No
Independência, Levir Culpi recebeu Doriva em seus domínios. O primeiro, técnico
desde 1986, dirige o mesmo clube no qual esteve 19 anos atrás. O segundo,
técnico desde o início deste ano, comanda o seu segundo time na profissão. Dois
técnicos, duas gerações e dois pensamentos diferentes. Apesar de Doriva
procurar fazer com que os seus times joguem no modo mais moderno da atualidade
e Levir Culpi ainda viver em modos da década de 90, o Atlético-MG de Levir foi
o vencedor da partida. Mostrando assim que nem sempre a tática vence sozinha.
Para esta vitória mineira, os dois Atléticos iniciaram no 4-2-3-1:
Atléticos
no 4-2-3-1.
O
Atlético-PR de Doriva continua apresentando os mesmos modos de jogar desde o
primeiro jogo dele no comando rubro-negro: time sempre em curta compactação, se
defendendo no 4-4-1-1 com as duas linhas de 4 bem próximas , procurando jogar
através de passes curtos, procura da manutenção da bola e velozes transições de
jogo. Apesar de tantos aspectos táticos modernos, o Furacão, assim como havia
sido contra o Fluminense, não apresentou a mesma intensidade de marcação dos
dois primeiros jogos de Doriva no time curitibano.
O
posicionamento defensivo do Atlético-PR no 4-4-1-1, em curta compactação e com
as duas linhas de 4 bem próximas (Reprodução: Sportv/ PFC).
Sem
o time marcar tão intensamente, o Atlético-MG conseguiu ficar mais tempo com a
posse da bola (60,80%) e os marcantes contra-ataques rubro-negros não saíram.
Já que o Atlético-PR não retomava a bola e não conseguia dar sequência em seus
passes em profundidade para os jogadores em projeção no espaço vazio. Nesta
partida contra o Galo, o Furacão desarmou somente 18 vezes e teve somente 85%
de acerto nos passes tentados. Nas outras três partidas de Doriva no comando do
Atlético-PR, estas estatísticas foram às seguintes:
Adversário/
estatística
|
Desarmes
|
%
de acerto nos passes
|
Atlético-MG
|
18
|
85
|
Fluminense
|
18
|
89
|
Criciúma
|
21
|
87
|
Flamengo
|
24
|
85
|
Números
retirados do site Footstats.
Ou
seja, se a atuação rubro-negra contra o Fluminense não foi das melhores, contra
o Atlético-MG foi ainda pior. O Furacão não conseguiu desarmar, não ficou com a
posse da bola, não acertou tantos passes e, ainda, sofreu três gols. Derrota
que refletiu os erros do Atlético-PR em campo. Já pelo lado mineiro, os três
gols feitos corresponderam o que o sistema ofensivo alvinegro fez.
O
Atlético-MG de Levir Culpi parece ainda viver nos anos 90. O Galo apresentou
uma compactação mais longa do que vários times da série A do Campeonato
Brasileiro; os três meias pouco voltavam para marcar; o posicionamento
defensivo do time foi também o 4-2-3-1; os dois volantes pouco participavam das
ações ofensivas do time, pois ficavam para cobrir as subidas dos laterais; os
dois laterais atacavam simultaneamente; e, por fim, somente a transição
defesa-ataque era veloz. Aliás, essa transição somada à movimentação do sistema
ofensivo do Atlético-MG fez mesmo a diferença na partida.
Como
o Atlético-MG se defendia no 4-2-3-1 e se mostrava compactado com cerca do
distanciamento anteriormente demonstrado, o espaço pelos lados e à frente dos
seus laterais ficavam constantemente vazios (espaços estes demonstrados pelos
quadrados azuis).
O
flagrante, que tem a mesma imagem do outro flagrante, mostra dois aspectos que
um ataque deve ter: amplitude e profundidade. No caso do Atlético-MG, a
amplitude é feita através da subida simultânea dos laterais e a profundidade
com Jô sempre posicionado no limite da linha entre os zagueiros adversários
(Reprodução: Sportv/ PFC).
O
Galo teve 60,80%, acertou 91% dos passes tentados (com 412 de passes certos),
finalizou 16 vezes e, ainda, para desestabilizar o sistema defensivo
adversário, a transição defesa-ataque apresentava dois modos para saída de
jogo: o recuo de Jô no espaço entrelinhas e a virada de jogo já no terço
central do campo.
