quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O diferente Atlético-PR sucumbiu diante do mesmo Cruzeiro

Depois de um pouco mais de dois meses da Copa do Mundo no Brasil, finalmente vi novamente um dos aspectos táticos mais diferentes dela em terras brasileiras. O Atlético-PR, de Claudinei Oliveira, se defendeu com uma linha de 5 marcando por zona e com o sistema defensivo compactado em curto espaço. Porém do outro lado estava o líder Cruzeiro e todo seu volume ofensivo avassalador. Para o placar final ter sido 2 x 0, as duas equipes começaram desta maneira:

Atlético-PR no 3-4-3 e Cruzeiro no 4-2-3-1.

A partida foi no Mineirão e o Cruzeiro, desde o começo da partida, ditou o ritmo da partida. A Raposa atacava com Éverton Ribeiro e Alisson entrando na diagonal para abrir corredores para os ataques simultâneos de Mayke e Egídio, Julio Baptista como ponta-de-lança, Henrique e Lucas Silva participando das ações ofensivas em campo ofensivo e com grande volume ofensivo. Porém do outro lado, Claudinei Oliveira surpreendeu a todos.


O sistema ofensivo do Cruzeiro: Éverton Ribeiro e Alisson entrando nas diagonais, abrindo corredores para Mayke e Ceará atacarem simultaneamente e, as peças ofensivas importantes, Lucas Silva e Henrique. Como os dois atuam em campo ofensivo ao mesmo tempo, eles são quem fazem os últimos passes para os constantes cruzamentos dos laterais. Contra o Atlético-PR, foram 30 bolas alçadas na área de Weverton.

O Atlético-PR, durante o primeiro tempo todo, atuou no 3-4-3. Ofensivamente, como o time sequer havia jogado neste esquema tático ainda, a equipe atacava no 3-4-3, mas os jogadores não se acharam em campo ofensivo. Tanto que diversos possíveis contra-ataques foram quebrados rapidamente e o Furacão só finalizou uma vez, em 45 minutos. Já defensivamente, o rubro-negro paranaense estava bem.

Claudinei Oliveira viu e aprendeu como o sistema defensivo mais incomum, até então, da Copa do Mundo funciona. Pois o Atlético-PR, durante o primeiro tempo, se defendeu com uma linha 5 marcando por zona e com todos os jogadores em curta compactação. A intenção era muito diferente em terras tupiniquins. Porém como o Furacão tem muitos jogadores brasileiros, o sistema defensivo foi “adaptado” para ou por eles.

No flagrante acima, percebe-se todos os jogadores do Atlético-PR participando da ação defensiva e em curta compactação, porém de forma brasileira: os “wingers” (Marcelo e Douglas Coutinho) marcam só até o terço central do campo. Com isso, o posicionamento defensivo do Furacão foi o 5-2-3 e gerou as seguintes consequências (Reprodução: Sportv/ PFC):

Pelo flagrante acima, nota-se Mayke (o lateral-direito do Cruzeiro) no terço defensivo do Atlético-PR e Douglas Coutinho parado até o seu “limite” defensivo. Como Coutinho, assim como Marcelo, não recuava para formar uma linha de 4 com Deivid e João Paulo, os volantes eram quem balançavam defensivamente para realizar a marcação à frente de Sueliton e Natanael –assim como mostra o flagrante acima (Reprodução: Sportv/ PFC). 

Como o Atlético-PR atuou com dois volantes, um meia e dois atacantes, o time não se defendeu de nenhuma das maneiras da Copa do Mundo, que foram o 5-3-2 ou 5-4-1. No flagrante acima, percebe-se o México se defendendo no 5-3-2 e os seus três volantes balançando defensivamente e, ainda, cobrindo o centro todo –pois havia Salcido e Guardado na região central (Reprodução: De Portes).

Já o Equador, que neste momento da partida estava ganhando da Honduras, se posicionou no 5-4-1. Pela imagem acima, nota-se que os meias de lado estão bem parecidos com os posicionamentos de Douglas Coutinho e Marcelo, porém, em situação defensiva, eles se posicionavam ao lado dos volantes e o time se defendia no 5-4-1.

Diferentemente da adaptação que o meio-de-campo sofreu em relação aos sistemas defensivos da Copa do Mundo no 5-4-1, a linha defensiva de 5 do Atlético-PR atuou de modo semelhante às linhas defensivas de 5 do mundial. Os cinco defensores marcaram por zona e formava uma linha de 4 quando um deles partia para o combate. Veja no flagrante abaixo a saída para “caça” de Willian Rocha e a formação de linha de 4 dos outros defensores:

Com Willian Rocha partindo para o combate à frente, a linha defensiva passou a formar uma linha de 4 atrás. Ou seja, mantendo a marcação por zona, assim como as linhas defensivas da Copa do Mundo de 2014.

