Após
onze anos, o Real Madrid voltou a vencer uma Champions League, fazendo a final
com o rival da cidade, Atletico. Na Europa League, o Sevilla foi o grande
campeão. Com os títulos das duas competições europeias, o acirramento de sua
liga nacional e o bicampeonato da Eurocopa pela seleção espanhola, o futebol do
país vive sua melhor fase no cenário europeu.
O
futebol doméstico experimentou uma temporada diferente do usual em 2013-14, com
o Atletico Madrid levantando a taça de campeão, desbancando Barcelona e Real
Madrid, soberanos nas últimas edições. Isto eleva o nível de atração do grande
público internacional por La Liga, que, com a crise na Itália, rivaliza apenas
com a Bundesliga pelo posto de segunda maior liga do futebol europeu, já que a
riquíssima Premier League ainda permanece como a mais atrativa.
Simeone e Ancelotti vêm
de temporadas de sucesso e têm desafios diferentes para formar seus times (Foto:
Marca)
La Liga
2014-15 promete ser tão ou mais acirrada que a última edição, principalmente
após as grandes contratações realizadas pelos três principais times,
notadamente as de Toni Kroos e James Rodríguez pelo Real Madrid, Ivan Rakitic e
Luis Suárez pelo Barcelona e Antoine Griezmann e Mario Mandzukic pelo Atletico
Madrid. O Valencia não fez nenhuma contratação estelar, mas montou bom time e
agora com reestruturação política e financeira, volta a ter ambição e deve
incomodar os três favoritos.
Vamos,
finalmente, às prévias dos principais times do campeonato espanhol.
Atletico Madrid: trabalho
magnífico busca sequência
Após temporada dos sonhos sob o comando de Diego
Simeone, o Atletico Madrid vem para mais uma campanha com ótimas perspectivas.
Mesmo com o treinador assumindo que o time inicia atrás de Barcelona e Real
Madrid na disputa doméstica, não é inteligente subestimar os colchoneros na
defesa do título espanhol.
A grande campanha que o Atletico realizou em
2013-14 também teve seus pontos negativos. Destaques do time despertaram
interesse de grandes clubes e rumaram para outras ligas, obrigando os
rojiblancos a irem ao mercado. Por sinal, foram muito bem nas contratações e
Simeone – para muitos o melhor técnico da última temporada europeia – não tem
do que reclamar. Chegaram peças de reposição para todas as posições onde
houveram baixas e o time deve brigar por algo grande novamente. Para o lugar de
Cortouis chega o bom e jovem goleiro Jan Oblak, que deve brigar por posição com
Moyá, contratado para ser reserva, mas que vem agradando mais Simeone do que o
esloveno na pré-temporada. Na lateral-esquerda, o catarinense Guilherme
Siqueira, um dos melhores laterais de La Liga em 2012-13 pelo Granada e que vem
de boa temporada pelo Benfica, chega para substituir o conterrâneo Filipe Luís,
tendo o argentino Cristian Ansaldi como sombra. Para o ataque, com as saídas de
David Villa e Diego Costa, chegam Griezmann e Mandzukic, além do promissor
mexicano Raúl Jiménez, que chega para ser reserva do croata no comando do
ataque. Mudam as características mas o talento é mantido, ou até elevado.
Quanto ao sistema de jogo, Simeone já sinalizou que
deve variar o 4-4-2 bem sucedido da última temporada com um 4-2-3-1 que
encaixaria melhor as novas peças. Os colchoneros, no entanto, não devem
modificar o estilo de jogo agressivo tanto na marcação quanto nos
contra-ataques, tão importantes para que o time tenha chegado tão longe na
última época. As linhas de marcação certamente continuarão se destacando pela
compactação e pelo posicionamento em bloco baixo/médio, com contra-ataque ainda
mais veloz pela presença de Griezmann pelas pontas e Arda Turan pelo centro,
como a pré-temporada tem indicado, provavelmente para que não se perca a
aproximação do meio-campo com o ataque, o que fatalmente aconteceria com Koke
ou Gabi pelo centro, por exemplo, devido às suas características. Em resumo:
muda o esquema, permanece a filosofia.
Galatasaray x Atletico: Arda Turan deve sair da ponta
e atuar na faixa central da última linha de meio-campo do 4-2-3-1 de Simeone em
2014-15. Griezmann também foi utilizado na posição durante a pré-temporada
Apesar da iminente mudança de esquema, o 4-4-2 mais
pesado também pode se repetir, sobretudo em partidas em andamento, com o
Atletico precisando buscar o resultado e em situações em que Simeone julgue
necessário o jogo aéreo e o vigor físico de Raúl García, ex-volante que agora é
o coringa de Simeone.
