quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Guia tático dos favoritos para a temporada europeia: Serie A

O futebol italiano vive uma crise financeira, política e estrutural que vai desde a federação aos clubes, passando pela falta de capacidade para controlar atos de violência e racismo por parte da torcida. A eleição para o novo presidente da Federação Italiana de Futebol (FIGC, sigla em italiano) não dá sinal de que algo deva mudar neste sentido, já que Carlo Tavecchio, presidente eleito, além de ser um dirigente ultrapassado e de moral duvidosa com ficha criminal recheada de crimes de colarinho branco, ainda é conhecido por declarações racistas e xenófobas que não contribuem em nada com o desenvolvimento do calcio.

Se fora de campo tudo vai muito mal, nas quatro linhas a coisa vai um pouco menos pior e a mística do futebol da bota, somada à tradição de seus clubes e a times que apresentam futebol interessante como Roma e Juventus, fazem com que a Serie A continue atrativa aqui no Brasil, apesar da ascensão de outras ligas europeias.

Principal notícia da pré-temporada na Itália foi saída de Conte da Juventus (Foto: Getty Images)

Em meio à crise, o campeonato italiano de 2014-15 promete uma briga mais interessante na parte de cima da tabela do que as últimas edições, entre os já citados Juventus e Roma e com possibilidades de Napoli e Inter aparecerem como intrusos na luta pelo scudetto. Vamos ao guia tático dos principais times italianos para a temporada.


Internazionale: a esperança para Milão voltar à Champions


A Inter de Milão continua em sua fase de transição para um novo dono e ainda não acena com uma volta à disputa do título italiano. O time de Walter Mazzari, vindo de mais uma campanha irregular na Serie A, apesar de um pouco melhor que as anteriores, tenta voltar a disputar vaga na Champions League em 2014-15.

Os jogos de preparação da Internazionale não mostraram nada que empolgasse muito seus tifosi, mas contra adversários duros e sem os principais jogadores, os nerazzurri tiveram papel digno, principalmente no tour pelos Estados Unidos, com empates contra Real Madrid e Manchester United e vitória sobre a rival Roma. A Inter, é bom lembrar, foi o único time que não perdeu para o empolgante United de Louis van Gaal na pré-temporada. De volta à Europa, entretanto, o time de Milão foi derrotado em amistoso contra o Eintracht Frankfurt, na Alemanha, e empatou sem gols com o PAOK, na Grécia. É importante esclarecer que a Inter que participou da preparação é muito diferente da que deve iniciar a temporada do futebol italiano, sobretudo do meio pra frente. Hernanes, Guarín, Palacio, Ricky Álvarez e Campagnaro só se incorporaram ao elenco recentemente, já que participaram da Copa do Mundo até suas fases mais agudas. Além deles, Gary Medel e Dani Osvaldo foram contratados há pouco tempo e o chileno ainda nem estreou, inclusive.

Além dos reforços já citados, a Inter também anunciou Khrin, M’Vila e Vidic para 2014-15,  já ativos durante toda a pré-temporada. As contratações interistas não são bombásticas como outrora, mas são muito pontuais. Todos têm qualidade comprovada e chegam para ocupar espaços carentes no time de Milão. De início, apenas Vidic aparece com status de titular absoluto, mas os outros reforços devem brigar com condições de virarem a primeira opção em suas posições.  

Mazzari não é dos treinadores mais ousados e inovadores, mas já mostrou seu valor na boa passagem pelo Napoli e luta para tentar emplacar no Giuseppe Meazza o sistema com três defensores que fez sucesso no San Paolo, já que a pré-temporada não sinaliza nenhuma mudança do 3-5-1-1 baseado em defesa sólida e ataque móvel adotado pelo treinador em 2013-14. Apoio constante dos alas e finalização de fora com Hernanes e Guarín são armas interessantes dos nerazzurri com relação ao ataque, único setor que pode sofrer maior variação, com a entrada de alguém que jogue mais perto de Palacio no lugar de Álvarez, fazendo com que a Inter passe a atuar com dois atacantes de ofício.

