segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Guia tático dos favoritos para a temporada europeia: Ligue 1

Após uma Copa do Mundo muito interessante do ponto de vista tático – embora os treinadores brasileiros insistam em dizer o contrário –, todos esperam ansiosos pela volta da Champions League e das ligas nacionais do futebol europeu. A Prancheta Tática preparou um guia especial sobre os campeonatos que estão sendo retomados para 2014-15, com análises das pré-temporadas e prognósticos táticos para o início de temporada de cada um dos times favoritos aos principais campeonatos europeus.

Serão analisados os favoritos ao título da Premier League (Inglaterra), da Serie A (Itália), da Bundesliga (Alemanha), de La Liga (Espanha) e da Ligue 1 (França), única dessas ligas que já foi iniciada, com rodada no último final de semana, e a primeira a ser abordada aqui.

Thiago Silva levanta taça de campeão francês de 2013-14 (Thomas Samson/AFP)
A Ligue 1, cujo atual campeão é o todo poderoso Paris Saint-Germain, vem crescendo em importância dentro do futebol europeu e chamando cada vez mais atenção aqui no Brasil, sobretudo pela grande quantidade de jogadores brasileiros, inclusive da Seleção, atuando no país. Além disso, para os amantes da tática dentro do futebol, a Ligue 1 tem um atrativo a mais para 2014-15: Marcelo ‘El Loco’ Bielsa. O mítico argentino é o novo treinador do tradicional Olympique de Marseille, o que é uma razão mais do que suficiente para acompanharmos mais de perto o futebol que se joga na França. Confiram a análise de Monaco, Olympique de Marseille e PSG e os palpites da nossa equipe para o campeão da Ligue 1.


Monaco: o novo rico em busca de afirmação


De volta à Champions League, o Monaco tenta inciar uma sequência de boas temporadas, após ter ido parar até na segunda divisão francesa. Com menos investimento do que em 2013-14, a ideia do clube para 2014-15 é apostar na mudança de mentalidade. A primeira atitude foi a saída de Claudio Ranieri do comando técnico. Apesar do vice-campeonato francês, o italiano é um treinador ultrapassado. Para o seu lugar, foi contratado o francês Leonardo Jardim, que conseguiu levar o Sporting Lisboa de volta à Champions League, o que parecia impossível nos últimos anos.

Problemas pessoais fizeram o dono do Monaco, o russo Dmitry Rybolovev, frear o investimento em contratações que caracterizou a política de mercado do time do Principado na última temporada. Além disso, o clube não conseguiu segurar o craque James Rodríguez, destaque da temporada passada, vendido ao Real Madrid por cerca de 80 milhões de euros trás Copa do Mundo sensacional pela Colombia. O time ainda tenta manter Falcao García, outro craque colombiano que acabou sofrendo lesão grave e perdeu metade da última temporada. Recuperado, Falcao é especulado em vários clubes, mas é possível que permaneça no Stade Louis II.

Para substituir James Rodríguez, Leonardo Jardim tenta uma alternativa dentro do próprio elenco, adiantando o compatriota João Moutinho para a função de meia central do 4-2-3-1. A capacidade de organização do português pode ser melhor aproveitada como segundo volante, mas ele tem visão de jogo suficiente para se dar bem um pouco mais adiantado, como o cara do último passe. A ver se vai ter a intensidade necessária para dar dinâmica aos ataques do time alvirrubro. Em caso de a aposta não dar certo, Jardim tem uma alternativa na manga, que pode não ser a mais moderna, mas é a mais interessante dentro do material humano que o treinador possui. A ideia, que já foi posta em prática no segundo tempo do jogo de estreia da Ligue 1 – derrota em casa para o Lorient –, seria utilizar um 4-4-2, com uma companhia mais próxima a Falcao, que poderia ser de Berbatov ou Germain, e Moutinho voltando a construir o jogo um pouco mais de trás e com maior utilização das jogadas pelos lados, com os pontas e as subidas dos laterais.