No flagrante acima, percebe-se um dos diversos exemplos que aconteceu durante a Copa do Mundo no Brasil: um dos defensores da linha de 5 parte para o combate enquanto que os demais se posicionam em linha de 4. Claudinei Oliveira –técnico do Atlético-PR- fez isso muito bem em seu time contra o Cruzeiro (Reprodução: De Portes).

Entretanto o gol de Alisson, aos 26 do primeiro tempo, fez o Furacão se perder pelo resto do primeiro tempo. Como a equipe estava postada para jogar reativamente e o desentrosamento posicional em campo ofensivo estava prejudicando o time, o Atlético-PR conseguiu finalizar somente uma vez em 45 minutos. E foi para fora. Um dos motivos desse pequeno volume ofensivo se deve a falta de percepção de como era a saída de bola nas seleções que jogaram com três zagueiros na Copa do Mundo.

O Atlético-PR, apesar de jogar com três zagueiros, não realizou a saída de jogo que tanto ajudou as seleções da Copa do Mundo de 2014 a ter superioridade numérica pelos lados do campo. E pior, o Furacão saiu freqüentemente nos chutões/ lançamentos de Weverton para Marcelo e Douglas Coutinho abertos, porém os dois estavam com dupla marcação próxima, assim como mostra a imagem acima. Ao todo, o goleiro do time rubro-negro realizou 23 lançamentos/ chutões.

Na Copa do Mundo no Brasil, foi frequente esquema com três zagueiros saírem com a bola tocando desde o seu campo defensivo. Já que foi ainda mais frequente, seleções se defenderem com duas linhas de 4 e tendo seus wingers empurrados pelos avanços sem bola dos alas. Deste modo, abrindo os espaços vermelhos acima para que qualquer jogador da equipe com três zagueiros possa jogar.

No intervalo, somente Marcelo Oliveira realizou substituição. Saiu Julio Baptista para a entrada de William. Com esta substituição, Éverton Ribeiro passou a ser meia central e William foi jogar aberto pelos lados. Já em relação ao Atlético-PR, Claudinei não realizou substituição, mas modificou o esquema tático da sua equipe. Do 3-4-3, o time voltou no 4-2-3-1.

No 4-2-3-1 do Atlético-PR no começo do segundo tempo, percebe-se os mesmo jogadores do primeiro tempo, mas em posicionamento diferente. 

Na segunda etapa, as duas equipes procuraram propor o jogo e, enquanto o time adversário estava com a bola, a compactação entre intermediárias foi a procurada por ambas. O 4-2-3-1 já foi utilizado por Claudinei no Atlético-PR, e assim como nas outras vezes, a equipe foi muito espaçada nas transições ofensivas. Como o Cruzeiro já está acostumado a jogar desta maneira, em uma das diversas retomadas de bola no terço central do campo resultou no gol de Marcelo Moreno, aos 9 do segundo tempo.

Assim como foi contra o Palmeiras, o Atlético-PR no 4-2-3-1 apresenta o espaçamento mostrado pelo flagrante acima no início da transição ofensiva. Com tanto espaço sem jogador atleticano, o Cruzeiro apertava os volantes rubro-negros no terço central do campo e partia para o gol de Weverton contra somente a linha defensiva (Reprodução: Sportv).

Tentando melhorar o seu sistema ofensivo e a sua saída de bola, Claudinei colocou Sidcley, Mosquito e Hernani. Estes três jogadores realmente recuaram mais para auxiliar na saída de bola, mas Marcelo como a referência central do ataque pouco contribuiu na partida. No segundo tempo todo, o Atlético-PR fez nenhuma finalização.

Já o Cruzeiro, com 2 x 0 no placar, aos poucos foi recuando na partida. Dos 25 minutos do segundo tempo para frente, Marcelo Oliveira colocou Marlone e Nilton nos lugares de Alisson e Éverton Ribeiro, e, também, os laterais passaram a não mais atacar. O posicionamento defensivo espaçado no 4-2-3-1 azul celeste foi suficiente para neutralizar o sistema ofensivo rubro-negro desorganizado. 

Fim de partida: Atlético-PR no 4-2-3-1 e Cruzeiro no 4-3-3.

Por Caio Gondo (@CaioGondo)