Variações de Mazzari: 3-5-1-1 com boa chegada dos meias e maior mobilidade ou 3-5-2 com atacantes prendendo os zagueiros e possibilitando a finalização dos volantes, além da utilização maior das laterais.

Durante os jogos de preparação, o trio de zagueiros formado por Vidic, Juan Jesus e Ranocchia (que será apontado como novo capitão trás a saída de Cambiasso e a aposentadoria de Zanetti) mostrou solidez na maioria dos momentos, com a boa proteção de M’Vila e o recuo dos alas para formar a linha de cinco defensores em fase de marcação. O povoamento da defesa, ao invés da compactação das linhas, ainda é uma vertente dominante no futebol italiano que, assim como o brasileiro, tem problemas de atraso tático. Apesar da falta de modernidade, o esquema de Mazzari é sólido e, com o encaixe dos novos contratados, pode fazer com que a Inter chegue mais longe nesta temporada.

Eintracht Frankfurt x Internazionale: recomposição italiana no 5-3-2, com linhas espalhadas mas defesa bem povoada. Zagueiros de boa qualidade técnica mas lentos podem sofrer com ataques mais leves, caso do adversário alemão em questão

A Inter não aparece como candidata forte ao título italiano, mas, diferente do rival Milan, apresenta alternativas interessantes dentro do possível para que volte a disputar vaga na Champions League. O time de Mazzari não deve mostrar futebol que atraia quem não é torcedor, mas pode ser mais competitivo que o das últimas temporadas e acena como único possível intruso na briga de cima da tabela, que deve ser entre Juventus, Roma e, mais abaixo, Napoli.


Juventus: mudança de comando freia um pouco as expectativas de transferir domínio doméstico para a Europa


O declínio do futebol italiano empobrece o campeonato nacional e tem feito com que a Juventus domine o calcio praticamente sem oponentes nas últimas temporadas. Tudo deveria permanecer da mesma forma para 2014-15 não fosse a notícia que pegou todo mundo de surpresa há algumas semanas, com Antonio Conte se demitindo da função de técnico no início da pré-temporada, alegando diferenças com a diretoria sobre a atuação da Juve no mercado.

Conte foi um dos jogadores mais vitoriosos da história da Juventus e, desde que voltou a Turim, em 2011, com técnico, acumulou títulos e reconhecimento individual pelo trabalho. O tricampeonato da Serie A fez com que ele se tornasse o treinador mais badalado do futebol italiano, credenciando-o a assumir a Azzurra na última semana. Sua saída do comando do time pegou todos de surpresa, mas a diretoria logo anunciou Massimiliano Allegri, campeão italiano pelo Milan de Ibrahimovic e Thiago Silva em 2010-11, de onde foi demitido na metade da última temporada.

O novo técnico chega com uma certa rejeição da torcida bianconera. Não só pela idolatria ao antecessor, mas também porque o trabalho de Allegri no Milan, apesar do título da Serie A, era muito contestado na Itália, sendo que uma das maiores críticas direcionadas ao treinador é por ter esnobado Andrea Pirlo, grande jogador da Juve nas últimas três temporadas, preterindo, à época, il professore por jogadores de qualidade questionável na campanha do último título do Milan e por ter permitido ao craque deixar os rossoreri de graça ao fim de 2010-11.

Pelo menos durante a pré-temporada, a torcida da Vecchia Signora está se acostumando com o novo comandante e não tem muito do que reclamar, já que Pirlo tem jogado regularmente durante as partidas de preparação e o time vem apresentando bons resultados, apesar do nível dos adversários.

Allegri mantém o 3-5-2 com as mesmas características de seu antecessor: defesa sólida e de boa qualidade técnica, meio-campo que combina organização (Pirlo, Pogba), com infiltração (Marchisio/Vidal e Pogba – também), frequente utilização das alas, seja na ida à linha de fundo ou como opção de profundidade na infiltração, e boa movimentação do ataque, dentro ou fora da área. O novo comandante do Juve também sinaliza com uma variação para o 4-3-1-2, seu esquema preferido. Como são dois sistemas de jogo muito diferentes, é possível que logo Allegri defina qual será utilizado com maior frequência e a contratação de um trequartista é fundamental para viabilizar uma possível transição de sistema.

