Na
segunda semifinal da Copa do Mundo de 2014, Holanda e Argentina apresentaram
nada mais do que apresentaram durante todo torneio mundial. Enquanto a seleção europeia
se modifica de acordo com as peças adversárias, a sul-americana se organiza
para que o seu maior craque se destaque. Para o resultado onde o sonho portenho
e o pesadelo brasileiro ainda se mantiveram possíveis, a Holanda começou no
3-1-4-2 e a Argentina no 4-2-3-1:
Holanda
no 3-1-4-2 e Argentina no 4-2-3-1.
Assim
como foi dito anteriormente, a Holanda se modificou para jogar esta semifinal
contra a Argentina. Van Gaal começou com o volante De Jong no lugar de Depay.
Com esta alteração, a seleção europeia deixou de se defender no 5-4-1 para um
5-3-2 e, invariavelmente, em um 5-1-4-0. Tamanha era a vontade da Holanda em
não tomar gol, que em certos momentos, até mesmo Robben e Van Persie passavam a
fazer parte do sistema defensivo holandês. Mas independentemente do
posicionamento defensivo, a busca de encaixe individual por setor acontecia e
De Jong marcava individualmente Lionel Messi.
Na
imagem, percebe-se o sistema defensivo holandês no 5-1-4-0. Nenhum jogador
subia para pressionar a saída de bola da Argentina, Robben e Van Persie se
alinhavam a Sneijder e Wlinaldum e, ainda, De Jong marcava individualmente
Messi.
Apesar
de estar com a posse da bola, a estrutura do sistema defensivo ainda não havia
se desfeito. Na imagem, o 5-3-2 holandês tendo Clasie –jogador que entrou no
lugar de De Jong- ainda colado em Messi.
Para
que o time de Van Gaal realmente não tomasse gol, a Holanda, assim como toda a
Copa do Mundo, apresentou o seu diferencial e que a fez chegar até a semifinal.
Enquanto os holandeses estão com a posse da bola, eles não se livraram dela
rapidamente, mas sim trabalham com ela. Tanto que, mesmo tendo a Argentina
querendo propor o jogo em cima da reativa Holanda, foram os europeus que
terminaram com mais posse da bola, 52,90%, com mais passes certos realizados
(593) e com mais viradas de jogo corretas (11). Com a posse da bola e viradas
de jogo corretas, as chances de achar um espaço no sistema defensivo argentino
se tornam maiores.
Uma
vez que a Argentina se defendia com duas linhas de quatro, a Holanda conseguiu
ter essa enorme quantidade de viradas de jogo através do seu volante De Jong –ele
realizou 4 das 11 viradas de jogo. Como nem Messi e nem Higuain participava da
situação defensiva da sua equipe, a seleção europeia fez o que quis à frente de
Biglia e Mascherano. Veja na imagem, o sistema defensivo argentino e o espaço
dado à frente dos volantes sul-americanos:
Este
espaço à frente dos volantes foi muito cedido a De Jong ou a Clasie, ao longo
de toda partida. Já que o 4-2-3-1 argentino não se defendia no 4-4-1-1 “tradicional”
para o esquema.
Há
explicação para que o 4-2-3-1 da Argentina não tenha se defendido no 4-4-1-1. Segundo
o que apurou Júnior Marques, especialista tático sobre o futebol argentino,
Mascherano ordenou Messi para que ele ficasse do meio para frente e não
voltasse tanto para marcar. Deste modo, Mascherano fez com que o seu grande
craque só movimentasse para atacar e, assim, se tornou responsável pelo enorme
espaço entre as linhas do meio-de-campo e do ataque portenho. Porém, o camisa 5
da Argentina se bancou dentro de campo para tal.
