Após dois empates consecutivos no comando do Vasco,
Joel Santana tentou modificar a escalação inicial a fim de recuperar o domínio
do meio-campo que perdeu contra Atlético-GO e Oeste.
Nas primeiras três partidas do novo velho técnico,
o Vasco atuou num 4-3-1-2, com Maxi Rodríguez se posicionando ao lado de Kleber
no ataque, mas eventualmente se juntando a Douglas para participar também da
criação, por questão de característica. A entrada de Thalles no lugar de Aranda
para o confronto contra o Náutico fez com que o uruguaio fosse deslocado do
ataque para a linha de volantes do esquema tático que foi mantido.
Anteriormente, com Fabrício, Guiñazu e Aranda no meio, o Vasco tinha extremas
dificuldades na criação.
No ataque, Maxi Rodríguez não conseguia dar a
profundidade necessária, já que tem pouca velocidade e está acostumado a dar o
último passe e não a recebê-lo, além de não se entender com Kleber, pelo menos
em termos de movimentação. Um não abria espaço para o outro e quase não se via
aproximação para tabelas entre os dois.
Já o Náutico entrou no 4-1-4-1,
com alternância de bloco médio para bloco baixo na marcação, por vezes tendo
uma compactação mais longa, entre as intermediárias, com a linha de meio
adiantando-se para a intermediária defensiva adversária, porém o Vasco achava
espaços para sair jogando nessa situação sem grandes dificuldades.
Linha de quatro do meio alvirrubro tenta subir a
pressão e o lateral do lado da bola sobe o encaixe no jogador do Vasco que
recua para oferecer linha de passe no setor ao portador da bola. Repare o espaço
entre o volante do entrelinhas e a linha de quatro. Quando o Náutico subia a
marcação e o Vasco conseguia ultrapassá-la, sempre encontrava espaços para
progredir em campo defensivo adversário (Reprodução: Rede TV)
Com Maxi na linha dos volantes, Vasco teve amplo
domínio durante o primeiro tempo contra o Náutico, armado em um 4-1-4-1
O Vasco que foi a campo contra o Náutico marcava em
bloco médio alternando com situações eventuais de pressão, quando do
adiantamento dos laterais para a linha dos volantes e de Douglas para marcar
alinhado aos atacantes. Quando não pressionava, o Vasco tinha sua linha de
volantes balançando corretamente de acordo com a posição da bola e dificultando
a virada de jogo do Timbu. A recomposição defensiva, apesar de espaço
relativamente longo entre as linhas, era rápida e eficiente, minimizando,
assim, a preocupação inicial dos menos otimistas com relação à opção por Maxi
Rodríguez com mais responsabilidade de marcação.
Em fase ofensiva, Maxi e Douglas organizavam os
ataques pelo meio e Kleber e Thalles procuravam movimentar-se à frente para
abrir espaços e dar profundidade, enquanto Guiñazu e Fabrício guardavam posição
junto com os zagueiros para guarnecer o sistema defensivo, abandonado pelos
laterais, que afundavam nas pontas para dar amplitude pelos lados. A forma de
jogo vascaína contra o Timbu não tem nada de moderna – compreensível em um time
de Joel Santana –, mas se mostrou interessante e fez o Vasco dominar as ações
do primeiro tempo.
De volta aos anos 90: conjuntura de ataque do Vasco da
Gama. Laterais virando pontas, dois meias de criação e dois atacantes. “Old
school”, “vintage”, “retrô”... escolha o adjetivo para caracterizar o melhor Vasco
de Joel até aqui (Reprodução: Premiere)
Além
da ajuda a Douglas na criação, Maxi Rodríguez mais recuado propiciava uma melhor
saída de bola para o cruzmaltino e uma transição ofensiva um pouco mais veloz,
já que, quando o time recuperava a posse no primeiro terço do campo, o uruguaio
era quem buscava a bola para acelerar a transição e organizar a melhor jogada.
Guiñazu não erra passes na intermediária defensiva, mas dificilmente arrisca e
não é o jogador mais indicado para estruturar os ataques a partir de trás. Com
Adílson Batista e no início do trabalho de Joel, Douglas via-se obrigado a voltar ao
campo defensivo para buscar a bola, saindo do entrelinhas, onde encontra mais
espaço para procurar o passe de ruptura. À vontade no seu setor, Douglas acabou
sendo o principal destaque individual do Vasco no primeiro tempo.
Maxi buscando a bola para pensar o jogo a partir de
trás (Reprodução: Rede TV)
Quando
a posse era recuperada ainda no meio-campo, Maxi saída da linha de volantes e
invadia o entrelinhas, atrapalhando o 4-1-4-1 do Náutico, que tinha encaixes
por setor e Paulinho posicionado entre a linha de defesa e a do meio-campo para
vigiar Douglas. O advento de Maxi Rodríguez no setor de Paulinho dava
superioridade numérica ao Vasco e desestruturava a marcação alvirrubra.
