No retorno de Massimiliano Allegri a San Siro, o
Milan recebeu a Juventus para tentar confirmar o bom início de Serie A. O time
de Filippo Inzaghi marcou oito gols nas duas primeiras partidas e, mesmo com
elenco inferior aos principais rivais, chegou para a temporada sinalizando um
bom padrão tático e mostrando competitividade para a disputa doméstica.
Contra a Juve, Inzaghi repetiu o esquema que vem
utilizando desde a pré-temporada, com um meio-campo consistente na marcação,
feita em bloco médio/baixo, e com uma transição ofensiva veloz, principalmente
nos contragolpes. As únicas mudanças foram na defesa, já que, com Bonera
suspenso e Alex lesionado, a dupla de zaga foi formada por Rami e Zapata,
titulares em boa parte do trabalho de Clarence Seedorf, antecessor de Pippo.
O
4-1-4-1 do Milan é muito compacto, sobretudo para os padrões do futebol
italiano e, sem um centroavante rompedor – pelo menos enquanto Fernando Torres
não recupera a forma física –, mostra muita mobilidade entre o trio mais
avançado, formado por Ménez, Honda e El Shaarawy, que também demonstram um
comprometimento com o sistema defensivo admirável. Estruturalmente, Honda e El
Shaarawy são os responsáveis por fechar os lados da segunda linha de quatro,
enquanto Ménez dá o primeiro combate, entretanto, como a movimentação é intensa
com a bola no pé, por vezes os três estão em posições invertidas, o que não
atrapalha em nada a recomposição, já que cada um fecha o setor em que se
encontra no momento, tornando a transição defensiva milanista tão rápida quanto
a ofensiva.
Recomposição rossonera com linhas próximas e bastante
recuadas (Reprodução: Fox Sports)
A
Juventus continua no padrão-Conte de qualidade. Quase que no automático, o time
segue no 3-5-2 do antigo comandante, apesar da alegada preferência de Allegri
pelo 4-3-1-2. A transição do sistema com três zagueiros para um com uma linha
de quatro atrás é difícil, mas aos poucos deve ser implantada por Allegri na
Juve, sobretudo quando o trequartista que
o treinador pediu à diretoria desembarcar em Turim, o que deve acontecer em
janeiro. Enquanto isso, La Vecchia
Signora se mantém trabalhando com o sistema tricampeão italiano.
Milan no 4-1-4-1 e Juventus no 3-5-2. Com a lesão de
Pirlo, Marchisio é quem se posiciona pelo centro da linha de volantes, mas não
se comporta como regista por questão de característica
A
conjuntura da partida estava clara desde as prévias. Pelo que o Milan de
Inzaghi tem demonstrado e pelo que se conhece da Juventus há muito tempo, era
óbvio que, mesmo jogando em casa, o time de Milão se retrairia em seu campo e
aguardaria a proposta adversária, debilitada pela não presença de Pirlo. Desde
a época de Conte, a Juventus tem uma alternativa para minimizar a ausência de seu regista, já que, dentro do
elenco, nunca houve uma peça de reposição com as características do craque.
Neste sentido, Bonucci, o zagueiro da sobra, adianta-se à linha dos volantes
para tentar ajudar na organização do time, permitindo aos jogadores do meio-campo
se alocarem em outras posições para dar opção às jogadas de ataque. Desta forma,
a ausência de Pirlo, insubstituível em termos técnicos, é menos sentida pela
superioridade numérica que a Juventus passa a ter do meio pra frente,
proporcionada pelo advento de Bonucci ao segundo terço do relvado.
Bonucci carregando a bola e permitindo mobilidade aos
volantes, destacados em movimentação fora do setor original, com exceção de
Marchisio, que guarda posição para proteger a defesa desfalcada de seu zagueiro da sobra em caso de contra-ataque (Reprodução: Fox Sports)
Mapa de movimentação de Bonucci, que,
estrategicamente, abandonou a defesa com a posse da bola em muitas situações da
partida (Reprodução: Squawka)
Defensivamente,
a Juve se posicionava como de costume, com os laterais recuando para formar uma
linha de cinco junto com os zagueiros, o meio-campo balançando de acordo com o
lado da bola e os atacantes dando o primeiro combate. Compactação não é uma
característica do futebol italiano, apesar de Roma, Napoli e, mais recentemente,
Milan e Udinese, que também têm se destacado neste sentido sob os novos
comandos de Inzaghi e Stramaccioni, respectivamente. Com a Juventus não era
diferente na época de Conte e, pelo menos por enquanto, não será com Allegri. A
preferência pelo povoamento da defesa em detrimento da compactação das linhas
ainda é uma tendência no calcio.