Monaco e as duas alternativas de Jardim: 4-2-3-1 mais dinâmico com Moutinho de trequartista, ou 4-4-2 mais pesado no ataque e com maior utilização das pontas

O 4-2-3-1 de Jardim também é interessante na recomposição defensiva, já que suas linhas são próximas umas das outras e o posicionamento delas é médio, não muito recuadas, nem muito adiantadas, encurtando o campo e dificultando a infiltração do adversário.


Arsenal x Monaco: o time do Principado venceu o poderoso Arsenal com linhas compactas que seguraram o ímpeto dos ingleses. Na bola parada, o faro de gol de Falcao Garcia deu a vitória para o Monaco

A grande vantagem de Monaco e Olympique de Marseille na disputa pelo campeonato francês está no banco de reservas. Leonardo Jardim e Marcelo Bielsa são mais técnicos do que Laurent Blanc, do PSG. O time de Paris tem elenco pra ser campeão da Champions League se quiser, mas com um técnico de ideias limitadas que tem dificuldades para encontrar um time, pode acabar ficando até sem a Ligue 1. O Monaco de 2013-14 só não conseguiu alcançar os parisienses porque tinha o mesmo problema na beira do campo. Em 2014-15 pode ser diferente. O time de Jardim larga na frente na caça ao PSG, mas a boa campanha está condicionada à manutenção de Falcao Garcia no Principado.


Olympique de Marseille: força na camisa e ousadia na beira do campo


O tradicionalíssimo Olympique de Marseille tenta esquecer a última temporada. O time foi apenas sexto colocado na Ligue 1, sem conseguir classificação às competições europeias e com participação patética na Champions League, ao ser eliminado na fase de grupos sem um ponto sequer.

Visando modificar o patamar para a nova temporada, a diretoria do time apostou alto no novo comandante técnico. O lendário Marcelo Bielsa será o treinador do time. ‘El Loco’, como é chamado na Argentina, é conhecido por sua ousadia e por armar seus times de maneiras pouco convencionais. É reverenciado e serve de influência para muitos treinadores. O mais badalado da atualidade, Pep Guardiola, já chegou a dizer que Loco Bielsa era o melhor técnico do planeta, em 2012.

O Olympique da pré-temporada e da estreia no campeonato francês já é um time com as características de seu técnico. O esquema preferido de ‘El Loco’, o 3-3-1-3, também está sendo utilizado neste princípio de trabalho na França. Assim como a seleção chilena e o Athletic Bilbao, últimos trabalhos de Bielsa, o Marseille usa de rápida transição quando tem a posse de bola e marcação agressiva, com intenso pressing no adversário quando não tem a bola, inclusive com encaixes de marcação homem a homem em alguns momentos do jogo, como Louis van Gaal utilizou tão bem com a Holanda na Copa do Mundo.


Marseille tem jogado e continuará jogando no característico 3-3-1-3 de Bielsa. Única variação é para o 4-2-3-1, que acontece em momentos oportunos dentro de um jogo durante a recomposição defensiva, com os laterais recuando para a última linha e Romao ou Morel se adiantando para marcar ao lado do volante Imbula.

Marcelo Bielsa também é conhecido pela vocação ofensiva que impõe aos seus times. No Olympique não vai ser diferente. O time azul geralmente ataca com seis homens, chegando a até sete, com a utilização constante das laterais, na dobradinha entre os alas e pontas. Esta intensidade é vantajosa mas arriscada, principalmente diante de um adversário que usa bem o contra-ataque. Na pré-temporada, por exemplo, o Marseille venceu o Bayer Leverkusen por 4x1, o Willem II por 5x0 e o Chievo por 3x1. Já contra o Bari, empatou por 1x1 e na estreia da Ligue 1, contra um Bastia veloz nas transições e comandado por Claude Makélélé, o OM voltou a empatar, agora por 3x3. Chegou a três gols graças à intensidade de seu ataque, mas sofreu o empate pelos espaços que acaba proporcionando ao contra-ataque adversário justamente por atacar com tantos homens.