Javier
Mascherano foi o jogador argentino que mais fez passes certos (69) e o jogador
da partida que mais desarmou (5) e que fez lançamentos certos (6). Tamanha
exibição deste volante argentino que ele conseguiu compensar as falhas defensivas
que Lavezzi, Palacio e Pérez realizaram ao longo do jogo. Estes jogadores que
fizeram as composições pelos lados do meio de campo portenho, em vários
momentos, não balançavam certo defensivamente. Perceba na imagem adiante, os
erros de posicionamento defensivo simultâneos de Lavezzi e de Pérez:
Na
imagem, Lavezzi, como não balançou corretamente para o lado da bola, fez gerar
o espaço vazio 1. Nele, Sneidjer conseguiria ter espaço para fazer o que
quiser, pois Biglia –o jogador argentino mais próximo dele- estava se
movimentando para cobrir o espaço deixado por Mascherano. Já que este saiu para
dar o combate, pois Pérez estava à frente da linha da bola e fez com que Rojo
também se adiantasse para marcar Kuyt. Devido ao erro no posicionamento
defensivo de Pérez, abriu-se o espaço vazio 2.
Como
tanto a Holanda quanto a Argentina iniciavam ativamente a sua marcação próxima
do meio de campo, as duas equipes deixavam os jogadores adversários tocarem o
quanto queriam em campo defensivo. Deste modo e mesmo com as falhas defensivas
das duas seleções, a partida não teve tantas chances de gol quanto poderia.
Para
atenuar um pouco o marasmo do jogo, no intervalo dos 90 minutos, Van Gaal
colocou Janmaat no lugar de Bruno Indi. Com isso, Blind passou a ser o zagueiro
da esquerda, Kuyt o ala esquerdo e Janmaat o da direita. Estas trocas foram
realizadas para explorar ainda mais a deficiência defensiva de Lavezzi, pois
com Kuyt espetando e trazendo consigo a marcação de Lavezzi, o bom lateral
esquerdo Blind passava a ter muito espaço para criar já desde o campo
defensivo.
Blind,
assim como Vlaar, passou a aproveitar os espaços deixados do sistema defensivo
argentino devido ao espetamento de Kuyt e Janmaat. Este espaço gerado pelo
espetamento simultâneo dos alas foi uma das marcas deixada pela Copa do Mundo
2014, quando esquemas com 3 zagueiros atacavam esquemas que se defendiam com
duas linhas de 4.
Mas de pouco adiantou estes espaços vazios deixados pelo sistema
defensivo argentino. Já pelo lado sul-americano, Alejandro Sabella buscou a
renovação de fôlego do seu quarteto ofensivo, ao longo do segundo tempo e da
prorrogação. Os dois primeiros a entrar foram Palacio e Aguero. Além desses
dois novos jogadores, a saída de 3 passou a ser cada vez mais utilizada pela
Argentina. Mascherano recuava entre os zagueiros e, assim, fazia com que os
seus dois laterais subissem e abrisse mais espaço no meio para Messi. Na imagem
a seguir, a saída de 3 da Argentina regida por Mascherano:
Com
Mascherano entre os zagueiros, abria-se mais campo para Messi no meio do campo.
Porém o sistema defensivo holandês, que marcava através de marcação individual
por setor, fechava bem o setor da bola e, ainda, balançava defensivamente de
acordo com o lado da bola. Com estas movimentações defensivas, de pouco
adiantaram a saída de 3 da Argentina e as viradas de jogo de Mascherano. Na
imagem, nota-se o sistema defensivo holandês fechando o setor da bola e
iniciando o balanço defensivo para a sua esquerda, tendo nos traços azuis a representação
das marcações individuais por setor.
Como
nenhuma das trocas realizadas pelos técnicos surtiram algum grande efeito na
partida, tanto os 90 minutos iniciais quanto a prorrogação terminaram em 0 x 0.
Já nos pênaltis e para um possível pesadelo de grande parte dos brasileiros, a
Argentina converteu as suas 4 cobranças e seu goleiro defendeu duas das
cobranças da Holanda. Assim, a Argentina se classificou para a final da Copa do
Mundo sediada no Brasil.
Posicionamento
das equipes no fim da partida: Holanda no 3-1-4-2 e Argentina no 4-2-3-1.
Por Caio Gondo (@CaioGondo)