Juventus em fase defensiva: 5-3-2 espaçado, mas
consistente (Reprodução: Fox Sports)
Durante a fase defensiva, a Juve ensaiava situações
de pressing, adiantando os laterais
para a linha de volantes e Pereyra para marcar junto dos atacantes, o que ficou
mais evidente apenas durante os primeiros dez minutos do clássico. O mais comum
na marcação bianconera era a
tentativa da superioridade numérica no setor onde a bola estava sendo
trabalhada pelo Milan. Para isto, além do balanceamento dos volantes, quando os
rossoneri tinham a bola nos extremos
do campo, o lateral do lado em questão se adiantava para marcar mais à frente.
Isto serve para que o balanço da trinca de meio-campo não vá tanto para o lado
do portador da bola e desguarneça, assim, o lado oposto, prevenindo, portanto,
a virada de jogo direta como alternativa milanista para quebrar o sistema
defensivo do rival.
Laterais adiantando a marcação para fechar uma segunda
linha de quatro no meio-campo (Reprodução: Fox Sports)
O Milan, por sua vez, alternava o 4-1-4-1 já citado
com um 4-3-3 quando desejava marcar um pouco mais à frente. Desta forma, El
Shaarawy e Honda alinhavam-se a Ménez e dificultavam a transição ofensiva da
Juventus. Esta conjuntura era eventual e aconteceu poucas vezes durante o
clássico, mas demonstra uma pequena variação de marcação, evidenciando que
Pippo não está para brincadeira à frente do time que tanto deu alegrias como
jogador.
Milan marcando com duas linhas de três na
intermediária. Perde os homens pelos extremos, mas impede a saída de Bonucci de
trás e anula Marchisio e Pogba pelo centro, obrigando a Juve a fazer a saída com
os alas, que se destacam por proporcionar profundidade na linha de fundo e não por
executar a transição ofensiva (Reprodução: Fox Sports)
O primeiro tempo foi de muito estudo e variações e
acabou com o placar em branco. A proposta do Milan foi mantida para a etapa
complementar e a Juve martelou até a metade da segunda parte, quando conseguiu
marcar graças ao talento de Tévez e, principalmente, Pogba, que se posicionou
de costas entre os zagueiros milanistas para receber na entrada da área e girar
como um típico pivô para deixar Tévez na cara de Abbiati. A linda tabela entre
os jogadores mais talentosos do time de Turim foi um dos poucos lances de
brilho do jogo, que acabou sendo muito tático e pouco de improviso.
Atrás no placar, Inzaghi precisou modificar a
proposta reativa inicial e fez três substituições quase que em sequência, alterando
a estrutura do time. Bonaventura havia entrado pouco antes do gol no lugar de
El Shaarawy, e, após o tento, Inzaghi trocou Honda por Pazzini e promoveu a
estreia de Fernando Torres, que substituiu Poli. As mudanças fizeram o Milan
passar a jogar com duas linhas de quatro e dois atacantes fixos, em tentativa
clara de dar a profundidade pelo centro inexistente até então com Ménez, que
foi muito bem nas duas primeiras rodadas, mas não conseguiu se sobressair
brigando entre os três zagueiros bianconeri.
Allegri, por sua vez, promoveu apenas mudanças de peças. Ogbonna havia entrado
ainda no primeiro tempo por conta de lesão de Cáceres, Rômulo substituiu
Lichtsteiner para recuperar o fôlego na ala-direita e Pereyra cedeu lugar a
Vidal, que volta de lesão e precisa readquirir ritmo.
Milan reestruturado em um 4-4-2, com Ménez passando a
compor pelo lado a linha de meio-campo, e Juventus ainda na formação tradicional
Juventus vem jogando para o gasto sem Pirlo, mas,
com a filosofia de Allegri sendo implantada a passos de tartaruga e com muito
respeito ao trabalho construído por Conte, ainda está 100% em três rodadas e
lidera a Serie A ao lado da Roma, que deve ser realmente a principal rival do
time de Turim na briga pelo scudetto.
Já o Milan, com reforços pontuais e um início de trabalho promissor de Pippo
Inzaghi, não deve se abater com essa já esperada derrota para um rival bastante
superior. O eterno camisa 9 tem montado time interessante com as poucas peças
que tem e, na medida em que os últimos reforços vão entrando em forma e outros
jogadores vão recuperando o ritmo, o time deve passar a ser muito mais
competitivo do que o da última temporada, que não conseguiu bons resultados sob
o comando do agora algoz Allegri e muito menos sob as ordens de Seedorf. Título
é inimaginável em Milanello, mas uma briga pela última vaga na Champions
League, mesmo sendo muito remota, é o sonho possível para os rossoneri.
Por João Marcos Soares (@JoaoMarcos__)