segunda-feira, 4 de agosto de 2014

No duelo dos Atléticos, o Mineiro venceu

No Independência, Levir Culpi recebeu Doriva em seus domínios. O primeiro, técnico desde 1986, dirige o mesmo clube no qual esteve 19 anos atrás. O segundo, técnico desde o início deste ano, comanda o seu segundo time na profissão. Dois técnicos, duas gerações e dois pensamentos diferentes. Apesar de Doriva procurar fazer com que os seus times joguem no modo mais moderno da atualidade e Levir Culpi ainda viver em modos da década de 90, o Atlético-MG de Levir foi o vencedor da partida. Mostrando assim que nem sempre a tática vence sozinha. Para esta vitória mineira, os dois Atléticos iniciaram no 4-2-3-1:

Atléticos no 4-2-3-1.

O Atlético-PR de Doriva continua apresentando os mesmos modos de jogar desde o primeiro jogo dele no comando rubro-negro: time sempre em curta compactação, se defendendo no 4-4-1-1 com as duas linhas de 4 bem próximas , procurando jogar através de passes curtos, procura da manutenção da bola e velozes transições de jogo. Apesar de tantos aspectos táticos modernos, o Furacão, assim como havia sido contra o Fluminense, não apresentou a mesma intensidade de marcação dos dois primeiros jogos de Doriva no time curitibano.

O posicionamento defensivo do Atlético-PR no 4-4-1-1, em curta compactação e com as duas linhas de 4 bem próximas (Reprodução: Sportv/ PFC).

Sem o time marcar tão intensamente, o Atlético-MG conseguiu ficar mais tempo com a posse da bola (60,80%) e os marcantes contra-ataques rubro-negros não saíram. Já que o Atlético-PR não retomava a bola e não conseguia dar sequência em seus passes em profundidade para os jogadores em projeção no espaço vazio. Nesta partida contra o Galo, o Furacão desarmou somente 18 vezes e teve somente 85% de acerto nos passes tentados. Nas outras três partidas de Doriva no comando do Atlético-PR, estas estatísticas foram às seguintes:

Adversário/ estatística
Desarmes
% de acerto nos passes
Atlético-MG
18
85
Fluminense
18
89
Criciúma
21
87
Flamengo
24
85
Números retirados do site Footstats.

Ou seja, se a atuação rubro-negra contra o Fluminense não foi das melhores, contra o Atlético-MG foi ainda pior. O Furacão não conseguiu desarmar, não ficou com a posse da bola, não acertou tantos passes e, ainda, sofreu três gols. Derrota que refletiu os erros do Atlético-PR em campo. Já pelo lado mineiro, os três gols feitos corresponderam o que o sistema ofensivo alvinegro fez.

O Atlético-MG de Levir Culpi parece ainda viver nos anos 90. O Galo apresentou uma compactação mais longa do que vários times da série A do Campeonato Brasileiro; os três meias pouco voltavam para marcar; o posicionamento defensivo do time foi também o 4-2-3-1; os dois volantes pouco participavam das ações ofensivas do time, pois ficavam para cobrir as subidas dos laterais; os dois laterais atacavam simultaneamente; e, por fim, somente a transição defesa-ataque era veloz. Aliás, essa transição somada à movimentação do sistema ofensivo do Atlético-MG fez mesmo a diferença na partida.

Como o Atlético-MG se defendia no 4-2-3-1 e se mostrava compactado com cerca do distanciamento anteriormente demonstrado, o espaço pelos lados e à frente dos seus laterais ficavam constantemente vazios (espaços estes demonstrados pelos quadrados azuis).

O flagrante, que tem a mesma imagem do outro flagrante, mostra dois aspectos que um ataque deve ter: amplitude e profundidade. No caso do Atlético-MG, a amplitude é feita através da subida simultânea dos laterais e a profundidade com Jô sempre posicionado no limite da linha entre os zagueiros adversários (Reprodução: Sportv/ PFC).

O Galo teve 60,80%, acertou 91% dos passes tentados (com 412 de passes certos), finalizou 16 vezes e, ainda, para desestabilizar o sistema defensivo adversário, a transição defesa-ataque apresentava dois modos para saída de jogo: o recuo de Jô no espaço entrelinhas e a virada de jogo já no terço central do campo.

