segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Especial: Guardiola faz laboratório para reconstruir o Bayern



Depois da goleada sofrida para o Real Madrid na semifinal da Champions League13/14, Guardiola vem fazendo o que se esperava dele: está tentando reconstruir o Bayern a partir de mudanças no estilo de jogo. O catalão não deixa de lado os seus conceitos, mas claramente, pensa em novas ideias para integrar o seu modelo de jogo.

Confira uma análise dos detalhes desse laboratório feito por Guardiola, tomando como base as últimas atuações do Bayern, contra Manchester City e Hamburgo.

vs Manchester City
 
Na vitória contra o City, o Bayern jogou no 4-3-3 com laterais improvisados no meio (Arte: Prancheta Tática)
Na primeira rodada da fase de grupos da Champions League, o Bayern venceu na marra, com gol do zagueiro Boateng nos minutos finais de jogo. Não foi uma atuação na excelência que Guardiola exige. 

Contra os ingleses, Guardiola levou a campo o Bayern no seu habitual 4-3-3.

Lahm e Alaba no meio-campo, com funções diferentes

Sem Javi Martinez e ainda esperando Ribery e Robben alcançarem a melhor forma física, Guardiola se viu obrigado a dar continuidade na ideia de usar Alaba e Lahm no meio-campo, testes que já haviam sido feito na primeira temporada do treinador sob o comando dos Bávaros e na pré-temporada de 2014/15.

Alaba foi meia-esquerda, ajudando na criação e auxiliando Bernat em jogadas pela esquerda (Reprodução: Squawka)
Contra o City, Alaba jogou mais recuado, com subidas esporádicas, abrindo bastante pelo lado esquerdo para realizar tramas com o lateral esquerdo Bernat e também ocupando a intermediária, recuando diversas vezes como terceiro zagueiro.

Lahm caiu pela direita, se aproximando do ataque (Reprodução: Squawka)
Lahm teve postura mais ofensiva, jogando mais próximo da área adversária, se juntando a Muller, Gotze e Lewandowski. 

A desvantagem é que os laterais Lahm e Alaba, apesar de serem jogadores inteligentes e de bom passe, não possuem atributos importantes para serem grandes meias, como a qualidade do passe em profundidade, técnica apurada pra criar jogadas e chutes à longa distância. A infiltração na área vindo de trás também não é uma especialidade, nem de Lahm, nem de Alaba. Contra o City isso ficou claro, o time alemão não teve a clarividência por trás dos atacantes pra criar chances mais nítidas, com tabelas e infiltrações.
Gotze e Muller fecham para passagem dos laterais
Diante do City, o Bayern teve seus pontas Gotze e Muller exercendo funções habituais de atacantes que jogam pelos lados, buscando a linha de fundo e fazendo jogadas individuais. Mas acontece uma variação no comportamento dos jogadores. Gotze e Muller, depois Robben, afunilaram e centralizaram o posicionamento em vários momentos, para dar amplitude ao jogo com as passagens dos laterais. O resultado disso foi um Bayern mais incisivo, objetivo e cruzando mais bolas na área adversária, evidenciando a intenção de Guardiola de trazer novos conceitos para sua filosofia de jogo, já que em toda a sua passagem pelo Barcelona e na primeira temporada à frente do Bayern, os cruzamentos eram praticamente proibidos pelo treinador.

Na partida contra o City, foram 27 cruzamentos por parte da equipe bávara.
Alonso
Alonso fazendo o que se espera dele. Atribuindo ao time muita qualidade na saída de bola. O espanhol tem um movimento padrão, recuando sempre próximo aos zagueiros para assumir o início da criação de jogadas, com passes precisos. Alonso teve 88% de precisão nos passes durante a partida.
Além da função de organização, o volante foi importantíssimo num papel defensivo quando o Bayern não tinha a bola. Alonso fechou bem os espaços entre a linha de meias e a primeira linha defensiva, além de realizar em alguns momentos, uma marcação individual em David Silva. Quando o articulador dos citzen’s recuava no meio para ajudar na organização de sua equipe, era perseguido até certo ponto por Xabi Alonso, que foi um excelente negócio de ocasião de Guardiola que terá o camisa 3 como a base de sua reconstrução.

vs Hamburgo

No último sábado (20), contra o Hamburgo, Guardiola poupou jogadores, mas repetiu o 4-3-3 (Arte: Prancheta Tática)
Pep poupou Benatia, Lewandowski, Gotze e Xabi Alonso no início do jogo, por conta do degaste da partida no meio de semana. A equipe jogou novamente no 4-3-3 e o treinador aproveitou para testar a promessa dinamarquesa Hojberg, que não foi bem. Com a mudança, Lahm passou a atuar centralizado no meio, na vaga que foi de Alonso contra o City. Alaba se manteve na esquerda e Hojberg jogou pela direita. No lugar de Benatia, Gotze e Lewandowski, mudanças convencionais com as entradas de Dante, Shaqiri e Pizarro. 