Flagrante da função de cada atleta nos ataques da Juventus: 1 – Zagueiros guardam posição em caso de contra-ataque. 2 – Pirlo distribui o jogo de trás. 3 – Alas espetados quase na última linha do adversário. 4 – Pogba é o maior construtor de jogadas mais perto do ataque. 5 – Tévez volta para dar opção longe da área. 6 – Llorente prende os defensores para dar liberdade à infiltração de Lichtsteiner e Marchisio, além de dar opção de profundidade. 7 – Marchisio faz o que sabe melhor: chegada como elemento surpresa no ataque

3-5-2 de Conte, que agora é de Allegri. 4-3-1-2/4-3-3 também é opção

Em fase defensiva, os alas recuam para a linha da defesa, formando um 5-3-2. A falta de compactação das linhas de marcação da Juve é compensada pela agressividade e pegada do time sem a bola, com os volantes encurtando sempre o espaço do jogador adversário que tem a posse da bola e com um dos zagueiros podendo sair da última linha em perseguição individual, o que não compromete a defesa pelo alto povoamento da região com o recuo dos alas.

A-League All Stars x Juventus: linhas espalhadas e adiantadas mas marcação agressiva no meio-campo, combinada com o  povoamento da última linha e entrosamento, fazem da Juventus uma das defesas mais sólidas do futebol europeu

No mercado, a Juventus foi discreta e não anunciou nenhum grande nome, mas também não perdeu ninguém – pelo menos enquanto não se confirma a forte especulação de Vidal no Manchester United – e se reforçou com bons nomes que chegam para fortalecer um elenco já satisfatório. As principais contratações são a do brasileiro Rômulo, de ótima temporada pelo Hellas Verona, que chega para ser um coringa. Pode entrar na ala-direita ou no meio-campo. Do Manchester United, vem o francês Evra para acirrar a disputa pela ala-esquerda, onde Asamoah viveu praticamente sem concorrência nos últimos anos, além do centroavante espanhol Morata, ex-Real Madrid e que deve ser boa opção para a reserva de Llorente, sobretudo após as saídas de Vucinic e Quagliarella.

O 3-5-2 que tem sido padrão na Juventus desde a chegada de Conte acabou fazendo com que a utilização dos três zagueiros voltasse a ser tendência na Itália. Apesar de alguns times de menor apelo já utilizarem o esquema, foi com Conte que isso se popularizou. Allegri, conhecido pelo 4-3-1-2 do Milan, com um meio-campo pesado mas de boa técnica que municiava os dois atacantes, pode se ver obrigado a abrir mão do trequartista para acrescentar um zagueiro, caso não consiga implantar seu esquema favorito no time de Turim. A forma em que vai ser possível avaliar o trabalho de Allegri será em seu comportamento durante as partidas, sobretudo diante de situações desfavoráveis. Se vai virar protagonista e ganhar jogos por seus méritos ou se vai fazer como em 2010-11 e esperar que Tévez resolva as pelejas mais difíceis pelo talento, como era com Ibrahimovic no Milan.


Milan: pré-temporada ruim preocupa em Milanello


O título de 2010-11 iludiu a torcida milanista e daí pra frente a situação foi ficando cada vez pior. O ensaio de uma volta ao domínio doméstico com o scudetto de quatro temporadas atrás conquistado por Ibrahimovic, Thiago Silva e cia acabou não vingando e a Juventus agora é quem dita as regras na bota.

Os rossoneri tiveram dificuldades no fim da última década e início da atual para efetuar um processo de renovação daquele time supercampeão de Carlo Ancelotti e agora começam a sofrer as consequências: o Milan ficará sem disputar a Champions League pela primeira vez desde 1998-99.