Atletico deve ter o 4-2-3-1 como base, mas o 4-4-2
mais pesado que alcançou tanto sucesso na última temporada também pode ser
opção para algumas situações específicas
Está claro que o Atletico, mesmo perdendo jogadores
importantes, vem para esta temporada ainda muito forte. Talvez não alcance o
sucesso inesperado de 2013-14, mas pode sonhar alto com um elenco forte e cheio
de potencial, agora com mais opções de variação tática. O principal problema é
a limitação de plantel que dificulta a rotação do elenco. Situação parecida com
a da última campanha. O Atleti sofreu com a parte física na fase final da
última Champions League e da liga espanhola, pela temporada desgastante a que seu
elenco enxuto foi submetido. Pode acontecer novamente, se o time conseguir repetir o sucesso
e chegar longe em todas as competições que disputar.
Barcelona: ano de reconstrução
A equipe
do Barcelona busca, após um ano de pouco brilho, a renovação, em diversos
aspectos. Sem títulos de expressão e falhando em mostrar um futebol vistoso na
temporada passada, Tata Martino encerrou sua passagem menos de um ano após sua
chegada. A equipe, que conviveu com as lesões durante boa parte da época, foi
capaz de vencer a Supercopa da Espanha, alcançar o 2º lugar em La Liga e na
Copa del Rey, além das quartas-de-final na Champions League. Luís Enrique,
ex-jogador blaugrana e ex-treinador
no Barcelona B, saiu do comando do Celta de Vigo e assumiu o posto de
treinador, com o desafio de liderar o processo de renovação da equipe.
Em
relação às contratações, Luís Suárez é a principal aquisição, vindo para formar
um ataque de estrelas, com Neymar e Lionel Messi. Além disso, foram adquiridos
os goleiros Ter Stegen e Bravo, os defensores Vermaelen e Mathieu e o meia
Rakitic, além da volta de Rafinha de seu empréstimo. Jovens atletas do Barcelona
B, como Munir El Haddadi, foram incorporados à equipe principal e podem ganhar
espaço ao longo do ano. A diretoria ainda busca um lateral-direito. Deixaram o
clube os goleiros Victor Valdés, José Pinto e Oier, o zagueiro Puyol, os meias
Fàbregas, Jonathan dos Santos e Cuenca e os atacantes Alexis Sánchez, Bojan e
Tello. Com muita movimentação nos dois sentidos, pode-se dizer que há uma
reconstrução do elenco em curso, sendo que ainda há boas chances de outras
negociações até o fim do período de transferências.
Flagrante tático do 4-3-3
da equipe do Barcelona (Reprodução: BeIN Sports)
Muito se
tem especulado sobre as táticas a serem usadas por Luís Enrique, sendo que é
provável que a equipe se apresente de forma mais frequente no 4-3-3. Luís
Enrique planeja ter um Barça mais vertical, porém que também saiba trabalhar a
bola quando o adversário permitir. A organização ofensiva inclui grande
mobilidade dos meias, Iniesta como ponto central da criação e pontas que buscam
a parte interior do campo. A defesa organiza-se em bloco médio-alto e marca em
zona pressionante. Outras variantes, como o 3-4-3 e o 3-2-3-2, também estão
sendo treinadas, e podem aparecer durante os jogos. O objetivo principal é o
controle da meia-cancha e o aumento das opções na organização ofensiva. As
variantes de três zagueiros, assim como a ação de trazer os extremos para mais
perto do centro, têm por objetivo dar liberdade e amplitude aos laterais/alas.
Outro conceito planejado por Luís Enrique é o posicionamento de Messi como enganche,
mais próximo ao meio de campo e com papel importante na armação, enquanto
Suárez fica como o principal finalizador.
O Barcelona em sua
formação principal, o 4-3-3 (esquerda), e uma variante, o 3-2-3-2, montado
utilizando duas escalações diferentes.
As
aspirações de uma equipe como o Barcelona sempre incluem a conquista de títulos
nacionais e um lugar entre os melhores na Champions League, exibindo um futebol
ofensivo e eficiente, e nesse ano não será diferente. Com os principais rivais
nacionais tendo um padrão de jogo mais consolidado, a equipe da Catalunha terá
que evoluir bastante caso queira alcançar o primeiro lugar nos torneios
domésticos. O Barcelona estreia oficialmente no próximo dia 24, contra o Elche,
pela Liga BBVA.