Garoto Hojberg não foi bem, com passes sem objetividade (Reprodução: Squawka)
O time teve problemas de criatividade no primeiro tempo, chutando à gol com perigo em apenas uma oportunidade, com chute de fora da área do lateral-esquerdo Bernat. Pesou novamente a falta de consistência e gabarito no meio de campo, com Alaba e Hojberg sentindo dificuldades de gerir o jogo bávaro. A imagem acima mostra como o jogador dinamarquês teve participação pouco efetiva, com muitos passes para o lado e para trás e poucos buscando jogadas verticais.

Variação para aumentar o poder ofensivo

Guardiola testou variação para o 4-2-3-1, com Pizarro fazendo função híbrida e se juntando a Lewandowski na área (Arte: Prancheta Tática)
Na segunda etapa, o Hamburgo melhorou na partida, acuando a equipe do Bayern. Guardiola foi obrigado a recuar na estratégia de poupar suas estrelas para equilibrar novamente o jogo e claro, aproveitando para realizar mais testes. Pep colocou Xabi Alonso no lugar do garoto Hojberg para melhorar a posse de bola de sua equipe. Gotze e Lewandowski substituíram Rafinha e Shaqiri, deixando a equipe mais ofensiva.

As mudanças causaram uma alteração mais drástica na estrutura tática do Bayern, que se posicionou numa espécie de 4-2-3-1. Alonso voltou a atuar no centro do meio-campo, próximos aos zagueiros. Lahm voltou a lateral direita e Gotze, Lewandowski e Muller formando o tridente ofensivo. O peruano Pizarro passou a fazer uma função híbrida, recuando bastante na transição ofensiva para participar da organização do time, junto a Alaba e Alonso. O diferencial da alteração, é que com a jogada já construída, Pizarro se aproximava mais da área, se juntando a Lewandowski para aumentar o poder de finalização na área adversária.

Com as alterações, Guardiola claramente mostrou uma variação que pretende usar quando enfrentar equipes fechadas, necessitando do resultado. O Bayern não deixou de ter posse de bola, com Alaba e Alonso, que entrou bem, fazendo o time jogar. As passagens de Lahm e Bernat pela lateral, a movimentação de Gotze e Muller causando desequilíbrio e Lewandowski com Pizarro se infiltrando no meio dos zagueiros adversários.

Mas o time do Bayern ainda não se mostrou preparado para executar essa estratégia ofensiva “desesperada” e teve dificuldades para criar chances claras até o fim do jogo, sofrendo com os contra-ataques do Hamburgo, que acabou sendo a equipe que se aproximou mais do gol, com chances mais limpas para marcar.
Laterais presentes no campo ofensivo

Mapa de calor de Rafinha e Bernat na partida contra o Hamburgo, mostra disposição ofensiva dos laterais bávaros (Reprodução: Squawka)
Um dos pontos que mais chamaram a atenção nesse “novo Bayern”, foi a postura ofensiva dos laterais do time alemão. Contra City e Hamburgo, Rafinha e principalmente Bernat, se projetaram bastante ao ataque, característica possibilitada pelos movimentos dos pontas (Muller, Gotze, Shaqiri, Robben, Ribery), que na equipe de Guardiola, vão, cada vez mais, procurar o centro do campo, buscando o gol, a finalização e abrindo os flancos para as ultrapassagens dos laterais. Os heat map’s de Rafinha e Bernat na partida contra o Hamburgo (foto acima) mostra como os laterais jogam com objetivos ofensivos.

Guardiola não é só posse e ataque
O Bayern apresentou no jogo boa postura defensiva, apesar da dificuldade que ainda existe para conter os contra-ataques do adversário. O time de Guardiola se mostrou aplicado, para realizar a pressão no homem e no lado da bola nas jogadas adversárias, atributo muito cobrado por Pep.
E nas poucas vezes que o oponente avança no terreno com a boal dominada, o Bayern se mostrou organizado para marcar em seu campo de defesa, com excelente compactação defensiva, jogadores próximos e espaços fechados.

Considerações finais
O time já apresenta pontos positivos, como a visível melhora na compactação e organização defensiva do time. O 4-3-3, com variações, parece ter sido definido como o esquema base para a temporada. Na pré-temporada, o Guardiola testou o Bayern iniciando os jogos com três zagueiros, mas a idéia parece ter ficado pra trás. 

O maior problema do Bayern no início de temporada é, quem diria, a posse de bola. A equipe de Guardiola ainda não tem a consistência, a regularidade e a técnica para mandar no jogo e controlar as ações na metade do campo. Claro que ainda pesa os testes feitos por Pep, com as improvisações de Lahm e Alaba e as oportunidades dadas aos jovens Gaudino e Hojberg, que ainda estão verdes para assumir a missão de controlar o meio de campo bávaro. O retorno de Schweinsteiger deve resolver boa parte dos problemas de Guardiola nesse início de temporada.

A equipe alemã não consegue resultados expressivos no início da Bundesliga/Champions, muito menos atuações vistosas. Mas claramente, o treinador da potência bávara usa o começo da temporada como laboratório, buscando um esquema inicial e variações táticas para diferentes momentos do jogo. Os desfalques por lesão e desgaste físico complicam o processo e Pep terá que buscar soluções o mais rapidamente possível, para dar consistência ao jogo do Bayern e conseguir resultados convincentes.