O
recuo de Jô no espaço entre a linha defensiva e a do meio-de-campo do
Atlético-PR foi frequentemente utilizado. Como este atacante sempre se
posicionava na linha dos dois zagueiros adversários e quando ele percebia o
espaço vazio nas costas dos volantes do Furacão, Jô saia do seu posicionamento
inicial e partia para fazer o pivô no espaço entrelinhas rubro-negra. Como os
três meias alvinegros não jogavam tão aberto e não voltavam tanto para ajudar o
sistema defensivo, os contra-ataques do Atlético-MG estava sempre armado. A
imagem adiante mostra a movimentação de Jô e dos três meias praticamente na
faixa central do campo:
No
flagrante, Jô saiu da linha dos dois zagueiros adversários e já está
posicionado entre a linha defensiva e a do meio-de-campo do Atlético-PR. Com o
passe correto e trabalho de pivô nesta região do campo, Jô acabou dando
sequência no contra-ataque do Galo com os três meias bem próximos se projetando
no espaço vazio no campo defensivo adversário (Reprodução: Sportv/ PFC).
Já
em relação às viradas de jogo do Atlético-MG no terço central do campo, elas
foram fundamentais para achar um jogador do Galo posicionado livre do outro
lado do campo. Estas viradas aconteceram mais logo após a retomada da bola pelo
Galo em campo defensivo. Com a bola em seu domínio, o sistema defensivo do
Atlético-PR tinha acabado de sair da situação ofensiva e, assim, um dos laterais
estava próximo da bola e o quarteto ofensivo praticamente fora da jogada (já
que os quatro ainda demonstram lenta transição ataque-defesa). Sem estes
jogadores, a linha defensiva e os dois volantes rubro-negros balançam para o
lado da bola, mas rapidamente ela era tocada para o terço central do campo. Neste
setor, havia quatro jogadores do Atlético-MG contra, no máximo, dois volantes
do Furacão. Com 4x2 no setor, o Galo conseguia trocar o lado da jogada e achar
um jogador do seu time frequentemente no outro lado do campo. A ilustração a
seguir demonstrará o explicado anterior:
Ao
retomar a bola, o Atlético-MG logo jogava ela no terço central do campo. Nesta
região, havia os dois volantes do Galo auxiliando na saída de jogo e dois dos
três meias que não recuavam para marcar. Com 4x2 no setor, facilmente a bola
era tocada para o outro lado do campo onde ou um dos meias se projetava ou o
lateral do lado oposto do início da jogada avançava. Ao todo, foram 10 viradas
de jogo dos comandados de Levir Culpi.
Com o
recuo entrelinhas de Jô e as fáceis viradas de jogo no terço central do campo,
o Atlético-MG conseguiu ficar com a bola por quase todo o tempo em campo
ofensivo. O heatmap da equipe demonstra isto:
Com
o recuo entrelinhas de Jô e as fáceis viradas de jogo no terço central do
campo, o Atlético-MG apresentou um heatmap a seu favor praticamente em campo
ofensivo. Méritos a Levir Culpi e o sistema ofensivo alvinegro.
As
substituições dos técnicos foram amenizar os defeitos de cada equipe. Elas
amenizaram, mas pouco mudaram o panorama do jogo. Pelo lado paranaense, Bruno
Furlan e Dellatorre entraram no lugar de Marcelo e Cléo. Furlan acrescentou a
entrada na diagonal da direita para o centro e Dellatorre “empurrou” Douglas
Coutinho o centro do ataque, pois assim a referência do ataque poderia abrir
mais espaços do que Cléo estava fazendo. Já pelo lado mineiro da partida, as
entradas de Luan e de Dátolo, nos lugares de Jô e de Guilherme, serviram para que os contra-ataques
do Galo fossem ainda mais rápidos e para que Dátolo fizesse a composição
defensiva pelo meio. Com o argentino voltando mais do que Guilherme, o meio do
campo da partida se tornou ainda mais alvinegro durante o segundo tempo.
Fim
de jogo: os dois Atléticos terminaram no 4-2-3-1 inicial.
Por Caio Gondo (@CaioGondo)