de Messi na primeira partida
contra a Bósnia (fonte: Olho Tático, ESPN, link abaixo): distante do gol e
abaixo da expectativa jogando a primeira etapa como atacante.
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O
time argentino se mostra frágil e com pouca capacidade de fazer volume de jogo
ofensivo. Com laterais limitados, volantes mais afeitos à marcação e homens de
frente que gostam de jogar na área como Agüero e Higuaín, a seleção argentina
vem pecando pela falta de opções e de profundidade. Quando Messi e Di María
ficam sem espaço, o jogo argentino trava e a equipe passa a depender de
lançamentos imprecisos. Parece que a opção de montar a equipe em torno da
genialidade não é uma faculdade, mas talvez a única saída de Sabella para
colocar seu time entre os melhores.
Abaixo,
uma sugestão da A Prancheta Tática para o comandante argentino: a volta do
4-4-1-1 com Di María a Lavezzi abertos pelas beiradas e Messi solto para
circular mais e receber a bola mais perto do gol. Além de aproximar o craque de
todos os setores e equilibrar as ações ofensivas, as linhas de quatro agrupadas
podem dar mais segurança ao miolo defensivo que costuma oferecer muito espaço.
Abraço!
Referências da internet:
http://globoesporte.globo.com/platb/olhotatico/2010/10/30/o-dia-em-que-o-mundo-se-rendeu-a-maradona/
Livro
“Inverting the Pyramid” - Jonathan
Wilson
Livro
“Asi Ganamos” – Carlos Salvador Bilardo
Por Victor Oliveira (@vlamhaoliveira)