Mais uma vez com um elenco fraquíssimo para a história rossonera, o clube chega sem muita expectativa para a temporada que está para começar e a missão de dar um padrão à equipe é de Filippo Inzaghi, substituto de Clarence Seedorf, que não foi bem na primeira experiência como técnico. Assim como o antecessor, Pippo também é ídolo em San Siro, mas não começou bem o trabalho e coleciona fracassos na pré-temporada. Dos seis amistosos que o Milan disputou, venceu dois e perdeu quatro, incluindo um 3x0 para o Olympiakos e um 5x1 para o Manchester City. As duas vitórias vieram nos primeiros jogos contra times de divisões inferiores da Itália e sem parte do elenco principal à disposição.

Inzaghi tem montado o Milan em um 4-1-4-1 e procura um volante para fazer a distribuição de jogo a partir de trás, justamente a posição de Pirlo, de quem o time rossonero abriu mão após o último título da Serie A. Já testou Essien na posição e o ganês não foi bem, já que nunca teve a organização de jogo como característica. Cristante é quem mais tem jogado na função e consegue desempenhar corretamente, embora sem brilho. É possível que quando do retorno de Nigel de Jong e Montolivo, ambos em recuperação de lesão, Pippo possa optar pelo holandês para a posição de primeiro volante em fase defensiva, com o italiano se aproximando da defesa para fazer a saída após a recuperação da posse de bola. Não é onde ele mais se destaca, mas pode ser uma saída, em face às limitações do plantel milanista.

Inzaghi elege o 4-1-4-1 e não apresenta variações durante a pré-temporada

Mesmo com os resultados ruins e apresentações pobres, Inzaghi continua insistindo no 4-1-4-1, que é bem formado e compacto, embora marque em bloco muito baixo, deixando o time recuado e dificultando a transição, já que o meio-campo é lento e pesado e não prima pela qualidade nos passes. Falta também uma opção de desafogo pelos lados com a saída de Kaká, já que Honda tende a centralizar com a posse da bola e El Shaarawy ainda não conseguiu uma atuação satisfatória após voltar de quase uma temporada inteira de inatividade por lesão. Ménez chega do PSG, onde teve pouquíssimos minutos na última época, para tentar dar essa opção pelo lado do campo.

Valencia x Milan: sistema de Pippo é compacto e marca em bloco baixo. Transição por dentro é lenta mas encontra alguma velocidade pelos lados com a subida dos alas

O Milan fez algumas contratações pontuais no mercado, com maior destaque pra defesa, especialmente o goleiro Diego López, mas mexeu-se pouco com relação a nomes para o ataque, sobretudo para compensar as perdas de Kaká, Robinho e Taarabt, que voltou de empréstimo ao Queens Park Rangers e continua com situação de possível transferência ao Milan indefinida. Com a manutenção dos elencos de Juventus, Roma, Napoli e Fiorentina e as boas contratações que a rival Internazionale realizou, o Milan terá que se desdobrar para ficar acima de qualquer um destes adversários na tabela. A não participação em competições europeias pode ajudar na questão do foco na Serie A, embora o elenco limitado não dê muitas esperanças. A saída da torcida rossonera é torcer para que Pippo Inzaghi consiga dar um padrão tático à equipe neste final de pré-temporada e nas primeiras partidas do campeonato italiano, bem como recuperar alguns jogadores que há algum tempo não rendem o esperado, notadamente Balotelli, Ménez, El Shaarawy e Honda. Inzaghi entra numa pedreira em sua estreia na carreira de técnico e terá que tirar leite de pedra se não quiser acabar como o ex-companheiro Seedorf.


Napoli: manutenção do elenco e também das expectativas


Após o título da Coppa Italia, o Napoli mantém a filosofia de trabalho da última temporada. Com Rafa Benítez no comando, o time foi o terceiro colocado da Serie A e ficou na primeira fase da Champions League, em um grupo muito forte, que também contava com Olympique Marseille, Arsenal e Borussia Dortmund e foi disputado até a última rodada, com três times, incluindo o Napoli, terminando com a mesma pontuação e a decisão das vagas sendo feita nos critérios de desempate. Na Europa League, foi eliminado pelo Porto, nas oitavas.

