terça-feira, 19 de agosto de 2014

Guia tático dos favoritos para a temporada europeia: La Liga

Após onze anos, o Real Madrid voltou a vencer uma Champions League, fazendo a final com o rival da cidade, Atletico. Na Europa League, o Sevilla foi o grande campeão. Com os títulos das duas competições europeias, o acirramento de sua liga nacional e o bicampeonato da Eurocopa pela seleção espanhola, o futebol do país vive sua melhor fase no cenário europeu.

O futebol doméstico experimentou uma temporada diferente do usual em 2013-14, com o Atletico Madrid levantando a taça de campeão, desbancando Barcelona e Real Madrid, soberanos nas últimas edições. Isto eleva o nível de atração do grande público internacional por La Liga, que, com a crise na Itália, rivaliza apenas com a Bundesliga pelo posto de segunda maior liga do futebol europeu, já que a riquíssima Premier League ainda permanece como a mais atrativa.

Simeone e Ancelotti vêm de temporadas de sucesso e têm desafios diferentes para formar seus times (Foto: Marca)

La Liga 2014-15 promete ser tão ou mais acirrada que a última edição, principalmente após as grandes contratações realizadas pelos três principais times, notadamente as de Toni Kroos e James Rodríguez pelo Real Madrid, Ivan Rakitic e Luis Suárez pelo Barcelona e Antoine Griezmann e Mario Mandzukic pelo Atletico Madrid. O Valencia não fez nenhuma contratação estelar, mas montou bom time e agora com reestruturação política e financeira, volta a ter ambição e deve incomodar os três favoritos.

Vamos, finalmente, às prévias dos principais times do campeonato espanhol.


Atletico Madrid: trabalho magnífico busca sequência


Após temporada dos sonhos sob o comando de Diego Simeone, o Atletico Madrid vem para mais uma campanha com ótimas perspectivas. Mesmo com o treinador assumindo que o time inicia atrás de Barcelona e Real Madrid na disputa doméstica, não é inteligente subestimar os colchoneros na defesa do título espanhol.

A grande campanha que o Atletico realizou em 2013-14 também teve seus pontos negativos. Destaques do time despertaram interesse de grandes clubes e rumaram para outras ligas, obrigando os rojiblancos a irem ao mercado. Por sinal, foram muito bem nas contratações e Simeone – para muitos o melhor técnico da última temporada europeia – não tem do que reclamar. Chegaram peças de reposição para todas as posições onde houveram baixas e o time deve brigar por algo grande novamente. Para o lugar de Cortouis chega o bom e jovem goleiro Jan Oblak, que deve brigar por posição com Moyá, contratado para ser reserva, mas que vem agradando mais Simeone do que o esloveno na pré-temporada. Na lateral-esquerda, o catarinense Guilherme Siqueira, um dos melhores laterais de La Liga em 2012-13 pelo Granada e que vem de boa temporada pelo Benfica, chega para substituir o conterrâneo Filipe Luís, tendo o argentino Cristian Ansaldi como sombra. Para o ataque, com as saídas de David Villa e Diego Costa, chegam Griezmann e Mandzukic, além do promissor mexicano Raúl Jiménez, que chega para ser reserva do croata no comando do ataque. Mudam as características mas o talento é mantido, ou até elevado.

Quanto ao sistema de jogo, Simeone já sinalizou que deve variar o 4-4-2 bem sucedido da última temporada com um 4-2-3-1 que encaixaria melhor as novas peças. Os colchoneros, no entanto, não devem modificar o estilo de jogo agressivo tanto na marcação quanto nos contra-ataques, tão importantes para que o time tenha chegado tão longe na última época. As linhas de marcação certamente continuarão se destacando pela compactação e pelo posicionamento em bloco baixo/médio, com contra-ataque ainda mais veloz pela presença de Griezmann pelas pontas e Arda Turan pelo centro, como a pré-temporada tem indicado, provavelmente para que não se perca a aproximação do meio-campo com o ataque, o que fatalmente aconteceria com Koke ou Gabi pelo centro, por exemplo, devido às suas características. Em resumo: muda o esquema, permanece a filosofia.

