Após uma Copa do Mundo muito interessante do ponto de vista
tático – embora os treinadores brasileiros insistam em dizer o contrário –, todos
esperam ansiosos pela volta da Champions League e das ligas nacionais do
futebol europeu. A Prancheta Tática preparou um guia especial sobre os
campeonatos que estão sendo retomados para 2014-15, com análises das
pré-temporadas e prognósticos táticos para o início de temporada de cada um dos
times favoritos aos principais campeonatos europeus.
Serão analisados os favoritos ao título da Premier League
(Inglaterra), da Serie A (Itália), da Bundesliga (Alemanha), de La Liga
(Espanha) e da Ligue 1 (França), única dessas ligas que já foi iniciada, com
rodada no último final de semana, e a primeira a ser abordada aqui.
Thiago Silva levanta taça de campeão francês de 2013-14 (Thomas Samson/AFP)
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A Ligue 1, cujo atual campeão é o todo poderoso Paris
Saint-Germain, vem crescendo em importância dentro do futebol europeu e chamando
cada vez mais atenção aqui no Brasil, sobretudo pela grande quantidade de
jogadores brasileiros, inclusive da Seleção, atuando no país. Além disso, para
os amantes da tática dentro do futebol, a Ligue 1 tem um atrativo a mais para
2014-15: Marcelo ‘El Loco’ Bielsa. O mítico argentino é o novo treinador do
tradicional Olympique de Marseille, o que é uma razão mais do que suficiente
para acompanharmos mais de perto o futebol que se joga na França. Confiram a
análise de Monaco, Olympique de Marseille e PSG e os palpites da nossa equipe
para o campeão da Ligue 1.
Monaco: o novo rico em busca de afirmação
De volta à Champions League, o Monaco tenta inciar uma
sequência de boas temporadas, após ter ido parar até na segunda divisão
francesa. Com menos investimento do que em 2013-14, a ideia do clube para
2014-15 é apostar na mudança de mentalidade. A primeira atitude foi a saída de Claudio
Ranieri do comando técnico. Apesar do vice-campeonato francês, o italiano é um
treinador ultrapassado. Para o seu lugar, foi contratado o francês Leonardo
Jardim, que conseguiu levar o Sporting Lisboa de volta à Champions League, o
que parecia impossível nos últimos anos.
Problemas pessoais fizeram o dono do Monaco, o russo Dmitry
Rybolovev, frear o investimento em contratações que caracterizou a política de
mercado do time do Principado na última temporada. Além disso, o clube não
conseguiu segurar o craque James Rodríguez, destaque da temporada passada,
vendido ao Real Madrid por cerca de 80 milhões de euros trás Copa do Mundo sensacional
pela Colombia. O time ainda tenta manter Falcao García, outro craque colombiano
que acabou sofrendo lesão grave e perdeu metade da última temporada.
Recuperado, Falcao é especulado em vários clubes, mas é possível que permaneça
no Stade Louis II.
Para substituir James Rodríguez, Leonardo Jardim tenta uma
alternativa dentro do próprio elenco, adiantando o compatriota João Moutinho
para a função de meia central do 4-2-3-1. A capacidade de organização do português
pode ser melhor aproveitada como segundo volante, mas ele tem visão de jogo
suficiente para se dar bem um pouco mais adiantado, como o cara do último
passe. A ver se vai ter a intensidade necessária para dar dinâmica aos ataques
do time alvirrubro. Em caso de a aposta não dar certo, Jardim tem uma
alternativa na manga, que pode não ser a mais moderna, mas é a mais
interessante dentro do material humano que o treinador possui. A ideia, que já
foi posta em prática no segundo tempo do jogo de estreia da Ligue 1 – derrota em
casa para o Lorient –, seria utilizar um 4-4-2, com uma companhia mais próxima
a Falcao, que poderia ser de Berbatov ou Germain, e Moutinho voltando a
construir o jogo um pouco mais de trás e com maior utilização das jogadas pelos
lados, com os pontas e as subidas dos laterais.