O recuo de Jô no espaço entre a linha defensiva e a do meio-de-campo do Atlético-PR foi frequentemente utilizado. Como este atacante sempre se posicionava na linha dos dois zagueiros adversários e quando ele percebia o espaço vazio nas costas dos volantes do Furacão, Jô saia do seu posicionamento inicial e partia para fazer o pivô no espaço entrelinhas rubro-negra. Como os três meias alvinegros não jogavam tão aberto e não voltavam tanto para ajudar o sistema defensivo, os contra-ataques do Atlético-MG estava sempre armado. A imagem adiante mostra a movimentação de Jô e dos três meias praticamente na faixa central do campo:

No flagrante, Jô saiu da linha dos dois zagueiros adversários e já está posicionado entre a linha defensiva e a do meio-de-campo do Atlético-PR. Com o passe correto e trabalho de pivô nesta região do campo, Jô acabou dando sequência no contra-ataque do Galo com os três meias bem próximos se projetando no espaço vazio no campo defensivo adversário (Reprodução: Sportv/ PFC).

Já em relação às viradas de jogo do Atlético-MG no terço central do campo, elas foram fundamentais para achar um jogador do Galo posicionado livre do outro lado do campo. Estas viradas aconteceram mais logo após a retomada da bola pelo Galo em campo defensivo. Com a bola em seu domínio, o sistema defensivo do Atlético-PR tinha acabado de sair da situação ofensiva e, assim, um dos laterais estava próximo da bola e o quarteto ofensivo praticamente fora da jogada (já que os quatro ainda demonstram lenta transição ataque-defesa). Sem estes jogadores, a linha defensiva e os dois volantes rubro-negros balançam para o lado da bola, mas rapidamente ela era tocada para o terço central do campo. Neste setor, havia quatro jogadores do Atlético-MG contra, no máximo, dois volantes do Furacão. Com 4x2 no setor, o Galo conseguia trocar o lado da jogada e achar um jogador do seu time frequentemente no outro lado do campo. A ilustração a seguir demonstrará o explicado anterior:

Ao retomar a bola, o Atlético-MG logo jogava ela no terço central do campo. Nesta região, havia os dois volantes do Galo auxiliando na saída de jogo e dois dos três meias que não recuavam para marcar. Com 4x2 no setor, facilmente a bola era tocada para o outro lado do campo onde ou um dos meias se projetava ou o lateral do lado oposto do início da jogada avançava. Ao todo, foram 10 viradas de jogo dos comandados de Levir Culpi.

Com o recuo entrelinhas de Jô e as fáceis viradas de jogo no terço central do campo, o Atlético-MG conseguiu ficar com a bola por quase todo o tempo em campo ofensivo. O heatmap da equipe demonstra isto:

Com o recuo entrelinhas de Jô e as fáceis viradas de jogo no terço central do campo, o Atlético-MG apresentou um heatmap a seu favor praticamente em campo ofensivo. Méritos a Levir Culpi e o sistema ofensivo alvinegro.

As substituições dos técnicos foram amenizar os defeitos de cada equipe. Elas amenizaram, mas pouco mudaram o panorama do jogo. Pelo lado paranaense, Bruno Furlan e Dellatorre entraram no lugar de Marcelo e Cléo. Furlan acrescentou a entrada na diagonal da direita para o centro e Dellatorre “empurrou” Douglas Coutinho o centro do ataque, pois assim a referência do ataque poderia abrir mais espaços do que Cléo estava fazendo. Já pelo lado mineiro da partida, as entradas de Luan e de Dátolo, nos lugares de Jô e de  Guilherme, serviram para que os contra-ataques do Galo fossem ainda mais rápidos e para que Dátolo fizesse a composição defensiva pelo meio. Com o argentino voltando mais do que Guilherme, o meio do campo da partida se tornou ainda mais alvinegro durante o segundo tempo.

Fim de jogo: os dois Atléticos terminaram no 4-2-3-1 inicial.


Por Caio Gondo (@CaioGondo)