Depois da
goleada sofrida para o Real Madrid na semifinal da Champions League13/14,
Guardiola vem fazendo o que se esperava dele: está tentando reconstruir o
Bayern a partir de mudanças no estilo de jogo. O catalão não deixa de lado os
seus conceitos, mas claramente, pensa em novas ideias para integrar o seu
modelo de jogo.
Confira uma análise dos detalhes desse laboratório feito por
Guardiola, tomando como base as últimas atuações do Bayern, contra Manchester
City e Hamburgo.
vs Manchester City
Na vitória contra o City, o Bayern jogou no 4-3-3 com laterais improvisados no meio (Arte: Prancheta Tática) |
Na primeira rodada da fase de grupos da Champions League, o
Bayern venceu na marra, com gol do zagueiro Boateng nos minutos finais de jogo.
Não foi uma atuação na excelência que Guardiola exige.
Contra os ingleses, Guardiola levou a campo o Bayern no seu
habitual 4-3-3.
Lahm e Alaba no meio-campo, com funções diferentes
Sem Javi Martinez e ainda
esperando Ribery e Robben alcançarem a melhor forma física, Guardiola se viu
obrigado a dar continuidade na ideia de usar Alaba e Lahm no meio-campo, testes
que já haviam sido feito na primeira temporada do treinador sob o comando dos
Bávaros e na pré-temporada de 2014/15.
Alaba foi meia-esquerda, ajudando na criação e auxiliando Bernat em jogadas pela esquerda (Reprodução: Squawka) |
Contra o City, Alaba jogou mais
recuado, com subidas esporádicas, abrindo bastante pelo lado esquerdo para
realizar tramas com o lateral esquerdo Bernat e também ocupando a
intermediária, recuando diversas vezes como terceiro zagueiro.
Lahm caiu pela direita, se aproximando do ataque (Reprodução: Squawka) |
Lahm teve postura mais ofensiva,
jogando mais próximo da área adversária, se juntando a Muller, Gotze e
Lewandowski.
A desvantagem é que os laterais Lahm e Alaba, apesar de serem
jogadores inteligentes e de bom passe, não possuem atributos importantes para
serem grandes meias, como a qualidade do passe em profundidade, técnica apurada
pra criar jogadas e chutes à longa distância. A infiltração na área vindo de
trás também não é uma especialidade, nem de Lahm, nem de Alaba. Contra o City
isso ficou claro, o time alemão não teve a clarividência por trás dos atacantes
pra criar chances mais nítidas, com tabelas e infiltrações.
Gotze e Muller fecham para passagem dos laterais
Diante do City, o Bayern teve
seus pontas Gotze e Muller exercendo funções habituais de atacantes que jogam
pelos lados, buscando a linha de fundo e fazendo jogadas individuais. Mas
acontece uma variação no comportamento dos jogadores. Gotze e Muller, depois
Robben, afunilaram e centralizaram o posicionamento em vários momentos, para
dar amplitude ao jogo com as passagens dos laterais. O resultado disso foi um
Bayern mais incisivo, objetivo e cruzando mais bolas na área adversária,
evidenciando a intenção de Guardiola de trazer novos conceitos para sua
filosofia de jogo, já que em toda a sua passagem pelo Barcelona e na primeira
temporada à frente do Bayern, os cruzamentos eram praticamente proibidos pelo
treinador.
Na partida contra o City, foram 27 cruzamentos por parte da equipe
bávara.
Alonso
Alonso fazendo o que se espera
dele. Atribuindo ao time muita qualidade na saída de bola. O espanhol tem um
movimento padrão, recuando sempre próximo aos zagueiros para assumir o início
da criação de jogadas, com passes precisos. Alonso teve 88% de precisão nos passes durante a partida.
Além da função de organização,
o volante foi importantíssimo num papel defensivo quando o Bayern não tinha a
bola. Alonso fechou bem os espaços entre a linha de meias e a primeira
linha defensiva, além de realizar em alguns momentos, uma marcação individual
em David Silva. Quando o articulador dos citzen’s recuava no meio para ajudar
na organização de sua equipe, era perseguido até certo ponto por Xabi Alonso,
que foi um excelente negócio de ocasião de Guardiola que terá o camisa 3 como a
base de sua reconstrução.
vs Hamburgo
No último sábado (20), contra o Hamburgo, Guardiola poupou jogadores, mas repetiu o 4-3-3 (Arte: Prancheta Tática) |
Pep poupou Benatia, Lewandowski,
Gotze e Xabi Alonso no início do jogo, por conta do degaste da partida no meio
de semana. A equipe jogou novamente no 4-3-3 e o treinador aproveitou para
testar a promessa dinamarquesa Hojberg, que não foi bem. Com a mudança, Lahm
passou a atuar centralizado no meio, na vaga que foi de Alonso contra o City.
Alaba se manteve na esquerda e Hojberg jogou pela direita. No lugar de Benatia,
Gotze e Lewandowski, mudanças convencionais com as entradas de Dante, Shaqiri e
Pizarro.