Galatasaray x Atletico: Arda Turan deve sair da ponta e atuar na faixa central da última linha de meio-campo do 4-2-3-1 de Simeone em 2014-15. Griezmann também foi utilizado na posição durante a pré-temporada

Apesar da iminente mudança de esquema, o 4-4-2 mais pesado também pode se repetir, sobretudo em partidas em andamento, com o Atletico precisando buscar o resultado e em situações em que Simeone julgue necessário o jogo aéreo e o vigor físico de Raúl García, ex-volante que agora é o coringa de Simeone.

Atletico deve ter o 4-2-3-1 como base, mas o 4-4-2 mais pesado que alcançou tanto sucesso na última temporada também pode ser opção para algumas situações específicas

Está claro que o Atletico, mesmo perdendo jogadores importantes, vem para esta temporada ainda muito forte. Talvez não alcance o sucesso inesperado de 2013-14, mas pode sonhar alto com um elenco forte e cheio de potencial, agora com mais opções de variação tática. O principal problema é a limitação de plantel que dificulta a rotação do elenco. Situação parecida com a da última campanha. O Atleti sofreu com a parte física na fase final da última Champions League e da liga espanhola, pela temporada desgastante a que seu elenco enxuto foi submetido. Pode acontecer novamente, se o time conseguir repetir o sucesso e chegar longe em todas as competições que disputar.


Barcelona: ano de reconstrução


A equipe do Barcelona busca, após um ano de pouco brilho, a renovação, em diversos aspectos. Sem títulos de expressão e falhando em mostrar um futebol vistoso na temporada passada, Tata Martino encerrou sua passagem menos de um ano após sua chegada. A equipe, que conviveu com as lesões durante boa parte da época, foi capaz de vencer a Supercopa da Espanha, alcançar o 2º lugar em La Liga e na Copa del Rey, além das quartas-de-final na Champions League. Luís Enrique, ex-jogador blaugrana e ex-treinador no Barcelona B, saiu do comando do Celta de Vigo e assumiu o posto de treinador, com o desafio de liderar o processo de renovação da equipe.

Em relação às contratações, Luís Suárez é a principal aquisição, vindo para formar um ataque de estrelas, com Neymar e Lionel Messi. Além disso, foram adquiridos os goleiros Ter Stegen e Bravo, os defensores Vermaelen e Mathieu e o meia Rakitic, além da volta de Rafinha de seu empréstimo. Jovens atletas do Barcelona B, como Munir El Haddadi, foram incorporados à equipe principal e podem ganhar espaço ao longo do ano. A diretoria ainda busca um lateral-direito. Deixaram o clube os goleiros Victor Valdés, José Pinto e Oier, o zagueiro Puyol, os meias Fàbregas, Jonathan dos Santos e Cuenca e os atacantes Alexis Sánchez, Bojan e Tello. Com muita movimentação nos dois sentidos, pode-se dizer que há uma reconstrução do elenco em curso, sendo que ainda há boas chances de outras negociações até o fim do período de transferências.

Flagrante tático do 4-3-3 da equipe do Barcelona (Reprodução: BeIN Sports)

Muito se tem especulado sobre as táticas a serem usadas por Luís Enrique, sendo que é provável que a equipe se apresente de forma mais frequente no 4-3-3. Luís Enrique planeja ter um Barça mais vertical, porém que também saiba trabalhar a bola quando o adversário permitir. A organização ofensiva inclui grande mobilidade dos meias, Iniesta como ponto central da criação e pontas que buscam a parte interior do campo. A defesa organiza-se em bloco médio-alto e marca em zona pressionante. Outras variantes, como o 3-4-3 e o 3-2-3-2, também estão sendo treinadas, e podem aparecer durante os jogos. O objetivo principal é o controle da meia-cancha e o aumento das opções na organização ofensiva. As variantes de três zagueiros, assim como a ação de trazer os extremos para mais perto do centro, têm por objetivo dar liberdade e amplitude aos laterais/alas. Outro conceito planejado por Luís Enrique é o posicionamento de Messi como enganche, mais próximo ao meio de campo e com papel importante na armação, enquanto Suárez fica como o principal finalizador.

                   

O Barcelona em sua formação principal, o 4-3-3 (esquerda), e uma variante, o 3-2-3-2, montado utilizando duas escalações diferentes.

