Depois
de um pouco mais de dois meses da Copa do Mundo no Brasil, finalmente vi novamente
um dos aspectos táticos mais diferentes dela em terras brasileiras. O
Atlético-PR, de Claudinei Oliveira, se defendeu com uma linha de 5 marcando por
zona e com o sistema defensivo compactado em curto espaço. Porém do outro lado
estava o líder Cruzeiro e todo seu volume ofensivo avassalador. Para o placar
final ter sido 2 x 0, as duas equipes começaram desta maneira:
Atlético-PR
no 3-4-3 e Cruzeiro no 4-2-3-1.
A
partida foi no Mineirão e o Cruzeiro, desde o começo da partida, ditou o ritmo
da partida. A Raposa atacava com Éverton Ribeiro e Alisson entrando na diagonal
para abrir corredores para os ataques simultâneos de Mayke e Egídio, Julio
Baptista como ponta-de-lança, Henrique e Lucas Silva participando das ações
ofensivas em campo ofensivo e com grande volume ofensivo. Porém do outro lado,
Claudinei Oliveira surpreendeu a todos.
O
sistema ofensivo do Cruzeiro: Éverton Ribeiro e Alisson entrando nas diagonais,
abrindo corredores para Mayke e Ceará atacarem simultaneamente e, as peças ofensivas
importantes, Lucas Silva e Henrique. Como os dois atuam em campo ofensivo ao
mesmo tempo, eles são quem fazem os últimos passes para os constantes
cruzamentos dos laterais. Contra o Atlético-PR, foram 30 bolas alçadas na área
de Weverton.
O
Atlético-PR, durante o primeiro tempo todo, atuou no 3-4-3. Ofensivamente, como
o time sequer havia jogado neste esquema tático ainda, a equipe atacava no
3-4-3, mas os jogadores não se acharam em campo ofensivo. Tanto que diversos
possíveis contra-ataques foram quebrados rapidamente e o Furacão só finalizou
uma vez, em 45 minutos. Já defensivamente, o rubro-negro paranaense estava bem.
Claudinei
Oliveira viu e aprendeu como o sistema defensivo mais incomum, até então, da
Copa do Mundo funciona. Pois o Atlético-PR, durante o primeiro tempo, se
defendeu com uma linha 5 marcando por zona e com todos os jogadores em curta
compactação. A intenção era muito diferente em terras tupiniquins. Porém como o
Furacão tem muitos jogadores brasileiros, o sistema defensivo foi “adaptado”
para ou por eles.
No
flagrante acima, percebe-se todos os jogadores do Atlético-PR participando da
ação defensiva e em curta compactação, porém de forma brasileira: os “wingers” (Marcelo
e Douglas Coutinho) marcam só até o terço central do campo. Com isso, o
posicionamento defensivo do Furacão foi o 5-2-3 e gerou as seguintes consequências
(Reprodução: Sportv/ PFC):
Pelo
flagrante acima, nota-se Mayke (o lateral-direito do Cruzeiro) no terço
defensivo do Atlético-PR e Douglas Coutinho parado até o seu “limite”
defensivo. Como Coutinho, assim como Marcelo, não recuava para formar uma linha
de 4 com Deivid e João Paulo, os volantes eram quem balançavam defensivamente
para realizar a marcação à frente de Sueliton e Natanael –assim como mostra o
flagrante acima (Reprodução: Sportv/ PFC).
Como
o Atlético-PR atuou com dois volantes, um meia e dois atacantes, o time não se
defendeu de nenhuma das maneiras da Copa do Mundo, que foram o 5-3-2 ou 5-4-1.
No flagrante acima, percebe-se o México se defendendo no 5-3-2 e os seus três
volantes balançando defensivamente e, ainda, cobrindo o centro todo –pois havia
Salcido e Guardado na região central (Reprodução: De Portes).
Já
o Equador, que neste momento da partida estava ganhando da Honduras, se
posicionou no 5-4-1. Pela imagem acima, nota-se que os meias de lado estão bem
parecidos com os posicionamentos de Douglas Coutinho e Marcelo, porém, em
situação defensiva, eles se posicionavam ao lado dos volantes e o time se
defendia no 5-4-1.
Diferentemente
da adaptação que o meio-de-campo sofreu em relação aos sistemas defensivos da
Copa do Mundo no 5-4-1, a linha defensiva de 5 do Atlético-PR atuou de modo
semelhante às linhas defensivas de 5 do mundial. Os cinco defensores marcaram
por zona e formava uma linha de 4 quando um deles partia para o combate. Veja
no flagrante abaixo a saída para “caça” de Willian Rocha e a formação de linha
de 4 dos outros defensores:
Com
Willian Rocha partindo para o combate à frente, a linha defensiva passou a
formar uma linha de 4 atrás. Ou seja, mantendo a marcação por zona, assim como
as linhas defensivas da Copa do Mundo de 2014.