Nesta pré-temporada, o Napoli não modificou a forma de jogar que teve relativo sucesso na última época. O 4-2-3-1 de Benítez, que se transformava em 4-4-2 na fase defensiva, deve continuar, já que a base foi mantida e chegaram algumas contratações pontuais, sem muito alarde, que devem dar boas opções para todas as posições. As aquisições mais importantes são o centroavante espanhol Michu, que também pode atuar como ponta-de-lança, e o promissor zagueiro francês Koulibaly, que chega para disputar posição com Henrique e Britos para ver quem forma dupla de zaga com Raul Albiol, além do goleiro argentino Mariano Andújar, com a missão de fazer sombra a Rafael, e do volante holandês Jonathan De Guzmán, contratado para suprir a falta de Behrami, negociado com o Hamburgo. Gargano volta de empréstimo e será utilizado, a princípio.

Barcelona x Napoli: Benítez arma um 4-4-2 compacto com marcação em bloco médio

Taticamente, o Napoli não deve apresentar muitas variações. O já citado 4-2-3-1 deve continuar a ser utilizado, com marcação em bloco médio e baixo e valorização da posse de bola, principalmente no meio-campo, com os bons volantes Inler e Jorginho, que volta para fazer a distribuição a partir de trás, entre os zagueiros. As jogadas de ataque devem seguir se baseando na velocidade pelas pontas, seja com Callejón, Mertens ou Insigne, contando com o bom apoio dos ofensivos Maggio e Ghoulam que, mesmo com seis meses irregulares no San Paolo, pode despontar após Copa segura com a Argélia.  A possibilidade de variação para jogos mais cascudos do campeonato italiano e da Champions League pode ser para um 4-1-4-1, com Gargano ou Dzemaili no lugar de Hamsik – que deixou de ser intocável há algum tempo – para atuar ao lado de Inler, formando duas linhas de quatro com Jorginho entre elas.

Duas variações possíveis do Napoli para a temporada: 4-2-3-1 deve ser o esquema mais utilizado com o 4-1-4-1 como alternativa para jogos mais pesados

O Napoli chega à segunda temporada sob o comando de Rafa Benítez e De Laurentis não aceitará menos sucesso do que na última. Com a saída de Conte da Juventus e com Inter e especialmente Milan ainda sem muitas perspectivas de brigar pelo título, o Napoli tem mais chances de voltar a levantar o Scudetto, tendo que perseguir Juventus e Roma, um pouco à frente na disputa. O primeiro grande desafio da temporada é na Europa e acontece ainda este mês, já que o sorteio indigesto colocou o bom Athletic Bilbao no caminho do time napolitano para os play-offs da fase de grupos da Champions League e o 1-1 da partida de ida, no San Paolo, é um resultado muito difícil de reverter fora de casa. Uma possível desclassificação antes mesmo da fase de grupos seria desastrosa para as pretensões do Napoli na temporada.


Roma: o time mais moderno da Itália agora quer o scudetto


A última temporada era pra ser de reconstrução para a Roma, mas o sucesso foi experimentado logo de cara, com um vice-campeonato na Serie A trás campanha irretocável com pontuação de campeão. No entanto, os 85 pontos romanistas não foram páreos para os incríveis 102 da tricampeã Juventus.

A mudança de patamar da Roma na última temporada se deve quase que completamente à chegada de Rudi García. O francês é um dos melhores técnicos emergentes do futebol europeu e sua ida para a Itália fez um bem enorme ao futebol do país, um pouco atrasado taticamente em comparação com outros centros da Europa.

García veio de ótimo trabalho no Lille e comandou com maestria a volta da Roma à Champions League. Iniciando os trabalhos no mercado, o então novo técnico romanista mesclou contratações de jogadores já consolidados por quantias razoáveis, com apostas em atletas experientes mas em baixa no futebol europeu, como Maicon e Morgan De Sanctis. Ambos chegaram com contratos curtos e a valores baixos e deram bom retorno, principalmente o goleiro, ignorado por Rafa Benítez no Napoli para se tornar um dos melhores arqueiros da temporada italiana em Roma.