As aspirações de uma equipe como o Barcelona sempre incluem a conquista de títulos nacionais e um lugar entre os melhores na Champions League, exibindo um futebol ofensivo e eficiente, e nesse ano não será diferente. Com os principais rivais nacionais tendo um padrão de jogo mais consolidado, a equipe da Catalunha terá que evoluir bastante caso queira alcançar o primeiro lugar nos torneios domésticos. O Barcelona estreia oficialmente no próximo dia 24, contra o Elche, pela Liga BBVA.


Real Madrid: cada vez mais galáctico


Ancelotti vive um dilema para a temporada 2014/15. Toni Kroos, James Rodríguez e Keylor Navas trouxeram uma boa dor de cabeça ao técnico, atual campeão da Champions League e da Copa do Rey.

Na temporada que passou, Ancelotti demorou a encontrar seu time, rodou por 4-4-2 e 4-2-3-1 até achar no 4-3-3 que variava para o 4-4-2 com o recuo de Bale pelo flanco direito, o equilíbrio para parar Barcelona e Bayern de Munique e conquistar a sonhada décima Champions.

No esquema, Dí Maria era peça essencial, ele fazia uma intensa transição e fechava o lado esquerdo sem a bola. Seus dois companheiros de meio campo, também foram essenciais na conquista: Luka Modric e Xabi Alonso, um com a missão de levar a bola e fazer o passe de qualidade o outro com a missão de proteger a defesa e iniciar as jogadas com o toque de qualidade.

À frente o trio BBC, 98 gols na temporada. Cristiano Ronaldo em uma forma esplêndida, artilheiro da Champions com quebra do recorde de gols e artilheiro do Espanhol, além de eleito melhor do Mundo. Benzema com a artilharia eficiente, a referência, o homem gol. Gareth Bale com velocidade e poder de decisão com gols nas duas finais. Teve estrela para desequilibrar.

Pensando na temporada que começa, Ancelotti segue implantando o 4-4-2/4-3-3, mas já testou uma disposição diferente com James como falso 9, mas também usando o jovem como meia esquerda na vaga de Dí Maria. Kroos parece ter vaga cativa no time, chegou organizando a equipe e dando o toque de qualidade. Modric parece ser uma peça indispensável. A dúvida é se Xabi Alonso joga, lembrando sempre que ele fez com que o time ganhasse equilíbrio no meio-campo.

4-3-3 com falso 9 foi utilizado no amistoso contra a Fiorentina. Liberdade a James e Ronaldo é a característica do sistema

4-3-3 com Benzema como centroavante. Kroos pode dividir tanto a saída com Alonso quanto o último passe com Modric

À frente o trio BBC parece irretocável e pode sobrar para James, porém colocar 80 milhões de euros no banco pode ser complicado para o treinador. Caso queira sacar Alonso e recuar Kroos para trabalhar como primeiro homem, como fez na supercopa, James e Dí Maria disputam a vaga na esquerda e vejo o argentino mais à frente.

Formação contra o Sevilla, pela Supercopa da Europa. Parecida com a da última temporada, com James em função parecida com a de Di María

Sistema da Supercopa pode ser a opção principal de Ancelotti para a temporada

Pensando na defesa, Varane e Pepe disputam uma vaga ao lado de Sergio Ramos. Nas laterais Carvajal e Coentrão parecem estar à frente de Arbeloa e Marcelo, pois ambos apoiam e marcam com eficiência. No gol, Casillas e Navas disputam a vaga, mas o ídolo madridista está à frente pela camisa 1.

Com essas dúvidas é difícil apontar um onze inicial para a temporada madridista, ele vai variar de acordo com os jogos e os momentos, mas a boa notícia é que Ancelotti tem muitos atletas de alto nível à disposição.


Valencia: novo projeto agrada e pode render já nesta temporada


O Valencia passou por uma fase difícil nos últimos anos, com forte crise financeira que fez o time vender seus grandes talentos das últimas temporadas, como David Silva, David Villa, Juan Mata e Roberto Soldado e, por consequência do enfraquecimento do elenco, chega à segunda temporada consecutiva sem ter conseguido acesso à Champions League.

Com a recente aquisição da maioria das ações do clube por um bilionário de Cingapura chamado Peter Lim, as perspectivas para o futuro no Mestalla são melhores e o time acena com uma volta à briga por vaga na principal competição europeia.

O primeiro sinal foi o rejuvenescimento do elenco, com algumas contratações importantes de nomes jovens mas já consolidados no futebol europeu e que oferecem um prognóstico de muito futuro para este time do Valencia, mesclando alguns jogadores experientes, com canteranos e novos contratados que já vêm apresentando boa forma nas partidas de pré-temporada.

