De
certo foi um dos melhores jogos que essa edição do Brasileirão de 2014 teve até
agora, senão o melhor, principalmente analisando pelo aspecto tático,
fermentado pela festa da torcida do Tricolor Paulista no Morumbi lotado.
A
chamada “final antecipada” teve ambas as equipes posicionadas nos módulos que
já vem sendo costumeiros no decorrer dessa temporada, os comandados de Muricy
Ramalho postados no 4-4-1-1 que ora variava para 4-2-3-1, quando um dos
atacantes, geralmente, nesse jogo, Alan Kardec recuava para reter a bola para
as ultrapassagens dos jogadores de trás, e deixava Pato mais a frente, ora para
recuar, ora puxar o contragolpe, e, principalmente, forças as jogadas no lado
direito do Cruzeiro, que, sem a colaboração de Éverton Ribeiro sem a bola, ficava
muitas vezes desprotegido, ou no 4-4-2 que se formava quando os dois atacantes
se alinhavam, e marcava ora em bloco alto, fechando as linhas de passe
cruzeirenses para retomar rapidamente a posse de bola, ora em bloco
médio-baixo, recuando as suas linhas de forma compacta conforme o
adversário ocupava o campo de ataque, pressão no homem da bola, com
superioridade de 3 a 4 jogadores no setor em que ela era trabalhada também foi
bem-vista no Tricolor Paulista nessa partida.
Já o Cruzeiro venho no seu natural 4-2-3-1, com intensa movimentação dos meias, que não obtinham espaço por conta da ótima marcação são-paulina. E como nos jogos em que tem dificuldade, Cruzeiro praticou a jogada que os adversários sabem que vai acontecer mas não sabem como marcar: Éverton Ribeiro carregando a bola pro meio, e Mayke aproveitando o espaço criado para efetuar o cruzamento para Marcelo Moreno e Ricardo Goulart. Mas, Muricy foi mais esperto: colocou Pato para jogar nas costas de Mayke, tirando Dedé no miolo de zaga, pois ele fazia a cobertura de Mayke, e deixou só Léo na frente da área, deixando muitos espaços.
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Tricolor Paulista postado no 4-4-2 britânico, com Kaká
e Ganso trabalhando sem a bola pelos lados com intensidade e disciplina tática.
(Reprodução: PFC/SporTV)
Flagrante da pressão do homem portador da bola por
parte da equipe mandante, percebe-se quatro jogadores pressionando o jogador
cruzeirense, gerando uma superioridade 4x1. (Reprodução: PFC/SporTV)
Flagrante tático do São Paulo pressionando a saída de
bola cruzeirense, fechando as linhas de passe marcando em bloco alto, forçando
assim o Cruzeiro a dar o famoso chutão, na sequência do lance, o São Paulo
retomou a posse de bola. Mas não foi apenas o Tricolor Paulista que executou
essa dinâmica, por muitas vezes, o Cruzeiro também executou essa pressão que
gerou erros na saída de jogo Tricolor, como no lance em que Ricardo Goulart
quase encobriu Rogério Ceni. (Reprodução: PFC/SporTV)
Kardec recuava muitas vezes para abrir espaços para
Pato se movimentar, formando também um 4-2-3-1. (Reprodução: PFC/SporTV)
Como Everton Ribeiro e Alisson não voltavam para fechar
pelos lados, para guardar o posicionamento para puxar o contragolpe em
velocidade, muitos espaços eram deixados na retaguarda cruzeirense.
(Reprodução: PFC/SporTV)
São Paulo compactado com duas linhas, enquanto Kaká
fecha o lado em que a bola está trabalhada, Ganso centraliza no lado oposto, enquanto que o Tricolor Paulista também fazia o balanço defensivo com eficiência,
para gerar superioridade numérica nos setores do campo. Neste caso, no flagrante, o camisa 10
tricolor, dono do “skill” mais lindo do BR-2014, está volt ando para recompor
conforme o plano de jogo Tricolor. (Reprodução: PFC/SporTV)
Cruzeiro postado em seu costumeiro 4-2-3-1 (Reprodução:
PFC/SporTV)
O
Cruzeiro seguiu propondo o jogo, com muita velocidade na transição, trabalhando
a bola no ataque, mas sem concluir a jogada com eficiência, isso também por
causa da compactação do São Paulo que negou espaços ao Cruzeiro.
No
segundo tempo, a estratégia obvia para o Tricolor Paulista foi se compactar e
contra-atacar, embora os meias tenham se soltado mais para se movimentar,
trocar de posição e abrir espaços, atraindo e confundindo a marcação, ainda
mais com Kardec se movimentando para
abrir espaços na frente para Pato infiltrar, Kaká se aproximar e Ganso servir
como gosta.
Marcelo
Oliveira recuou Everton Ribeiro para armar de trás, espetou Alisson e
Dagoberto, e com Goulart, e posteriormente, Baptista, pelo centro, se
posicionando demais dentro da área para buscar a usual bola aérea. O Cruzeiro
chegou a ter domínio territorial, mas não soube concluir.
O
Cruzeiro segue sendo um dos melhores times do campeonato, mas precisa repensar
os seus meios de jogo. Precisa ver o custo-benefício de não recompor seus meias preparando-se para o contra-ataque. Já o São Paulo deve ser aplaudido de pé, e
Muricy Ramalho também, pelo futebol moderno apresentado até agora.
Por Diogo R. Martins (@diogorm013)
e Otávio Martins
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