Monaco e as duas alternativas
de Jardim: 4-2-3-1 mais dinâmico com Moutinho de trequartista, ou 4-4-2 mais
pesado no ataque e com maior utilização das pontas
O 4-2-3-1 de Jardim também é interessante na recomposição
defensiva, já que suas linhas são próximas umas das outras e o posicionamento
delas é médio, não muito recuadas, nem muito adiantadas, encurtando o campo e
dificultando a infiltração do adversário.
Arsenal x Monaco: o
time do Principado venceu o poderoso Arsenal com linhas compactas que seguraram
o ímpeto dos ingleses. Na bola parada, o faro de gol de Falcao Garcia deu a vitória
para o Monaco
A grande vantagem de Monaco e Olympique de Marseille na
disputa pelo campeonato francês está no banco de reservas. Leonardo Jardim e
Marcelo Bielsa são mais técnicos do que Laurent Blanc, do PSG. O time de Paris
tem elenco pra ser campeão da Champions League se quiser, mas com um técnico de
ideias limitadas que tem dificuldades para encontrar um time, pode acabar
ficando até sem a Ligue 1. O Monaco de 2013-14 só não conseguiu alcançar os
parisienses porque tinha o mesmo problema na beira do campo. Em 2014-15 pode ser diferente. O time de Jardim larga na frente na caça ao PSG, mas a boa campanha está
condicionada à manutenção de Falcao Garcia no Principado.
Olympique de Marseille: força na camisa e ousadia na beira do campo
O tradicionalíssimo Olympique de Marseille tenta esquecer a
última temporada. O time foi apenas sexto colocado na Ligue 1, sem conseguir
classificação às competições europeias e com participação patética na
Champions League, ao ser eliminado na fase de grupos sem um ponto sequer.
Visando modificar o patamar para a nova temporada, a
diretoria do time apostou alto no novo comandante técnico. O lendário Marcelo Bielsa
será o treinador do time. ‘El Loco’, como é chamado na Argentina, é conhecido por
sua ousadia e por armar seus times de maneiras pouco convencionais. É
reverenciado e serve de influência para muitos treinadores. O mais badalado da atualidade, Pep Guardiola, já chegou a dizer que Loco Bielsa era o melhor
técnico do planeta, em 2012.
O Olympique da pré-temporada e da estreia no campeonato
francês já é um time com as características de seu técnico. O esquema preferido
de ‘El Loco’, o 3-3-1-3, também está sendo utilizado neste princípio de
trabalho na França. Assim como a seleção chilena e o Athletic Bilbao, últimos
trabalhos de Bielsa, o Marseille usa de rápida transição quando tem a posse de
bola e marcação agressiva, com intenso pressing no adversário quando não tem a
bola, inclusive com encaixes de marcação homem a homem em alguns momentos do
jogo, como Louis van Gaal utilizou tão bem com a Holanda na Copa do Mundo.
Marseille tem jogado e
continuará jogando no característico 3-3-1-3 de Bielsa. Única variação é para o
4-2-3-1, que acontece em momentos oportunos dentro de um jogo durante a
recomposição defensiva, com os laterais recuando para a última linha e Romao ou
Morel se adiantando para marcar ao lado do volante Imbula.
Marcelo Bielsa também é conhecido pela vocação ofensiva que
impõe aos seus times. No Olympique não vai ser diferente. O time azul
geralmente ataca com seis homens, chegando a até sete, com a utilização
constante das laterais, na dobradinha entre os alas e pontas. Esta intensidade
é vantajosa mas arriscada, principalmente diante de um adversário que usa bem o
contra-ataque. Na pré-temporada, por exemplo, o Marseille venceu o Bayer
Leverkusen por 4x1, o Willem II por 5x0 e o Chievo por 3x1. Já contra o Bari,
empatou por 1x1 e na estreia da Ligue 1, contra um Bastia veloz nas transições
e comandado por Claude Makélélé, o OM voltou a empatar, agora por 3x3. Chegou a três gols graças à intensidade de seu ataque, mas sofreu o empate pelos espaços que acaba proporcionando ao contra-ataque adversário justamente por atacar com tantos homens.