Real Madrid:
cada vez mais galáctico
Ancelotti vive um dilema para a temporada 2014/15.
Toni Kroos, James Rodríguez e Keylor Navas trouxeram uma boa dor de cabeça ao
técnico, atual campeão da Champions League e da Copa do Rey.
Na temporada que passou, Ancelotti demorou a
encontrar seu time, rodou por 4-4-2 e 4-2-3-1 até achar no 4-3-3 que variava
para o 4-4-2 com o recuo de Bale pelo flanco direito, o equilíbrio para parar
Barcelona e Bayern de Munique e conquistar a sonhada décima Champions.
No esquema, Dí Maria era peça essencial, ele fazia
uma intensa transição e fechava o lado esquerdo sem a bola. Seus dois
companheiros de meio campo, também foram essenciais na conquista: Luka Modric e
Xabi Alonso, um com a missão de levar a bola e fazer o passe de qualidade o
outro com a missão de proteger a defesa e iniciar as jogadas com o toque de
qualidade.
À frente o trio BBC, 98 gols na temporada. Cristiano
Ronaldo em uma forma esplêndida, artilheiro da Champions com quebra do recorde de
gols e artilheiro do Espanhol, além de eleito melhor do Mundo. Benzema com a
artilharia eficiente, a referência, o homem gol. Gareth Bale com velocidade e
poder de decisão com gols nas duas finais. Teve estrela para desequilibrar.
Pensando na temporada que começa, Ancelotti segue
implantando o 4-4-2/4-3-3, mas já testou uma disposição diferente com James
como falso 9, mas também usando o jovem como meia esquerda na vaga de Dí Maria.
Kroos parece ter vaga cativa no time, chegou organizando a equipe e dando o
toque de qualidade. Modric parece ser uma peça indispensável. A dúvida é se
Xabi Alonso joga, lembrando sempre que ele fez com que o time ganhasse
equilíbrio no meio-campo.
4-3-3 com falso 9 foi utilizado no amistoso contra a
Fiorentina. Liberdade a James e Ronaldo é a característica do sistema
4-3-3 com Benzema como centroavante. Kroos pode
dividir tanto a saída com Alonso quanto o último passe com Modric
À frente o trio BBC parece irretocável e pode
sobrar para James, porém colocar 80 milhões de euros no banco pode ser
complicado para o treinador. Caso queira sacar Alonso e recuar Kroos para
trabalhar como primeiro homem, como fez na supercopa, James e Dí Maria disputam
a vaga na esquerda e vejo o argentino mais à frente.
Formação contra o Sevilla, pela Supercopa da Europa. Parecida
com a da última temporada, com James em função parecida com a de Di María
Sistema da Supercopa pode ser a opção principal de
Ancelotti para a temporada
Pensando na defesa, Varane e Pepe disputam uma vaga
ao lado de Sergio Ramos. Nas laterais Carvajal e Coentrão parecem estar à
frente de Arbeloa e Marcelo, pois ambos apoiam e marcam com eficiência. No gol,
Casillas e Navas disputam a vaga, mas o ídolo madridista está à frente pela
camisa 1.
Com essas dúvidas é difícil apontar um onze inicial
para a temporada madridista, ele vai variar de acordo com os jogos e os
momentos, mas a boa notícia é que Ancelotti tem muitos atletas de alto nível à
disposição.
Valencia: novo
projeto agrada e pode render já nesta temporada
O Valencia passou por uma fase difícil nos últimos
anos, com forte crise financeira que fez o time vender seus grandes talentos
das últimas temporadas, como David Silva, David Villa, Juan Mata e Roberto Soldado
e, por consequência do enfraquecimento do elenco, chega à segunda temporada
consecutiva sem ter conseguido acesso à Champions League.
Com a recente aquisição da maioria das ações do
clube por um bilionário de Cingapura chamado Peter Lim, as perspectivas para o
futuro no Mestalla são melhores e o time acena com uma volta à briga por vaga
na principal competição europeia.
O primeiro sinal foi o rejuvenescimento do elenco,
com algumas contratações importantes de nomes jovens mas já consolidados no
futebol europeu e que oferecem um prognóstico de muito futuro para este time do
Valencia, mesclando alguns jogadores experientes, com canteranos e novos
contratados que já vêm apresentando boa forma nas partidas de pré-temporada.