No
flagrante acima, percebe-se um dos diversos exemplos que aconteceu durante a
Copa do Mundo no Brasil: um dos defensores da linha de 5 parte para o combate
enquanto que os demais se posicionam em linha de 4. Claudinei Oliveira –técnico
do Atlético-PR- fez isso muito bem em seu time contra o Cruzeiro (Reprodução: De Portes).
Entretanto
o gol de Alisson, aos 26 do primeiro tempo, fez o Furacão se perder pelo resto
do primeiro tempo. Como a equipe estava postada para jogar reativamente e o
desentrosamento posicional em campo ofensivo estava prejudicando o time, o
Atlético-PR conseguiu finalizar somente uma vez em 45 minutos. E foi para fora.
Um dos motivos desse pequeno volume ofensivo se deve a falta de percepção de
como era a saída de bola nas seleções que jogaram com três zagueiros na Copa do
Mundo.
O
Atlético-PR, apesar de jogar com três zagueiros, não realizou a saída de jogo
que tanto ajudou as seleções da Copa do Mundo de 2014 a ter superioridade
numérica pelos lados do campo. E pior, o Furacão saiu freqüentemente nos
chutões/ lançamentos de Weverton para Marcelo e Douglas Coutinho abertos, porém
os dois estavam com dupla marcação próxima, assim como mostra a imagem acima.
Ao todo, o goleiro do time rubro-negro realizou 23 lançamentos/ chutões.
Na
Copa do Mundo no Brasil, foi frequente esquema com três zagueiros saírem com a
bola tocando desde o seu campo defensivo. Já que foi ainda mais frequente,
seleções se defenderem com duas linhas de 4 e tendo seus wingers empurrados
pelos avanços sem bola dos alas. Deste modo, abrindo os espaços vermelhos acima
para que qualquer jogador da equipe com três zagueiros possa jogar.
No
intervalo, somente Marcelo Oliveira realizou substituição. Saiu Julio Baptista
para a entrada de William. Com esta substituição, Éverton Ribeiro passou a ser
meia central e William foi jogar aberto pelos lados. Já em relação ao
Atlético-PR, Claudinei não realizou substituição, mas modificou o esquema
tático da sua equipe. Do 3-4-3, o time voltou no 4-2-3-1.
No
4-2-3-1 do Atlético-PR no começo do segundo tempo, percebe-se os mesmo
jogadores do primeiro tempo, mas em posicionamento diferente.
Na
segunda etapa, as duas equipes procuraram propor o jogo e, enquanto o time
adversário estava com a bola, a compactação entre intermediárias foi a
procurada por ambas. O 4-2-3-1 já foi utilizado por Claudinei no Atlético-PR, e
assim como nas outras vezes, a equipe foi muito espaçada nas transições
ofensivas. Como o Cruzeiro já está acostumado a jogar desta maneira, em uma das
diversas retomadas de bola no terço central do campo resultou no gol de Marcelo
Moreno, aos 9 do segundo tempo.
Assim
como foi contra o Palmeiras, o Atlético-PR no 4-2-3-1 apresenta o espaçamento mostrado
pelo flagrante acima no início da transição ofensiva. Com tanto espaço sem
jogador atleticano, o Cruzeiro apertava os volantes rubro-negros no terço
central do campo e partia para o gol de Weverton contra somente a linha
defensiva (Reprodução: Sportv).
Tentando
melhorar o seu sistema ofensivo e a sua saída de bola, Claudinei colocou
Sidcley, Mosquito e Hernani. Estes três jogadores realmente recuaram mais para
auxiliar na saída de bola, mas Marcelo como a referência central do ataque
pouco contribuiu na partida. No segundo tempo todo, o Atlético-PR fez nenhuma
finalização.
Já o
Cruzeiro, com 2 x 0 no placar, aos poucos foi recuando na partida. Dos 25
minutos do segundo tempo para frente, Marcelo Oliveira colocou Marlone e Nilton
nos lugares de Alisson e Éverton Ribeiro, e, também, os laterais passaram a não
mais atacar. O posicionamento defensivo espaçado no 4-2-3-1 azul celeste foi
suficiente para neutralizar o sistema ofensivo rubro-negro desorganizado.
Fim
de partida: Atlético-PR no 4-2-3-1 e Cruzeiro no 4-3-3.
Por
Caio Gondo (@CaioGondo)