Comparação entre dois times de Bielsa: o
Chile, no Mundial de 2010, e o OM, no jogo contra o Bastia. Ataque
chileno com 6 homens, 2 fazendo a dobradinha pela esquerda e 4 se preparando
para entrar na área. Já no ataque do OM, cruzamento do lateral Mendy para 4
homens dentro da área e um se posicionando para o rebote. Na sequência da
jogada, Gignac fez, de cabeça, o gol do 1x1.
Apesar de um elenco menos forte que PSG e Monaco, o
Marseille aparece como terceiro interessado na disputa pelo título francês,
justamente pelo fator Bielsa, aliado à grandeza do clube. Desbancar o estelar
elenco do PSG tem sido difícil nos últimos anos, mas o padrão tático e a
concentração total na Ligue 1 do Olympique podem ser fatores preponderantes para
que o time consiga brigar com o Monaco na caça aos parisienses.
Paris Saint-Germain: o grande favorito
Após uma vitoriosa temporada 2013-14, com o título do
Campeonato Francês e a eliminação nas quartas-de-final da Champions League para
o Chelsea, para a temporada 2014-2015, o atual bicampeão nacional foi ao
mercado. O sheik Nasser Al-Khelaïfi tirou verba da sua fortuna e contratou
David Luiz, por 150 milhões de reais, para formar a zaga com Thiago Silva. Chegou
também o lateral Serge Aurier do Toulouse, por empréstimo. Sairam: o zagueiro
Alex e o atacante Menez para o Milan, Traoré para o Angers, o lateral direito
Jallet para o Lyon e Coman para a Juventus. Com o elenco encorpado e com David
Luiz, o PSG brigará com as grandes potências europeias pelo caneco da Champions
League.
Na pré-temporada com os poucos amistosos (RB Leipzig, OGC
Nice, Kitchee e Napoli) e na final da Super Copa da França sem suas principais
estrelas que disputaram a Copa, os comandados de Laurent Blanc jogaram no
4-5-1, com apenas Ibra na frente, Pastore, Verratti e Thiago Motta no meio
e os jovens Bahebeck e Ongenda nas pontas, indo ao ataque, apoiando as jogadas
ofensivas que Pastore criava. O esquema foi o seguinte:
Na primeira rodada do Francês a equipe jogou assim:
Para a próxima temporada, a equipe parisiense deverá jogar
no 4-3-3, com os blocos médios/altos, com bastante movimentação no ataque,
porém a o time já mostrou que tem dificuldades para furar times com defesas bem
postadas, compactas, que não deem espaços para penetração e movimentação no
campo de ataque. A equipe comandada por Laurent Blanc disputará o Francês, a
Copa da França e a Liga dos Campeões. Blanc deverá armar sua equipe da seguinte
maneira:
Apesar da concorrência de Monaco e Olympique de Marseille, o
PSG é mais do que favorito para o título da Ligue 1. Na Europa a história é um
pouco diferente. A última temporada mostrou que um time cheio de estrelas mas
sem um padrão tático eficiente não consegue ir muito longe na Champions League.
A desclassificação para o Chelsea de José Mourinho evidencia que Blanc tem
muito o que fazer para que o time parisiense finalmente consiga brigar pelo
título europeu.
Monaco e Olympique de
Marseille: João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)
Paris Saint-Germain: Daniel Barud
Edição: João Marcos Soares
Palpites da equipe da Prancheta Tática para a Ligue 1:
Andrey Hugo: PSG
Caio Gondo: PSG
Daniel Barud: PSG
Diogo Ribeiro Martins: PSG
Felipe de Faria: PSG
João Elias Cruz: PSG
João Marcos Soares: Olympique de Marseille