Moacir
Júnior é uma espécie de Celso Roth do futebol mineiro. Há tempos, ele vem
rodando entre os clubes do interior do estado e armando suas retrancas. Adora
três volantes. Sua variação preferida é um 3-5-2 retrógrado e a compensação
tática de prender um lateral e soltar o outro é uma marca registrada.
Acompanhei de perto os trabalhos de Moacir no Tupi e não me surpreendeu sua
opção tática. Para fechar o meio, sacou o meia ofensivo Tchô e colocou o
volante Thiago Santos. Mas, a trinca de volantes não significou segurança
defensiva, muito menos privilegiou o ataque.
Também
não privilegiou a maior qualidade técnica da sua equipe, apesar das chances
desperdiçadas. O América de Natal foi a campo desfalcado e armado também em um
4-3-1-2, afinal jogava contra uma das forças da Série B. O técnico Oliveira
Canindé apostava suas fichas na movimentação obsessiva de Pimpão, que atuou
como um legítimo segundo atacante da era do 4-2-2-2. Com seis volantes e muito
espaço, assim se desenhou a partida taticamente na etapa inicial:
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As duas equipes atuaram no 4-3-1-2,
porém com dinâmicas ofensivas diferentes. O Mecão apostava na movimentação de
Pimpão que circulava por todo o ataque. Por vezes os atacantes abriam para a
inserção do meia e os volantes alargavam para jogar com os laterais,
principalmente Fabinho. No Coelho, Mancini procurava a direita para jogar com
Pablo, Willians se movimentava e Girotto ganhava o meio para distribuir o jogo.
Guerreiro e Thiago Santos jogavam mais fixos e a defesa ainda tinha a ajuda de
Gilson, mais preso para que Pablo avançasse ao ataque.
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Como citado acima, os atacantes
alargando para a infiltração do enganche, com Fabinho saindo da trinca de
volantes para dar o passe e auxiliar a criação. Percebam a sobra de espaço pelo
campo e as equipes totalmente espaçadas.
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Percebam os efeitos nocivos da
descompactação dos setores. Pimpão sai do ataque e atrai dois dos três
volantes. O gol do América de Natal começou dessa forma, com Pimpão recuando e
tentando a tabela com Alfredo, atacante posicionado na direita. A bola vai
acabar espirrando para o veloz Marcelinho, que vai aproveitar a avenida e
cruzar para o próprio Pimpão marcar. Tantos volantes, nove homens atrás da
linha da bola e uma clareira na intermediária.
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Na segunda etapa, Moacir iniciou
prendendo Leandro Guerreiro quase como um terceiro zagueiro, o que transformou
os laterais em alas. Pablo se tornou quase um ponteiro e encontrou muito espaço
pelo setor. Acuado e sem qualquer inspiração, o América RN não conseguia reter
a bola no ataque, talvez sentindo a falta de Max. A válvula de escape do time
da casa era a dobradinha Marcelinho e Pimpão pela direita, sendo que o atacante
cansou na segunda etapa e acabou substituído.
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O América MG teve várias oportunidades
na segunda etapa, mas esbarrou em outra grande atuação de Fernando Henrique. A
esquerda da defesa do América de Natal foi uma avenida por onde Pablo trafegou
com liberdade. Numericamente as equipes estão iguais, mas todos os jogadores do
Coelho estão livres para trabalhar a jogada que quase resultou em gol. Seu
final será ilustrado na imagem abaixo.
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A jogada se desenrola e Obina consegue
dar o passe para Willians, completamente livre, chutar forte, obrigando
Fernando Henrique a fazer grande defesa. O Mecão tinha 5 jogadores contra
apenas 3 do Coelho, mas as falhas gritantes de posicionamento proporcionaram
várias chances para o rival, que mesmo com poucos homens no ataque encontrava
espaço suficiente para finalizar.
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Moacir Júnior colocou Tchô na vaga de
Thiago Santos e liberou Pablo como ponteiro, prendendo Leandro Guerreiro e
Gilson para fazer o balanço defensivo. O América de Natal recuou e se limitou a
contragolpes mal articulados. Depois que Pimpão foi substituído por cansaço, a
movimentação ofensiva do América RN ficou comprometida.
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A última cartada de Moacir foi sacar
Willians e colocar Júnior Lemos que foi alocado na lateral direita. Pablo virou
uma espécie de coringa pelo meio e Júnior Negão entrou no lugar de Mancini para
aumentar a presença de área. Desorganizado em uma espécie de 4-2-2-2 torto, o
Coelho não conseguiu chegar ao empate. Em nenhum momento vimos a equipe de
Moacir Júnior ajustada em um sistema de linhas definidos.
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Muitas
pessoas falam sobre as mudanças táticas que o nosso futebol necessita, mas só
acompanham a Série A e o futebol europeu. Quando assistimos jogos da Série B e
da Série C, encontramos um nível de desorganização tática alarmante.
Ressalvadas as exceções, percebemos pouca organização, falhas gritantes de
posicionamento e pouco apego tático aos preceitos do novo futebol, marcado pela
intensidade constante nas transições. O excesso de volantes e de espaço, além
da descompactação entre os setores, desenha bem a gravidade da situação.
Duas
equipes postadas no 4-3-1-2 de forma óbvia, engessada e arcaica, com nuances
ofensivas de pouco destaque. Válvulas de escape pelas laterais e meias mais
atacantes do que organizadores, carência técnica que estamos passando há um bom
tempo. Existem exceções e estudiosos, como Ricardo Drubscky, que hoje treina o
Goiás. Quando passou pelo Tupi-MG, na Série D de 2011, levou a modesta equipe
ao título inédito se valendo de um 4-2-3-1 moderno, definido estrategicamente e
compacto. Seu trabalho foi o único diferenciado que consegui vislumbrar em
décadas acompanhando o Galo de Juiz de Fora. Abraço!
Por Victor Lamha de Oliveira
(@vlamhadeoliveira)