Garoto Hojberg não foi bem, com passes sem objetividade (Reprodução: Squawka) |
O time teve problemas de
criatividade no primeiro tempo, chutando à gol com perigo em apenas uma
oportunidade, com chute de fora da área do lateral-esquerdo Bernat. Pesou
novamente a falta de consistência e gabarito no meio de campo, com Alaba e
Hojberg sentindo dificuldades de gerir o jogo bávaro. A imagem acima mostra como o jogador dinamarquês teve participação pouco efetiva, com muitos passes para o lado e para trás e poucos buscando jogadas verticais.
Variação para aumentar o poder ofensivo
Guardiola testou variação para o 4-2-3-1, com Pizarro fazendo função híbrida e se juntando a Lewandowski na área (Arte: Prancheta Tática) |
Na segunda etapa, o Hamburgo
melhorou na partida, acuando a equipe do Bayern. Guardiola foi obrigado a
recuar na estratégia de poupar suas estrelas para equilibrar novamente o jogo e
claro, aproveitando para realizar mais testes. Pep colocou Xabi Alonso no lugar
do garoto Hojberg para melhorar a posse de bola de sua equipe. Gotze e
Lewandowski substituíram Rafinha e Shaqiri, deixando a equipe mais ofensiva.
As mudanças causaram uma
alteração mais drástica na estrutura tática do Bayern, que se posicionou numa
espécie de 4-2-3-1. Alonso voltou a atuar no centro do meio-campo, próximos aos
zagueiros. Lahm voltou a lateral direita e Gotze, Lewandowski e Muller formando
o tridente ofensivo. O peruano Pizarro passou a fazer uma função híbrida,
recuando bastante na transição ofensiva para participar da organização do time,
junto a Alaba e Alonso. O diferencial da alteração, é que com a jogada já construída,
Pizarro se aproximava mais da área, se juntando a Lewandowski para aumentar o
poder de finalização na área adversária.
Com as alterações, Guardiola
claramente mostrou uma variação que pretende usar quando enfrentar equipes
fechadas, necessitando do resultado. O Bayern não deixou de ter posse de bola,
com Alaba e Alonso, que entrou bem, fazendo o time jogar. As passagens de Lahm
e Bernat pela lateral, a movimentação de Gotze e Muller causando desequilíbrio
e Lewandowski com Pizarro se infiltrando no meio dos zagueiros adversários.
Mas o time do Bayern ainda não se
mostrou preparado para executar essa estratégia ofensiva “desesperada” e teve
dificuldades para criar chances claras até o fim do jogo, sofrendo com os
contra-ataques do Hamburgo, que acabou sendo a equipe que se aproximou mais do
gol, com chances mais limpas para marcar.
Laterais presentes no campo ofensivo
Mapa de calor de Rafinha e Bernat na partida contra o Hamburgo, mostra disposição ofensiva dos laterais bávaros (Reprodução: Squawka) |
Um dos pontos que mais chamaram a
atenção nesse “novo Bayern”, foi a postura ofensiva dos laterais do time
alemão. Contra City e Hamburgo, Rafinha e principalmente Bernat, se projetaram
bastante ao ataque, característica possibilitada pelos movimentos dos pontas
(Muller, Gotze, Shaqiri, Robben, Ribery), que na equipe de Guardiola, vão, cada
vez mais, procurar o centro do campo, buscando o gol, a finalização e abrindo
os flancos para as ultrapassagens dos laterais. Os heat map’s de Rafinha e
Bernat na partida contra o Hamburgo (foto acima) mostra como os laterais jogam
com objetivos ofensivos.
Guardiola não é só posse e ataque
O Bayern apresentou no jogo boa
postura defensiva, apesar da dificuldade que ainda existe para conter os
contra-ataques do adversário. O time de Guardiola se mostrou aplicado, para
realizar a pressão no homem e no lado da bola nas jogadas adversárias, atributo
muito cobrado por Pep.
E nas poucas vezes que o oponente
avança no terreno com a boal dominada, o Bayern se mostrou organizado para
marcar em seu campo de defesa, com excelente compactação defensiva, jogadores
próximos e espaços fechados.
Considerações finais
O time já apresenta pontos positivos, como a visível melhora
na compactação e organização defensiva do time. O 4-3-3, com variações, parece
ter sido definido como o esquema base para a temporada. Na pré-temporada, o
Guardiola testou o Bayern iniciando os jogos com três zagueiros, mas a idéia
parece ter ficado pra trás.
O maior problema do Bayern no início de temporada é, quem
diria, a posse de bola. A equipe de Guardiola ainda não tem a consistência, a
regularidade e a técnica para mandar no jogo e controlar as ações na metade do
campo. Claro que ainda pesa os testes feitos por Pep, com as improvisações de
Lahm e Alaba e as oportunidades dadas aos jovens Gaudino e Hojberg, que ainda
estão verdes para assumir a missão de controlar o meio de campo bávaro. O
retorno de Schweinsteiger deve resolver boa parte dos problemas de Guardiola
nesse início de temporada.
A equipe alemã não consegue
resultados expressivos no início da Bundesliga/Champions, muito menos atuações
vistosas. Mas claramente, o treinador da potência bávara usa o começo da
temporada como laboratório, buscando um esquema inicial e variações táticas
para diferentes momentos do jogo. Os desfalques por lesão e desgaste físico
complicam o processo e Pep terá que buscar soluções o mais rapidamente
possível, para dar consistência ao jogo do Bayern e conseguir resultados
convincentes.