Maxi recebe passe de Guiñazu entre as linhas adversárias
e com espaço para avançar (Reprodução: Rede TV)
Com tal estrutura tática e 63,5% de posse de bola,
o Vasco trocou 429 passes durante a partida – a média da Série B é de pouco
menos de 310. Os passes trocados estão dentro da alta média do clube
cruzmaltino na competição, que é de 423, a diferença é que, a opção por Maxi no
meio-campo ao invés de Aranda ou Pedro Ken, deu ao Vasco um melhor índice de
acerto no quesito. Contra o Náutico, o time da Colina, que erra 38 passes por
jogo em média, falhou em apenas 29 oportunidades, alcançando uma boa média de
93% de acerto no fundamento.
Mapa
de movimentação de Maxi Rodríguez, que dominou o lado esquerdo da defesa ao
ataque (Reprodução: Footstats)
Em bloco baixo, o Náutico de Dado Cavalcanti também
tinha dificuldades para se compactar. O Vasco sempre encontrava espaços para
encaixar o passe vertical entre as linhas e virar o jogo de um lado pra outro,
sendo favorecido pela marcação frouxa e pouco agressiva dos volantes do Náutico
mais ao centro e o atraso dos wingers
para fechar o espaço pelos lados do campo à frente dos laterais e também para
bascular pro lado atacado por vezes. Tinha proposta claramente reativa,
marcando predominantemente atrás da linha da bola e buscando a saída em
velocidade no contragolpe. E foi no contra-ataque que o time pernambucano saiu
na frente.
Apesar de todos os indicativos apontarem que o
Vasco tinha o melhor desempenho desde que Joel Santana assumiu, o “Papai”, pressionado
pelo insistente 0x0, apesar da grande quantidade de chances criadas, resolveu
ser ainda mais Joel Santana e colocar outro atacante em campo. O técnico tem
enchido o time de atacantes quando precisa do resultado, como se isso fosse
sinônimo de ofensividade. O mais estranho é que a entrada de Edmílson foi
justamente no lugar de Maxi Rodríguez, a peça que encaixou o esquema e que
proporcionava ao Vasco uma organização interessante nas jogadas de ataque e na
recomposição defensiva. A entrada de Edmílson fez o Vasco perder o meio-campo
e, com isso, passou a sofrer com as investidas de Sassá e Crislan, os homens
que dão profundidade ao Náutico. Minutos após a substituição, Crislan recebeu
em progressão e foi derrubado por Martin Silva, em pênalti convertido por
Sassá.
No lance do gol do Náutico, o lateral-direito do
Vasco subiu pressão no portador da bola, deixando espaços às suas costas na
linha defensiva. Crislan fez a diagonal curta, atacou esse espaço e o zagueiro não
conseguiu fechar a cobertura (Reprodução: Premiere)
Desesperado pela possibilidade do terceiro jogo sem
vitória, Joel continuou colocando jogadores de característica mais ofensiva: Marlon
no lugar de Lorran e Dakson no de Fabrício. Com a vitória parcial, o Náutico
adotou uma proposta ainda mais reativa e se fechou em seu campo. Já o Vasco,
totalmente desorganizado, foi pro abafa e graças a duas jogadas de Thalles pela
ponta direita, conseguiu os gols que proporcionaram a virada, marcados por
Dakson e Kleber.
Desorganizado, Vasco foi pro abafa e conseguiu uma
virada sem méritos
Gol de empate do Vasco, que ataca pela direita, um dos
zagueiros fecha com o atacante no centro da área e o lateral oposto fecha com
Kleber na segunda trave, porém, repare no posicionamento do defensor do
Náutico, na entrada da área. Sem referência nenhuma de marcação. Dakson
inteligentemente infiltrou de trás, atacou o vazio e entrou livre pra escorar
(Reprodução: Premiere)
A partida contra o Náutico, que iniciou promissora,
acabou com vitória, mas com decepção com a atitude do técnico vascaíno no
segundo tempo. Pelo lado positivo, o jogo mostrou que Joel Santana ainda consegue
montar um time organizado, ao seu estilo, é claro, mas que pode ser competitivo
dentro de uma Série B de nível muito baixo. O problema é que, quando não
consegue os gols, Joel se desespera e vê o abafa como única solução. Deu certo
contra o Náutico, mas não deve ser sempre assim e, em 2014, o vamo-que-vamo não
pode se sobressair em detrimento da organização.
*Dados estatísticos retirados do Footstats
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)
Colaboração de João Elias Cruz (@Joaoeliascruzzz)