As principais contratações são as do winger Rodrigo
De Paul, revelação argentina do Racing. De Avellaneda também vem o meia Bruno
Zuculini, recém-contratado pelo Manchester City e emprestado ao Valencia para
ganhar experiência europeia. Para a defesa, chega o zagueiro Shkodran Mustafi,
campeão mundial com a Alemanha e que deve formar dupla de zaga com o também
recém-chegado Nicolás Otamendi, que já havia sido anunciado na janela de
janeiro mas esteve emprestado ao Atlético Mineiro. De Portugal vêm o meia
português André Almeida e o atacante espanhol nascido no Brasil Rodrigo Moreno,
principal contratação da janela e que deve formar boa dupla com Paco Alcácer.
Além dos jogadores, o Valencia também anunciou o
técnico Nuno Espírito Santo, ex-goleiro português que foi reserva do Porto por
muitos anos, quando era conhecido simplesmente por Nuno. Na nova carreira,
dirigiu apenas o Rio Ave, e levou o pequeno time português às finais da Taça da
Liga e da Taça de Portugal na última temporada, perdendo ambas para o Benfica.
Nuno é um técnico da nova geração e a preparação do
seu novo time tem sido considerada satisfatória. Nem tanto pelos resultados,
mas pela consistência que o time tem demonstrado em campo e pela boa
performance dos novos contratados. O português tem variado o Valencia entre o
4-1-4-1 e o 4-4-2 durante a pré-temporada, com linhas próximas e uma transição
rápida pelo centro, mas principalmente pelas laterais. Além disso, o time
apresenta uma boa movimentação no ataque durante as partidas, especialmente
quando atua no 4-1-4-1, com Rodrigo, que faz o lado direito da segunda linha de
quatro, aproximando-se de Alcácer e fazendo uma boa dobradinha com o ótimo
centroavante das canteras valencianistas, que tem tudo para fazer temporada de
afirmação, após boa participação na última época.
Nuno deve escalar o Valencia em um 4-1-4-1, mas o
4-4-2, com Rodrigo mais próximo do gol adversário, também foi utilizado e deve
ser considerado
A recomposição defensiva dos Che é compacta, com os 11 jogadores trabalhando para a recuperação
de bola e a diminuição de espaço para o adversário trocar passes. Situações de
pressão na saída de bola não são muito comuns, mas acontecem com a aproximação
dos pontas a Alcácer esporadicamente. O Valencia pressiona mais o adversário com o meio-campo
forte na marcação e também muito bom na saída. Javi Fuego deve ser titular como
volante à frente da defesa, assim como Dani Parejo, que joga um pouco mais
adiantado que Fuego e deve ser o novo capitão do clube trás as saídas de
Ricardo Costa e Guaita. A outra vaga deve ser compartilhada através de
revezamento entre André Gomes e Andrés Guardado. Ambos têm boa saída para o
ataque, mas o português se destaca por um estilo mais clássico e cadenciado e o
mexicano pela velocidade, finalização de fora e infiltração na área adversária.
São características diferentes que proporcionam a Nuno uma variação muito
interessante de estilo de jogo.
Valencia x Milan: Los Che encontraram um Milan
espelhado no 4-1-4-1 e venceram por 2x1. Compactação e velocidade na transição
pelos lados devem ser as características mais marcantes do time de Nuno
O Valencia passará a temporada sem viajar pela
Europa, mas com vantagem de focar apenas nas competições nacionais, sobretudo
em La Liga, onde aparece como forte candidato a voltar a brigar na parte de
cima da tabela. Título está fora de cogitação, mas a tradição dos Che e o elenco equilibrado e de talento podem fazer o clube voltar à Champions League e chegar às fases mais agudas da
Copa del Rey.
Atletico Madrid e Valencia: João Marcos Soares
Barcelona: Felipe de Faria
Real Madrid: Raí Monteiro
Edição: João Marcos Soares
Palpites da equipe da Prancheta Tática para La Liga:
Andrey Hugo: Real Madrid
Caio Gondo: Real Madrid
Daniel Barud: Real Madrid
Diogo Ribeiro Martins: Real Madrid
Felipe de Faria: Real Madrid
João Elias Cruz: Real Madrid
João Marcos Soares: Real Madrid
Raí Monteiro: Real Madrid
Raí Monteiro: Real Madrid
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