Vindo de empates em partidas decepcionantes contra
Grêmio e Criciúma, respectivamente, Santos e Figueirense se encontraram na Vila
Belmiro pela 23ª rodada do Brasileirão. O time paulista, desde antes mesmo da
chegada de Enderson Moreira, tem atuado com o trio de ataque formado por
Gabriel, Leandro Damião e Robinho. Neste sentido, chama a atenção pelo
poder ofensivo, mas acaba precisando de algumas compensações táticas para
suprir a falta de participação de seus homens mais avançados na fase defensiva.
Contra o Figueirense, o alvinegro praiano foi a
campo no 4-2-3-1/4-3-3 que tem sido recorrente nos últimos jogos. Gabriel é o
atacante pela direita que trabalha fundamentalmente entrando na diagonal em
velocidade e buscando a finalização e o rompimento das linhas adversárias. Pela
esquerda, Robinho executa função diferente. Apesar de também buscar sempre a
diagonal, o jogador da Seleção de Dunga não se movimenta muito sem a bola e usa
sua principal característica, o drible, como maior alternativa para quebrar o
sistema defensivo dos rivais. Damião é o centroavante fixo, que serve como
parede para a tabela com os dois atacantes de lado e como referência para a
bola aérea, que também tem sido bastante utilizada no Santos. Vez ou outra é
possível observar Robinho e Damião em posições invertidas quando a bola está
com o adversário, provavelmente numa tentativa de confundir a marcação com a retroca
rápida de posição quando a posse for recuperada atrás e estiver voltando ao
ataque santista.
Enderson Moreira, apesar de ter sua imagem vendida
como um técnico moderno e da nova geração, escala o Santos com quatro jogadores
de frente que praticamente não contribuem em nada para a marcação. Os dois
volantes guardam posição para guarnecer a defesa e os laterais sobem pouco e,
quando apoiam, o fazem alternadamente. Como os volantes quase não participam do
jogo com a bola no pé, a armação do Santos é concentrada em Lucas Lima, que tem
feito bom campeonato e é, dos homens de frente, o que contribui um pouco mais
com a fase defensiva. O sistema defensivo santista é bastante aberto e acaba
deixando a linha de defesa exposta, já que a proteção é feita apenas pelo
centro, com os volantes. Um exemplo dessa exposição é Cicinho ser o atleta com
mais desarmes em todo o campeonato (97), o que se justifica pelo fato de não haver
um jogador na linha do meio-campo para ajudá-lo a preencher espaços no setor.
Deste modo, o lateral-direito é forçado ao combate a todo o momento em que o
portador da bola invade o seu setor e acaba se destacando no fundamento.
Lance do pênalti que originou o gol de empate do
Figueirense. Linha defensiva santista bastante exposta pelos lados forçava o
combate dos laterais ao portador da bola, como no caso em questão, em que
Leandro Silva conseguiu o drible em Caju com direção à linha de fundo e tentou
o cruzamento, cortado pela mão de Alison, que chegava para a cobertura
(Reprodução: Premiere)
O Figueirense, por sua vez, voltou a variar
taticamente no primeiro jogo da sequência de três adversários paulistas que o
time terá. Argel Fucks elegeu o 4-3-1-2 como seu esquema preferencial no início
do trabalho, mas, devido à grande quantidade de jogadores de meio-campo no
departamento médico, viu-se obrigado a modificar o sistema e o 4-2-3-1 foi o
escolhido, notadamente nos segundos tempos dos jogos contra Internacional e
Criciúma e nos 90 minutos do confronto com o Fluminense e, agora, com o Santos.
Quando usa o sistema, Argel vinha preferindo um jogador com características de
armação para atuar por um dos lados do campo, Leo Lisboa ou Felipe, e outro
mais incisivo pelo outro, sempre Clayton. Contra o Santos, no entanto, o
técnico optou por outro jogador agressivo pela direita para concentrar a
armação nos pés de Giovanni Augusto e na chegada de Marco Antônio, fazendo com
que os homens de lado buscassem sempre a linha de fundo ou a entrada em
diagonal na fase ofensiva. Pablo foi o escolhido para atuar pelo lado direito e
acabou tendo algumas oportunidades de gol, sobretudo quando observava e atacava
o espaço vazio deixado pela movimentação de Everaldo na frente, especialmente
durante o primeiro tempo, que foi bem equilibrado e movimentado.