Comparação entre dois times de Bielsa: o Chile, no Mundial de 2010, e o OM, no jogo contra o Bastia. Ataque chileno com 6 homens, 2 fazendo a dobradinha pela esquerda e 4 se preparando para entrar na área. Já no ataque do OM, cruzamento do lateral Mendy para 4 homens dentro da área e um se posicionando para o rebote. Na sequência da jogada, Gignac fez, de cabeça, o gol do 1x1.

Apesar de um elenco menos forte que PSG e Monaco, o Marseille aparece como terceiro interessado na disputa pelo título francês, justamente pelo fator Bielsa, aliado à grandeza do clube. Desbancar o estelar elenco do PSG tem sido difícil nos últimos anos, mas o padrão tático e a concentração total na Ligue 1 do Olympique podem ser fatores preponderantes para que o time consiga brigar com o Monaco na caça aos parisienses.


Paris Saint-Germain: o grande favorito


Após uma vitoriosa temporada 2013-14, com o título do Campeonato Francês e a eliminação nas quartas-de-final da Champions League para o Chelsea, para a temporada 2014-2015, o atual bicampeão nacional foi ao mercado. O sheik Nasser Al-Khelaïfi tirou verba da sua fortuna e contratou David Luiz, por 150 milhões de reais, para formar a zaga com Thiago Silva. Chegou também o lateral Serge Aurier do Toulouse, por empréstimo. Sairam: o zagueiro Alex e o atacante Menez para o Milan, Traoré para o Angers, o lateral direito Jallet para o Lyon e Coman para a Juventus. Com o elenco encorpado e com David Luiz, o PSG brigará com as grandes potências europeias pelo caneco da Champions League.

Na pré-temporada com os poucos amistosos (RB Leipzig, OGC Nice, Kitchee e Napoli) e na final da Super Copa da França sem suas principais estrelas que disputaram a Copa, os comandados de Laurent Blanc jogaram no 4-5-1, com apenas Ibra na frente, Pastore, Verratti e Thiago Motta no meio e os jovens Bahebeck e Ongenda nas pontas, indo ao ataque, apoiando as jogadas ofensivas que Pastore criava. O esquema foi o seguinte:


No flagrante acima, do jogo de estreia na Ligue 1, o esquema armado por Laurent Blanc sendo efetivado por seus jogadores. Ibrahimovic na frente, marcando a saída de bola adversária, com Cavani na esquerda, voltando ate o meio campo apenas e, na direita, Lucas, que na ausência de Lavezzi fez a ponta direita, marcando o lateral esquerdo adversário. O trio de meio campistas fecha o flagrante, fechando os espaços e marcando em blocos altos, com variação para blocos médios.
                               
Na primeira rodada do Francês a equipe jogou assim:

                                           

Para a próxima temporada, a equipe parisiense deverá jogar no 4-3-3, com os blocos médios/altos, com bastante movimentação no ataque, porém a o time já mostrou que tem dificuldades para furar times com defesas bem postadas, compactas, que não deem espaços para penetração e movimentação no campo de ataque. A equipe comandada por Laurent Blanc disputará o Francês, a Copa da França e a Liga dos Campeões. Blanc deverá armar sua equipe da seguinte maneira:

                                           

Apesar da concorrência de Monaco e Olympique de Marseille, o PSG é mais do que favorito para o título da Ligue 1. Na Europa a história é um pouco diferente. A última temporada mostrou que um time cheio de estrelas mas sem um padrão tático eficiente não consegue ir muito longe na Champions League. A desclassificação para o Chelsea de José Mourinho evidencia que Blanc tem muito o que fazer para que o time parisiense finalmente consiga brigar pelo título europeu.

Monaco e Olympique de Marseille: João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)
Paris Saint-Germain: Daniel Barud
Edição: João Marcos Soares

Palpites da equipe da Prancheta Tática para a Ligue 1:

Andrey Hugo: PSG
Caio Gondo: PSG
Daniel Barud: PSG
Diogo Ribeiro Martins: PSG
Felipe de Faria: PSG
João Elias Cruz: PSG
João Marcos Soares: Olympique de Marseille