As principais contratações são as do winger Rodrigo De Paul, revelação argentina do Racing. De Avellaneda também vem o meia Bruno Zuculini, recém-contratado pelo Manchester City e emprestado ao Valencia para ganhar experiência europeia. Para a defesa, chega o zagueiro Shkodran Mustafi, campeão mundial com a Alemanha e que deve formar dupla de zaga com o também recém-chegado Nicolás Otamendi, que já havia sido anunciado na janela de janeiro mas esteve emprestado ao Atlético Mineiro. De Portugal vêm o meia português André Almeida e o atacante espanhol nascido no Brasil Rodrigo Moreno, principal contratação da janela e que deve formar boa dupla com Paco Alcácer.

Além dos jogadores, o Valencia também anunciou o técnico Nuno Espírito Santo, ex-goleiro português que foi reserva do Porto por muitos anos, quando era conhecido simplesmente por Nuno. Na nova carreira, dirigiu apenas o Rio Ave, e levou o pequeno time português às finais da Taça da Liga e da Taça de Portugal na última temporada, perdendo ambas para o Benfica.

Nuno é um técnico da nova geração e a preparação do seu novo time tem sido considerada satisfatória. Nem tanto pelos resultados, mas pela consistência que o time tem demonstrado em campo e pela boa performance dos novos contratados. O português tem variado o Valencia entre o 4-1-4-1 e o 4-4-2 durante a pré-temporada, com linhas próximas e uma transição rápida pelo centro, mas principalmente pelas laterais. Além disso, o time apresenta uma boa movimentação no ataque durante as partidas, especialmente quando atua no 4-1-4-1, com Rodrigo, que faz o lado direito da segunda linha de quatro, aproximando-se de Alcácer e fazendo uma boa dobradinha com o ótimo centroavante das canteras valencianistas, que tem tudo para fazer temporada de afirmação, após boa participação na última época.

Nuno deve escalar o Valencia em um 4-1-4-1, mas o 4-4-2, com Rodrigo mais próximo do gol adversário, também foi utilizado e deve ser considerado

A recomposição defensiva dos Che é compacta, com os 11 jogadores trabalhando para a recuperação de bola e a diminuição de espaço para o adversário trocar passes. Situações de pressão na saída de bola não são muito comuns, mas acontecem com a aproximação dos pontas a Alcácer esporadicamente. O Valencia pressiona mais o adversário com o meio-campo forte na marcação e também muito bom na saída. Javi Fuego deve ser titular como volante à frente da defesa, assim como Dani Parejo, que joga um pouco mais adiantado que Fuego e deve ser o novo capitão do clube trás as saídas de Ricardo Costa e Guaita. A outra vaga deve ser compartilhada através de revezamento entre André Gomes e Andrés Guardado. Ambos têm boa saída para o ataque, mas o português se destaca por um estilo mais clássico e cadenciado e o mexicano pela velocidade, finalização de fora e infiltração na área adversária. São características diferentes que proporcionam a Nuno uma variação muito interessante de estilo de jogo.

Valencia x Milan: Los Che encontraram um Milan espelhado no 4-1-4-1 e venceram por 2x1. Compactação e velocidade na transição pelos lados devem ser as características mais marcantes do time de Nuno

O Valencia passará a temporada sem viajar pela Europa, mas com vantagem de focar apenas nas competições nacionais, sobretudo em La Liga, onde aparece como forte candidato a voltar a brigar na parte de cima da tabela. Título está fora de cogitação, mas a tradição dos Che e o elenco equilibrado e de talento podem fazer o clube voltar à Champions League e chegar às fases mais agudas da Copa del Rey.

Atletico Madrid e Valencia: João Marcos Soares
Barcelona: Felipe de Faria
Real Madrid: Raí Monteiro
Edição: João Marcos Soares

Palpites da equipe da Prancheta Tática para La Liga:

Andrey Hugo: Real Madrid
Caio Gondo: Real Madrid
Daniel Barud: Real Madrid
Diogo Ribeiro Martins: Real Madrid
Felipe de Faria: Real Madrid
João Elias Cruz: Real Madrid
João Marcos Soares: Real Madrid
Raí Monteiro: Real Madrid

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