quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Arbitragem amarra o jogo, e clássico interior-capital acaba empatado em Santa Catarina

Apesar de o principal dérbi de Santa Catarina ser entre Figueirense e Avaí, que são da mesma cidade, os enfrentamentos entre o time alvinegro de Florianópolis e o Criciúma, do sul do estado, têm sido de grande rivalidade, sobretudo nos últimos anos, já que os dois clubes têm ocupado posição de maior destaque no futebol nacional e há sempre aquela disputa de torcidas, para ver qual é o clube mais importante de SC em termos nacionais.

As rivalidades geralmente engrandecem os jogos, mas, nesta quarta-feira, a partida entre Figueirense e Criciúma esteve longe de agradar o torcedor que foi ao Orlando Scarpelli, também por culpa da arbitragem. Paulo Henrique de Godoy Bezerra é conhecido por parar muito o jogo e, desta forma, atrapalhar seu andamento. Foram 51 faltas, muitas inexistentes ou rigorosas, marcadas no duelo entre o Furacão do Estreito e o Tigre. A média do Brasileirão, que já é alta, é de pouco mais de 33 faltas por jogo.

Taticamente, os dois times utilizam esquemas iguais, mas estilos de jogo distintos. O Figueirense atua em um 4-3-1-2 leve, com boa chegada dos volantes de lado, apoio dos laterais e bastante movimentação entre os homens de frente. Já o Criciúma é um time clássico de Gilmar Dal Pozzo. O técnico que levou a pequena Chapecoense à Série A não tem muito compromisso com o futebol moderno, mas monta times consistentes e bastante competitivos. O Tigre atua em um 4-3-1-2 estruturalmente parecido com o do Figueirense, mas que depende muito da velocidade de Silvinho, único atleta leve do meio pra frente, e do apoio dos laterais, sobretudo Eduardo pela direita. Os volantes criciumenses, em especial João Vitor, até têm boa chegada no ataque, mas são pesados e não possuem características de organização do jogo a partir de trás, como Marco Antônio no Figueirense, por exemplo, e a criação das jogadas de ataque do time, quando não feita pelos lados, fica concentrada no enganche, que por vezes é Paulo Baier, mas que, no clássico, foi Cleber Santana.

Figueirense e Criciúma espelhados no esquema tático, mas com formas de jogo diferentes.

Apesar de terem sistemas defensivos até certo ponto seguros, nenhum dos dois times adota propostas reativas claras, buscam o ataque quando têm a bola e se defendem de maneiras diferentes. A recomposição defensiva do Criciúma se dá com uma linha de três volantes à frente da primeira linha de quatro. Contra o Figueirense, os volantes basculavam sempre para o lado da bola muito próximos um do outro e exerciam marcação agressiva ao portador da bola. A basculação defensiva sempre foi essencial no futebol, sobretudo em times que jogam com linhas de quatro homens no meio, mas a proximidade do balanço para o lado da bola do time do Criciúma, apesar de ajudar no bom número de desarmes, 26 no total (a média do campeonato é 21), acaba por proporcionar a virada de jogo ao adversário, que é reconhecidamente uma ótima arma para quebrar sistemas defensivos. No clássico, o Figueirense conseguiu 8 viradas, todas com sucesso.

Balanço defensivo do Criciúma encurtava o espaço no setor onde a bola estava sendo trabalhada, mas, quando o espaço era encontrado pelo portador, sobravam opções de virada de jogo (Reprodução: SporTV)

O time da capital do estado, por sua vez, marcava também com linhas próximas, e, já que Giovanni Augusto participava mais da recomposição defensiva do que Cleber Santana, pelo Criciúma, a equipe conseguia manter suas linhas por mais espaços do campo na marcação. Mesmo com um posicionamento defensivo mais moderno, o Figueirense teve seu sistema furado algumas vezes pela dobradinha Eduardo-Silvinho pela direita, de onde saíram as jogadas do pênalti perdido por Zé Carlos e do gol de Silvinho, em cruzamento de Eduardo, o principal jogador criciumense no jogo. William Cordeiro, lateral-direito de origem, mais uma vez precisou ser utilizado na esquerda, após lesão de Cereceda no início da partida, e não deu conta da marcação pelo setor, muito também porque o volante mais próximo, França, voltando de longa inatividade, estava sem ritmo e não demonstra muito comprometimento com o Figueira, o que é evidenciado em seu comportamento fora de campo e se torna também perceptível dentro das quatro linhas.

Apesar da leve superioridade do Criciúma, que levou mais perigo e saiu vencedor, o primeiro tempo foi equilibrado, com as ações do jogo bastante divididas entre os dois times, isso quando o árbitro permitia à bola rolar. O ponto que mudou o jogo aconteceu na volta do intervalo, quando, inexplicavelmente, Gilmar Dal Pozzo sacou Silvinho, única opção de desafogo na frente que conseguia romper o sistema defensivo do Figueirense, tanto que sofreu o pênalti e marcou o gol. Para o seu lugar, entrou Paulo Baier, mais um jogador lento para tornar o meio-campo tricolor ainda mais pesado e amarrado. No lado do Figueirense, Argel Fucks foi novamente ousado e tirou o volante França – que havia se envolvido em discussão com torcedores no fim do primeiro tempo – para colocar o atacante Pablo, voltando ao 4-2-3-1 do segundo tempo da vitória contra o Internacional e dos 90 minutos do empate com o Fluminense. A inferioridade numérica do Tigre na defesa e no ataque desestruturou o time e o Figueirense passou a controlar um pouco mais a partida, chegando ao gol de empate com Thiago Heleno, após escanteio cobrado por Marco Antônio. A bola parada do camisa 8 alvinegro foi a principal arma do Figueira na partida, estratégia justificada pela grande quantidade de faltas marcadas pelo árbitro, sobretudo no meio-campo e nas intermediárias.

Para a segunda parte, Figueirense passou a atuar em um 4-2-3-1, concentrando suas ações pelas pontas e o Criciúma, no mesmo esquema, mas ainda mais pesado e lento, não foi capaz de segurar a ótima vitória parcial fora de casa

Sem qualquer profundidade, o Criciúma tentava prender a bola com Zé Carlos, Paulo Baier e Cleber Santana no ataque, sem assustar, o que só conseguia nas investidas de Eduardo pela direita. O Figueirense chegava bem ao ataque pelos lados, com Pablo, Leandro Silva e Giovanni Augusto pela direita e com William Cordeiro, Marco Antônio e Clayton pela esquerda. Mesmo sem muitas chances claras, o Figueira dominou as ações ofensivas e pouco sofreu na defesa.

O resultado acabou sendo ruim para as duas equipes, já que o Figueirense se aproximou da zona do rebaixamento e o Criciúma se manteve entre os quatro últimos e, com apenas 11 gols e nenhuma vitória fora de casa no campeonato, apresenta uma atitude dentro de campo sob as ordens de Dal Pozzo que não dá muitas esperanças ao torcedor carvoeiro.

*Dados estatísticos retirados do portal Footstats.


Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)