Para 2014-15, já com um grupo formado, o trabalho de García está sendo mais para reforçar o bom elenco visando dar equilíbrio a um time que disputará várias competições. Neste sentido, a política de contratações não mudou e o time da capital trouxe o zagueiro Davide Astori (empréstimo com opção de compra) e o meia-atacante Juan Iturbe, destaque do Hellas Verona na última Serie A. Salih Uçan, Leandro Paredes e Antonio Sanabria são jovens que chegam como apostas para o futuro. A exemplo do que aconteceu com Maicon e De Sanctis, a Roma incorporou sem custos e com contratos curtos o lateral Ashley Cole, o lateral/meia Urby Emanuelson e o volante Seydou Keita, que acrescentarão muita experiência europeia a um clube que volta à Champions League após três temporadas de ausência.

Até o presente momento, a Roma não perdeu ninguém importante, apesar de muitas especulações vincularem o nome do excelente zagueiro Mehdi Benatia aos gigantes Bayern de Munique e Manchester United. Caso o defensor seja negociado, a ótima dupla com Leandro Castán será desfeita e Astori deve ser o novo companheiro do brasileiro na zaga. Desta forma, Rudi García já começa a definir o time romanista que iniciará a época.

A Roma não deve fugir muito do que apresentou em 2013-14 em termos táticos. O 4-1-4-1 que se transforma em 4-3-3 em fase ofensiva deve ser a toada para a temporada que está por se iniciar. O sistema é mais interessante com Kevin Strootman fazendo a saída no meio-campo pela esquerda, mas enquanto o holandês não se recupera de grave lesão, Nainggolan é quem deve fazer companhia a Pjanic no meio-campo, à frente de De Rossi, com Keita como opção.  Il Capitano, Francesco Totti, é o homem mais avançado do sistema, mas, com a bola em posse romanista, recua muitas vezes para ajudar na criação, enquanto os pontas fazem a infiltração em diagonal. Como Totti não tem condições físicas de atuar em todas as partidas, García utiliza uma variação desde a última temporada para o 4-2-3-1 em jogos em que o capitão não está à disposição. Nesta formação, Pjanic adianta para atuar como meia central, entre os jogadores de lado, tendo assim mais responsabilidades de ser o homem do último passe para suprir a falta de Totti e municiar os atacantes de lado de campo e o centroavante referência, geralmente Mattia Destro.

Com Totti e sem Totti. Variações de Rudi García são para adaptar Roma ao capitano, que é fundamental para o 4-1-4-1 com o ‘falso 9’, mas como não pode atuar em todas as partidas, o time necessita de uma variação com Destro como referência. O jovem centroavante foi o artilheiro do time na última temporada

Seja no 4-1-4-1 ou no 4-2-3-1, a Roma posiciona-se com linhas aproximadas em fase defensiva, com marcação em bloco médio/alto e combinando momentos de pressão na saída dos zagueiros adversários – ao adiantar os pontas para mais perto do centroavante – com agressividade no encurtamento de espaço no meio-campo, impossibilitando a transição adequada dos rivais e forçando a ligação direta.

 Roma x Fenerbahçe: 4-1-4-1 com Totti. Roma x Inter: 4-2-3-1 com Destro.

Os giallorossi apresentam o futebol mais moderno da bota, com intensidade na marcação e velocidade nas transições. Isto, combinado com a perda de protagonismo de Inter e Milan e com a saída de Antonio Conte da Juve, faz com que o time romanista chegue como principal rival dos bianconeri e com boas possibilidades de levar o scudetto de volta para a capital italiana após quatorze anos.

Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)

Palpites da equipe da Prancheta Tática para a Serie A:

Andrey Hugo: Roma
Caio Gondo: Juventus
Daniel Barud: Juventus
Diogo Ribeiro Martins: Roma
Felipe de Faria: Juventus
João Elias Cruz: Juventus
João Marcos Soares: Roma

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