Apesar de o principal dérbi de Santa Catarina ser
entre Figueirense e Avaí, que são da mesma cidade, os enfrentamentos entre o
time alvinegro de Florianópolis e o Criciúma, do sul do estado, têm sido de
grande rivalidade, sobretudo nos últimos anos, já que os dois clubes têm
ocupado posição de maior destaque no futebol nacional e há sempre aquela
disputa de torcidas, para ver qual é o clube mais importante de SC em termos
nacionais.
As rivalidades geralmente engrandecem os jogos,
mas, nesta quarta-feira, a partida entre Figueirense e Criciúma esteve longe de
agradar o torcedor que foi ao Orlando Scarpelli, também por culpa da
arbitragem. Paulo Henrique de Godoy Bezerra é conhecido por parar muito o jogo
e, desta forma, atrapalhar seu andamento. Foram 51 faltas, muitas inexistentes
ou rigorosas, marcadas no duelo entre o Furacão do Estreito e o Tigre. A média
do Brasileirão, que já é alta, é de pouco mais de 33 faltas por jogo.
Taticamente, os dois times utilizam esquemas
iguais, mas estilos de jogo distintos. O Figueirense atua em um 4-3-1-2 leve,
com boa chegada dos volantes de lado, apoio dos laterais e bastante
movimentação entre os homens de frente. Já o Criciúma é um time clássico de
Gilmar Dal Pozzo. O técnico que levou a pequena Chapecoense à Série A não tem
muito compromisso com o futebol moderno, mas monta times consistentes e bastante
competitivos. O Tigre atua em um 4-3-1-2 estruturalmente parecido com o do
Figueirense, mas que depende muito da velocidade de Silvinho, único atleta leve
do meio pra frente, e do apoio dos laterais, sobretudo Eduardo pela direita. Os
volantes criciumenses, em especial João Vitor, até têm boa chegada no ataque,
mas são pesados e não possuem características de organização do jogo a partir
de trás, como Marco Antônio no Figueirense, por exemplo, e a criação das
jogadas de ataque do time, quando não feita pelos lados, fica concentrada no enganche,
que por vezes é Paulo Baier, mas que, no clássico, foi Cleber Santana.
Figueirense e Criciúma espelhados no esquema tático,
mas com formas de jogo diferentes.
Apesar de terem sistemas defensivos até certo ponto
seguros, nenhum dos dois times adota propostas reativas claras, buscam o ataque
quando têm a bola e se defendem de maneiras diferentes. A recomposição
defensiva do Criciúma se dá com uma linha de três volantes à frente da primeira
linha de quatro. Contra o Figueirense, os volantes basculavam sempre para o
lado da bola muito próximos um do outro e exerciam marcação agressiva ao
portador da bola. A basculação defensiva sempre foi essencial no futebol,
sobretudo em times que jogam com linhas de quatro homens no meio, mas a proximidade
do balanço para o lado da bola do time do Criciúma, apesar de ajudar no bom
número de desarmes, 26 no total (a média do campeonato é 21), acaba por
proporcionar a virada de jogo ao adversário, que é reconhecidamente uma ótima
arma para quebrar sistemas defensivos. No clássico, o Figueirense conseguiu 8
viradas, todas com sucesso.
Balanço defensivo do Criciúma encurtava o espaço no
setor onde a bola estava sendo trabalhada, mas, quando o espaço era encontrado
pelo portador, sobravam opções de virada de jogo (Reprodução: SporTV)
O time da capital do estado, por sua vez, marcava
também com linhas próximas, e, já que Giovanni Augusto participava mais da
recomposição defensiva do que Cleber Santana, pelo Criciúma, a equipe conseguia
manter suas linhas por mais espaços do campo na marcação. Mesmo com um posicionamento
defensivo mais moderno, o Figueirense teve seu sistema furado algumas vezes
pela dobradinha Eduardo-Silvinho pela direita, de onde saíram as jogadas do
pênalti perdido por Zé Carlos e do gol de Silvinho, em cruzamento de Eduardo, o
principal jogador criciumense no jogo. William Cordeiro, lateral-direito de
origem, mais uma vez precisou ser utilizado na esquerda, após lesão de Cereceda
no início da partida, e não deu conta da marcação pelo setor, muito também
porque o volante mais próximo, França, voltando de longa inatividade, estava
sem ritmo e não demonstra muito comprometimento com o Figueira, o que é
evidenciado em seu comportamento fora de campo e se torna também perceptível
dentro das quatro linhas.
Apesar da leve superioridade do Criciúma, que levou
mais perigo e saiu vencedor, o primeiro tempo foi equilibrado, com as ações do
jogo bastante divididas entre os dois times, isso quando o árbitro permitia à
bola rolar. O ponto que mudou o jogo aconteceu na volta do intervalo, quando,
inexplicavelmente, Gilmar Dal Pozzo sacou Silvinho, única opção de desafogo na
frente que conseguia romper o sistema defensivo do Figueirense, tanto que
sofreu o pênalti e marcou o gol. Para o seu lugar, entrou Paulo Baier, mais um
jogador lento para tornar o meio-campo tricolor ainda mais pesado e amarrado. No
lado do Figueirense, Argel Fucks foi novamente ousado e tirou o volante França –
que havia se envolvido em discussão com torcedores no fim do primeiro tempo –
para colocar o atacante Pablo, voltando ao 4-2-3-1 do segundo tempo da vitória
contra o Internacional e dos 90 minutos do empate com o Fluminense. A
inferioridade numérica do Tigre na defesa e no ataque desestruturou o time e o
Figueirense passou a controlar um pouco mais a partida, chegando ao gol de
empate com Thiago Heleno, após escanteio cobrado por Marco Antônio. A bola
parada do camisa 8 alvinegro foi a principal arma do Figueira na partida, estratégia justificada pela grande quantidade de faltas marcadas pelo árbitro, sobretudo no
meio-campo e nas intermediárias.
Para a segunda parte, Figueirense passou a atuar em um
4-2-3-1, concentrando suas ações pelas pontas e o Criciúma, no mesmo esquema,
mas ainda mais pesado e lento, não foi capaz de segurar a ótima vitória parcial
fora de casa
Sem qualquer profundidade, o Criciúma tentava
prender a bola com Zé Carlos, Paulo Baier e Cleber Santana no ataque, sem
assustar, o que só conseguia nas investidas de Eduardo pela direita. O
Figueirense chegava bem ao ataque pelos lados, com Pablo, Leandro Silva e
Giovanni Augusto pela direita e com William Cordeiro, Marco Antônio e Clayton
pela esquerda. Mesmo sem muitas chances claras, o Figueira dominou as ações
ofensivas e pouco sofreu na defesa.
O resultado acabou sendo ruim para as duas equipes,
já que o Figueirense se aproximou da zona do rebaixamento e o Criciúma se manteve
entre os quatro últimos e, com apenas 11 gols e nenhuma vitória fora de casa no
campeonato, apresenta uma atitude dentro de campo sob as ordens de Dal Pozzo
que não dá muitas esperanças ao torcedor carvoeiro.
*Dados
estatísticos retirados do portal Footstats.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)