Santos e Figueirense no 4-2-3-1 que diferia
principalmente na recomposição defensiva, com os pontas catarinenses ajudando
muito mais que os santistas, que só voltavam para a marcação muito raramente,
com Robinho pela esquerda ou Lucas Lima pelo centro.
O
Figueira tinha uma recomposição defensiva mais clara do que a santista. Embora
os wingers não voltassem em todas as situações, eles
geralmente acompanhavam pelo menos o lateral até a intermediária defensiva e
dificultavam o trabalho ofensivo do Santos, que assustava mais na
individualidade de Robinho e Lucas Lima e na bola aérea, do que propriamente na
organização ofensiva. O gol do Santos foi marcado em um momento em que o
Figueirense dominava as ações, após cruzamento de Lucas Lima para Leandro
Damião marcar de cabeça. O gol santista abateu os catarinenses, que se
desorganizaram por alguns minutos, fazendo com que o Santos tivesse
oportunidades para liquidar o jogo ainda na primeira parte. Nos acréscimos da
etapa inicial, o Furacão do Estreito voltou a colocar a bola no chão e chegou
ao empate, em lance já descrito anteriormente.
Embora não fosse tão compacto, o Figueirense conseguia
estruturar suas linhas de maneira correta para dificultar a transição ofensiva
adversária, que já não é tão qualificada pelas características de seus volantes
e laterais, e dependia muito da volta de Lucas Lima e até Robinho para buscar a
bola no meio-campo (Reprodução: Premiere)
Para
a segunda etapa, os técnicos mantiveram as propostas e o jogo continuou no
mesmo ritmo, com o Figueirense buscando mais o ataque durante os dez primeiros
minutos até que, em mais uma assistência de Lucas Lima, Robinho acertou linda
finalização e recolocou os paulistas na liderança do placar. Argel reagiu
imediatamente e pôs Felipe no lugar de Clayton, mudando um pouco a estrutura do
time. Giovanni Augusto abriu pelo lado direito e Felipe pelo lado oposto para
armarem a partir das pontas, com Pablo centralizando e passando a formar dupla
de ataque com Everaldo. Num primeiro momento, a mudança não surtiu efeito e o
Figueirense demonstrou o mesmo abatimento ocorrido nos minutos sequentes ao
primeiro gol sofrido. Após alguns minutos de domínio santista, Enderson
resolveu modificar e colocou Leandrinho na vaga de Gabriel para ter melhor
recomposição defensiva pela direita, além de Thiago Ribeiro no lugar de Damião,
visando claramente uma proposta um pouco mais reativa e a busca do contragolpe
para definir o jogo.
Santos e Figueirense armados em um 4-4-2: intenção do
alvinegro paulista era fechar duas linhas de quatro e segurar o resultado e a do
catarinense era correr atrás da desvantagem buscando maior profundidade por
dentro
A opção pela dupla de ataque de Argel era para dar
profundidade pelo centro para o passe de ruptura de Giovanni Augusto e Felipe.
Já Enderson Moreira buscou em Thiago Ribeiro uma alternativa de velocidade para
os contra-ataques e em Robinho a experiência necessária para prender a bola e
jogar com o relógio pelo flanco esquerdo.
Apesar da boa intenção, o Figueirense teve
dificuldades para criar e conseguiu apenas uma oportunidade clara com Everaldo,
que recebeu em profundidade e caprichou demais na finalização, errando o gol de
Aranha. O Santos teve melhor execução de sua proposta para o segundo tempo e
aproveitou o desespero do adversário, que proporcionou contragolpe puxado por
Thiago Ribeiro, que deixou Lucas Lima na cara de Tiago Volpi para matar o jogo
e coroar a atuação do camisa 20 santista, o melhor homem em campo.
Após a ótima sequência no início de trabalho de
Argel, o Figueirense já não vence há quatro partidas e volta a flertar com a
zona do rebaixamento, de onde tem apenas três pontos de vantagem. Já o Santos
continua no meio da tabela e na mesma toada que estava com Oswaldo de Oliveira,
sem encaixar grandes sequências de resultados e com um time que apresenta bom
trabalho ofensivo, mas pouquíssimo equilíbrio entre os setores.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)
* Dados estatísticos retirados do portal Footstats.